Fogo: a doença que o Povo não merece
É com enorme tristeza que dirijo esta minha crónica a um tema sobre o qual ando a escrever há muitos anos.
Tristeza, amargura, vergonha, até!
Morreram mais Bombeiros…
…e, só por isso, já temos todos de estar angustiados.
Pior do que isso é que “os poderes” não se conseguem entender, nem têm a coragem de assumir que erraram mesmo muito durante os anos da nossa Democracia.
Não foram os políticos que fizeram e desfizeram estruturas supostamente para “prevenir” os fogos?
Não foram os Ministros da Administração Interna que derreteram rios e rios de dinheiro para, como afirmaram, “resolver o problema”?
Não foram “as guerras” que distrataram os Bombeiros e que os colocam -a centenas de quilómetros de casa- a olhar pró ar?
Sinceramente!
Continuar “o jogo político” na situação calamitosa em que o nosso País se encontra, é pura e simplesmente inadmissível!
A organização política tanto andou, tanto andou, que criou uma máquina tão penosa que até custa acreditar.
Os interesses são tantos e tão transversais que já não se sabe bem “quem são os chefes e quem são os índios”.
Não há linha de comando! Há tachos…
Essa é que é essa!
Após anos de desagregação de sistemas credíveis (talvez a necessitar de modernização) eis que transformaram o fogo numa doença que o nosso Interior não merecia e o nosso Povo (que continua a ser quem paga tudo) deve começar a repudiar; a contrariar.
Tudo nos levou a Pedrogão; tudo nos continua a levar a Pedrogão.
Não há prevenção; não há organização…e o combate é mantido à distância do fogo.
Só que o combate é conhecido localmente e o resto ninguém sabe quem são os actores de tanta asneira sucessiva.
Ofereço este Poema aos Leitores:
O F o g o
Falar sobre o Fogo
Já não traz nada de novo
Nem ensina nada a ninguém
O Fogo é um martírio pró nosso Povo
Que vive no Interior e é tratado com o desdém
Dos “acrobatas” escondidos por aí
Nos gabinetes que bem os mantêm
É anedótico o dinheiro que se aloca
Aos comedores da “pipoca” a arder
É tortuoso ver Bombeiros a morrer
Todos os anos, em calor ou a chover
E as Famílias sem saber como comer
E é vergonhoso ver as televisões
A correr só para captar ignições
E os tempos só a vender ilusões
!… Até a Ciência não se sabe
Como consome tantos milhões …!
*
Tudo isto já mete nojo
Já causa náuseas de dor
Tudo isto é um despojo
… Que muda o País de cor!
E chamo à atenção de todos que, se calhar, nós estamos mesmo à beira do precipício.
É que começa a discutir-se a passagem da prevenção para os Municípios.
E isso, constituindo um bom princípio descentralizador, pode tornar-se num problema que “mate” o Poder Local.
Financeiramente!
Não haja ilusão: o Poder Central só quer ter sob o seu controle o que dá prestígio sem dar chatices.
Sobre as responsabilidades maiores, é só fazer contas e contabilizar o número de anos de pertença dos tais Ministros da Administração Interna.
Luís Pais Amante
Casa Azul