Mostrar mensagens com a etiqueta cartas brasileiras. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta cartas brasileiras. Mostrar todas as mensagens

20 agosto 2023

Emigração para o Brasil: a ida de penacovenses para Barretos (S. Paulo)


Recordar-se-ão os nossos leitores das interessantes “Crónicas Brasileiras”, assinadas por Paulo Santos e aqui publicadas em tempos. Recebemos agora mais um interessante trabalho seu sobre a emigração para o Brasil, onde nos relata a odisseia de algumas famílias penacovenses.  

Obrigado Paulo por esta partilha!

A IDA/VINDA DOS PENACOVENSES PARA BARRETOS (SP-Br)



O tempo passa e não perdoa, e quando nos damos conta, lá se foi quase uma década. Pois foi em 13/12/2013 que David de Almeida publicou em seu blog um texto meu sobre a migração de penaconvenses para o Brasil. https://penacovaonline2.blogspot.com/2013/

Faz parte da História, muitos europeus imigraram para o Brasil, durante aqueles dias difíceis porque passou a Europa. Alguns moradores da freguesia de Penacova seguiram o mesmo caminho.

Como os ascendentes da minha esposa (bisavós, avós maternos, paternos, pai e mãe) eram oriundos da freguesia de Penacova, isso me levou a “entrar de cabeça” na empreitada de saber um pouco mais sobre a aventura da travessia do Atlântico, encontrar os navios, descobrir as datas e onde desembarcaram os Batistas, D´Assumpção, Castanheiras e Feitor. Foi uma longa peregrinação pelos arquivos de registros de desembarque de passageiros, em documentos oferecidos pelo Governo Federal e pelo Governo do Estado de São Paulo. Os dados sobre os antepassados encontrei nos arquivos do museu do Tombo, disponibilizados pela Universidade de Coimbra.

Em uma dessas levas de imigrantes, em 22/04/1924, após cruzarem o Atlântico, a bordo do vapor GELRIA, desembarcaram no porto de Santos (São Paulo-Brasil) Maria Piedade, mãe e filho. Eles integravam o grupo de 721 imigrantes, na 3ª classe, de várias nacionalidades: 355 romenos, 136 tchecos eslovacos, 133 portugueses, 45 austríacos, 22 polacos, 17 alemães, 8 espanhóis, 3 turcos, 1 holandês e 1 húngaro. O pai, Eduardo Batista, tinha vindo alguns anos antes para preparar.

Pesquisas dos registros de batismo, nascimento e de casamento

As pesquisas foram feitas no site https://tombo.pt/ nos registros digitalizados efetuados pela Universidade de Coimbra. Iniciando pelo site do Tombo, busca-se a Região, pretendida, nela o Concelho, depois a Freguesia, por fim o período do ano que interessa, entre os disponíveis. Por exemplo, na Freguesia de Figueira de Lorvão há registros de “baptismo” no período de 1766-1911. E de casamento e de óbitos entre 1849-911. Nem sempre as caligrafias dos registros ajudam, ainda que muitas sejam maravilhosas. Postar fotos desses registros pode decepcionar, daí entender ser preferível disponibilizar os links, e apresentar pelo menos a imagem de um deles, para matar a curiosidade mais imediata.


 

Batistas & D´Assumpção

Eduardo Batista (25/03/1897 - 12/03/1945), nasceu em Carvalhal, batizado aos 17/04/1897, na igreja paroquial de Penacova, registro sob nº 25, páginas 10ª e 11ª, filho de Felicidade da Silva, neto materno de Francisco Lopes Loiro e Maria Benedicta. Faleceu em Barretos (SP-Br).
https://pesquisa.auc.uc.pt/viewer?id=42745&FileID=673870

Maria Piedade (16/03/1898 - 31/12/1963), nasceu Gondelim, batizada aos 9/04/1898, registro nº 26, página 23, na igreja paroquial de Penacova, filha de Maria Rosa d´Assumpção, neta materna de Maria Assumpção Peralta. Faleceu em Barretos (SP-Br).


https://pesquisa.auc.uc.pt/viewer?id=275704&FileID=1021086

Eduardo Batista e Maria Piedade d’Assunção se casaram no dia 5/04/1920, conforme registro n°12, do Registro Civil do Concelho de Penacova, página 17ª e 18ª.
https://pesquisa.auc.uc.pt/viewer?id=275887



Em Portugal, aos 25/09/1920 tiveram Eduardo Batista Filho.

Castanheira & Feitor


Manuel Rodrigues Castanheira (23/04/1906 - 7/05/1982), nasceu na Figueira, o assento de batismo nº 26, dia 2/05/1906, Igreja São João Baptista, da Figueira do Lorvão, Penacova, diocese de Coimbra, filho de António Rodrigues Castanheira e Maria do Rosário, neto paterno de Manuel Rodrigues Castanheira e Deolinda da Silva, maternos: José Simão e Maria do Rosário.

Maria Rodrigues Feitor (5/12/1907 - 12/09/1989), batismo em 25/12/1907, nº 52, Igreja São João Baptista, nasceu na Povoa, pais: Joaquim Rodrigues Feitor e Maria Pereira da Costa, neta paterna de António Rodrigues Feitor e Maria de Nossa Senhora, materna: João Rodrigues Valente e Rosaria de Nossa Senhora. Faleceu em Barretos (SP-Br).

Para ver o registro batismo/nascimento de Manuel basta clicar no link abaixo, deverá abrir na página 53, é o registro nº 26.

https://pesquisa.auc.uc.pt/viewer?id=275512&FileID=1137038

O de Maria, mesmo livro, página 90, registro nº 52, link:

https://pesquisa.auc.uc.pt/viewer?id=275512&FileID=113707


Manuel Castanheira e Maria Rodrigues Feitor casaram no dia 25/09/1926, no Registro Civil da Figueira, concelho de Penacova.


