12 dezembro 2020

Penacova, Sá Carneiro e o nome da Avenida que ficou na gaveta

Fez há dias 40 anos que morreu Francisco Sá Carneiro. Foi no início da noite de 4 de Dezembro de 1980. O avião no qual seguia despenhou-se em Camarate, pouco depois da descolagem do aeroporto de Lisboa, quando se dirigia ao Porto para participar num comício de apoio ao candidato presidencial general António Soares Carneiro.

Sá Carneiro tem o seu nome em ruas, praças e avenidas de muitas localidades do nosso país: Lisboa, Viseu, Bragança, Funchal, Quarteira, Portimão, Albufeira, S. Pedro do Sul, Ansião, Carregal do Sal, Santa Comba Dão, Castro Daire, Valença, Vila de Rei, Mação, Marrazes, Alijó, Agualva, Nelas, Porto de Mós, Ovar, Tavarede, Marco de Canavezes…

Penacova também era para ter uma Avenida com o nome de Sá Carneiro. No entanto, os poderes políticos deixaram cair uma proposta que havia mesmo sido aprovada na Assembleia Municipal no sentido de a artéria entre os Bombeiros e a N110, passando pela escola da Cheira e pelo cruzamento da Estrada das Malhadas, passar a designar-se por Av. Sá Carneiro. 

Vejamos o recorte do jornal “Nova Esperança” de 30/7/1982:



“Politiquices”… 

11 dezembro 2020

Já disponível a 3ª edição de "Patrimónios de Penacova"

Publicado pela Câmara Municipal em 2012, o livro Patrimónios de Penacova: Apontamentos para a sua valorização e divulgação da autoria de Joaquim Leitão Couto e David Gonçalves de Almeida, viu sair a 3ª edição em Outubro de 2020. A capa surge agora com uma panorâmica geral de Penacova (foto de Óscar Trindade, que já integrou o "miolo" da 1ª edição). 


Capa da 3ª edição (2020)

Transcrevemos a nota a esta 3ª edição: 

«A publicação da terceira edição de "Patrimónios de Penacova: Apontamentos para a sua Valorização e Divulgação", decorridos que são oito anos após o seu lançamento em 2012, é motivo de natural satisfação, não apenas para os seus autores, mas também para todos os penacovenses que sentem orgulho na sua terra. O propósito implícito no subtítulo foi atingido: o nome (e a marca) Penacova foi mais divulgado e chegou mais longe e o conjunto das riquezas patrimoniais do nosso concelho saiu certamente mais valorizado. 

Relendo a Nota de Apresentação à 1ª edição, assinada pelo Sr. Presidente da Câmara, verificamos que já aí se perspectivava o bom acolhimento deste trabalho junto dos potenciais leitores. Na opinião do Dr. Humberto Oliveira “esta obra, depois de devidamente publicada e divulgada” poderia “funcionar como um verdadeiro roteiro turístico e promocional de Penacova”. 

Certamente por isso, o Município entendeu fazer uma reimpressão (2ª edição) em 2017 e, uma vez esgotada, decidiu avançar agora para uma 3ª edição, o que muito nos apraz. 

Volvido este tempo, reconheceu-se ser pertinente proceder a uma revisão e actualização de alguns aspectos do livro. A primeira alteração, que salta à vista, situa-se ao nível do grafismo, apenas por motivos de ordem logística. Sentiu-se depois a necessidade de corrigir uma ou outra “gralha” que sempre teima em existir e fazer pequenos ajustes no texto e nas gravuras. Em relação ao conteúdo, completaram-se alguns dados de carácter informativo e acrescentaram-se outros, como foi o caso do Rancho de S. Pedro de Alva e a referência ao jornal digital Penacova Actual. No capítulo da pintura, incluímos agora a alusão à homenagem a Martins da Costa, sublinhámos as raízes penacovenses de Waldemar da Costa e actualizámos as referências às obras de José Fonte. 

O património cultural e a natureza são valores indissociáveis. A cultura não é mais do que o diálogo criador da humanidade face ao mundo natural. O próprio termo “Património” encerra na sua etimologia um sentido dinâmico (recorda-nos Guilherme d’Oliveira Martins no recente livro Património Cultural: Realidade viva) na medida em que é formado por duas palavras latinas, patres e múnus, que significam “pais” e “serviço” apontando assim para uma “acção posta ao serviço do que recebemos dos nossos pais.” 

Um interessante modo - que nos responsabiliza ainda mais - de encarar as questões do património, seja ele natural ou cultural. 

Travanca do Mondego, 7/7/2020 
David Gonçalves de Almeida»

Capa da 1ª edição (2012)


01 dezembro 2020

Novo livro: "De Coimbra a Lorvão pela Estrada Verde"

 A "Comarca de Arganil" noticiou o lançamento do livro "De Coimbra a Lorvão pela Estrada Verde". Aqui fica o registo:


"Integrada na Feira do Mel e do Campo, que este ano revestiu um formato digital, teve lugar no dia 7 de Novembro a apresentação do livro “De Coimbra a Lorvão pela Estrada Verde”, tendo como autores J. Leitão Couto e David Almeida.

Esta obra surgiu na sequência do anterior livro, dos mesmos autores, publicado em 2013  com o título “Patrimónios de Penacova - apontamentos para a sua Valorização e Divulgação” e também como resposta ao desafio lançado por Fernando Fonseca, do Grupo de Cavaquinhos da Rebordosa.

O lançamento, que decorreu na Biblioteca Municipal, contou com a presença do Presidente da Câmara, Humberto Oliveira, e da Vereadora da Educação, Sandra Ralha, a quem coube fazer a apresentação deste livro. No seu entender, este “excelente trabalho” é uma forma de enriquecer o nosso conhecimento e um convite a visitar Lorvão e Penacova, conhecer melhor a história e a identidade destes territórios e descobrir as suas particularidades diferenciadoras. O livro é, pois, “um reforço na nossa cultura, na nossa identidade e na nossa missão de preservar o património cultural e natural de Penacova”.

Na impossibilidade de estar presente, Joaquim Leitão Couto deixou uma mensagem gravada em vídeo e David Almeida contextualizou a génese desta obra, elencou alguns dos conteúdos e apresentou alguns dos pressupostos teóricos à volta do conceito de património.

Inicialmente pensada para se focar apenas na Rebordosa, no decurso da recolha de elementos, entendeu-se ser pertinente fazer um enquadramento mais alargado, estendendo-se  também ao Caneiro e a Chelo, tendo como fio condutor o percurso, da estrada Verde (N 110) que partindo de Coimbra, passa por Torres do Mondego, Caneiro, Rebordosa, seguindo para Penacova. Assim, esta publicação  acabou por abordar alguns aspectos de carácter monográfico sobre estas terras que se encontram naquele trajecto. E estar na Rebordosa e não visitar Lorvão seria muito redutor, já que, com um pequeno desvio, facilmente se chega lá.

Para a concretização deste projecto os autores contaram com a colaboração de diversas pessoas que se disponibilizaram a partilhar documentos, vivências e memórias: António José da Silva Calhau, Sandra Ralha da Silva, António Castanheira, Amável Ferreira, Maria da Fonseca Simões, Graça Pimentel, Pedro Cardoso e António de Miranda.

