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quinta-feira, junho 02, 2022

Lugares, monumentos e sítios de Penacova (1): Livraria do Mondego

 


O local “Livraria do Mondego” deve o seu nome ao facto da formação rochosa existente se assemelhar à disposição dos livros nas estantes de uma biblioteca. Este "geomonumento", para usar a designação proposta por Galopim de Carvalho,  é constituído por quartzito ordovícico (Arenigiano, com 480 a 490 milhões de anos) e faz parte da grande falha tardi-hercínia que se estende ao longo de cerca de 250 km desde a povoação de Verín, em Espanha, até à zona de Penacova (Falha Verin-Régua-Penacova).


Neste local de manifesto interesse geológico foi encontrada em 1915, quando decorriam obras na estrada de Entre Penedos, uma formação rochosa que o “Jornal de Penacova” designou, em título, por “Pedra Curiosa”.[1]

O director do então Museu Geológico da Universidade de Coimbra, Anselmo Ferraz de Carvalho, depois de vir ao local, decidiu salvaguardar aquele achado, enviando-o para o museu que dirigia.




Esta laje quartzítica, com uma superfície de cerca de 3m2 constitui o maior exemplar de “Cruziana” em museus portugueses. Encontra-se em Coimbra, emparedado no átrio da galeria de Mineralogia do Museu da Ciência, com a indicação de proveniência “Vila Nova – Penacova”.

Sabe-se que, nas recuadas eras da vida da Terra, esta região esteve coberta pela água de um mar pouco profundo que cobria grande parte da Península Ibérica, um mar de areias e lamas, entretanto desaparecido. Nesse habitat viviam as Trilobites. Os rastos de locomoção destes artrópodes são designados por bilobites ou cruzianas. Só a partir do século XX começou a haver algum consenso entre paleontólogos quanto à interpretação destes registos enquanto marcas da locomoção (icnofósseis) daqueles animais marinhos.

A designação “Livraria do Mondego” é muito antiga, não se sabendo se tem origem popular ou erudita. Já no séc. XIX foi referenciada por António Feliciano de Castilho, no prefácio “Conversação Preambular” ao livro de Tomás Ribeiro, “D. Jayme ou a dominação de Castela.” Castilho nasceu em 1800. Sendo assim, aquela viagem de Santa Comba Dão a Coimbra terá acontecido há sensivelmente 200 anos, quando estudava Direito na Lusa Atenas.

Uma observação: não será viável dispormos, “in situ”, de uma réplica da “Bilobite de Vila Nova”, num futuro Centro de Interpretação localizado na zona?

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[1] "BILOBITES DA LIVRARIA DO MONDEGO - Designados popularmente por Bilobites, os icnofósseis de Cruziana são testemunhos de atividade de artrópodes marinhos há muito extintos, as Trilobites.

Os icnofósseis permitem interpretar o comportamento dos organismos do passado. Em muitos casos sendo enigmática a relação entre espécie produtora e as marcas deixadas. Da locomoção na procura de alimento das Trilobites nos fundos marinhos resultaram sulcos onde se observam padrões de marcas de arranhamento produzidas pelos apêndices. As estruturas preenchidas em dois lóbulos resultaram em moldes naturais que permitem observar detalhes da atividade e até indicar o sentido do deslocamento.

Este espécime [ver foto] forma parte de um conjunto de registos trazidos da Livraria do Mondego (Penacova), um local de interesse geológico onde o rio Mondego corta os estratos verticais de quartzito formados no Ordovícico (há 475 milhões de anos).

In Museu da Ciência, Universidade de Coimbra.









terça-feira, fevereiro 24, 2015

Encontrada há 100 anos a “pedra curiosa” da Livraria do Mondego

Na obra Patrimónios de Penacova – apontamentos para a sua valorização e divulgação, de J. Leitão Couto e David Almeida (e também no livro Penacova, o Mondego e a Lampreia, de Carlos Fonseca e Fernando Correia) refere-se um pormenor, que entre outros,  atesta a importância geológica da “Livraria do Mondego”. Nestas obras são apresentadas imagens da lage de grandes dimensões colectada na zona em 1915.  Esta “pedra” encontra-se exposta no  Museu Mineralógico de Coimbra.  Segundo a legenda “trata-se de um icnofóssil de trilobite semiplicata do Período do Ordovícico da Era Paleozóica.” Nos finais do séc. XIX o prestigiado geólogo Nery Delgado fez importantes estudos nesta região e elaborou mesmo a célebre  Carta Geológica do Buçaco. 
"Bilobites – Vila Nova - Penacova" - assim
identificada no Museu Mineralógico
da Universidade de Coimbra
Naquele ano de 1915, segundo notícia do Jornal de Penacova, quando decorriam as obras da Estrada Real n.º 48 na zona de "Entre-Penedos" foi descoberta “uma pedra curiosíssima com desenhos em alto relevo, que não obstante serem irregulares, são de traço uniforme, de largura aproximada de seis centímetros, em forma de cordão (…) os desenhos ou antes cordões entrecruzam-se, sobrepondo-se no ponto de contacto. A pedra que conseguiu arrancar-se mas fragmentada, mede cerca de 3 metros de comprimento por um e meio de largo e de 20 a 30 cm de espessura.”

Ora, é esta "pedra curiosa" que ainda hoje se pode observar  no Museu Mineralógico e Geológico da Universidade de Coimbra com a indicação "Bilobites – Vila Nova - Penacova".Na altura, o lente de Geologia, Anselmo Ferraz, mandou remover a placa para o museu daquela cidade – diz o referido jornal - para estudo e posterior exposição. Junto do painel de grandes dimensões podemos ler ainda  a seguinte informação: "Cruziana sp. – Marcas da locomoção produziadas pelo movimento de trilobites sobre sedimentos pouco estabilizados. As trilobites deslocavam-se rastejando semi-enterradas no sedimento com ajuda de apêndices locomotores. Pensa-se que estas marcas poderão estar também relacionadas com os métodos de alimentação utilizados pelas trilobites".