Em Portugal tiveram os filhos: Lucília (02/07/1927) e Horácio (04/03/1929)

No Brasil, Manuel Castanheira e Maria Rodrigues tiveram uma penca de filhos: Maria Terezinha, Armando, Zulmira e Izabel. Todos constituiram famílias, tiveram filhos, deram aos pais netos e alguns bisnetos

Relação de passageiros desembarcados no Rio de Janeiro e em Santos

Para encontrar as listas de passageiros utilizei fontes: para desembarque no porto Rio de Janeiro e outra no porto de Santos, respectivamente:

https://sian.an.gov.br/sianex/consulta/resultado_pesquisa_new.asp
http://www.arquivoestado.sp.gov.br/web/acervo/solicitacao_certidoes/lista_passageiros_pesquisa

Para pesquisar no site do Governo Federal é necessário criar conta e senha. Enquanto que nos arquivos do Governo do Estado de São Paulo é livre. Para pesquisar a lista de passageiros, basta usar um dos links, conforme o posto de desembarque, colocar o nome do navio e o ano, pelo menos uma dessas informações. Evidentemente, inserindo ambas ficará mais fácil a pesquisa. Se colocar o nome do navio e a data correta da chegada, ficará ainda mais fácil.


IDA/VINDA dos BATISTAS & Assumpção para o Brasil



Eduardo Batista veio para o Brasil no vapor, Zeelandia, de uma companhia holandesa. Desembarcou no dia 15/05/1922, no Rio de Janeiro. Veio sozinho, para preparar as condições para trazer a família, o destino, Barretos, uma cidade bem ao norte do estado de São Paulo, quase na divisa com o estado de Minas Gerais. Ele é p 349º na relação de passageiros.

http://imagem.sian.an.gov.br/acervo/derivadas/br_rjanrio_ol/0/rpv/prj/17898/br_rjanrio_ol_0_rpv_prj_17898_d0001de0001.pdf

Maria Piedade e Eduardo B Filho (3 anos) desembarcaram em Santos no dia 22/04/1924. Vieram no Vapor Gelria, da mesma companhia que o Zeelandia, passageiros 621º e 622º, foram para Barretos. http://www.arquivoestado.sp.gov.br/uploads/acervo/textual/mi_listavapores/BR_APESP_MI_LP_014226.pdf

No Brasil, Eduardo e Piedade tiveram outros filhos: Zulmira, Osmildo, José Batista, Arthur, Américo, Armando e Neide. Exceto Américo, os demais constituiram famílias, tiveram filhos e netos e bisentos.


IDA/VINDA dos Castanheiras & Feitor para o Brasil



Manuel R. Castanheira desembarcou, no porto de Santos, no dia 19/11/1928, veio pelo Vapor Sierra Morena, Companhia Alemã. De Santos, por viaférrea, passando por São Paulo, seguiu, para Barretos, cidade localizada norte do estado de São Paulo, distante uns 500 km (estado seria um distrito em Portugal). Veio também sozinho.

Em 6/03/1934, Maria Castanheira Feitor chegou a Santos, com Lucília (7 anos) e Horácio (5 anos), pelo Vapor Highland Brigade, do Correio Real Inglês. Foram para Barretos encontrar ao encontro de Manuel.

No Brasil, Manuel Castanheira e Maria tiveram mais filhos: Maria Terezinha, Armando, Zulmira e Izabel. Todos constituiram famílias, tiveram filhos, deram aos pais netos e alguns bisnetos

O casamento: Batista & Castanheira


Eduardo Batista Filho (25/09/1920 – 25/10/1984) que nascera em Gondelim (Penacova), que chegou ao Brasil em 22/04/1924, e foi para Barretos. Lucília Castanheira (2/07/1927 - 17/05/2020), que chegou ao Brasil em 6/03/1934 e que o destino a levou também para Barretos. Com tantas coincidências, não deve ter havido muita dificuldade para se conhecerem, tanto que se casaram aos 4/04/1944, em Barretos.

Tiveram: Marísia (1946), Marilda (1947), Marineide (1949, minha esposa) e José Eduardo (1954). Os filhos constituiram famílias, deram a eles lindos e maravilhos netos, dois dos quais levam meu sangue porque eu me casei com a filha caçula.

Assim vieram os antepassados do Concelho de Penacova, são esses os laços que nos unem a Figueira do Lorvão, Povoa, Gondelim e Carvalhal, lugares que ainda não conhecemos, mas que esperamos e desejamos conhecer.


LISTA DE PASSAGEIROS

Nem sempre as imagens baixadas das listas de passageiros ficam adequadas para publicação. É melhor serem vistas direto pelo link. Publicarei apenas uma para mostrar, as demais poderão ser vistas através dos links dos arquivos em PDF, ou até direto nos arquivos governamentais.

Eduardo Batista – desembarque no Rio de Janeiro - 15/09/1922 - Vapor Zeelandia, é o 349º da lista

http://imagem.sian.an.gov.br/acervo/derivadas/br_rjanrio_ol/0/rpv/prj/17898/br_rjanrio_ol_0_rpv_prj_17898_d0001de0001.pdf

Maria Piedade e Eduardo – desembarque em Santos - 22/04/1924 - Vapor Gelria, passageiros 621º e 622º.

Passageiros: 621º e 622º. http://www.arquivoestado.sp.gov.br/uploads/acervo/textual/mi_listavapores/BR_APESP_MI_LP_014226.pdf

Manuel Castanheira – desembarque em Santos - 19/11/1928 - Vapor Sierra Morena, é o passageiro 85º da 3ª classe http://www.arquivoestado.sp.gov.br/uploads/acervo/textual/mi_listavapores/BR_APESP_MI_LP_015090.pdf

Maria Rodrigues, Lucília e Horácio – desembarque em Santos – 5/3/1934 – Vapor Highland Brigade, passageiros 9º, 10º e 11º da 3ª classe

http://www.arquivoestado.sp.gov.br/uploads/acervo/textual/mi_listavapores/BR_APESP_MI_LP_023807.pdf


CURIOSIDADES E DÚVIDAS

Os registros, em parte, solucionaram as dúvidas existentes nas nossas famílias, quanto aos sobrenomes. Em parte, porque nos diversos registros (batismo, nascimento, casamento e listas de embarques), há divergência nas grafias.

d´Assumpção ou d´Assunção: No registro de batismo/nascimento, Maria Piedade consta como d´Assumpção. No registro de casamento aparece como d´Assunção, bem como na lista de passageiros, e no registro de Eduardo Filho. A conferir nos demais filhos do casal Eduardo e Maria Piedade.

