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07 abril 2020

Brinquedos Tradicionais Populares na região de Coimbra

Muitos de nós recordamos as brincadeiras e os brinquedos construídos pelas nossas mãos, quer herdados das gerações anteriores, quer fruto da nossa criatividade e jeito manual. Ainda não tinha chegado a invasão do plástico e estávamos muito longe dos jogos de computador.

Existem ao longo do país espaços museológicos dedicados ao brinquedo. Aqui bem perto, temos para visitar a “Escola do Brinquedo Tradicional Popular”, na freguesia de Cernache (Loureiro).

Penacova organizou, ainda não há muito tempo (2018) uma exposição sobre o brinquedo popular e uma conferência proferida pelo Dr. João Silva Amado, um estudioso e divulgador desta vertente da cultura popular.

Escreveu este investigador universitário, ligado à Associação do Loureiro, o seguinte:

“Brinquedos Tradicionais Populares: trata-se de brinquedos produzidos pela própria criança ou pelos familiares mais próximos, a partir de diversos materiais existentes no meio, da terra ao fogo, passando pela água e pelo vento, sem esquecer ramos, folhas, flores e frutos…

Apesar da sobriedade destes materiais, da efemeridade das suas vidas e da modéstia do seu aparato, pode afirmar-se que foi com os brinquedos populares, transmitidos num milenar diálogo de espaços e de tempos pela faixa infantil da cultura, que a geração anterior ao plástico aprendeu o fundamental das suas vidas!

Produzindo-os e utilizando-os, toda a criança foi equilibrista e pintora, ceramista e botânica, arquitecta e caçadora, lavradora e escultora, tecedeira e investigadora…e tudo o mais quanto pôde aprender na principal das suas escolas - a rua!

Imitando, utilizando a imaginação criadora e cooperando na produção destes brinquedos, ela incorporava a memória cultural da sua comunidade sem conflitos graves nem com os outros humanos nem com as outras espécies.”


João Amado, in “Brinquedos dos Nossos Pais”, (3ª edição, 1992) opúsculo da Associação Desportiva e Recreativa do Loureiro (ADRL), Cernache-Coimbra.

A pequena brochura acima referida recorda-nos o andador, o arco e a gancheta, a mota, o estoque, a espingarda de cana, a boneca de papoila, o pífaro de cana, o arraioco, a atiradeira…e muitos outros.

O estoque, um dos brinquedos que nos recordamos fazer muitas vezes, aqui no concelho de Penacova,  e com ele viajar para os campos de batalha da imaginação, que por vezes era bem real, quando uma “bala” certeira de estopa bem prensada causava alguma dor…





O estoque é "também conhecido por repuxo, estourete, estaleiro, estraque, puxavante, alcatruz, pistola…" nomes que remetem para ""o estalido provocado pelo disparo".

"Consiste num pequeno pau de sabugueiro, de mais ou menos 15 centímetros, a que se retira o miolo. O orifício assim conseguido é tapado com duas buchas de papel (ou estopa ou outro material) de cada um dos lados; de seguida, com um pau mais forte, o atacador ou vareta, moldado de forma a caber no orifício,funcionando como um êmbolo, faz-se pressão, muitas vezes apoiando no peito, sobre uma das buchas de tal maneira que a da outra extremidade sai disparada devido à pressão do ar."


"Há anos, qual era a menina que não sabia dobrar por baixo, com muito jeito, as pétalas de uma papoila para depois as atar com uma ervinha, de molde a provocar uma espécie de cinta de vestido?

Ajeitadinhos, o vestido e os peitos, só faltavam dois pequeninos paus espetados na parte superior ao jeito de braços…

Finalmente aí tínhamos: a boneca de papoila tendo por cabeça o disco do estigma,  e por cabeleira eriçada, um sem número de estames.

A natureza era tão pródiga nesta espécie de plantas , que a brincadeira podia até dar origem a intermináveis procissões vermelhas, dedicadas, sabe-se lá a que santo!"

Fonte:
João Amado, Brinquedos dos Nossos Pais, caderno editado pelo Clube dos Brinquedos Populares, (ADRL) Loureiro . Cernache, 3ª edição, 1992

Nesta pequena publicação são apresentados outros brinquedos com a respectiva ilustração. Ao desenho original, a traço preto, acrescentámos o lápis de cor.










Muitos dos nossos brinquedos tradicionais são comuns a vários países. Curiosamente, na vizinha Galiza existe um número muito grande de brinquedos que nos são familiares.  


Sugerimos uma visita a http://www.noticieirogalego.com/tiratacos/