A obra é mais do que um simples roteiro, aprofundando muitos dos temas ligados à história, à cultura e à geografia destas localidades. Fala de dinâmicas locais, de associativismo cultural, de barqueiros e de paliteiras, de monges e de freiras, de abades e de abadessas, de acontecimentos quase esquecidos como a revolta dos sarreiros e o polémico desmantelamento da fonte “santa” de Chelo. Apesar de Lorvão já estar bastante estudado e divulgado, os autores não deixaram também de fazer uma síntese dos aspectos históricos, sociais e culturais, deste secular mosteiro e lugar.

A obra, editada pela Câmara Municipal de Penacova, pode ser adquirida na Biblioteca Municipal, no Posto de Turismo e no Mosteiro de Lorvão."



Lançamento do livro na Biblioteca Municipal. Da esq. para a d.ta: 
Sandra Ralha, vereadora da Educação, a quem coube apresentar 
o livro; Humberto Oliveira, presidente da Câmara; David Almeida, co-autor.

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21 novembro 2020

Reivindicações do Porto da Raiva no jornal "O Conimbricense"

O Porto da Raiva constituiu um importante  entreposto comercial, sendo um dos principais portos do curso navegável do Mondego. Ali chegavam muitos carros de bois carregados de milho da Beira. Os "carreiros" eram sobretudo das regiões de Penacova, Coja e Arganil. A feira realizava-se todas as quintas-feiras. Aqui se transacionava também o feijão, o sal, as fazendas, as mercearias e outros produtos. Até finais do século XIX, todo o concelho de Penacova afluía ao mercado da Raiva, principalmente para a compra de cereais. Os armazéns enchiam-se de tudo o que não era vendido no dia de feira e ali esperava pelo mercado da semana seguinte.

Os produtos que chegavam à região de Penacova eram essencialmente sal, louça, peixe, azeite e linho. O sal era, sem dúvida, o mais transacionado. Havia dias que eram perto de vinte as carradas de sal que ali eram vendidas. Também o peixe, sobretudo seco, e a louça das fábricas de Coimbra eram produtos muitos procurados  e que, tal como a maioria dos restantes, se destinavam às terras da Beira Alta, num tempo em que ainda não havia caminho de ferro.

Por sua vez, vinho, milho, fruta, legumes, carvão, castanha e vinagre eram os produtos mais “exportados”. Dali saiam grandes carregamentos de vinho, produzido principalmente na Beira Alta, com destino a Coimbra, Baixo Mondego e Figueira.  Outros produtos que partiam da região de Penacova com destino a Coimbra e Figueira eram o feijão, a castanha e a fruta da época.

Encontrámos agora no jornal O Conimbricense (2 de Março de 1872) uma carta de Francisco Augusto Ferreira enviada àquele periódico, onde se queixa dos enormes atrasos na distribuição do correio e também de outros problemas sentidos naquela terra.




01 novembro 2020

Memórias das Lutas Liberais: o Poial das Almas

 O POIAL DAS ALMAS

                             - José Albino Ferreira *

"Há um banco de pedra encostado à parede da Igreja à frente da Rua da Corujeira, que foi muito falado a propósito de um caso das lutas civis entre miguelistas e liberais. 


Este banco era dantes denominado o Poial das Almas porque, por antigo costume, a certa hora da noite no tempo da Quaresma, subia para ele algum penacovense de voz muito forte e suplicava um Padre Nosso por alma de cada um dos penacovenses ultimamente falecidos.

Havia então em Penacova um Sr. Dr. Fernando, pai do conselheiro Fernando de Melo, que era Juiz de Direito e conhecido como Liberal.

Chegou a Penacova o boato, ou notícia, de algum acontecimento que levou os miguelistas da terra à persuasão de que estava certa a vitória do seu partido.

Era Domingo de manhã. Na hora própria, saiu de casa o Dr. Fernando, ignorando a novidade e dirigiu-se a caminho da Igreja para ouvir Missa.

Quando chegou ao Poial das Almas, saiu-lhe ao encontro um grupo de miguelistas que em termos persuasórios o convidaram a subir para cima do Poial e gritar bem alto: "Viva D. Miguel!" 

O bom Dr. Fernando não tentou resistir. Subiu e levantou o viva.Desforrou-se mais tarde, quando a vitória tombou para a banda dos liberais. 

Contou-me uma virtuosíssima senhora de Penacova, há muitos anos falecida, que em pequena ia muitas vezes para casa do velho Dr. Fernando, logo de manhã. Ele levantava-se já alto dia e, depois de se lavar e vestir, fazia o seu penteado ao espelho, tudo com muito esmero.

Depois abria a janela do quarto que dava para a rua e dava sempre os bons dias à vizinhança miguelista, gritando com toda a força dos seus pulmões: "Viva D. Miguel!"

__________

Obs: Isto ter se á passado já depois de 1840, isto é, muitos anos depois de ter acabado a Guerra Civil, com a vitória dos Liberais. Muitos outros actos de violência e crime se cometeram naqueles tempos em toda a região da Beira, incluindo Penacova, como pode ver-se na obra de Joaquim Martins de Carvalho, intitulada "Os Assassinos da Beira".

* Crónicas do NP "À sombra amena da Pérgola"- finais da década de 30 

21 outubro 2020

Notas para a história do edifício que vai dar lugar à Casa das Artes


Com a implantação do regime liberal, pela vitória definitiva do partido constitucional, por toda a parte se refundiu e transformou a vida social dos portugueses.

As antigas casas dominantes desapareceram ou decaíram. As fortunas das famílias antigas que  em geral se mantiveram ligadas ao partido miguelista estavam muito comprometidas por virtude das Invasões Francesas e depois pela Guerra Civil.

Em Penacova aconteceu o mesmo.

Eram donatários da vila de Penacova, primitivamente, os condes de Odemira. Esta Casa fundiu-se mais tarde, por casamento, com a dos Duques de Cadaval e, assim, ficou a ser donatário de Penacova o Duque de Cadaval. Era este Senhor que superintendia em todos os serviços judiciais e administrativos. Nomeava o Juiz e demais funcionários públicos.

Tinha em Penacova o seu Paço, com capela anexa, no sítio onde agora


está a Casa do Tribunal. Tinha em Penacova o seu capelão e procurador, pois era proprietário de muitas terras, lagares e azenhas, e recebia delas as rendas e foros.

O Duque de Cadaval era Governador Militar de Lisboa quando os miguelistas foram vencidos pelas tropas liberais em Almada. Como visse que não podia manter-se em Lisboa, retirou com as tropas fiéis e, assim, depois da Convenção de Évora Monte e termo da Guerra Civil, emigrou para França, não voltando a Portugal.

Ainda hoje [c. 1940] a Família Cadaval  vive em França e só vem a Portugal com curta demora, mas conserva o seu apego à Pátria. Os varões, chegando à idade própria, cumprem os seus deveres militares, segundo me consta.


Como consequência, resolveu o Duque de Cadaval vender todos os bens que possuía em Penacova.

O Paço foi destruído por um incêndio e depois vendido à Câmara de Penacova, que ali construiu o edifício dos Paços do Concelho e o Largo Fronteiro, que hoje temo o nome de largo Alberto Leitão.