Baptista ou Batista: em todos os documentos de Eduardo consta apenas Batista.

Feitor ou Feitora: Nos documentos portugueses consta Feitor, assim seria mesmo Maria Rodrigues Feitor antes de se casar com Manuel Rodrigues Castanheira.
 

MAPAS E DISTÂNCIAS


O Distrito de Coimbra tem 17 Concelhos: Arganil, Cantanhede, Coimbra, Condeixa-a-Nova, Figueira da Foz, Góis, Lousã, Mira, Miranda do Corvo, Montemor-o-Velho, Oliveira do Hospital, Pampilhosa da Serra, Penacova, Penela, Soure, Tábua e Vila Nova de Poiares.


Mapa de Portugal Continental e do Distrito de Coimbra. Penacova ao norte com a coloração azul mais claro.

Penacova tem 11 freguesias: Carvalho, Figueira de Lorvão, Friúmes, Lorvão, Oliveira do Mondego, Paradela, Penacova, S. Paio de Mondego, São Pedro de Alva, Sazes do Lorvão e Travanca do Mondego.

Obs: O Concelho de Penacova, que tem uma área total de 216,7km2 e, de acordo com os Resultados Preliminares dos Censos 2021, uma população de 13.119 habitantes, divide-se- desde 2013 - por 8 freguesias: Carvalho, Figueira de Lorvão, Lorvão, Penacova, Sazes do Lorvão, União das Freguesias de Friúmes e Paradela, União das Freguesias de Oliveira do Mondego e Travanca do Mondego e União das Freguesias de São Pedro de Alva e São Paio de Mondego

Algumas Distâncias (rodovias): Penacova/Gondelim: 12 km
Penacova/Coimbra: 30 km
Penacova/Figueira do Lorvão: 6,5 km
Penacova/Lisboa: 229 km
Lisboa/Santos (de avião): 7.968 km





Maria Piedade d´Assunção e Eduardo (621º e 622º)

Obs: aceito contribuições para eventuais equívocos.
Texto e grafismo: Paulo Santos

____________________________

NOTAS DA REDACÇÃO sobre causas da emigração e sobre o estado "patológico" da emigração portuguesa

“Na raiz da atitude de emigrar havia uma causa geoeconómica e social, mas, também, psicológica, familiar, política e, muitas vezes, de pressão demográfica. A falta de desenvolvimento do sector agrícola, agravada pela carência de e nas propriedades industriais, empurrava o grosso da população, maioritariamente masculina e dentro da faixa produtiva, que, numa penumbra vivenciada na subsistência de um salário de jornaleiro tão exíguo que roçava pelo mínimo indispensável ao seu parco sustento, o desejo de emigrar, sobretudo para o Brasil, no qual, o espírito alimentava o sonho de uma vida melhor.

Para a explicação do intenso movimento emigratório que se fez sentir no período em   questão, concorrem, igualmente, factores externos como a actuação das autoridades brasileiras na promoção de uma política de atracção de braços para fazer face à crescente necessidade de mão-de-obra que substitua o progressivo desmantelamento das estruturas esclavagistas e, ao mesmo tempo, explore um imenso território despovoado.”

In A emigração no concelho de Penacova através dos Registos de Passaportes (1870-1899), de Mário Jorge Martinho da Costa


“É certo que a emigração portuguesa tomou nos últimos anos caracteres realmente alarmantes, não por ela mesma, mas pelo que significava de destruição e quase morte no organismo económico da nação. Até há pouco tempo ainda nem sequer tínhamos um só tratado de comércio, que nos permitisse exportar os produtos da nossa agricultura que podem defender a nossa existência económica (…) a emigração portuguesa perderá dentro de poucos anos o seu aspecto doloroso, patológico, para assumir os caracteres de um fenómeno normal, eminentemente profícuo, e intimamente ligado, nas suas origens e funções, como no seu movimento, à própria vida da nação.”

Afonso Costa, O problema da emigração, 1911















17 janeiro 2018

Cartas brasileiras: a milagrosa imagem de Nossa Senhora da Moita (Gondelim)



Sabia eu do que contam, história ou lenda, mas, até então, não havia encontrado registro. Por sorte, ou o que mais possa ser, encontrei relatos em um livro publicado em 1712. 

Os princípios e origem desta Santa Imagem são mais por tradições do que por escrituras, são dos “ tempos imemoriais”, não se sabe o tempo do aparecimento. 

Contam, em um vale distante de Gondelim, a um “tiro de mosquete”, perto de uma ribeira que desagua no Mondego, havia uma mata de carvalhos muito fechada, com tojos, urzes, silvas, e outros matos semelhantes. Metida no tronco de um carvalho, encontrou-se a Imagem da Senhora, um sino, e uma campainha. Não se sabe quem foi o venturoso ou os venturosos que encontraram o tesouro, consta apenas que trouxeram a notícia, ou a ouviram de moradores de Gondelim para que fosse buscá-la.

Imagem que se venera em
 Gondelim-Penacova
Por não ter onde guardá-la, a colocaram na casa de algum venturoso Obede-Edom. Porém, dizem, a Senhora deveria gostar mesmo muito do lugar onde estava anteriormente, pois fugiu repetidas vezes para a mesma árvore, ou mata de carvalhos, para aquela tosca concha em que se manifestou. 

