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11 julho 2020

Nudismo em Penacova?




Pois é verdade. E hoje podemos garanti-lo, o nudismo continua na ordem do dia por esse mundo além, parece que cada vez com maior número de adeptos. O que nós não calculávamos é que a nossa terra, apesar do seu actual progresso, chegasse tão depressa a tal civilização.

É um facto, caros leitores. Em Penacova, neste decantado rincão de Portugal à beira rio plantado, onde a mãe Natura foi pródiga em benesses de encanto e maravilha, onde o ar que respiramos tem perfumes de inebriante odor, onde o sol tem mais luz e o luar maior claridade, neste altar maravilhoso que Deus fez talvez para ser o primeiro degrau nas escadas do céu a civilização atingiu o auge.Em Penacova pratica-se escandalosamente o nudismo.

Estamos a ver o pasmo dos nossos leitores. A máscara de um sorriso incrédulo desenhando-se-lhes no rosto.

-Será verdade?

É verdade sim senhores. E se querem a confirmação do que dizemos, vão até ao Mirante, ao fim da tarde, à hora apetecida do banho e…olhem lá para baixo, para o Mondego, manso e sereno…

Chamamos, para esta falta de vergonha, a atenção das autoridades administrativas deste concelho.

A nossa terra, por enquanto, dispensa tais manifestações de progresso e civilização.

in Jornal de Penacova,16 Jul 1932



15 abril 2017

Memórias do Enterro do Bacalhau: o "Rabo+R+Rio" de 1911


Sobre o Enterro do Bacalhau de 1910 já escrevemos no Penacova Actual. Também de 1932 se conhecia uma fotografia, bem como algumas referências dispersas. Entretanto, ainda não há muito tempo, conseguimos ter nas mãos um exemplar do “programa” que veio a público nesse ano.

Não menos interessante e valioso é também o “jornal” que se publicou em Penacova aquando do Enterro do Bacalhau de 1911. Falamos de  “A ESPINHA”: uma preciosidade que tivemos a sorte de fotografar. Quatro páginas cheias de humor e sarcasmo, como convinha nesta manifestação popular que marcava o fim da Quaresma.

Proibida durante o regime de Salazar, a tradição foi retomada com o 25 de Abril nalguns pontos do país. Em Penacova o último cortejo terá sido mesmo o de 1932.  


Mas viajemos um pouco até 1911. O programa do “Rabo+r+rio” (em rodapé do folheto aparece a solução da charada) prevê para as oito da noite o início do “luzido” e “pyramidal” cortejo. Dois arautos anunciarão das suas “sonorosas” trombetas, o “passamento” daquele que em vida se chamou Bacalhau.

Como se consegue ainda ler no já carcomido papel, o relato do “funeral” é um texto pleno de humor e sátira. As restantes páginas traduzem também a fértil e mordaz imaginação dos seus “redactores”, num momento, não nos esqueçamos, em que estava ainda fresca a revolução do 5 de Outubro, e se vivia um misto de alguma liberdade de expressão e de luta religiosa. Confrontando o relato do Cortejo de 1910 (ainda na vigência da Monarquia) com o conteúdo deste panfleto, é notório o tom mais solto da sátira e da crítica social.

O tema merecia maior desenvolvimento. Por hoje deixamos os leitores do Penacova Online com este breve apontamento, prometendo voltar ao assunto.

Nota: Gostaríamos de deixar um agradecimento ao nosso amigo Sr. José Alberto Costa que nos facultou o acesso a estes valiosos documentos que com grande sensibilidade cultural e cívica sabe preservar 

Ler +:

CORTEJO DE 1910: http://www.penacovactual.pt/2013/03/penacova-enterrou-o-bacalhau-uma.html
CORTEJO DE 1932http://www.penacovactual.pt/2012/02/o-enterro-do-bacalhau.html

31 julho 2015

Leituras para férias: Penacova paisagem de sonho e beleza


Quem não se recorda das edições antigas da revista Modas e Bordados? Ora, esta revista, associada ao jornal O Século publicou em 1932 um artigo sobre Penacova, assinado por Maria Lúcia. Quem era Maria Lúcia?

No início dos anos trinta, durante cerca de meia dúzia de anos, viveu em Penacova, dado que o seu marido Joaquim Jerónimo da Silva Rosa, funcionário público, natural de Lorvão onde nasceu em 1900, foi colocado naquela vila. Maria Lúcia Vassalo Namorado era sobrinha de Maria Lamas e foi uma escritora e jornalista de renome. Curiosamente, essa carreira jornalística começou no Notícias de Penacova onde deixou muitos escritos. Refira-se que o marido foi também um dos fundadores deste periódico. Lúcia Namorado criou passado algum tempo e dirigiu durante muitos anos a também afamada revista OS NOSSOS FILHOS, onde apareceram muitas referências a Penacova, inclusivamente fotografias de bebés/crianças da vila.   Existem estudos académicos detalhados sobre Lúcia Namorado e a sua relação com a nossa terra. 

AQUI FICA O TEXTO publicado em 18 de Outubro de 1932:

Penacova 
paisagem de sonho e beleza  

Pequenina, modesta, privada ainda hoje de comodidades modernas, embora distanciadas apenas cerca de 20 quilómetros de Coimbra, a que a liga uma lindíssima estrada, Penacova impõe-se pelo acaso da sua situação caprichosa, a meio de uma paisagem privilegiada de beleza. Particularidade singular, talvez única na nossa Terra, essa paisagem, sendo grandiosa é, ao mesmo tempo, limitada. Como se a natureza entendesse que os olhos tinham ali pasto bastante para alimentar sucessivas e atentas contemplações.