Tinha a Casa de Cadaval além da capela anexa ao Paço, que foi destruída


pelo incêndio, uma capela lateral na Igreja de Penacova onde ainda está o escudo das armas dos Duques de Cadaval. É uma capela ampla com sacristia. O estilo é de boa renascença.

Com o desaparecimento da fortuna da Casa Cadaval em Penacova, desapareceu o capelão, o procurador e mais pessoal. Com o incêndio desapareceram muitos documentos que, certamente, dariam luz para a história de Penacova.

José Albino Ferreira

in Notícias de Penacova, "À Sombra Amena da Pérgola" c. 1940.

11 outubro 2020

A colheita e a vindima no Apocalipse de Lorvão


Ao abrir o livro HISTÓRIA DE PORTUGAL EM 40 OBJETOS, publicado em 2017, encontramos um capítulo dedicado ao “Apocalipse de Lorvão”. O autor, Sérgio Luís de Carvalho, começa por referir uma observação de João Aguiar. Dizia aquele jornalista e escritor que “os irlandeses têm o Livro de Kells [1]cuja edição fac-similada se vende em qualquer livraria. Nós temos o Apocalipse de Lorvão, que não lhe fica muito atrás, e não o  temos acessível ao grande público.”

O Apocalipse de Lorvão é uma cópia do Commentarium in Apocalypsin, da autoria do chamado Beatus (Beato) de Liébana, um monge que viveu durante o século oitavo no Mosteiro de S. Martinho de Turieno, no norte de Espanha. O original perdeu-se, mas existem algumas reproduções, sendo o nosso Apocalipse (datado de 1189)  uma delas. Naturalmente, as cópias, reflectindo as especificidades dos respectivos copistas e iluminadores, resultaram diferentes entre si.

Em Lorvão, o autor deste códice ricamente iluminado foi o monge Egeas. Escrito em latim, com letra gótica a 29 linhas e 2 colunas, é formado por 221 fólios (ou folhas) com o formato de 345 x 245 mm e inclui 57 ilustrações de carácter místico e apocalíptico, que reflectem a concepção do mundo que se tinha naquele tempo e são também testemunho do quotidiano agrícola de Portugal no séc. XII.

A Colheita e a Vindima” é uma das mais conhecidas ilustrações deste códice. Cristo, o supremo juiz tem na mão uma foice com a qual se prepara para ceifar a seara seca pelo pecado e que será deitada ao fogo. De igual modo, o supremo juiz corta, através de um anjo armado com uma podoa, as latadas estéreis devido aos pecados dos homens que serão lançadas e esmagadas no lagar divino. Esta é a leitura sagrada, baseada no texto da bíblia. Mas esta iluminura espelha também as actividades da época do ano e também da época histórica. Por exemplo, Jesus e o anjo têm alfaias típicas da Idade Média, há cestas de vime no chão e lá está o lagar a funcionar. Podemos também observar o tipo de vestuário dos trabalhadores do campo. Há, ainda, cavaleiros, arcadas românicas, mobiliário e utensílios de artes várias, animais reais ou imaginários.  Ali está, mental e materialmente, muito dos primórdios do nosso país. 

Durante aquele período, o mosteiro de Lorvão afirmou-se como um dos principais centros de produção de manuscritos iluminados em Portugal. Como sabemos, o Apocalipse de Lorvão está inscrito, desde 2015, na Memória do Mundo da Unesco. 



[1] O Livro de Kells, também conhecido como Grande Evangeliário de São Columba, é um manuscrito ilustrado com motivos ornamentais, feito por monges celtas por volta do ano 800. Constitui, apesar de não concluído, um dos mais sumptuosos manuscritos iluminados que restaram da Idade Média e é considerado por muitos especialistas como um dos mais importantes vestígios da arte religiosa medieval.

04 outubro 2020

A proclamação da República foi há 110 anos ... em Lisboa e em Penacova


RELATA O ALMANAQUE REPUBLICANO DE 1911:

“Finalmente, na manhã de quarta feira 5, as tropas monárquicas declararam-se vencidas, aderindo ao movimento e sendo hasteada no quartel general, no Castelo de S. Jorge, no Carmo, quartéis, etc., a bandeira republicana. Depois o povo, rompendo em massa, fraternizou com soldados, soltando entusiásticos vivas.

Em seguida dirigiram-se todos para a Câmara Municipal onde ia ser feita a proclamação da República.

Efectivamente, às 8 horas e meia da manhã, o Dr. Eusébio Leão, secretário do Directório, acompanhado pelo mesmo, apareceu à varanda dos Paços do Concelho e declarou implantada em Portugal o sistema republicano. Estas palavras foram recebidas pelo povo com uma ovação muito prolongada.

Depois o Dr. Inocêncio Camacho, também membro do Directório, leu os nomes dos Ministros que compõem o actual governo provisório, sendo cada nome à medida que ia sendo lido, freneticamente festejado.

Foi imediatamente enviado a todos os ministros dos negócios estrangeiros dos outros países um telegrama anunciando o advento da República e a nomeação do governo provisório. Depois tratou o governo de promulgar todas as medidas precisas para a manutenção da ordem e segurança da cidade. Enviaram-se telegramas para todas as cidades e vilas mandando hastear a bandeira republicana. Em todas as povoações a notícia dessa proclamação foi recebida com o maior entusiasmo, fraternizando o povo com o exército.

Conhecida na cidade a proclamação da república, o entusiasmo foi enorme. Das janelas desfraldavam-se as bandeiras republicanas e aos ecos da Portuguesa e da Marselhesa e ao estalejar dos foguetes juntavam-se os vivas à República, à pátria e à liberdade.

Como que por encanto, a capital adquiriu um aspecto de extraordinária animação. As ruas encheram-se de povo. Muitas carruagens e automóveis começaram a circular, levando todos os carros bandeiras encarnadas e verdes. Quase todos os populares traziam nos casacos fitas com as mesmas cores.

Todos mostravam nos semblantes a satisfação e a alegria por haverem terminado as cenas de sangue. E bem assim foi visto que os republicanos estavam decididos a vencer ou morrer. Disse um marinheiro que estava a bordo de um dos cruzadores, que a marinha iniciou o movimento revolucionário com perto de 900 homens, dispostos a não abandonar o seu posto e a irem até ao fim, havendo a certeza de que, se o movimento tem sido dominado em terra, resultaria uma guerra civil, com uma mortandade como não haveria memória. (…)

in Almanaque da República, 1911

EM PENACOVA:

Só no dia 6 de manhã a notícia chegou a Penacova. Joaquim Serra Cardoso “tinha ido na véspera para Coimbra, e assim teve a honra de trazer em primeira mão a grata notícia”. Ao chegar ao ramal de Santo António, “soltou um estridente Viva a República que foi ouvido na vila”. Pouco depois, uma comissão republicana composta por Rodolfo Pedro da Silva, António Moncada, José Pedro Henriques, José Alves de Oliveira Coimbra e Amândio Cabral, percorreu a vila convidando os cidadãos para assistirem, ao meio dia, à proclamação da República nos Paços do Concelho.