Os devotos de Gondelim não querendo mais contrariá-la, resolveram a edificar uma ermida junto ao lugar do seu aparecimento, e a colocaram no altar mor, no meio de um retábulo de madeira dourada, com “asseio assistida, conforme os cabedais, e possibilidades daqueles moradores, com ornamentos, e ornatos necessários para assim se dizer missa”. 

Tem mordomos anuais, que se elegem, e estes são os que festejam a Senhora, o que fazem na primeira Quarta-Feira depois da Páscoa, dia da sua manifestação. Neste dia é muito grande o concurso das romagens e nele concorrem várias procissões, é o dia dos perdões, assim chamam. 

A sagrada Imagem é uma escultura formada em pedra, a altura é pouco mais de dois palmos, tem sobre o braço esquerdo o Menino Deus, com as roupas formadas na mesma pedra; ambas as Imagens pela sua rara perfeição, dizem, só pode ser obra dos Anjos, por não haver entre os homens artífices capazes. 

A Imagem encontra-se sobre uma peanha de madeira dourada, e com umas roupas de seda, e desde que se manifestou nunca foi pintada, está em uma encarnação tão bela, e tão rica, que parece encarnada de poucos dias. 

Tem os enfermos grande fé e devoção na Santíssima Imagem, são inumeráveis os milagres, existindo na ermida muitas memórias oferecidas para perpetuar a lembrança das mercês, sem que os moradores tenham tido o cuidado de fazer os registros. 

Estes, os moradores e devotos, somente se contentam por tê-la por sua singular protetora, sendo a Senhora da Moita, e ela em si, com sua beleza e formosura é um contínuo milagre. 

Santuário Mariano e História das Imagens Milagrosas de Nossa Senhora... (Lisboa,1712)
Tomo IV Livro II Título XCII pg. 645 a 647



15 dezembro 2017

Cartas brasileiras: Uma Coisa Leva a Outra


Estando um dia a pesquisar sobre Gondelim encontrei “Portugal Antigo e Moderno”,  livro publicado em 1886, tendo como autor Augusto Soares de Azevedo Barbosa Pinho Leal.

Curioso, deixando de lado o que me levara até ele, passei a folheá-lo ao acaso, quando me deparei com a Rebelião no Convento de Santa Clara, tema da minha última Carta Brasileira.

Fazendo as folhas correrem encontrei o grande incêndio de Lisboa, as penúrias vividas pela corte, o atentado contra o Rei D. José I, em 1758, e por consequência a desgraça dos Távoras; uma família de nobres executada em praça pública, no mesmo dia, por terem, supostamente, participado do atentado. A Marquesa de Távora, D. Leonor, que foi decapitada, teria dado um pito em seu algoz, reclamou, quando ele tentou afastar o colar que ela trazia no pescoço.

Para saber um pouco mais sobre o rei, um link me levou ao Museu da Torre do Tombo, e após a leitura do que me interessava, vi em uma das abas do site uma chamada sobre a Inquisição em Portugal. Na sequência encontrei o processo contra Hyppólito José da Costa; pela minha ignorância, até então, um ilustre desconhecido.

Logo fiquei sabendo, o brasileiro tinha ido para o cárcere por ser “pedreiro livre”, como se intitulam os maçons. A curiosidade ficou mais aguçada porque um grande amigo pertence a essa confraria. Fui então saber que o “réu” vem a ser o patrono da imprensa brasileira.

Para mostrar por completo o achado ao amigo, me meti a transcrever os 156 arquivos digitalizados do processo, e nisso estou até agora metido.

O português utilizado em 1811, ano em que acontece o julgamento, bem como as caligrafias dos escrivães são dificuldades que enfrenta quem se mete a buscar encrenca, na base de uma coisa leva a outra. E, muitas vezes, nem quebrando a cabeça consegui decifrar o que escreveram.

P.T.Juvenal Santos

Notas:
1)    O arquivo do processo contra Hyppólito José da Costa pode ser visto através do link: http://digitarq.dgarq.gov.pt/viewer?id=4522454
2)      Por exigência da fonte, o desenho da execução, de autor desconhecido, foi obtido em


        

31 agosto 2017

Cartas brasileiras: a rebelião no Convento de Santa Clara

Clemente VIII era o papa, Filipe III, rei de Portugal, o ano 1602. Jerônimo Rodrigues, natural de Vila Real, "reverendo licenciado", decidiu erguer um convento na vila, dedicado a Nossa Senhora do Amparo, cujas obras foram concluídas seis anos depois. Para lá foram as religiosas de Santa Clara da Vila de Guimarães e de Amarante. 

As noviças eram acolhidas em clausura perpétua, irrestrita obediência, sob as ordens da abadessa nomeada pelo arcebispo ou por eleição trienal, sem recondução ao cargo, votando apenas quem tivesse pelo menos cinco anos de hábito e promessas de voto. O convento chegou a acolher setenta e cinco religiosas, cuja admissão passava pela aprovação da abadessa e do prelado. Por desejo do fundador, uma vaga seria sempre reservada para parente dele sem dote, sem interferência do prelado. 

Em 1718, um episódio monástico, jamais imaginado, agitou a região; as obedientes religiosas, separadas em dois grupos promoveram uma rebelião. Um grupo, comandado pela abadessa e seguido pelas freiras mais idosas, em favor da disciplina claustral, e o grupo das mais jovens; essas últimas pretendendo abandonar o convento. Avisado, o vigário geral compareceu ao convento, após ter feito severa admoestação, retirou-se imaginado ter acalmado os ânimos. 

Contudo, à noite, as rebeldes, tendo avisado seus "protetores" e por eles amparadas, fugiram. Os ditos protetores, esconderam os rostos, protegidos por mascaras; "ignoram-se os nomes daqueles cavalheiros, mas sabe-se, pertenciam às primeiras famílias da terra...". A notícia logo se espalhou. Um jovem frei tentando conter a debandada foi esfaqueado por um dos mascarados. 