Como escreveu Carlos Neto de Carvalho, estudioso destes temas, trata-se de  "janelas temporais" dum mundo "perdido" há cerca de 500 milhões de anos. A propósito, refira-se que o jornalista penacovense, Álvaro Coimbra, o entrevistou aquando da produção de uma reportagem para a Antena1 sobre o Geopark Naturtejo, que inclui o núcleo de Penha Garcia.
Por falar em Álvaro Coimbra,  o local conhecido por “Entre Penedos”, resultante do corte do Penedo João Freire, foi tema do post de em 10 de março de 2014, precisamente no seu blogue “Livraria do Mondego”.

Já o sugerimos na obra acima referida: seria motivo de interesse local e de enriquecimento turístico da zona se uma réplica do original estivesse exposta em Penacova – mais precisamente no local onde há 100 anos foi encontrada. Já só falamos em réplica, partindo do princípio de que dificilmente o original regressaria à origem. 

Até porque cremos  que esta ideia não terá sido ponderada no projeto de preservação do Património Natural da Livraria do Mondego, candidato ao Programa LEADER ADELO, que vai permitir avançar com as obras relativamente às quais em 19 de Novembro passado  foi assinada  a consignação da empreitada. Conforme refere o site da Câmara, “esta empreitada [no valor de 46.473,14 euros] vai permitir preservar, valorizar, dinamizar e promover o território e nomeadamente aquele núcleo geológico, promovendo as acessibilidades a pontos fulcrais que permitam devolver este espaço de excelência natural às populações locais e visitantes”.
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quinta-feira, setembro 02, 2021

Livraria do Mondego: quem se lembrou de a chamar assim?


O local “Livraria do Mondego” deve o seu nome ao facto da formação rochosa existente se assemelhar à disposição dos livros nas estantes de uma biblioteca.  Formação rochosa que é constituída por quartzitos e faz parte da grande falha tardi-hercínia  que se estende ao longo de cerca de 250 km desde a povoação de Verín, em Espanha, até à zona de Penacova (Falha Verin-Régua-Penacova). 


Sabe-se que, nas distantes eras da vida da Terra, esta região esteve coberta pelas águas de um mar não muito profundo que cobria grande parte da Península Ibérica, um oceano de areias e lamas, entretanto desaparecido. Nesse habitat vivia uma espécie de artrópodes, as trilobites, cujos rastos de locomoção formam as bilobites ou cruzianas. Um desses icnofósseis (como os de Penha Garcia) foi encontrado aqui, em 1915, aquando das obras na estrada.

A designação “Livraria do Mondego” é muito antiga, não se sabendo se tem origem  popular ou erudita. Já no séc. XIX era referenciada por António Feliciano de Castilho, na “Conversação Preambular” (uma espécie de prefácio) introdutória ao livro de Tomás Ribeiro, D. Jayme ou a dominação de Castela. 

Castilho, que estudou Direito em Coimbra e era cego desde os 6 anos (em consequência de sarampo), nasceu em 1800. Sendo assim, essa viagem de Santa Comba Dão a Coimbra terá acontecido há sensivelmente 200 anos, quando  estudava na Lusa Atenas. 

A designação, apesar de, no texto em causa, ter saído da boca do barqueiro, poderá ter uma origem erudita. Por sua vez, “Entre Penedos” seria a designação nascida no linguajar do povo.

segunda-feira, março 16, 2015

Bizarros comportamentos com 480 milhões de anos

Ainda sobre o assunto que temos vindo a tratar relacionado com a tal "Pedra Curiosa", acrescentamos hoje mais alguma informação, especialmente dedicada àqueles que estão empenhados e estão a levar a sério a hipótese de termos na Livraria do Mondego mais um elemento que enriquecerá aquele local. Poder, aí, onde há  100 anos foi encontrado, observar aquele icnofóssil (ou uma réplica) ainda preservado e visitável no Museu Geológico da Universidade de Coimbra, seria sem dúvida mais um ponto de interesse a acrescentar àquele sítio.

O texto que se segue, referente a Penha Garcia, muito bem se poderia aplicar à Livraria do Mondego, dado que as condições materiais e temporais são as mesmas. Por isso onde se lê Penha Garcia, poderíamos ler  Livraria do Mondego, Entre Penedos...


Icnofósseis de Penha Garcia

Cruziana furcífera - Penha Garcia
Fotografia de Pedro Martins

Penha Garcia há 480 milhões de anos. Um mar negro pela noite austral é varrido por ventos ciclónicos que erguem ondas colossais. Nesta paisagem de trevas , pouco mais se vislumbra do que pequenos baixios arenosos despojados de vida, um mar gélido estende-se para além do horizonte. Terra firme existe a algumas centenas de quilómetros, uma gigantesca massa continental onde se individualizam apenas maciços rochosos, desertos pedregosos, lagos e rios cor de terra. O verde não existe.

As primeiras plantas terão um papel decisivo na formação e fixação de solos apenas 65 milhões de anos mais tarde.

Assim, pouca coisa vai sucedendo na terra, para além de uma rápida erosão causada pelos rios numa paisagem desértica.

