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01 novembro 2020

Memórias das Lutas Liberais: o Poial das Almas

 O POIAL DAS ALMAS

                             - José Albino Ferreira *

"Há um banco de pedra encostado à parede da Igreja à frente da Rua da Corujeira, que foi muito falado a propósito de um caso das lutas civis entre miguelistas e liberais. 


Este banco era dantes denominado o Poial das Almas porque, por antigo costume, a certa hora da noite no tempo da Quaresma, subia para ele algum penacovense de voz muito forte e suplicava um Padre Nosso por alma de cada um dos penacovenses ultimamente falecidos.

Havia então em Penacova um Sr. Dr. Fernando, pai do conselheiro Fernando de Melo, que era Juiz de Direito e conhecido como Liberal.

Chegou a Penacova o boato, ou notícia, de algum acontecimento que levou os miguelistas da terra à persuasão de que estava certa a vitória do seu partido.

Era Domingo de manhã. Na hora própria, saiu de casa o Dr. Fernando, ignorando a novidade e dirigiu-se a caminho da Igreja para ouvir Missa.

Quando chegou ao Poial das Almas, saiu-lhe ao encontro um grupo de miguelistas que em termos persuasórios o convidaram a subir para cima do Poial e gritar bem alto: "Viva D. Miguel!" 

O bom Dr. Fernando não tentou resistir. Subiu e levantou o viva.Desforrou-se mais tarde, quando a vitória tombou para a banda dos liberais. 

Contou-me uma virtuosíssima senhora de Penacova, há muitos anos falecida, que em pequena ia muitas vezes para casa do velho Dr. Fernando, logo de manhã. Ele levantava-se já alto dia e, depois de se lavar e vestir, fazia o seu penteado ao espelho, tudo com muito esmero.

Depois abria a janela do quarto que dava para a rua e dava sempre os bons dias à vizinhança miguelista, gritando com toda a força dos seus pulmões: "Viva D. Miguel!"

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Obs: Isto ter se á passado já depois de 1840, isto é, muitos anos depois de ter acabado a Guerra Civil, com a vitória dos Liberais. Muitos outros actos de violência e crime se cometeram naqueles tempos em toda a região da Beira, incluindo Penacova, como pode ver-se na obra de Joaquim Martins de Carvalho, intitulada "Os Assassinos da Beira".

* Crónicas do NP "À sombra amena da Pérgola"- finais da década de 30 

26 março 2015

Jornal Notícias de Penacova: 26 de Março de 1932 - 28 de Dezembro de 1978

A primeira página do nº 1 (26 de Março de 1932)
O Notícias de Penacova, veio a lume pela primeira vez, a 26 de Março de 1932 Faz, portanto, hoje, 83 anos. Teve uma existência de quase meio século.

O primeiro director e proprietário foi José de Gouveia Leitão (que, recorde-se, era  filho do Conselheiro Artur Leitão e foi Presidente da Câmara). O editor era João Simões Barreto (que também estivera ligado ao Jornal de Penacova). João Barreto era Fiscal dos Impostos, escritor e fotógrafo amador. Como redactor principal encontramos o nome de Joaquim Jerónimo da Silva Rosa, natural de Lorvão (casado com a escritora Lúcia Namorado, prima de Maria Lamas e mais tarde fundadora da Revista Os Nossos Filhos). Na altura era escrivão do Julgado Municipal de Penacova. O administrador era o professor e delegado da Junta Escolar, José Joaquim Nunes.

Apresentou-se como ‘’Semanário Regionalista” e ao mesmo tempo "integrado na corrente que de norte a sul” se desenhava. Passado um ano de publicação, assume-se como afecto do “nacionalismo triunfante”.


Até 1937 coexistirá com o Jornal de Penacova num clima de alguma tensão. Em 1936 a direcção passa de J. Gouveia Leitão para Monsenhor José de Oliveira Machado.

Nas últimas décadas de existência será marcado pelas figuras do Professor e Delegado Escolar Joaquim de Oliveira Marques e do Padre Manuel Marques (que assinava as suas escritas como Manuel do Freixo). Este padre, natural de freguesia de Figueira de Lorvão, escreveu durante muitos anos no bem conhecido “Amigo do Povo” a crónica À Sombra do Castanheiro / Ao calor da Fogueira. O Arcipreste, e mais tarde Cónego, Manuel Vieira dos Santos foi também seu proprietário. Era  natural de Santa Catarina da Serra, ali perto de Fátima, onde está sepultado,  .

Com a morte deste, em 1966, a gestão passou  para a Paróquia de Penacova. Após o 25 de Abril de 1974 Joaquim de Oliveira Marques é “saneado” e os seus directores passarão a ser os sucessivos párocos de Penacova.

 Por motivos financeiros, conforme oficialmente anunciado,  terminará em 8 de Dezembro de 1978.