No mesmo dia, um tribunal pleno foi instaurado, e S.M. o rei D. Joao V foi comunicado. Por ordem do Rei, foram enviados ao local 100 homens da infantaria e 100 da cavalaria, com ordem determinante, "devassar os acontecimentos". 

Mas, de tudo resultou apenas: o abade foi preso e as duas freiras removidas para outros conventos. E nada mais se falou, não há registros, tanto por envolver poderosos do lugar, como pelo fato de ter sido a estranha ocorrência desairosa para o lugar. 

Em decorrência do decreto de 1834 que acabou com as instituições religiosas em Portugal, o convento deveria permanecer até à ultima freira viva, contudo sem renda, a derradeira foi expulsa, foi tomado de vez 1855, o que era mesmo de se esperar, pois "pelas poucas freiras que restavam, se achavam todas caducas os prestes a caírem nas covas". 

Essa história encontrei em Portugal Antigo e Moderno, Dicionário de Todas as Cidades, Vilas e Freguesias de Portugal, volume XI, páginas 986-990. Publicado em 1886, tendo como autor, Augusto Soares de Azevedo Barbosa PINHO LEAL.


P.S. : ao buscar uma foto do convento, acabo de encontrar isso: Farol da Nossa Terra – LENDA DO DIABO ENTRE AS FREIRAS DE SANTA CLARA – VILA REAL

02 agosto 2017

Cartas Brasileiras: Parabéns D. Lucília pelas suas 90 primaveras

Lucília Castanheira Batista, natural de Figueira de Lorvão, celebrando
 o  90º  Aniversário junto dos familiares, no Brasil
Minhas primeiras cartas para o blog falavam sobre a partida de residentes dos arredores de Penacova para o Brasil, lá nos primeiros anos de 30.
Lucilia Castanheira, então com 7 anos, com a mãe e irmão deixaram o sagrado solo materno a bordo de um vapor holandês, com destino a Santos, maior porto da América Latina, a pouco mais de uma hora até São Paulo. O desembarque foi no dia 3 de março de 1934. Em 1945, Lucília casou com Eduardo Batista da Silva,  de quem adquiriu o apelido Batista, oriundo de Gondelim, um lugar de Penacova, de onde saíra ainda menino. 
Nascida em Póvoa da Figueira do Lorvão, aos 2 de julho, acaba de completar 90 anos.
Para comemorar a grande data, a dádiva divina da longevidade, seus filhos, Marisia, Marilda, Marineide e José Eduardo, os genros e nora, os netos, bisnetos, os irmãos da aniversariante (Horácio, também nascido em Portugal, Zulmira, Armando e Izabel, os cunhados, cunhadas, sobrinhos, sobrinhas e amigos, se reuniram em um almoço festivo.
Músicas portuguesas animaram o evento, as crianças desenvolveram coreografias nas danças portuguesas. Em local privilegiado, no espaço elegantemente decorado para receber os convivas, um oratório com a imagem de Nossa Senhora de Fátima, presente de um dos netos, trazida de Portugal.
A querida Lucília, minha sogra, é a primeira da família a chegar aos 90 anos; há outros na fila e logo mais, com a graça de Deus, ainda relataremos em Cartas Brasileiras.

ptjsantos@bol.com.br
---------------
Nota da redacção: Para a D. Lucília, vão de Portugal, em meu nome e em nome dos penacovenses que muito a estimam, votos de muitos anos de vida com muita saúde, na companhia dessa família maravilhosa. David Almeida 

28 abril 2017

Cartas brasileiras: Cupim subterrâneo ou o quê?

A coisa aqui para o nosso lado anda feia. As notícias ruins já devem ter batido por aí. Há um clima de vergonha nacional, de revolta mesmo, todo mundo virou suspeito, uma deslavada roubalheira envolvendo grandes empresas e nomes graúdos da política brasileira.
Recorro a um texto meu para ilustrar a situação.
Um amigo levou um susto quando viu túneis compridos na parede da dispensa do apartamento, pareciam feitos de terra. Curioso e com receio - sabe lá Deus o quê seria aquilo - derrubou um pedaço do túnel aparando com uma folha de jornal. Ao firmar bem a vista pôde ver uns bichinhos brancos, que se não fossem as perninhas, diria que seriam vermes. Sentindo-se atacado, tratou de chamar um especialista, uma caça-pragas.
O entendido explicou que os bichinhos eram cupins subterrâneos, insetos que atacam componentes de madeira e outros materiais; os túneis servem como proteção contra a luz e predadores. Os loucos por madeira, ou seja, pela celulose, montam suas colônias debaixo do solo, em base árvores, sob construções, daí a dificuldade para localizá-las. Das colônias os “operários” se dispersam pela edificação e vão de um apartamento para outro, através dos espaços vazios entre tubulações e juntas dilatação. Assim, não adianta pulverizar apenas uma área atacada, isso vai apenas espantá-los, fazendo com que se fujam para outro local. É preciso encarar o problema com um mal coletivo, exige trabalho demorado e requer constante atenção.
Por que a Presidente Dilma não combate os cupins de órgãos governamentais como se combate cupim subterrâneo? São espécies parecidas, basta que se lembre: tratamento no todo, faxina geral, não adianta tentar combater os que estão no Transporte porque eles correm para a Saúde. É preciso atenção, vigilância constante; esses insetos são ávidos pelos recursos públicos, especialistas em atacá-los sem que sejam notados, comem tudo, não deixam nada. Expertos, usam todos os meios para acessar os pontos de interesse, se valem de canais de proteção, são loucos pela celulose existente no papel moeda. Mesmo com a localização de uma colônia não se pode cantar vitória, trata-se de praga resistente e disseminada. Não fossem as gravatas diria que são vermes.

