20 dezembro 2022

Lugares, monumentos e sítios de Penacova (11): Quinta da Ribeira

Todo este local serve de enquadramento a uma quinta barroca, do séc. XVIII, de arquitetura civil, residencial e agrícola. “Possui uma integração na paisagem conseguida de forma harmoniosa. Adapta-se e desenvolve-se em socalcos formando terraços interligados, percorrendo a encosta e desfrutando de uma vista panorâmica sobre o vale" (PDM). Mais se acrescenta que este enquadramento rural, destacado, se encontra próximo de uma ribeira e é envolvido por vegetação arbórea.

Por sua vez, Cecília Matias (2001), do IGESPAR, afirma que se trata de uma “casa unifamiliar barroca representativa da casa nobre portuguesa da época e área geográfica em que se inscreve, pela implantação em terraços e inserção na natureza, assim como, pela conjugação da casa, capela e pátio formando uma unidade própria.”

A casa integra residência, capela, mirante e também uma pérgola; a residência é formada por dois pisos, telhado de duas águas, “fachada principal longitudinal, sóbria, decorada apenas nas janelas do andar nobre com molduras de cantaria de verga curva e avental”. O rés-do-chão inclui cozinhas, celeiros, adegas e arrecadações. No andar nobre há salas e quartos sendo as portas pintadas a marmoreado; por sua vez, a capela é constituída por um “corpo definido por pilastras com empena a romper linha da cobertura, assinalada por dois fogaréus a prolongar as duas pilastras da fachada, que acentuam a verticalidade, e cruz central; portal com cornija forte sobrepujada por pinhas, moldura de recorte curvo; acima óculo quadrilobado.”

De acordo com o já referido acima, esta Quinta é do século XVIII. Investigámos alguns aspectos genealógicos e concluímos que esta casa pertenceu ao casal José Cardoso, nascido em 1718, e Maria Assunção dos Santos, esta natural de Palmazes. Deste casal nasceu, em 1736, precisamente nesta Quinta da Ribeira, o capitão José Cardoso dos Santos, avô materno de David Ubaldo Leitão, bisavô do Conselheiro Alípio Leitão.

01 dezembro 2022

O rio Mondego na poesia de Ulisses Baptista

Regresso às Origens é o título do novo livro de poesia de Ulisses Baptista, autor penacovense. Já em 2012 havia publicado Meu Rio de Prata, uma “Breve História de Penacova e suas Tradições”, de acordo com o subtítulo desta obra, toda ela traduzida em estrofes de quatro versos, num total de cento e oitenta e três.

Agora, além da temática do Rio Mondego, Ulisses Baptista, Engenheiro do Ambiente, reúne um conjunto de cinquenta e um poemas onde se cruzam recordações de infância, passada na Carvoeira, preocupações ambientais e sentimentos perante a Vida e a Natureza.

Além das duas poesias sobre o Mondego, que transcrevemos, encontramos também o poema “Lembranças do Mondego”. Fica um excerto: “Nunca julguei que um dia ao te domar / O Homem, que tem voz no meu lamento / Servisse pra tão só te ver passar”.

Ulisses Baptista vem publicando textos em prosa e em verso na página do Facebook “Carvoeira, terra amiga”, de que é administrador. Um espaço que tem como conteúdo as “histórias e as lendas”, bem como, “fotos e factos sobre a Carvoeira, seus lugares e suas gentes”.


MONDEGO, MEU RIO DE PRATA

Meu rio de prata,
Outrora fecundo,
Morro de saudade,
Por não me rever
No que te fizeram.
Que é feito de ti
Meu rio de prata?
Águas cristalinas
E areias tantas,
Taludes orlados
Com moitas de junco.
Meu rio de prata,
Outrora fecundo,
Que há em ti que eu veja:
Um simples canal,
E ao largo os montes
E o azul do céu,
Não em ti espelhado.
Mas tu, um príncipe folião,
Perdeste a garra
Neste canhão.
Meu rio de prata,
Bem que eu te queria
Como eras dantes:
Seixos roliços
Postos ao acaso
E tapetes de erva,
Que pisei descalço,
Porque era criança.
E criança fui
E em ti me fiz homem
E assim me deixaste,
Meu rio de prata,
Outrora fecundo.


MONDEGO

Tinhas as orlas espraiadas
Em linhas ténues nas areias,
As curvas pouco fechadas
No correr das tuas veias.
Por ti se encantaram povos,
Distantes na madrugada,
Que vieram trazer aos novos
Mensagens de paz velada.
Revoltoso no Inverno,
Quando inundava as terras,
E as águas, num inferno,
Vinham do cimo das serras.
No auge da estação quente,
A cor da prata no leito,
Límpido e transparente,
Num panorama perfeito.
Em ti refletiam as cores,
O celeste azul do céu,
As praias desses amores
Que tanto poeta escreveu.

E quando a força bruta
Trouxe o mal que te quebrou,
A beleza, em forma astuta,
Ainda assim nos encantou.