Abaixo da superfície líquida crispada, a vida floresce  e fervilha de emocões. Colónias de vermes poliquetas e foronídeos sedentários estendem os seus apêndices plumosoas às correntes marinhas a partir das suas tocas verticais  ou em forma de U, quais redes para a pesca  de minúsculas partículas orgânicas em suspensão nas águas agitadas.

passagem de um grande artrópode  filocarídeo ( semelhante a um camarão encerrado numa concha) nadando sobre estas colónias de “pescadores” faz com  que , num piscar se olhos,  os poliquetas e foronídeos se escondam no interior dos seus tubos escavados nos fundos arenosos.

As fortes correntes de fundo que modelam a areia numa sucessão de cristas paralelas e levantam nuvens de finas partículas também são o fulcro do alimento para os braquiópodes linguliformes. No entanto estes seres vivem enterrados  na areia no interior da sua concha bivalve, mantendo uma ligacão com o exterior para respirar e obter alimento.

A maior profundidade milhares de  trilobites revolvem o fundo arenoso em busca de alimento, adoptando várias e inovadoras estratégias de comportamento que lhes permitem obter mais comida com menos esforço ( Neto de Carvalho, 2006). Basicamente as escavações que as trilobites produzem entre níveis de areia e argila, num acto continuado de assimilação dos abundantes detritos orgânicos, correspondem sulcos bilobados provocados pelo movimento síncrono de mais de 13 pares de patas. Neste colossal fast food de Penha Garcia não é raro ver o trabalho de algumas das maiores trilobites que alguma vez terão existido, com quase meio metro de comprido: verdadeiros gigantes no mundo dos invertebrados! São animais que se alimentam em grupos compostos por dezenas de indivíduos da mesma idade.

Afastados destes gigantes couraçados,  verdadeiras escolas de trilobites com pouco mais de 4mm de comprido testam as estratégias de alimentação e os modos de vida que fizeram deste, um dos mais bem sucedidos grupos de artrópodes de sempre, até desaparecerem  definitivamente  dos oceanos  230 milhões de anos mais tarde.

São janelas temporais deste mundo perdido há muito que poderá encontrar ao longo da Rota dos Fósseis, em Penha Garcia.

Cada camada de quartzito, hoje verticalizada, conta um instante passado no fundo marinho de há 480 milhões de anos. Aprender a ler este livro sobre a História da Terra é despertar para a solução de múltiplos enigmas  que constituem a evolução da Vida.


capa do livro em referência
Carlos Neto de Carvalho (texto) e Pedro Martins (Imagens) Geopark Naturtejo da Meseta Meridional - 600 milhões de anos em imagens. Edição: Naturtejo, E.I.M. – Câmara Municipal de Idanha-a-Nova, 2007



in Carlos Neto de Carvalho e Pedro Martins ,op. cit.


 Se não conhece Penha Garcia, deixamos a sugestão de uma visita!

terça-feira, dezembro 10, 2024

segunda-feira, abril 25, 2016

Orçamento Participativo de Penacova: listagem das propostas apresentadas

"O Orçamento Participativo de Penacova pretende envolver os munícipes na definição anual das prioridades de investimento público da autarquia." - é deste modo que começa por se apresentar este projecto concelhio.

A participação passa pela apresentação de propostas por duas vias: online e presencialmente (nos "Encontros de Participação" a realizar em todas as freguesias.) As propostas submetidas pela via electrónica serão sujeitas a uma pontuação pública, para determinar as que passarão à fase de análise técnica. A votação já começou e decorre até ao fim do mês.

Portugal destaca-se como “um dos países europeus com mais alta densidade de orçamentos participativos” – refere um estudo de Giovanni Allegretti e Nelson Dias sobre o fenómeno. Afirmam também aqueles investigadores que “é, de todas as formas, importante que se estejam a consolidar como um espaço que recupera para a acção política pessoas que estão descrentes do sistema democrático representativo”. Entre 2002 e 2013 foram 46 municípios e 19 juntas de freguesia a promover esta iniciativa que agora chegou também a Penacova.

Apresentamos uma síntese das propostas feitas online e que já se encontram abertas à votação dos munícipes. Para mais e melhores esclarecimentos remetemos para a consulta do respectivo site: http://op.cm-penacova.pt/

Títulos  das  propostas e nome dos seus signatários:   