P.T.Juvenal Santos – ptjsantos@bol.com.br

04 março 2017

Cartas brasileiras: A TRIPARTIÇÃO DO TEMPO

Como não ser saudosista, tudo em nós é apenas passado! Nunca somos, fomos ou seremos, é como se não existíssemos. Nada é, ou foi ou será. Não conseguimos viver o agora, esse exato minuto já foi, não podemos desfrutá-lo e fazer acontecer. Que cantemos ou choraremos o ontem, tudo vira saudade. Só que a danada não chega de repente, ela é como o alambique, pinga, pinga, vem aos poucos machucando a gente. Ainda bem, temos o amanhã, mas, ainda que logo ali, é sempre uma esperança, porém um desconhecido. O presente não passa de uma linha tênue entre o que foi e o que será. Como não ser saudosista e ou sonhador! É tudo que nos resta.
P.T Juvenal Santos

02 fevereiro 2017

Cartas Brasileiras: Cada um com sua mania


Em 1925, o médico Dr. Mariano Dias (nome de peso no espiritismo brasileiro), meu bisavô e avô maternos, tios-avôs e outros parentes, fundaram em Barretos (SP- BR), a “União Evangélica Fé e Esperança”, com a finalidade de congregar pessoas para o estudo e prática do espiritismo, constituir uma biblioteca, manter um posto-médico-homeopático, uma farmácia, que fornecia medicamentos gratuitos aos necessitados, e um asilo destinando à assistência e tratamento de alienados.
Na foto é possível identificar e nominar os meus parentes, mas deixemos isso de lado.
Quando crianças, com meus irmãos e primos, atravessávamos uma pinguela de madeira, estreita e comprida, sob a proteção de uma legião de anjos, para buscar cheirosas mexericas no Asilo dos Loucos. Íamos também para lá com nossos pais. Enquanto os adultos cuidavam das coisas ou participam de grupos de orações, nós perambulávamos pelo asilo.
Havia louco de todo tipo, os mais agressivos eram isolados, uns tinham que ser submetidos à camisa-de-força. Outros arrancavam a roupa toda, preferiam deitar no chão, tendo cama na cela. Havia uns calmos, ficavam soltos perambulando pelos corredores e quintal, buscavam contato com as visitas, se aproximavam, chegavam rindo.
Havia uma louca que gostava de comer caixa de papelão de pasta de dente. As de casa eu guardava e levava para ela.
É, cada um com sua mania. 
Cuidava do asilo a Sra. Anna Joaquina Gomes Ribeiro, minha tia-avó, o marido (Tio Antônio) e seus filhos. Ela ficou conhecida na nossa cidade como Dona Ana, virou Donana, e para nós Vonana.
Ela tinha uma mania, fazer o bem.


16 dezembro 2016

Cartas Brasileiras: Para falar de amor

          Agostinho dos Santos, cantor brasileiro, morreu em 11 de julho de 1973, em um acidente no aeroporto de Orli Paris. “O amor está no ar”, foi uma de suas últimas interpretações com relativo sucesso. Há uma famosa apresentação, de 1971, em dueto com Jonnhy Mathis, cantor americano.
Se o amor está no ar, a música é sempre ótima maneira para dele falar. O samba de 1942 “Aos pés da cruz”, de Marino Pinto (1916-1965) e José Gonçalves (1908-1954), lamenta o amor renegado e jurado no altar:
Aos pés da santa cruz/ você se ajoelhou/ e em nome de Jesus um grande amor você jurou/ Jurou, mas não cumpriu, fingiu e me enganou/ Pra mim você mentiu/ Pra Deus você pecou”.
Interpretação: João Gilberto
O poeta Vinicius de Moraes, autor de Garota de Ipanema, com Tom Jobim, em “Soneto da Fidelidade” fala do amor eterno: “Eu possa lhe dizer do amor que tive/ Que não seja imortal, posto que é chama/ Mas que seja infinito enquanto dure ”.
Interpretação: Vinicius, ao piano Tom Jobim
            E morrer de amor! Joaquin Sabina, cantor e compositor espanhol, diz em “Contigo”: el amor cuando no muere mata, porque amores que matan nunca mueren.
            Um grande amor ainda que não único, como em “Tive sim”: um grande amor antes do seu, tive sim, do grande sambista Cartola.  “ E vou calar, porque não pretendo amor te magoar”.
            Interprete: Cartola
           
Paulo Tarso J.Santos – ptjsantos@bol.com.br



04 dezembro 2016

Cartas Brasileiras: almôndega na banha


Só pode, antigamente os porcos eram mais saudáveis; ainda que porcos.
Hoje parece pecado mortal saborear uma lasquinha de costela. Cuidado com o colesterol!
Eu me lembro bem, era menino. Papai comprava peças do porco, desossava, separava as partes mais gordurosas, moía, punha na panela e levava ao fogo.
Sobravam gordura derretida e torresmo. A gordura apartada e guardada virava banha. O torresmo no arroz ou os pedaços à “pururuca” era de matar, não pelo colesterol, pela delícia.
Somente uma pesquisa científica poderá demonstrar, mas acredito, os suínos de antigamente não tinham colesterol, pelo menos não tanto; meus avós e pais que o digam.
Na lata de banha, mergulhavam almôndegas fritas (bolinhos de carne, porpetas), para que, no dia a dia, pegas com a concha, fossem aquecidas na frigideira, na hora do almoço ou jantar, tudo no fogão a lenha; quem sabe o fogão a lenha eliminasse o colesterol.
Que tempos aqueles.
É, nem tudo se podia. Leite com manga era um veneno. Ou um, ou outro. E mais, fígado e moela eram a mesma coisa; todo mundo queria o fígado.
                                                                                                              Paulo Tarso J Santos
Post scriptum: Desde já quero deixar registrado meu abraço e votos de Feliz natal e ótimo 2017 ao amigo e aos leitores do blog e seguidores do Facebook.