A notícia fora anunciada por uma salva de 31 morteiros e grande número de foguetes. Em toda a vila o trabalho ''foi suspenso, pois que todos queriam pormenores do faustoso acontecimento.''

SAIBA + AQUI

27 setembro 2020

Os 210 anos da Batalha do Bussaco

Um ano diferente para o projeto " Caminhos da Batalha do Bussaco" - podemos ler hoje na página do Município. "Este ano não tivemos os nossos passeios encenados, as nossas atividades que de forma diferente tentam levar de uma forma lúdica e cativante a história da Batalha do Bussaco e a sua importância nesta região. Este vídeo é uma retrospetiva do nosso trabalho até aqui realizado, mas é também uma homenagem ao grande responsável pela existência deste projeto. Em memória do "General" Luís Rodrigues."


No entanto, desenvolveu-se um programa que começou em Penacova , onde o Presidente da Federação Europeia das Cidades Napoleónicas, Charles Bonaparte, foi recebido pelo Presidente da Câmara, Humberto Oliveira.

A visita ao Centro de Interpretação “Mortágua na Batalha do Bussaco”, no Município de Mortágua, foi outro ponto.

De referir também que o Presidente da Federação Europeia de Cidades Napoleónicas, Charles Bonaparte, descendente de Napoleão Bonaparte plantou, uma oliveira na Mata Nacional do Bussaco, símbolo da Paz. Um ato de duplo significado: celebrar o Dia da Cooperação Europeia e marcar a integração do projeto europeu Interreg NAPOCTEP na Federação Europeia das Cidades Napoleónicas.

Além da assinatura do Protocolo de integração teve também lugar a apresentação de um vídeo promocional do projeto NAPOCTEP, “De Almeida ao Bussaco: na Rota das Invasões Francesas"









FONTE: Município de Penacova e CIM - Comunidade Intermunicipal Região de Coimbra

13 setembro 2020

À SOMBRA AMENA DA PÉRGOLA (III) - O Castelo de Penacova e o florescimento da Vila


A importância notável do Castelo de Penacova, no largo período da reconquista cristã, não podia deixar de determinar que, junto dele construíssem suas moradias os guerreiros mais afortunados.

Assim nasceu a vila de Penacova.

Perdida a importância militar do Castelo, com a completa reconquista cristã do território português, e firmada a independência do reino de Portugal contra a pretensão dos Reis de Castela, podia ter acontecido que a vila se desmoronasse como o Castelo. Não aconteceu, porém, assim.

(…) Para fazer a sua história, era preciso que algum investigador competente rebuscasse nos arquivos da Torre do Tombo, da Casa Cadaval e outras, a documentação que por lá, sem dúvida, existe.

Não resta , porém, dúvida alguma de que foi muito florescente a vida de Penacova nos séculos XV, XVI e XVII.

Atestam-no exuberantemente, a arquitectura e a escultura de muitos edifícios que, felizmente, em Penacova têm resistido aos malefícios do tempo e dos homens. São notáveis a Igreja de Penacova, com as suas capelas laterais, a Capela de S. João, a Capela de Santo António, a Capela do Monte Alto, bem como alguns edifícios particulares que a Carochinha irá mencionando.(…)

 >Texto de José Albino Ferreira, publicado no "Notícias de Penacova" em finais da década de trinta.

 

09 setembro 2020

Poetas penacovenses (VII): Cogitando sobre as consequências deste tempo...

Nu

Poema de Luís Amante

Neste tempo de percurso cinzento, fiquei nu

Corri devagar, pensei sem saber, contive a tristeza

Não sorri, nem o exteriorizei, nem falei com o cu

Apenas dei por mim a percorrê-lo só, com leveza


A minha rua, sem gente, vai nua de despojada

E eu despido no silêncio que me afaga

De beijos francos, carinhos em laço de vaga

De abraços ternos, de ti como sorte almejada

 

Nu é o despido de tudo, até de auto-estima

Silêncio é o ponto mais assertivo da rima

Gente é vida, amizade é culto abrangente

 

A tristeza cresce nesta condição dormente

O mundo entorpece até para lá do pungente

A crença desvanece, passando a saber a lima

 

Luís Pais Amante
Telheiras Residence
9Set20; 17h45
Cogitando sobre as consequências deste tempo

04 setembro 2020

À SOMBRA AMENA DA PÉRGOLA (II) - O Castelo de Penacova e o Monte da Senhora da Guia


Acabada a guerra entre mouros e cristãos, e convencidos os castelhanos de que os portugueses se não deixavam dominar, o valor militar da maior parte dos castelos perdeu-se, pelo que estes foram em geral abandonados, começando a arruinar-se. O castelo de Penacova não fez excepção a esta regra.

Mas, ao formoso outeiro sobre que ele assentava, ir-se-ia dar outro destino ainda mais nobre. A vida mais pacífica dos povos determinou grande desenvolvimento da sua riqueza.O movimento comercial cresceu notavelmente. Como não havia as estradas que há hoje , era pelo rio Mondego que as mercadorias vindas de fora subiam do porto da Figueira até às Beiras e os produtos dessas regiões em excesso vinham igualmente para o porto da Figueira pelo rio Mondego para serem exportadas.

Desde a Raiva até Louredo numa extensãp de 9 ou 10 quilómetros, avistava-se o outeiro e Castelo de Penacova. Com os temporais, a navegação era muito difícil e perigosa o que levou um devoto a deixar em seu testamento os meios necessários para se construir no sítio do castelo uma capela consagrada à Virgem sob a invocação de Nossa Senhora da Guia, para que os barqueiros aflitos implorassem o seu auxílio.

Foi esta capela construída depois do meado do século XVIII, aproveitando-se em parte as paredes do castelo. Levou assim o castelo um grande rombo. O que sobrou dele ficou a ser explorado como pedreira, até que todo ele desapareceu. Os terraços do castelo ficaram com o nome de "Largo do Castelo" e eram pontos obrigatórios, de dia para os passeantes desocupados, e de noite para os descantes e serenatas da rapaziada da Vila.

À capela foi dado, há pouco tempo, outro destino, como é sabido, construindo-se capela nova a pouca distância. Era de há muitos idealizado um Hospital em Penacova, mas não havia os recursos necessários, para a construção e sustentação dele. Um dia soube-se em Penacova que um benemérito penacovense. do lugar da Ponte, António Maria dos Santos, que saira muito novo e pobre para o Brasil e de quem quase se apagara a notícia, tinha deixado em seu testamento um legado para construção de um modesto hospital em Penacova. Foi o primeiro passo para a construção do Hospital da Santa Casa da Misericórdia.
(continua)
CAROCHINHA (José Albino Ferreira)

24 agosto 2020

Nos 200 anos da Revolução Liberal recordemos os Penacovenses que foram presos e fuzilados.



Hoje, 24 de Agosto de 2020, assinalam-se os 200 anos da Revolução Liberal que inaugurou um novo capítulo da História de Portugal. Novas ideias, novos caminhos que não foram fáceis de trilhar, que inclusivamente deram origem a uma Guerra Civil.

Antes de terminar o dia de hoje, recordemos o trágico episódio da “Queima da Pólvora” na Cortiça que acabou por trazer o luto ao nosso concelho humilhando aqueles que defendiam os ideais do Liberalismo.