1 Orquestra de Sopros e Percussão de Penacova
Emídio Joel Cunha Rodrigues
2 Construção de albergue para Animais incluindo canil e gatil.
Susana Maria de Matos Lopes / Telma Alves
3 Campo de Jogos - Penacova
Bruno Gonçalo dos Reis Barros
4 Passadeira na zona dos Bombeiros Voluntários
António Almeida Soares
5 Campo de Ténis em Figueira de Lorvão
Daniel Marques da Silva
6 Ações de Promoção do Concelho de Penacova
Simão Santos
7 Desenvolvimento sustentável - Uma responsabilidade de todos
               Distribuição de um kit de reciclagem caseira
Francisco Miguel Rodrigues Lopes
8 Mini campo de futebol de Sazes
Jacques Brebant
9 Vila histórica
              Vila mais bonita e mais apelativa
Sónia Amaral
10 Ciclovia EN110
               Aproveitamento da EN110 para a prática de ciclismo/cicloturismo
Pedro Viseu
11 Parque infantil
     (na vila)
Cátia da Mota Cardoso
12 IMI
               Propõe-se que o valor monetário disponível no OP fosse utilizado, ou em parte, na redução do  valor  do IMI para famílias com filhos.
Fernando Manuel Duarte Sousa
13 Criação de gabinete para prestação de cuidados de saúde (Fisioterapia, Terapia da Fala, Terapia Ocupacional e Psicologia)
Maria Teresa dos Santos Morgado Martins
14 Trilhos do Alva  (trilho/percurso junto ao rio)
Pedro Miguel Nogueira Henriques
15 Regeneração do Parque Municipal
Pedro Fonseca
16 Melhoria dos transportes públicos
Inês Frade
17 Estrada à beira-rio (Ronqueira)
António José Flórido Batista
18 Hotel de Penacova
              Obras no Hotel de Penacova.
Isabel Lopes
19 Zona balnear na Ribeira do Chorão
Rui Fernando Simões Jordão
20 Circuito de Manutenção
               Lorvão - Chelo - Rebordosa - Caneiro.
Jorge Manuel da Fonseca Neves
21 Centro de Estudos
Margarida Isabel Duarte Sousa Brito
22 Acesso ao Parque de Estacionamento
António de Miranda
23 Reabilitação da Foz da Ribeira D`Arcos – Rio Mondego, Foz do Caneiro
Maria da Conceição Veiga Reis
24 Rede partilhada de transportes públicos
Cláudia Isabel Marques de Oliveira
25 Requalificação do estacionamento junto às Piscinas Municipais
Cláudia Patrícia Henriques da Silva
26 Renovação das árvores do mirante Emídio da Silva
Luís de Jesus Oliveira Amaral
27 Requalificação da iluminação pública na freguesia de Sazes do Lorvão.
Diogo Filipe SImões da Silva
28 Museu da Lampreia
Luís Manuel Simões Pereira
29 Festival do Frio
              Música e artes
Sandra Henriques
30 Proposta de criação de espaços para alojamento Low Cost em Penacova
              Construção de uma zona com bungalows em madeira
Patrique Henrique Rodrigues Maia
31 Remodelação das Piscinas Municipais de Penacova (número de pistas)
Sérgio Fernando Batista Carvalho
32 Criação de Piscinas Flutuantes - Praia do Reconquinho
Maria Esmeralda Gomes Cruz
33 Museu do palito, etnográfico, preservação de usos e costumes (Lorvão)
Lina Maria Pisco Felix Viseu Fernandes
34 Sinalética do lugar de Miro
Manuel Cunha Pinheiro Nogueira
35 Afixação de números de porta (personalizados) na aldeia de Miro
Isaura Nogueira
36 Cápsula de Vidro - Meeting Point Penacova na Livraria do Mondego.
Rita Cassilda Rodrigues Duarte
37 Construção de um parque infantil público em Aveleira
Tânia Alexandra Maia Rodrigues
38 Skate Parque
Francisco Seco da Costa
39 Campo Escutista em Penacova
Cátia Costa
40 Melhoria de condições de segurança de extensão de caminho municipal entre Hombres e Laborins
António Henriques Marques
41 A reconstrução do campo da equipa Salgis
Diogo José Neves Tavares
42 Rede de Circuitos/Ginásio de Manutenção Física ao Ar Livre
               Parque Verde de Penacova
Ana Filipa Simões
Adenda: 
43 Percursos Pedrestres e Percursos de Bicicletas

Fábio José Pereira da Fonseca

segunda-feira, dezembro 28, 2015

Martins da Costa: 10 anos depois da sua morte

AUTO-RETRATO
Foi em 13 de Abril de 2005 que o pintor João Martins da Costa faleceu em Matosinhos. Em Penacova, onde foi professor, vivera desde os anos setenta, ali na Costa do Sol. 

Picasso lhe chamavam carinhosamente os seus alunos.
 
Nascera em Coimbra em 28 de Junho de 1921 mas os seus pais eram penacovenses: José da Costa e Cacilda Martins. O seu avô materno fora industrial de latoaria na vila e o paterno, Abílio Costa, tinha sido proprietário de um veículo que servia de diligência entre a cidade dos estudantes e Penacova.
 
Frequentou o curso superior de Pintura da Escola de Belas Artes do Porto, onde foi discípulo de Dordio Gomes e de Joaquim Lopes. Premiado diversas vezes na escola, concluiu o curso em 1947 com a classificação de 18 valores.
 
Em comentário a uma referência que o Penacova Online fez em 2012, escreveram Óscar Trindade e António Luís, respectivamente:
 
“O Prof. Martins da Costa, foi meu professor de desenho. Um grande homem, algo austero mas também amigo. Sua esposa, Profª. Rosa, também me deu aulas de desenho. Recordo o dia em que ela me convidou para ir a sua casa e me mostrou as obras de arte do prof. Martins. Fiquei encantado com as pinturas expostas numa sala, que penso ter sido o seu atelier. Como é (ou era) habitual na nossa terra, a arte é (ou era) pouco valorizada e nada se fez, então, para que o espólio deste professor / artista ficasse em Penacova. Ao ler a crónica pode-se concluir que este SENHOR era um artista multifacetado, tendo em conta a sua arte na pintura e nas letras.”



Capa do Jornal de Penacova
24 de Abril de 2005
 
“Um dos melhores professores que tive na minha passagem pelas escolas de Penacova... Martins da Costa não era mais um "carneiro". Pensava com a sua cabeça e quase sempre muito bem!”
 
E em 2014, escrevia também Álvaro Coimbra no seu blogue Livraria do Mondego “O artista, o pintor, deixou uma obra extraordinária. O seu traço sensível e, ao mesmo tempo, firme e exato viajou por cidades como Florença, Porto, Londres, mas na última etapa da sua vida escolheu este cantinho. Pintou-o de vários ângulos, com um olhar muito próprio e deu-o a conhecer ao mundo. Penacova está em dívida para com ele, mas esse reconhecimento deve estar à altura da sua obra.”