17 novembro 2016

Cartas brasileiras: as santas lá de casa

Santo de casa não faz milagre, dizem alguns incrédulos; mal sabem eles.
Em minha casa havia duas santas, minha mãe, milagreira no cotidiano para dar conta dos oito filhos, trabalhar e cuidar da casa, chegou primeiro, junto com seu amor, meu pai, e a outra santa, a imagem da Imaculada Conceição.
Uma linda imagem linda, tinha mais de um metro. Chegou em 26 de maio de 1956, comprada por meu pai em São Paulo. O dinheiro obteve através de uma lista que fez passar entre amigos, como o arrecadado foi maior do que o necessário, dou a sobra para a Matriz do Divino Espírito Santos.
Houve a festa da coroação, teve até banda de música. A coroa banhada a ouro e incrustrada com pedras preciosas foi doação de uma família barretenses; o quantum, por questão de segurança, deixo de informar; a preciosidade tem também valor sentimental, e agora já histórico.
Em uma anotação que deixou, ele nos pediu, quando partisse para junto de mamãe, deveríamos levar a Santa para uma igreja, capela ou entidade religiosa, não queria que fosse para o cemitério; não queria visitas de buscadores de milagres. Ele se foi em agosto de 2007. Assim, seguindo as instruções dele, a Santa foi doada para na Casa da Catequese Paulo VI, localizada na avenida 23 entre as ruas 12 e 14, Barretos.
Por iniciativa, creio que do vigário, no pano de fundo do pedestal onde se encontra a Santa, está escrito: “Eis aqui tua Mãe”. Que lindo!
Mesmo estando tão longe da minha cidade natal, posso rezar e fazer meus pedidos. Aprendemos, é através dela que Deus nos ouve, ainda que não nos responda.Escreveu Exupéry em sua obra inacabada Cidadela: “sabemos que Deus ouve nossas preces quando Ele não nos responde”.
     
P.T.Juvenal Santos – ptjsantos@bol.com.br


08 outubro 2016

Cartas brasileiras: estrela decadente

Nos últimos treze anos, conduzidos por uma estrela então de esperança, muitos brasileiros com seus votos ajudaram a pintar o mapa do Brasil com a cor vermelha do Partido dos Trabalhadores, a agremiação política do ex-presidente Lula e da recém afastada Dilma.

Vieram as eleições de outubro de 2016, para prefeitos e vereadores; como pano de fundo:
1) as denúncias da Operação Lava Jato, detonadas pelo caso Petrolão (escandalosa corrupção na Petrobras) se alastrou. Mesmo estando ainda apenas no meio do caminho, redundou na prisão de empreiteiros, marqueteiro do PT, políticos, proeminentes dirigentes petistas, ex-presidentes e tesoureiros. E uma constatação: praticamente os mesmos dirigentes envolvidos no caso “Mensalão” o ocorrido no Governo de Lula, do qual o presidente se manteve ileso.
2) O impeachment da presidente Dilma por crime de responsabilidade, depois de o pedido ter sido acatado pela maioria absoluta dos deputados, levado ao Senado, submetido a uma maratona de reuniões, testemunhas na Comissão do Impeachment, teve o relatório aprovado e em seguida aprovado pela maioria absoluta dos senadores.

Outubro de 2016: apurados os votos constatou-se a acachapante do Partido dos Trabalhadores, o povo respondeu com um sonoro “não”, foi como um basta, um repúdio tão grande que ex-presidente não teve prestígio até para ajudar o filho se eleger como vereador na cidade símbolo do petismo: São Bernardo do Campo. No Rio de Janeiro e em Porto Alegre, as candidatas apoiadas por Dilma tiveram desempenho pífio.
Pela primeira vez, a eleição para prefeito de São Paulo, a mais importante cidade do Brasil, foi decidida no primeiro turno; o candidato petista, e atual prefeito (Haddad), mesmo com o apoio pessoal de Lula, conseguiu pouco mais de 16% dos votos (967.190), enquanto Dória (PSDB), sem nunca ter ocupado qualquer cargo político, obteve mais de 53% (3.085.187).

O vermelho, praticamente, sumiu dos nossos mapas; o resultado das eleições é visto como uma prévia do que acontecerá em 2018: eleição presidencial.

Não há como não lamentar o quase fim do que um dia representou, para muitos, a estrela da esperança tornar-se uma estrela decadente.




.

03 agosto 2016

CARTAS BRASILEIRAS: Jogo: pingar os is e cortar os tês



A expressão vem lá dos bancos escolares. Não só essa. Quem sabe, fará lembrá-los da recomendação da professora do começo da andança escolar. Por exemplo:
- Quero parágrafo de pelo menos 2 dedos!
Para os pedagogos da época não era coação, era dever. Nada tão claro, regra era regra.
Já hoje, a correção não é o melhor dos mundos. A razão: a ação professoral pode constranger o aluno. É voz corrente: qual o problema quando nos deparamos com a vogal magra e de poucas curvas despojada da pequena bola sobre ela? Ou, que erro há caso vejamos a 20ª do ABCD sem o caco formando a cruz?
- Se o aluno compreender, não pare o andor! É dez! Parabéns!
É verdade, o velho conselho pode ser empregado em mundo fora da sala de aula, como quando clamamos pelo zelo aos pormenores, para esclarecer algo, ou quando não queremos nada obscuro.
Alguma luz? Ou o obscuro sou eu! Esclareço, essa conversa mole, esse lero-lero, é um jogo. Mesmo não querendo confusão ou encrenca, não fujo da querela. Faço uma ponderação, ou melhor, peço: olhos bem abertos nas nuances.
Com a solução nas mãos, não me condenem, nem me chamem de abusado. Convenhamos, um esforço descomunal. E não é para menos, a cabeça ordena, e por compulsão, os dedos querem palavras com a vogal e com a não vogal que desdenho apenas para escapar da velha regra, querendo provocá-los.
E para quê, se ao cabo, não mereço nada além de um ah! nossa! verdade!
Pura bobagem. Melhor acabar com o tititi, pondo fim à escolha inútil de palavras somente com “a”, “e” “o” e “u” e sem “t”. Quero mais é pingar deliciosamente os “is” e cortar gostosamente os “tês”, como em tatibitate.