Lembremos os nomes das pessoas da região que foram fuziladas em Viseu: António Homem de Figueiredo, da Cruz do Soito; António Joaquim, da Várzea de Candosa; Padre António da Maya, natural da Cruz do Soito, pároco de Covelo; Francisco Homem da Cunha e o irmão Guilherme Nunes da Silva, da Cortiça; José Maria de Oliveira, da Cortiça e, os irmãos Francisco de Sande Sarmento e Felizberto de Sande Sarmento da Carvoeira.

A feroz perseguição feita pelos Absolutistas conduziu à prisão e fuzilamento de muitos outros, alguns deles penacovenses: António Homem de Figueiredo e Sousa, da Cruz do Soito, irmão de D. Rita, mulher do capitão-mor José Félix, e este, irmão de Bernardo Homem; António Joaquim de Moura; António Francisco; António José de Frias, da Sobreira; António (Padre) da Maya, da Cruz do Soito; António Marques Guerra, dos Poços; António de Sousa Maldonado Bandeira; Bernardo Homem, da Cortiça (este nome consta da lista, mas haverá equívoco, pois ja estava preso, há muito, nas cadeias de Almeida); Francisco, filho de Bernardo Homem, da Cortiça; Francisco de Sande, da Carvoeira; Guilherme, filho de Bernardo Homem, da Cortiça; João Pereira Saraiva; Joaquim José Gonçalves; José Maria, filho de Bernardo Homem, da Cortiça; José Félix da Cunha Figueiredo Castelo-Branco, que faleceu nas prisões; José Henriques, de Farinha Podre, alfaiate; José Joaquim Pereira, de Farinha Podre; José Lopes; José de Loureiro e Almeida, de Farinha Podre; José Inácio Martins; José Maria de Figueiredo Castelo-Branco, filho do dito capitão mor José Félix da Cunha Castelo-Branco; José Maria de Oliveira, da Cortiça; Manuel Correia; Manuel Lourenço Gomes Cascão e Veríssimo Gonçalves.

De acordo com um historiador  “o despotismo raivoso encarcerou muita mais gente do que a constante da lista, com quanto não houvesse metido nem prego nem estopa na queima da pólvora”. 

Foi o caso de Francisco António da Assumpção, da Sobreira, de cuja prisão resultou perder a sua mãe o uso da razão; Maria Benedita e Maria Antónia, filhas de Bernardo Homem, bem como uma criada das mesmas; Ana Marques, da Cortiça, solteira; José Joaquim Pereira, de Farinha Podre, bacharel formado; Joaquina da Fonseca, de Farinha Podre, “e outras [pessoas], das quais umas não foram pronunciadas, mas outras, ou o fossem ou não, jazeram nas cadeias de Lamego até que esta cidade foi libertada.

21 agosto 2020

António José de Almeida, a ruptura com Afonso Costa e a fundação do Partido Evolucionista

António José de Almeida foi Ministro do Interior do Governo Provisório, de 5 de Outubro de 1910 a 4 de Setembro de 1911. Foi depois Presidente do Ministério da União Sagrada, de 15 de Março de 1916 a 25 de Abril de 1917, onde acumulava a pasta das Colónias.
Presidente da República, eleito em 6 de Agosto de 1919, exerceu as funções de 5 de Outubro de 1919 a 5 de Outubro de 1923.

Médico, deputado republicano antes de 1910. Quando estudante, com 24 anos, publica um célebre artigo, "Bragança, o Último", pelo qual é condenado a três meses de prisão. Exerce a clínica em S. Tomé, donde regressa em 1903. Em 24 de Janeiro desse mesmo ano, faz um vibrante discurso no funeral de Rafael Bordalo Pinheiro. Detido em 31 de Janeiro de 1908.

Segundo Raúl Brandão  António José de Almeida é um orador. Até os seus artigos são discursos… mas justiça, liberdade e povo, que para outros não passam de palavras, são para ele realidades profundas.

"O mítico tribuno dos tempos da propaganda heróica, o palavroso ideólogo da revista Alma Nacional, impulsivo no discurso, volúvel de feitio, todo ele uma sucessão rápida de amores e ódios, misturando táctica com estratégia, não tinha ideias gerais assentes em linhas filosóficas mínimas. Romântico, homem de crenças, reduzia as ideias ao prazer do discurso."

A partir de Janeiro de 1911 desenha um movimento de ruptura com a facção dominante no Governo Provisório. Nesse mesmo mês apresenta no Conselho de Ministros, projecto sobre o horário de trabalho, que não é aprovado. É então que começa a publicar-se o jornal República, de que é fundador (15 de Janeiro).

Começa por ser apoiado por Machado Santos, mas em breve constitui uma terceira força, o Partido Evolucionista, aproveitando os confrontos entre o grupo de Camacho/ Relvas e o de Costa/ Bernardino. Dá apoio frouxo ao segundo governo, presidido por João Chagas, em Setembro de 1911, quando se esboça uma manobra entre camachistas e afonsistas para o afastar. No mês seguinte é vaiado e sovado no Rossio por afonsistas.

Tinha-se declarado independente do Partido Republicano em nota publicada em A República. Em Novembro, António José de Almeida e Afonso Costa vão de comboio ao Porto em propaganda. Na chegada ao Porto, Almeida é insultado e Costa aplaudido. Repete-se a cena no regresso a Lisboa, no dia 6 de Novembro. Manifestantes gritam vários morras e Almeida, em charrette, tem de sacar da pistola para se defender. Costa vai de automóvel e é ovacionado.

Presidente da República eleito em 6 de Agosto de 1919. Exerce as funções de 5 de Outubro de 1919 a 5 de Outubro de 1923. É o único que consegue cumprir o seu mandato. Morreu em 30 de Outubro de 1929.

VER FONTE AQUI:
http://www.politipedia.pt/almeida-antonio-jose-de-1886-1929/

20 agosto 2020

À Sombra amena da Pérgola... (I) O CASTELO DE PENACOVA

Nos anos 30 do século passado, o "Notícias de Penacova" publicou um conjunto de crónicas assinadas com o pseudónimo "Carochinha", versando temas de história da vila. Sabemos que se tratava do Dr. José Albino Ferreira (1864-1940), padre e notário, detentor de uma vasta cultura e erudição. A partir de hoje, recordaremos alguns desses textos, que transcreveremos na íntegra. 

O CASTELO E A VILA DE PENACOVA

"Começarei hoje a dizer o pouco que sei do edifício do Castelo e da História de Penacova, após a completa expulsão dos Mouros de todo o território que constituiu o reino de Portugal.


A vila de Penacova comprime-se sobre o estreito dorso de um monte que é contraforte do Penedo do Castro e se prolonga de poente para nascente, vindo a acabar sob forma arredondada e quase abruptamente sobre o rio Mondego.

Castelo de Penacova (reconstituição)
No extremo oriental deste monte, a rocha eleva-se formando um outeiro do cimo do qual se avista para todos os lados um panorama de rara beleza. Foi a coroar este pequeno outeiro que os cristãos guerreiros, e porventura também poetas, construíram o Castelo que durante alguns séculos demarcou nesta região a fronteira dos domínios cristãos e sarraceno.