quinta-feira, março 12, 2015

A "Pedra Curiosa": leia a notícia que o Jornal de Penacova publicou em 1915

Já em 20 de Fevereiro de 2011 havíamos escrito neste blogue um texto intitulado As Bilobites de Penacova onde dávamos conta dos longínquos anos em que pela primeira vez tivemos a oportunidade de ver esta “pedra” no Museu Geológico da Universidade de Coimbra.
No livro Penacova e a República na Imprensa Local (2011) também fizemos referência 
à “pedra curiosa” a propósito da crítica desferida às crenças religiosas do “povo ignorante” por parte dos republicanos, detentores do Jornal de Penacova.
Em 2012 quando se preparava a obra Patrimónios de Penacova, de novo procurámos mais informação sobre o assunto. A referência a “este património” ficou a constar do livro. Já antes, na obra de Carlos Fonseca e Fernando Correia, Penacova,o Mondego e a Lampreia havia sido dado grande relevo a estes aspectos, inclusivamente com fotografias excelentes de fósseis recolhidos na região de Penacova e também dos icnofósseis (vestígios da actividade biológica) encontrados na zona de “Entre Penedos”.
Há dias, a propósito da intervenção que a Câmara Municipal está a levar a cabo na Livraria do Mondego voltámos ao assunto. Quando hoje publicámos imagens da “lage de grandes dimensões” prometemos trazer aos leitores do Penacova Online a notícia publicada em 1915 no Jornal de Penacova nº 709 de 22 de Maio de 1915.

Aqui vai:

PEDRA CURIOSA

Em Entre Penedos, nas obras da estrada 48 (...) foi encontrada uma pedra curiosíssima, com desenhos em alto relevo, que não obstante serem irregulares, são de traço uniforme, de largura aproximada de seis centímetros, em forma de cordão, com umas reentrâncias ao meio. Os desenhos ou antes cordões entrecruzam-se, sobrepondo-se no ponto de contacto.
A pedra que conseguiu arrancar-se , mas fragmentada , mede cerca de 3 metros de comprimento por um a um e meio de largo e de 20 a 30 centímetros de espessura.
O bloco, que foi encontrado em posição vertical (...) não foi completamente arrancado devido à grande dificuldade que há em o fazer.
O lente de geologia da Universidade, dr. Anselmo Ferraz, veio ver a referida pedra e mandou removê-la para o museu daquela cidade. O exemplar realmente curioso não é uma novidade para os geólogos (...) uns atribuem à incrustação de raízes e fetos minerais (...) outros atribuem ao rasto de um bicharoco de nome muito arrevesado que agora não nos lembra, que passeava muito tranquilamente por sobre esses referidos minerais, que depois se petrificaram.
Como é natural, em volta da referida pedra já o nosso povinho na sua ignorância, criou uma lenda - ou mais do que uma - crendo uns que aquilo é obra dos moiros e outros que é coisa de milagre porque no emaranhado dos desenhos e ao meio de um círculo, com um pouco de boa vontade, se pode ver desenhada uma cruz!
Mas não temos que nos admirar do desacordo em que o povo ignorante está sobre a origem da curiosa pedra, porque os próprios sábios geólogos também o estão!
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Jornal de Penacova, nº 709 de 22 de Maio de 1915

Alguns dos cabeçalhos que o Jornal de Penacova (1901-1937)
foi apresentando

segunda-feira, junho 03, 2024

Estudo sobre Turismo em Penacova analisa práticas de gestão sustentável, potencialidades, infraestruturas, eventos...


Um estudo recente, publicado pela Escola Superior de Educação de Coimbra (1)  analisa das práticas de sustentabilidade sócio-ambiental no alojamento turístico do município de Penacova e identifica as principais barreiras à sua implementação.

O conceito de turismo sustentável foi definido pela Organização Mundial do Turismo, agência especializada das Nações Unidas, como aquele que é ecologicamente suportável no longo prazo, economicamente viável e ética e socialmente equitativo para as comunidades locais, implicando a integração ao meio ambiente natural, cultural e humano e o respeito pelo equilíbrio das áreas ambientalmente mais sensíveis.
 
Práticas de gestão sustentável nos alojamentos em Penacova

Esta investigação incidiu em oito unidades turísticas situadas nas freguesias de Friúmes, Penacova, São Pedro de Alva e Oliveira do Mondego. que “tendo em conta que a investigação foi baseada numa metodologia qualitativa, através da realização de oito entrevistas” não é possível garantir que as conclusões “se apliquem à generalidade dos alojamentos em Penacova e de outras regiões do país”, o que “limita um pouco a investigação” -alerta o autor deste trabalho académico. Salienta-se igualmente que “a maioria dos responsáveis dos alojamentos ainda não tem qualquer tipo de formação em sustentabilidade, não conhece os guias de boas práticas do turismo de Portugal e o alojamento não é a sua principal atividade” o que “dificulta a recolha e seleção da informação.”

De qualquer modo trata-se de um estudo pertinente e actual. De acordo com o mesmo “foi possível concluir que já são utilizadas algumas práticas de gestão sustentável nos alojamentos em Penacova, nomeadamente as que dependem de menos investimentos financeiros, sendo os empreendimentos turísticos o tipo de alojamento que mais práticas sustentáveis utiliza”. Verificou-se que todos os entrevistados se preocupam com a sustentabilidade, atribuindo, no entanto, maior importância ao consumo energético por questões orçamentais.

Todos utilizam lâmpadas led de baixo consumo, todos fazem a separação de resíduos para a reciclagem, todos os alojamentos ou edifícios têm isolamento térmico e todos utilizam e adquirem produtos locais.

A maior barreira com que os entrevistados se deparam para implementar práticas de sustentabilidade são os elevados custos na aquisição de equipamentos, eletrodomésticos e materiais mais sustentáveis. Todos afirmam que teriam como benefício para a sua atividade a redução de custos.

Em termos globais, consideram que a implementação destas práticas beneficiaria a poupança de recursos naturais. Todos consideram ser necessários mais apoios económicos para aquisição de equipamentos sustentáveis. Por sua vez, a maioria dos entrevistados destaca a importância de colocar ecopontos junto dos seus estabelecimentos para facilitar a separação de resíduos.