P.T.Juvenal Santos – ptjsantos@bol.com.br
--------
NR: Imagem da responsabilidade do Penacovaonline  

           


05 julho 2016

CARTAS BRASILEIRAS: Nem Deus



Dia mais quieto; sem luz, sem chuva, escuro, triste. O neto de férias, é julho.

No apartamento só o silêncio. Longe de mim a reclamação de choramingas. Ainda assim...

Da sacada do apartamento, a visão cada vez mais curta, o horizonte mais perto. Santo Deus! Prédios e mais prédios, bem diferente de há vinte anos na nova morada de então. Aí que medo, cadê a visão do meu pôr do Sol?


Sobre a mesinha o jornal do dia: “Juno em Júpiter”. O homem com os olhos no infinito; eu míope. Incrível, uma demora de cinco anos desde o lançamento. Longo tempo, mesmo com o maior planeta do sistema solar distante apenas 48 minutos-luz da Terra. Apenas!

Na página esportiva: Portugal e País de Gales, França e Alemanha; semifinalistas. Na minha cabeça o vexame daqui: Brasil fora da Copa América bem antes das quartas de final.

Os jornais da tv com repetidas notícias: Inglaterra - Brexit! Hillary Clinton x Donald Trump.

Ataque terrorista! Assustador.

Por que novamente?

Como saber; nem Deus.

P.T.Juvenal Santos – ptjsantos@bol.com.br




11 junho 2016

CARTAS BRASILEIRAS: Novamente uma abrupta decisão!


Andei sumido. Quem está vivo aparece; dizem que até mortos. Eu hein!

Em 12/01/2013, nesse mesmo cantinho, David de Almeida publicou minha crônica “Ab-rupta decisão”, a respeito do acordo ortográfico de 2009, e que é obrigatório a partir de 2016. O coitado, o acordo, padece de incertezas, e de até questionamentos judiciais.

O título da crônica foi uma provocação, porque, e eu não sei o porquê, esqueceram de contemplar o prefixo “ab”, o que permitiria duas grafias: abrupta e ab-rupta.

O acordo se mostrou manco, por não ter sido ratificado por Angola e Moçambique. Agora os descontentes contam o apoio do peso-pesado, Marcelo Rebelo de Sousa, presidente de Portugal, que admite rever a posição. Um aviso aos mais desatentos: o novo presidente não adotou sequer a ortografia “oficial” em sua campanha publicitária, “Afectos”.

E como ficamos! Enfim, actores da escrita, padecemos de decisões ab-ruptas, seria óptimo que de facto tudo se resolvesse, ou que tudo ficasse como d´antes no quartel de Abrantes.

P.T.Juvenal Santos

20 abril 2016

CARTAS BRASILEIRAS: 367 x 137

Caros leitores:

Costumeiramente, as cartas se iniciam perguntando ao destinatário como estão todos, se tudo anda bem, a saúde, os negócios, os filhos e netos. Pergunta-se até como são enfrentadas as dificuldades provocadas pela recessão e desemprego. Só então se revela como está passando, e assim vai, praticamente, na mesma ordem das perguntas que fez.



Pois bem, subentendidas as primeiras, digo, estamos todos bem, a saúde vamos levando, um tropeço aqui, uma queda acolá; afinal, passados mais de setenta giros em torno do Sol, o “bicho começa a pegar”, como dizemos aqui, a dizer que o peso da idade acaba chegando. Aposentados, vivemos da merreca que nos pagam, os filhos continuam na luta diária, os netos, esses cada vez mais graciosos e inteligentes.

O Brasil vive um momento difícil economicamente, fruto do desarranjo promovido pelas medidas desastrosas tomadas pelo governo, notadamente, a partir do último ano do mandato anterior de Dilma; conhecida como “o poste” inventado por Lula. Explico: dizia-se que quem fosse indicado por Lula para qualquer cargo seria eleito, dado o prestígio conquistado nos meios mais carentes com a implantação do Bolsa Família, e é claro, puxado pelo desempenho da balança comercial, quando a China comprava tudo o que via pela frente.

O escândalo do Mensalão, já no primeiro governo Lula, do qual, milagrosamente, saiu ileso, foi um aviso de que a gestão pública não era das melhores; a economia mundial foi a malha protetora.

Na sequência, escândalos cada vez maiores começaram a explodir no governo Dilma, apontados pelo processo da Lava-Jato (lavagem de dinheiro rápida), conduzido por um jovem juiz, Sérgio Moro. Pego o fio da meada, puxou-se o novelo todo; cada dia um novo roubo, desvios, superfaturamentos, propinas. Mesmo não tendo sido alcançada nas investigações, e de nada tenha sido acusada, fica difícil isentá-la completamente de culpa, afinal, os altos cargos ainda que indicados por políticos da base aliada, têm que ter o crivo presidencial. A Petrobras, nossa maior empresa, vítima do escândalo do Petrolão, está em frangalhos, a economia um fracasso, 10 milhões de desempregados, estimam mais 3,7 milhões até 2017, aumento de empregos informais, inadimplência crescente.

No entanto, se disso Dilma se safou, acabou sendo pega em crimes de responsabilidade, ao autorizar créditos fora do orçamento, sem consultar o Congresso, bem como por tomar empréstimos em bancos oficiais, o que é proibido pela legislação. Por tais crimes, como previsto na Constituição, a Câmara Federal, no dia 17 de abril, acatou o processo de “impeachment”, por 367 votos a 137, 7 abstenções e 2 ausências.

O passo seguinte: o processo será encaminhado ao Senado, e se admitido, será julgada, podendo perder o mandato conquistado nas urnas, em uma das eleições mais disputadas da história do Brasil, mas que teve sua legitimidade contestada por descumprir a Constituição Brasileira.

Desejando que as coisas andem bem aí, rezando para que melhorem aqui, envio a todos o meu abraço. P.T.Juvenal Santos – ptjsantos@bol.com.br

PODE TAMBÉM VER: