E apareceu com uma tatuagem no braço direito. A tatuagem tem escrito: “TUTTO PASSA”.
Em italiano significa “a impermanência da vida e a ideia que tanto os momentos bons quanto os ruins são passageiros”.
Verifiquei, entretanto, que subsiste uma história à volta de um homem idoso napolitano que foi conhecido por ter essa mesma frase tatuado no tórax.
Essa fotografia corre mundo e glorifica o fotógrafo Ciro Pipoli.
Eu não sou fã de tatuagens, mas não tenho nada contra elas, desde que discretas e significativas.
Mas fiquei, sinceramente, orgulhoso da iniciativa que o André decidiu ter.
Aos 19 anos, eu tinha sobre os meus ombros a necessidade de começar a constituir uma vida, a 200 quilómetros dos meus pais (à altura, 5 horas de viagem) trabalhando na HPE e estudando já no segundo ano da FDL.
O André não tem problemas com a vida dele, felizmente, e os que possa ter tido - que dão endurance - já passaram, pelos vistos.
E isso é muito bom!
A pergunta que eu faço a mim próprio [que bem podia ter esta frase numa qualquer parte do meu corpo] é a de saber se as coisas serão mesmo assim?
E a minha abordagem, sempre exigente, sempre prudente, conclui que não!
As coisas (boas, más, assim assim) até podem passar, mas não vão, pura e simplesmente para o “cano de esgoto da vida”.
Ai não vão não!
Se tudo passa (agora em português) porque será que sinto tanto, ainda, as coisas que aconteceram há 60, 50, 40, 30, 20, 10, 5 anos, ou há poucos dias, até?
Poderá ser por que não tem comparação a vida que eu tive de ter e a que o André tem?
Ou por que a idade do André ainda não permite a distância que este tipo de análises precisa?
Para um desportista (como o André é, praticante de futsal) a lesão do dedo grande do pé direito está ultrapassada e, portanto, passou…
Para o Fisioterapeuta do André, passou, mas deixou mazelas que não se podem descurar…
Para o Treinador, passou, deixou mazelas e merece desconfiança: afinal posso contar contigo a 100%, 90%, 80% ou só 50%?
Para uma qualquer das muitas Psicólogas ou Psicanalistas que conhecem o meu neto, desde muito pequenino, o assunto é outro: o que se deve fazer para que o André esteja em condições (apto) para assumir tão firmemente que, no alto dos seus 19 anos, tudo passou e que, ao longo da vida venha a ser um jovem/homem trabalhador, responsável e solidário.
Eu quero acreditar que a ousadia é uma característica importante do ser humano; que deve ser acompanhada da ambição saudável, rumo a uma vida em que nós próprios pensemos que uma boa parte de nós se pode entregar aos outros que precisam de ajuda; e que não é mau que coisas menos boas deixem alguns resquícios que, de vez em quando, nos permitam pensar melhor (nelas) e nas suas razões profundas !
E assim, pensando no TUTTO PASSA, já deixei passar uma boa tarde de praia.
Mas, estou certo, irei pôr os nossos Andrés, todos, a reflectirem bem sobre os factores de sorte que a vida lhes deu e, sobretudo, que os seus próprios Andrés, num futuro próximo, também precisarão dela.
Ao mesmo tempo, sem dar por isso, coloquei os avós da minha idade a ir um pouco ao fundo das vidas que tiveram.
E bem assim das que estão a ter, num contexto em que a reforma contratada diminui sistematicamente pela via do aumento da tributação e, também, pela ocorrência do aumento do custo de vida.
Sem contar com as situações em que são o suporte de vida a um agregado familiar que aumenta pela ocorrência de situações de desemprego e outras!