Alguns dos entrevistados consideram que a atribuição de prémios de desempenho ao alojamento seria um bom incentivo para implementar mais práticas sustentáveis.

Em síntese, “a gestão do consumo de energia é a principal preocupação dos responsáveis dos alojamentos, assim como a aquisição e divulgação de produtos locais. O principal obstáculo à implementação de novas práticas sustentáveis está relacionado com elevados custos na aquisição de equipamentos de baixo consumo.”

Características naturais, infraestruturas de apoio, eventos ... 

Reconhece o estudo que “o concelho de Penacova tem um “elevado potencial” de desenvolvimento turístico, já que “possui um conjunto de características naturais e de infraestruturas de apoio ao turismo que lhe permite desenvolver a atividade de forma sustentável” (…) possuindo “acessibilidades, infraestruturas, recursos e atrações que potenciam o desenvolvimento de atividades turísticas, nomeadamente de turismo de natureza, desportivo e gastronómico com a realização de diversos eventos nestas áreas.”

Esta investigação conclui que, em termos de alojamento, “Penacova já possui uma oferta variada com capacidade para alojar 354 hóspedes nas diversas unidades de alojamento local, sendo a modalidade de moradia a que mais se destaca.” Verifica-se igualmente que “em termos de empreendimentos turísticos tem capacidade para albergar 436 campistas nos dois parques de campismo existentes e 78 hóspedes nos cinco empreendimentos turísticos registados.”

Ficamos também a saber que “apesar da estada média em Penacova ser ligeiramente inferior à média da região centro, verifica-se que cresceu em dormidas e em receitas”. No entanto, tendo em conta os dados apresentados, não vai ao encontro ao estabelecido na ET2027, onde se pretende crescer mais em receitas que em dormidas.

A leitura desta dissertação de Mestrado conduz-nos também a um levantamento actualizado de algumas características naturais e de infraestruturas de apoio na medida em que se afirma que “Penacova possui um território muito diversificado a nível turístico, nomeadamente para o turismo de natureza, pois possui vales, serras, rios e paisagens que podem ser vistas dos penedos e miradouros, possui também moinhos e azenhas e outros recursos naturais que atraem turistas de todo o país.

Tendo como fonte o site do Município, salienta o autor que:

- “as suas praias fluviais atraem muitos visitantes no Verão, mas Penacova possui ainda outros recursos de elevado potencial turístico, como as tradições das suas gentes, a sua história, mosteiros, museus, igrejas, entre outros;

- que “o concelho de Penacova proporciona ainda enriquecedoras experiências na descoberta da sua fauna e flora, onde se destacam ao nível da fauna Árvores de Interesse Público, classificadas pelo ICNF, como a Sequoia e a Glicínia. Ao nível da flora destacam-se a rola, javali, perdiz, as trutas e a lampreia; que “em Penacova existem seis praias fluviais, sendo as mais conhecidas a do Vimieiro e a do Reconquinho ambas galardoadas com a bandeira azul;

- que “ao longo do rio Mondego existem também a livraria, um recurso turístico natural que marca a paisagem. Este monumento está classificado como Geomonumento ao Nível do Afloramento, pelas suas caraterísticas e constituindo-se como um dos mais singulares monumentos naturais de Portugal”;

- que “o miradouro Emydgio da Silva, a Pérgula Raúl Lino e o Penedo do Castro são os mais emblemáticos, onde visitantes e residentes se podem deliciar com a vista sobre o rio Mondego e as encostas da serra da Atalhada com paredes quartzíticas propicias à prática de escalada e rappel”.

Ainda de acordo com fontes do Município consultadas para este trabalho, é sublinhado que, em termos de recursos culturais, se destaca ”o Museu do Moinho Vitorino Nemésio e um dos maiores núcleos molinológicos do país espalhado pelas serras da Atalhada, Aveleira, Gavinhos e Portela de Oliveira com imensos moinhos de vento em atividade ou em condições de funcionar.

Recorda-se que “Penacova possui ainda dezoito azenhas espalhadas pelas ribeiras e vinte e três fornos de cal no concelho”.

Salienta-se também que “em termos de artesanato contam-se ainda quinze artesãos a trabalhar as diversas áreas onde se destacam a produção de palitos de madeira”.

Em relação a edifícios com valor histórico-patrimonial “destaca-se o Mosteiro de Lorvão que integrou a lista original dos primeiros edifícios classificados como Monumento Nacional em Portugal e o Núcleo Museológico dos Cabouqueiros e dos Carpinteiros.“

A nível gastronómico, “Penacova faz um excelente aproveitamento do rio com a confeção de seis pratos típicos à base de peixe e três de carne. Destacam-se também trinta e dois doces conventuais e onze produtos típicos como azeite, mel ou castanha.”

Ao nível do desporto de natureza, “para a prática de desportos terrestres existem dois percursos pedestres de grande rota, cinco percursos pedestres de pequena rota, nove ciclos com ligações para BTT, quatro percursos de Trail Running, sete locais de escalada e dois locais para prática de tirolesa e slide”, ao mesmo tempo que para a prática de desportos aquáticos “dispõe de 25 km ao longo do rio Mondego para prática de canoagem e rafting, uma pista de pesca desportiva para competição no rio Mondego e onze lotes no rio Alva. Além das seis praias fluviais propícias à prática de mergulho, possui uma pista de motonáutica na barragem da Raiva e espaço aquático para se realizarem passeios de barco.” As descidas de rio em Kayak são também importantes para o desenvolvimento e divulgação deste território.