Terminada a guerra entre mouros e cristãos, parece que poderia considerar-se terminada também a função guerreira do castelo, mas não aconteceu assim. Em Portugal abundam notavelmente os castelos. Terras antigas de alguma importância, todas tiveram o seu castelo. Hoje não resta, de muitos deles,mais que  a tradição; mas desempenharam notável papel na consolidação da independência do reino, perante a aspiração constante dos espanhóis que sonhavam (e não sei se sonham) com a anexação de Portugal, formando-se um império de toda a península ibérica. Quando os espanhóis faziam sobre Portugal as incursões guerreiras, esbarravam por toda a parte no "cedeiro" de fortalezas mais ou menos importantes, acabando sempre por se retirarem corridos. Foi na batalha de Aljubarrota que sofreram vergonhosa derrota e muito mais tarde após o domínio de 60 anos em que os Filipes governaram Portugal, a revolução do Primeiro de Dezembro de 1640 reconquistou definitivamente Portugal a sua independência.

Os castelos desempenharam ainda, por vezes, papel importante na manutenção da ordem pública e do respeito pela autoridade local, representada pelo Senhor da Terra e seus delegados.

Do castelo de Penacova só resta a tradição mas é ainda viva Maria Martins, viúva do antigo oficial de diligências da Administração, Joaquim Cabral, que todo o concelho de Penacova conhecia e denominava o "Cabral do Castelo". Fez ele a casa da sua habitação encostada à muralha do Castelo, no sítio em que hoje assenta o Hospital da Santa Casa da Misericórdia.

Em outro dia direi como o Castelo foi caindo aos pedaços, até de todo desaparecer. "

30 julho 2020

Notas para a história da Casa de Repouso de Penacova (I)




O edifício é centenário mas só na década de 40 começou a funcionar como Residencial, com o nome de "Casa de Repouso". Durante muitos anos foi pertença do casal Joaquim Augusto de Carvalho e Raymunda Martins de Carvalho. Ele faleceu em 1935, ela em 1958. Muito ligada à Igreja, a viúva acabou por legar à Diocese de Coimbra todo o edifício e espaço da quinta.

Joaquim Augusto, nascido em Penacova em 1861, emigrou para o Brasil onde fez fortuna e casou com Raymunda, jovem brasileira. No final do século XIX vieram para Penacova, comprando a Quinta de Santo António e construindo o Palacete cuja traça inicial ainda hoje se mantém, apesar de algumas alterações introduzidas (por exemplo aumento de um piso). Consta que o traço arquitectónico teve como autor o professor António Maria Ferreira Soares (1858-1935).

Mais do que residência particular, o Palacete afirmou-se desde muito cedo como espaço privilegiado de Convívio e de Cultura, tendo para tal sido construído um Salão anexo. Os donos eram portadores de alta sensibilidade artística, em especial no campo da música. Raymunda foi professora e exímia executante de piano e também ensaiadora de espectáculos de variedades.

Foi aqui que, por ocasião da inauguração do Mirante (1908), se realizou um Sarau oferecido à alta sociedade lisboeta, coimbrã e penacovense. As "Festas de Penacova", designação que o "Diário de Notícias" adoptou para, com honras de 1ª página, noticiar o evento decorreram no dia 30 e 31 de Maio. De sábado para domingo, depois do arraial no Mirante, o Serão continuou na Quinta de Santo António. O "glamoroso" Sarau, preenchido com música clássica, poesia, dança e discursos de circunstância, prolongou-se até altas horas. No domingo foi, no mesmo local, servido um Banquete aos "ilustres convidados".

O Palacete de Santo António acolhia frequentemente grandes figuras das Artes, em especial da Música e da Pintura. Era frequentado por nomes da vila como Dr. Daniel Silva, Conselheiro Luís Duarte Sereno, Dr. Rodolfo Pedro da Silva, José Alves Oliveira Coimbra, Américo Pinto Guedes, Daniel Guedes, António Carlos Pereira Montenegro, Amândio dos Santos Cabral, Dr. José Augusto Monteiro Júnior, Cézar de Morais Queiroz, Alfredo de Almeida, Doutor José Pereira de Paiva Pitta, Dr. Alberto Lopes de Castro, Dr. Henrique Serra Carvalho, Alípio de Sousa Leitão, António Casimiro (pai e filho), Capitão (à época) Santos Leite, José de Gouveia Leitão, Armando Leitão, Joaquim Pita d'Eça Aguiar, Joaquim Cabral, entre outros. O facto de Joaquim Augusto de Carvalho ter sido, por curto espaço de tempo, Presidente da Câmara (1913), não terá tido qualquer influência no ambiente daquela casa, nem consta que António José de Almeida ou irmão João António de Almeida fizessem parte destas tertúlias ou de outros momentos de convívio.

Em Setembro de 1914, aquando do casamento da filha do casal, América Martins de Carvalho, com o Dr. Alberto de Castro Pita, esteve patente uma exposição do famoso pintor José Campas, que durante um mês ali estivera instalado e em Penacova pintou alguns dos seus célebres quadros. Mais tarde, em 1945, também aqui pernoitou e participou num banquete a Primeira Dama Maria do Carmo Carmona, quando veio a Figueira de Lorvão inaugurar o Asilo de Nossa Senhora do Rosário. Pela Casa do Repouso terão também passado Maria de Lurdes Pintassilgo e outras personalidades.

Foi na década de 40 que Raymunda Martins de Carvalho passou a receber hóspedes, muitos deles provindos de Lisboa e um pouco de todo o país. Estávamos nos anos áureos do turismo em Penacova, quando as pensões da vila, incluindo a "Casa de Repouso da Quinta de Santo António", se encontravam cheias de "aristas", atraídos  pelos  "ares puríssimos" e pelas "paisagens encantadoras", tal como era publicitado nos jornais e revistas da época.

E foi a revista de âmbito nacional e muito conhecida "Os Nossos Filhos" que, a partir dos anos 40, começou a publicitar  sistematicamente a "Casa de Repouso". A Directora dessa publicação, Maria Lúcia Namorado, prima de Maria Lamas, viveu em Penacova nos anos trinta, onde deixou muitas amizades (o marido, Joaquim Silva Rosa, lorvanense, aqui foi funcionário judicial e um dos fundadores do "Notícias de Penacova").

O anúncio naquela revista era muito completo: "Precisa de fazer uma cura de repouso ou de mudança de ares? Vá para Penacova! É uma vilazinha sossegada e encantadora, a meia altitude e rodeada de pinhais. Ligada a Coimbra por uma das mais belas estradas do País. A dois passos do Buçaco! Paisagens surpreendentes! Ar puríssimo! / Na Casa de Repouso da Quinta de Santo António (Casa Católica) encontra todas as comodidades dum grande hotel, num ambiente familiar./ Telefone [curiosamente, o nº 10] casa de banho, salão de música, jardins e mata. Esta casa está situada no ponto mais alto da vila. Dos seus quartos amplos e higiénicos desfruta-se uma paisagem maravilhosa sobre o Vale do Mondego até à Serra da Lousã.(...)".

