Mostrar mensagens com a etiqueta cobra. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta cobra. Mostrar todas as mensagens

31 maio 2022

A lenda da cobra de Penacova


“Isso eu não vi, lá isso não, mas contam!” –  José Vieira in Sol de Portugal - Crónica da Beira Alta, 1918. 


As cobras são, geralmente, animais muito temidos. Despertam sentimentos, geram crenças e dão lugar a ditos. Por exemplo, é frequente dizer-se que as cobras hipnotizam. De onde virá essa crença? Pensa-se que se deve ao facto de as serpentes não possuírem pálpebras móveis, não piscando, pois, os olhos. O seu olhar fixo levou, então,  a acreditar que se tratava de um olhar hipnótico!

Diz-se, no entanto, que a rã fica imóvel quando uma cobra se aproxima. Não por estar hipnotizada, mas pura e simplesmente porque sabe que se permanecer imóvel pode ser mais seguro! E a história do hipnotizador de serpentes, ignorando-se que cobras são, afinal, surdas? É sim, pela vibração do solo que elas detectam a presença de algo. Deste modo, o som da flauta será apenas um atractivo “para turista ver” … Metida num recipiente, que não lhe permite grandes movimentos, é atraída pelo cheiro de urina de rato com que, entretanto, se untou exteriormente a gaita do encantador.

Diz também o povo que se pode formar uma cobra dum cabelo de mulher. Arranca-se um cabelo, necessariamente, com a raiz. Mergulha-se depois numa bacia de água e muda-se a água todas as manhãs até que o cabelo se transforme em cobra.

Ora, conta-se que em Penacova aconteceu uma desgraça por causa de uma cobra gerada por esse processo:

“Uma senhora de Penacova arrancou o cabelo da cabeça, pô-lo dentro da bacia d’água e todas as manhãs lá ia vazá-la e deitar outra nova. Ao cabo de três semanas o cabelo já se movia e no sítio da raiz formava-se a cabeça com dois olhitos vermelhos, boca e dentes.

Um dia a senhora esqueceu-se de mudar a água. Na outra manhã, quando apareceu, a cobrita olhou-a e saltou-lhe na cara. Foi só uma dentada. Ao anoitecer, a pobre senhora morreu.”

“Isso eu não vi, lá isso não, mas contam!”