Deste modo, eventos turístico-desportivos como a Maratona BTT, a etapa da Taça de Portugal de Enduro na modalidade de Downhill, a prova de Trail Running “Penacova Trail do Centro”, o campeonato nacional de Rally e Kart Cross na pista da Serra da Atalhada, o encontro nacional de montanha entre outros, são atividades suscetíveis de organização de que fazem deslocar centenas de pessoas para o território de Penacova - reconhece o estudo.

Quanto ao levantamento de iniciativas é também referida a realização anual de “pelo menos onze eventos desportivos, dois de carácter local, dois regionais, seis nacionais e um internacional.”

No que diz respeito a outros eventos turísticos apontam-se “o festival Gerações, vinte e duas festas populares, quatro festivais e concursos gastronómicos, festas e romarias ou o mercadinho de natal.”

Para apoiar estas atividades, é referido, com base no Registo Nacional de Turismo, que se encontram “sedeadas em Penacova seis empresas de animação turística, duas agências de viagem e turismo e dois operadores marítimo-turísticos, com diversas atividades distribuídas por atividades de ar livre/aventura, atividades culturais/tour paisagístico e atividades marítimo-turísticas que fazem agitar o setor do alojamento.”

Caraterização do alojamento turístico no município de Penacova

Um outro aspecto de que nos são fornecidos alguns dados respeita aos alojamentos. Assim, “de acordo com o RNT, em Penacova existem quarenta e quatro Alojamentos Locais (AL), distribuídos pelas modalidades de moradia, apartamento e estabelecimento de hospedagem com capacidade total de trezentas e cinquenta e quatro pessoas.”- informa este estudo que estamos a analisar.

Outros dados:

- “Destas modalidades, a que apresenta maior número de registos é a moradia com trinta e cinco registos e capacidade para duzentos e vinte e nove utentes e a modalidade de apartamento têm com cinco registos e capacidade para trinta e nove utentes.”

- “Os estabelecimentos de hospedagem são apenas quatro, no entanto tem capacidade para oitenta e seis utentes. (Registo Nacional de Turismo).”

- “A nível de empreendimentos turísticos (ET), existem sete registos, distribuídos pelas diversas tipologias com capacidade para alojar quinhentos e catorze utentes. A tipologia com maior número de registos é a Casa de Campo com três registos, vinte e duas unidades de alojamento e capacidade para alojar quarenta e quatro utentes. Segue-se a modalidade de parque de campismo com dois registos, um com classificação de 3* e capacidade para cento e trinta e três utentes e outro sem qualquer tipo de classificação com capacidade para trezentos e três utentes, ou seja, ambos com capacidade total para quatrocentos e trinta e seis utentes. O empreendimento de turismo de habitação tem um registo com sete unidades de alojamento e capacidade para alojar catorze utentes. O hotel rural classificado com 4 estrelas tem dez unidades de alojamento com capacidade para vinte utentes (Registo Nacional de Turismo).”

- “Existem quarenta e quatro AL registados em Penacova e sete ET. A moradia é a modalidade de alojamento com mais registos, trinta e cinco no total, sendo que, em termos de ET, a tipologia que maior número de registos apresenta é a Casa de Campo.”

Em síntese, pode-se concluir que “Penacova possui acessibilidades, infraestruturas, recursos e atrações que potenciam o desenvolvimento de atividades turísticas, nomeadamente de turismo de natureza, desportivo e gastronómico com a realização de diversos eventos nestas áreas.

Podemos também afirmar que, em termos de alojamento, Penacova já possui uma oferta variada com capacidade para alojar 354 hóspedes nas diversas unidades de alojamento local, sendo a modalidade de moradia a que mais se destaca. Em termos de empreendimentos turísticos tem capacidade para albergar 436 campistas nos dois parques de campismo existentes e 78 hóspedes nos cinco empreendimentos turísticos registados.

Apesar da estada média em Penacova ser ligeiramente inferior à média da região centro, verifica-se que cresceu em dormidas e em receitas, no entanto tendo em conta os dados apresentados, não vai ao encontro do estabelecido na ET2027, onde se pretende crescer mais em receitas que em dormidas.”

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(1) O presente trabalho denominado “Práticas de Gestão Sustentável no Alojamento Turístico: o caso do município de Penacova”, com data de Dezembro de 2023, foi desenvolvido no âmbito do Mestrado em Turismo de Interior–Educação para a Sustentabilidade, ministrado na Escola Superior de Educação do Instituto Politécnico de Coimbra, por Hernâni José Oliveira Nogueira.

domingo, fevereiro 20, 2011

As bilobites de Penacova

Já lá vão uns bons anos, enquanto estudante de Coimbra, que em visita ao Museu Mineralógico e Geológico da Universidade, fomos surpreendidos por uma lage-painel (com cerca de 2x3 m, se bem nos recordamos) de bilobites com a indicação de origem de Penacova. Por diversas vezes nos vinha à memória aquela estranha amostra geológica e o desejo de voltar àquele museu.  Hoje, por mero acaso, é com satisfação que, nas nossas pesquisas na internet, nos aparece uma fotografia da mesma e que partilhamos com os nossos leitores.

Grande lage com Cruziana colectada em Penacova patente numa parede do Museu Mineralógico e Geológico de Departamento de Ciências da Terra da Universidade de Coimbra.

Aqui fica também parte de um texto publicado pela Câmara Municipal, aquando da Candidatura da Livraria do Mondego a Maravilha Natural e que nos ajuda a perceber como pode aparecer em Penacova este vestígio de fundos marinhos.