A imprensa local foi publicando alguns artigos de opinião de pessoas que frequentaram a Casa e foi noticiando a presença de muitos dos hóspedes, geralmente pessoas de nome. Extraidos de jornais de 1940 e anos seguintes ficam alguns nomes: Maria Assunção Cordeiro Franco, tia da Superiora do Preventório, António Feliciano de Sousa e família, Albertina Braz Fernandes Ribeiro e filha, Viscondessa de Agualva e neto, Dr. José Gabriel de Noronha e Silveira e família, J. Naar e família, Arcebispo de Mitilene e mãe, Monsenhor Assis Costa e irmã, Ceciolinda Ribeiro Pereira, Dr. Víctor Santana Carlos (médico) e esposa, Fernanda Guedes, Maria da Glória Adrião (pianista), casal Pereira Salvador, família Worm Costa, Coronel Manuel António de Carvalho...e tantos outros.

Num desses artigos, Madalena de Jesus Traça e Madeira, elogia o espaço e salienta o "salão de recreio que pode rivalizar com qualquer dos nossos melhores casinos (...) dois pianos de cauda, uma boa telefonia, bilhar, ping-pong, quino, jogo de damas...". Também Henrique Maria Cisneiros Ferreira, político de craveira nacional, depois de aqui passar três semanas , escreveu ao "Notícias de Penacova" enaltecendo a "privilegiada situação" e os "naturais encantos" da vila ", verdadeira "rainha de encantamento sem par", onde "tudo se esquece".  "A permanência, minha e dos meus, a vida em família em lugar de tantas e tão variadas belezas (...) firma a opinião de que é ela a terra de eleição para o completo repouso e quietude" - sublinha.

Pelos anos cinquenta a Diocese assumiu a administração da Casa, ainda em vida de Raymunda Martins de Carvalho. Durante cerca de sessenta anos a Igreja foi gerindo, fazendo obras, adaptando, mas ao fim de oito décadas terá encarado a hipótese de alugar o edifício.

Com a "Altíssima Guesthouse - Suites & Hostel", um projecto de João André Amaral, o ano de 2020 vai marcar uma nova fase da vida centenária da Quinta de Santo António.

David Gonçalves de Almeida
penacovaonline2@gmail.com

21 julho 2020

Uma prenda para Penacova nos 80 anos do “Ténis”


A história do campo de “Ténis” de Penacova começa em 1940 (e não na década de 50 como foi dito recentemente aquando da inauguração das obras de requalificação). Antes disso naquele local o que existia era apenas um terreno de cultivo, por vezes montureira de lixo, onde, de acordo com informação de Vasco Viseu, em 1956, no Notícias de Penacova, afloravam vestígios de robustas paredes que em tempos recuados teriam sido construídas para dar lugar a um edifício destinado a Teatro, o que, obviamente,  nunca se concretizou. 

Por volta de 1940 foi António Feliciano de Sousa - o mesmo que nos anos 50 mandou construir o “Moinho do Aviador" -  o principal impulsionador da construção de um campo de Ténis em Penacova. Filho de um professor de Gondelim, José Júlio de Sousa Henriques, exercia a profissão de solicitador no Porto. Pessoa “capaz de ideias desempoeiradas, tudo sacrificou para que a ideia não fosse para o cesto dos papéis velhos”, assumindo a maior parte do custo da obra, salientam os jornais da época. 

Também Alípio Barbosa esteve envolvido no projecto. Nestas coisas, como se costuma dizer, “está tudo ligado”: na altura quem era o Presidente da Câmara? Era Alberto Alçada, seu genro, ambos ligados, como se sabe à Cerâmica Estrela d’Alva. Conta mais tarde (em 1957) Oliveira Cabral que certo dia Feliciano de Sousa lhe havia mostrado as contas discriminadas da construção do campo de ténis. Aquele pedagogo e jornalista, que foi um dos mais célebres aristas, também vivia no Porto. E foi precisamente daquela cidade que vieram os tenistas profissionais para dar brilho à inauguração, onde não faltou uma instalação sonora, montada pelo dono da Ideal Rádio, Júlio Silva, também da capital do Norte. 

Em Agosto de 1940 já se noticiava que os trabalhos estavam avançados e enaltecia-se a localização e a pertinência de tal obra: “A sua situação magnífica é invejável. A sua falta fazia-se sentir numa terra tão visitada pelos turistas e tão movimentada no Verão pelas pessoas que desejam descansar uns dias nesta deliciosa estância como é Penacova-a-Linda”. 

A inauguração teve lugar no dia 29 de Setembro daquele ano, domingo, integrada na Festa dos Bombeiros. No programa dos festejos, de sábado a terça, destacava-se também uma Récita ensaiada e organizada por Raimunda Martins de Carvalho e provas de ciclismo onde marcaram presença o “afamado corredor de Chelo”, José dos Santos Ralha (homenageado em 2014 na Gala do Desporto) e Antero Maia. 

No entanto, o Campo de Ténis, como tal, poucas vezes terá funcionado, ao ponto de Oliveira Cabral achar que não se justificava aquela designação, atendendo a que apenas uma vez se jogou ali “a preceito” e poucas mais “de qualquer maneira”...

Passados pouco mais de dez anos, já na imprensa local se dizia que as escadas de acesso estavam uma “vergonha” e perguntava-se por que não se reparavam e sugeria-se que ali fosse construído um palco “para dar uma récita ao ar livre”, pois “o Ténis” seria “um dos lugares onde se podiam realizar boas festas.” A ideia de construção de uma piscina foi também equacionada e perante a sua inviabilidade avançou-se, em 1956, com a proposta de um campo de patinagem. 

Nesse ano, o agora também designado “Parque Municipal”, teve obras de beneficiação a expensas de Abel Rodrigues da Costa. Foi construída uma “ampla e cómoda escadaria de acesso ao primeiro piso” e outros arranjos (por exemplo, vedação com muro ao lado da estrada), e foi colocado um “portão condigno”. 

Os anos passaram e o espaço foi-se degradando. Lendo as memórias de Luís Amante e de Pedro Viseu, publicadas no Penacova Actual, recordamos que o "ténis" foi local de eleição para os jovens da vila (e estudantes que foram passando por Penacova) jogarem futebol, namoriscarem, jogarem matraquilhos, “flippers”… Recordam-nos ainda que aqui actuaram os GNR e os SITIADOS, que teve restaurante-bar, escorregas e baloiços. No fundo, serviu um pouco para tudo: para a vacinação de “canídeos”, para a instalação de pavilhões pré-fabricados da “Escola Secundária”, para bailes, para festas. Por fim encerrou “durante anos, muitos e demasiados anos” – desabafa Pedro Viseu. 

Finalmente, chegou a hora de a Câmara Municipal de Penacova, presidida por Humberto Oliveira, avançar, no âmbito do PARU (Plano de Ação de Regeneração Urbana) com a requalificação do icónico “Parque Municipal (Ténis)”, revitalizando assim “um dos históricos espaços públicos de eleição das gentes de Penacova, que por incúria, falta de manutenção ou até pela dificuldade de conter a exigente topografia acentuada que o caracteriza, foi deixado ao abandono.” 

