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28 fevereiro 2016

VELAS AO VENTO...O MOINHO DO SENHOR LINO

Moinho do Sr. Lino Branco, em Gavinhos
Foto de José Alexandre Henriques (2010)

Ainda com a recente passagem pela Portela da Oliveira no pensamento, pesquisámos na internet “história dos moinhos de vento em Portugal”. Foi assim que nos cruzámos com esta interessante reportagem sobre os moinhos de Gavinhos, feita em 2010 e intitulada "Velas ao Vento". Sabendo que o autor (que não conhecemos pessoalmente) apenas pede,com toda a justeza,  que se indique a respectiva fonte, não resistimos a publicar aqui este apontamento. 


No seu blogue CANDEIA VERDE, José Alexandre Rodrigues Henriques começa por salientar que no distrito de Coimbra existem muitos moinhos de vento, principalmente no concelho de Penacova e explica, de seguida, algumas diferenças que se verificam entre os moinhos desta zona e os da parte mais a sul da Beira Litoral. 
“Os moinhos de Penacova são bastante diferentes dos que se podem encontrar noutras partes do distrito, mais a sul, como por exemplo os moinhos de Monte de Vez em Penela, na serra de Janeanes, ou em Santiago da Guarda, estes últimos já no concelho de Ansião, distrito de Leiria. Enquanto os moinhos das serras de Penacova são construídos em pedra, de forma redonda, os outros de que faço referência são totalmente em madeira e de formato triangular. Outra diferença significativa é o modo de fazer o posicionamento do mastro de forma a colocar as velas de acordo com a direcção e força do vento, de modo tirar o maior rendimento possível do mesmo quando ele sopra de forma suave ou moderada, ou fazer diminuir a sua incidência directa nas velas, quando é muito forte o que poderia fazer rodar as engrenagens do moinho com velocidade excessiva. Para efectuar esta manobra, nos moinhos de Penacova, o moleiro faz rodar o capelo ou cúpula do moinho, enquanto nas estruturas de madeira todo o corpo do moinho gira em volta de um eixo cravado no solo, tendo duas rodas de pedra que rodam num círculo também construído em pedra, podendo assim as suas quatro velas triangulares receberem o vento de frente”.
Dos poucos moinhos que ainda se estão em pleno funcionamento, conforme reconhece José Alexandre, foi ainda possível  encontrar um a funcionar em pleno: “Este moinho situa-se em Gavinhos, numa elevação rochosa de quartzito fronteira à localidade e de onde se avista através de um vale comprido e profundo, a vila de Penacova.”
Conta-nos de seguida como se desenrolou este contacto quer com o moinho quer com o moleiro.
“Não foi fácil encontrar o moinho a funcionar, sendo necessário deslocar-me três vezes ao local, não tendo na primeira visita obtido qualquer sucesso, pelo que voltei lá uma segunda vez, encontrando nessa altura o moleiro a fazer a manutenção do seu moinho, mais precisamente a picar as mós, pelo que decidi voltar lá mais tarde. À terceira foi de vez e pude, finalmente, ao som do vento a bater nas velas e do ruído da mó a girar, apreciar detalhadamente todo o funcionamento do moinho, ouvindo as explicações do moleiro, o senhor Lino, uma pessoa simpática que gosta de partilhar os seus conhecimentos e os transmite com gosto aos visitantes.
Quando o inquiri sobre o passado do lugar, quando todos aqueles moinhos funcionavam, notei alguma nostalgia nas suas palavras: “Nessa altura é que era bom, fazíamos companhia uns aos outros e havia trabalho para todos. Só aqui eram catorze, vinte e seis em Portela de Oliveira e muitos outros espalhados por aí. Hoje sou só eu que faço este trabalho”.
Essa intensa actividade dos moinhos, conheceu-a em miúdo, tendo entretanto trabalhado na área construção civil e sido emigrante, tendo voltado ao seu moinho por gosto a esta arte.
Despedi-me do senhor Lino. Cá fora uma brisa ligeira fazia rodar suavemente as velas do moinho; uma imagem de rara beleza, enquadrada pela magnífica paisagem e pelo céu azul de um entardecer calmo e quente de Julho. Naquele momento já não se encontrava ninguém no monte e o grande número de pessoas que ali tinham chegado durante a tarde, em dois autocarros, já tinha abandonado o local.
Sentei-me numa pedra e fiquei durante alguns minutos a observar o moinho e a paisagem, sentindo o agradável sopro da brisa fresca, que atenuava os efeitos do sol, cujos raios, naquele momento, tinham já os reflexos com a tonalidade própria do entardecer…
Foi então, naquele momento, que o ambiente no local se transfigurou completamente: Os moinhos estavam todos com as suas velas desfraldadas e a rodar movidos pelo vento que, subitamente, parecia ter passado a soprar com mais força! Estavam a chegar ao monte carroças carregadas com sacos de milho e trigo que eram descarregadas por camponeses de braços fortes e tez escurecida pelo sol, protegidos por enormes chapéus de palha. Partiam burros com sacos de farinha pendurados nas albardas. Os moleiros, com a sua roupa branca e os braços nus e enfarinhados, conversavam com os camponeses que iam chegando e partindo, trazendo e levando notícias…
De repente estremeci e regressei à realidade. O moinho do senhor Lino, que continuava a trabalhar, era o único testemunho vivo daquele passado que, por momentos, foi real na minha imaginação. Abandonei o local, feliz por aqueles bons momentos ali passados.
https://www.youtube.com/watch?v=8g4f0BQoeG4&feature=youtu.be&ab_channel=JoalexHenry
Clique na imagem para visualizar vídeo 
Refere o autor do blogue: Neste vídeo pode ver-se o engenho em movimento. O movimento de rotação do mastro é trasmitido, através das engrenagens do moinho, à mó de cima, chamada andadeira. O cereal é depositado no tegão (espécie de gamela, situada por cima da mó) e passa pela calha de madeira, a quelha. O cereal vai caindo no olho da andadeira, por acção do chamadouro (a pequena roda que gira em cima da mó), que faz vibrar a quelha, fazendo cair o cereal para ser esmagado de acordo com a velocidade da mó, uma vez que a rotação da andadeira é variável, consoante a força com que  o vento sopra nas velas.


  VER TEXTO ORIGINAL AQUI