Há 500 milhões de anos a região do Buçaco, bem como toda a Beira Baixa, Beira Alta e região duriense, esteve coberta pela água de um mar que já desapareceu há muito e a que os geólogos chamam de Rheique. Na verdade cobria quase toda a Península Ibérica e era um mar raso de areias brancas, camada sobre camada, em águas transparentes com algumas zonas um pouco mais profundas e algumas ilhas não muito elevadas. Os areais extensos e os fundões mais lamacentos ou pedregosos perdiam-se de vista. Nestas areias e lamas viviam uns artrópodes marinhos, as Trilobites, que eram os seus principais habitantes. E foi nestas areias, tal como se interpreta hoje, que deixaram longos rastos das suas caminhadas, as bilobites.
Quando estes fundos foram apertados pela colisão de dois grandes continentes então existentes, começaram a ficar arqueados até serem completamente enrugados como as dobras de uma concertina. Contudo os fechos dessas dobras eram mais redondos tal como grandes caleiras ou como se estivéssemos a ver o ondulado de um velho telhado feito com telha lusitana.
Uma dessas grandes caleiras, a que os geólogos chamam sinclinais, constitui a Serra do Buçaco. Os dois bordos do sinclinal, por serem constituídos por aquelas areias endurecidas (quartzitos) ficam salientes no relevo, resistindo ao desgaste da chuva e do vento (erosão) e preservando o perfil da Serra, desde há muitos anos. O lado poente do sinclinal está mais partido e retalhado do que o lado nascente. No lado poente, desde o Penedo do Castro até aos Moinhos de Gavinhas e daí até Ponte da Mata, o alcantilado está muito segmentado. No lado nascente, desde o Luso, Cruz Alta, Moinhos da Portela da Oliveira até ao Mondego e daí até muito mais a sudeste, os quartzitos resistem e fazem um caminho quase contínuo. No fundo do sinclinal que se percorre por estrada antiga, pode descer-se desde Sazes passando pela Espinheira, Galiano até Penacova. Tudo isto foi detalhadamente estudado por Nery Delgado no séc. XIX e no princípio do séc. XX, tendo deixado como resultado desses trabalhos alguns mapas de grande beleza e rigor.
Nas fragas que o Mondego atravessa, os quartzitos estão cortados e mostram em qualquer das suas margens, mas especialmente na margem norte, as camadas de quartzitos verticais, como fiadas de prateleiras de livros da velha biblioteca da Universidade de Coimbra. Aqui, o espectáculo das antigas areias postas ao alto, hoje quartzitos, mereceram a designação de Livrarias do Mondego, pela sua beleza e pela posição particular em que se encontram, constituindo um património geológico e turístico que deve ser divulgado e preservado e não deve deixar de ser visitado.


Município de Penacova - Nota de Imprensa Janeiro de 2010

domingo, outubro 11, 2020

A colheita e a vindima no Apocalipse de Lorvão


Ao abrir o livro HISTÓRIA DE PORTUGAL EM 40 OBJETOS, publicado em 2017, encontramos um capítulo dedicado ao “Apocalipse de Lorvão”. O autor, Sérgio Luís de Carvalho, começa por referir uma observação de João Aguiar. Dizia aquele jornalista e escritor que “os irlandeses têm o Livro de Kells [1]cuja edição fac-similada se vende em qualquer livraria. Nós temos o Apocalipse de Lorvão, que não lhe fica muito atrás, e não o  temos acessível ao grande público.”

O Apocalipse de Lorvão é uma cópia do Commentarium in Apocalypsin, da autoria do chamado Beatus (Beato) de Liébana, um monge que viveu durante o século oitavo no Mosteiro de S. Martinho de Turieno, no norte de Espanha. O original perdeu-se, mas existem algumas reproduções, sendo o nosso Apocalipse (datado de 1189)  uma delas. Naturalmente, as cópias, reflectindo as especificidades dos respectivos copistas e iluminadores, resultaram diferentes entre si.

Em Lorvão, o autor deste códice ricamente iluminado foi o monge Egeas. Escrito em latim, com letra gótica a 29 linhas e 2 colunas, é formado por 221 fólios (ou folhas) com o formato de 345 x 245 mm e inclui 57 ilustrações de carácter místico e apocalíptico, que reflectem a concepção do mundo que se tinha naquele tempo e são também testemunho do quotidiano agrícola de Portugal no séc. XII.

A Colheita e a Vindima” é uma das mais conhecidas ilustrações deste códice. Cristo, o supremo juiz tem na mão uma foice com a qual se prepara para ceifar a seara seca pelo pecado e que será deitada ao fogo. De igual modo, o supremo juiz corta, através de um anjo armado com uma podoa, as latadas estéreis devido aos pecados dos homens que serão lançadas e esmagadas no lagar divino. Esta é a leitura sagrada, baseada no texto da bíblia. Mas esta iluminura espelha também as actividades da época do ano e também da época histórica. Por exemplo, Jesus e o anjo têm alfaias típicas da Idade Média, há cestas de vime no chão e lá está o lagar a funcionar. Podemos também observar o tipo de vestuário dos trabalhadores do campo. Há, ainda, cavaleiros, arcadas românicas, mobiliário e utensílios de artes várias, animais reais ou imaginários.  Ali está, mental e materialmente, muito dos primórdios do nosso país. 

Durante aquele período, o mosteiro de Lorvão afirmou-se como um dos principais centros de produção de manuscritos iluminados em Portugal. Como sabemos, o Apocalipse de Lorvão está inscrito, desde 2015, na Memória do Mundo da Unesco. 



[1] O Livro de Kells, também conhecido como Grande Evangeliário de São Columba, é um manuscrito ilustrado com motivos ornamentais, feito por monges celtas por volta do ano 800. Constitui, apesar de não concluído, um dos mais sumptuosos manuscritos iluminados que restaram da Idade Média e é considerado por muitos especialistas como um dos mais importantes vestígios da arte religiosa medieval.