A obra implicou um investimento de cerca de 500 mil euros estando previstos mais 100 mil para a colocação de telas de sombreamento. 

A inauguração deste renovado espaço teve lugar no dia do feriado municipal (17 de Julho de 2020) com a presença da Ministra da Coesão Territorial, Ana Abrunhosa, 80 anos depois de ter sido iniciado naquele local um sonho que ainda hoje perdura: acrescentar às singulares belezas naturais o poder da acção e do querer dos penacovenses em prol do seu bem-estar e daqueles que nos visitam. 

11 julho 2020

Nudismo em Penacova?




Pois é verdade. E hoje podemos garanti-lo, o nudismo continua na ordem do dia por esse mundo além, parece que cada vez com maior número de adeptos. O que nós não calculávamos é que a nossa terra, apesar do seu actual progresso, chegasse tão depressa a tal civilização.

É um facto, caros leitores. Em Penacova, neste decantado rincão de Portugal à beira rio plantado, onde a mãe Natura foi pródiga em benesses de encanto e maravilha, onde o ar que respiramos tem perfumes de inebriante odor, onde o sol tem mais luz e o luar maior claridade, neste altar maravilhoso que Deus fez talvez para ser o primeiro degrau nas escadas do céu a civilização atingiu o auge.Em Penacova pratica-se escandalosamente o nudismo.

Estamos a ver o pasmo dos nossos leitores. A máscara de um sorriso incrédulo desenhando-se-lhes no rosto.

-Será verdade?

É verdade sim senhores. E se querem a confirmação do que dizemos, vão até ao Mirante, ao fim da tarde, à hora apetecida do banho e…olhem lá para baixo, para o Mondego, manso e sereno…

Chamamos, para esta falta de vergonha, a atenção das autoridades administrativas deste concelho.

A nossa terra, por enquanto, dispensa tais manifestações de progresso e civilização.

in Jornal de Penacova,16 Jul 1932



Entardecer(es) em Penacova

21 junho 2020

Pneumónica de 1918: em Penacova, como foi?

Entrou na Europa entre Abril e Maio de 1918. Espalhou-se rapidamente, apesar de numa fase inicial se ter apresentado com alguma benignidade, pelo que as autoridades não lhe prestaram a atenção devida. No entanto, nos meses de Setembro, Outubro e Novembro, revelou a sua agressividade. Falamos da “gripe pneumónica”, também conhecida por “gripe espanhola” e por “influenza”.

No distrito de Coimbra foi na Figueira da Foz que nos inícios de Julho se manifestou, tendo a partir de Setembro adquirido feições muito graves. Nos finais daquele mês já era Góis que registava alguns casos que em poucos dias aumentaram, lançando o caos no concelho. Segue-se Arganil, Tábua, Penacova, Cantanhede, Coimbra, Pampilhosa da Serra, Montemor… enfim, nenhum concelho escapou à pandemia, ao ponto de a imprensa ter dito que por todo o distrito a pneumónica caíra “que nem um vendaval que tudo destrói”. 

De modo a não agravar ainda mais o clima de medo e de angústia, os sinos deixaram de tocar a finados. As escolas foram encerradas e nelas foram instalados hospitais provisórios, como foi o caso de S. Pedro de Alva. Na Universidade de Coimbra o arranque das aulas foi adiado. 

Em Portugal, as vítimas mortais terão sido, segundo os números oficiais da época, cerca de 50 mil, mas há quem aponte para um número que ronda os 135 mil. Terá infectado entre um quinto e um terço dos cerca de seis milhões que então compunham a população residente, ou seja, entre 1,2 e 2 milhões de portugueses, com a particularidade de ter atingido especialmente a população em idade activa, entre os 20 e os 40 anos. A nível mundial a pandemia matou cerca de cinquenta milhões! 

E no concelho de Penacova? Cremos que nenhum estudo aprofundado foi feito e a sensação que temos é que (no País e também aqui) não percebemos porquê, este momento trágico (que matou muitos, mas muitos mais portugueses do que a I Grande Guerra) parece ter sido desvalorizado nos compêndios de História. 

Tendo por base a consulta dos livros de registos de óbitos, concluímos que em apenas um mês e meio (de finais de Setembro a meados de Novembro) foram cerca de 50 pessoas que não resistiram à fatal pandemia. Dias houve em que se registaram 3 óbitos (10,16 e 29 de Outubro e 1 de Novembro). Falamos apenas dos casos em que expressamente está registada a causa da morte. Se analisarmos o número de óbitos entre 1911 e 1925, não contando com 1918, obtemos uma média anual de cerca de 330. Ora, em 1918 temos 739 registos! Outras causas de morte eram a tuberculose e a bronco-pneumonia, que provavelmente se agravaram por influência da gripe pneumónica. É arrepiante também o número de crianças que morriam em tenra idade e não só, bem como o de mulheres muito jovens que deixavam órfãos e viúvos na sequência de gestações e de partos sem qualquer assistência médica e hospitalar.

A freguesia de Penacova (neste período analisado) é a que praticamente concentra a totalidade dos casos. Um olhar rápido pelos 12 meses do ano aponta para a conclusão que, de facto, o restante concelho não foi assim tão severamente fustigado, apesar de haver notícia de que em S. Pedro de Alva foi montado um hospital provisório.

Na vila de Penacova registaram-se 14 óbitos, seguindo-se Carvalhal (5) e Ponte (4). Outros lugares da freguesia foram atingidos: Riba de Baixo, Gondelim, Cheira, Travasso… Na sede do concelho, houve famílias que em poucos dias viram desaparecer dois elementos: filha, de 31 anos, no dia 8 de Outubro e pai, de 70 anos, uma semana depois.

No global, a mortalidade foi maior nas mulheres (60%). No sexo masculino, o grupo etário mais atingido foi dos 0 aos 20 anos e no sexo masculino foi dos 20 aos 40. Assim, a média de idades nos homens foi de cerca de 22 anos e nas mulheres de 34 anos. A vítima mais nova terá sido um menino de 2 anos residente no Belfeiro. Os mais velhos tinham 70 anos (um na Vila e outro no Carvalhal). 

Naquele período (27 de Setembro a 8 de Novembro) outras localidades vestiram de luto: Vale de Lagar, Ronqueira, Casal, Felgar, Hospital, Chã, Belfeiro, Chelo, Monte Redondo, Boas Eiras, Oliveira do Mondego e Paredes…

Numa época em que a I Grande Guerra apenas estava em vias de terminar, em que o país vivia tempos políticos muito conturbados, em que havia falta de médicos (o concelho teria apenas um facultativo na altura) imagine-se o quanto Penacova (a par de outros concelhos e de todo o país) terá sofrido, quer em termos emocionais, quer em termos sociais e económicos. 

Para todos os que não resistiram, para todos os que sobreviveram e tiveram de enfrentar as dificuldades e para todos os que, de algum modo, labutaram para suavizar tantas feridas, vai a nossa respeitosa homenagem, cem anos depois, neste momento em que estamos a ser confrontados com outra pandemia que ameaça a nossa existência e exige de todos uma capacidade suplementar de responsabilidade e de resiliência. 

Travanca do Mondego, 21 de Junho de 2020
David Gonçalves de Almeida