Rodeia-a uma infinidade de montes: uns cónicos e rochosos; outros, de ondulações suaves, grandes extensões de pinhais salpicados e  de povoados - nódoas claras que, surgindo dentre a romaria  verde,  alegram a vista e fazem lembrar sorrisos cândidos e saudáveis. No vale, amplo e luminoso, duma claridade doce de aguarela, passa o rio silencooso e manso, estorcendo-se em curvas airosas que descobrem, ora à direita, ora à esquerda, areais onde as lavadeiras coram a roupa, e onde o milho que viceja e amadurece nas ínsuas vizinhas, depois de loiro e descasulado, é estendido para secar.

Cortando as águas límpidas do rio, que deixam ver as areias de oiro cantadas pelos Poetas, deslizam, carregdas de madeira, as barcas negras e muito esguias, de grande proa revirada; os barqueiros, tisnados, conduzem-nas à vara, penosamente, correndo sobre os bordos, num esforço exaustivo, prodigioso de equilíbrio; e só quando o vento sopra a faina abranda um pouco: nas barcas escuras incha e resplandece a brancura duma vela.

É assim aquele vale de cores macias e duma serenidade extática. Ao centro eleva-se uma colina semeada de oliveiras e coroada por uma povoação que dir-se-ia, na verdade, uma rainha no trono - tal como está debruçada para o Mondego, do alto duma penha erguida numa cova.

É a vila de Penacova uma das mais antigas da Península; nela , porém, nada nos fala da sua vetustez, pois nem sequer do seu remotíssimo castelo existem vestígios. Vários investigadores afirmam que é de origem cantábrica, mas parece assente que a primeira notícia desta vila data do tempo do conde D. Henrique.

D. Sancho I mandou-a povoar e deu-lhe em 1193 foral que foi confirmado em Coimbra por D. Afonso II; D. Manuel I deu-lhe novo foral em Lisboa, no ano de 1513.

É hoje muito visitada por pessoas atraídas pela justa fama dos seus encantos naturais, e tem um grupo de bons amigos empenhados em a dotar com melhoramentos, dentre os quais se destaca o esplêndido edifício do preventório, prestes a funcionar – obra cujo largo alcance social é desnecessário encarecer.

A população,  que é pobre, emigra facilmente, sobretudo para as Américas.

A principal indústria do concelho é dos palitos, que se intensifica na freguesia de Lorvão – cova sombria, triste, contraste profundo da beleza colorida e sonhadora de Penacova: nessa aldeiasita se desmorona o velhíssimo mosteiro do mesmo nome, outrora riquíssimo e agora desmantelado, mas onde ainda se encontram jóias artísticas de raro valor, belas evocações de páginas distantes da nossa História maravilhosa.

MARIA LÚCIA






26 abril 2013

Preventório de Penacova: notas para a sua história


 
 
Por volta de 1930 a Irmandade de N. S. da Guia aprova novos estatutos que lhe conferem  a categoria de  Misericórdia. Por acção do Dr. Sales Guedes, sendo Provedor o Dr. Luís Duarte Sereno, o sonho de criar um  Hospital em Penacova começa  a ganhar forma. Conta-se que foi ele próprio que elaborou o projecto do edifício aproveitando as paredes da capela de Nª Sª da Guia, com excepção da sua frontaria.
Terá sido  quando essa construção - no local onde depois se implantou o Preventório -  já estava avançada,  que Bissaya Barreto veio a Penacova a convite do Dr. Sales Guedes.  Bissaya Barreto visitou as obras e dado  que era sua intenção construir na zona centro  um Preventório, a ideia ficou a germinar. Passado pouco tempo a Junta Geral do Distrito, da qual  era Presidente,  propôs à Misericórdia de Penacova a cedência  do edifício em construção bem como do largo adjacente. Em contrapartida,  a Junta Distrital apoiaria  a construção e o funcionamento de um novo edifício hospitalar naquelas imediações, o que veio a acontecer. Esse edifício inaugurado por volta de 1933 e foi depois remodelado em 1961.

 
Em 25 Agosto de 1930 Bissaya escreveu  no Diário de Coimbra que a Junta Geral resolvera fundar um Preventório em Penacova “local que, pela sua situação e exposição, não tem igual em Portugal." O Diário de Notícias de 26 de Maio de 1932 publicou um artigo onde se podia  ler que “A Junta Geral do Distrito de Coimbra não podia ter encontrado, em termos da sua feitoria, para construir essa casa airosa, um sítio melhor, mais formoso e mais saudável.”
O Preventório de Penacova, o primeiro no nosso país, foi considerado como instituição modelar no combate à tuberculose, recebendo os filhos dos doentes -  dos 3 aos 12 anos - para evitar o contágio.  Poucos anos mais tarde, escreveu o Dr. José Albino Ferreira: “O Castelo que fora de grande poder defensivo contra os Mouros e a capela de N. S. da Guia bom farol para os navegantes, deram lugar a novas fortalezas contra as doenças, especialmente a tuberculose”.

 
Equipamento de Saúde mas também  de Educação: no Congresso Internacional de Protecção a Infância (Lisboa, 25 a 29 de Outubro de 1931) o Dr. Luiz Raposo referiu-se ao Preventório dizendo que se tratava de “um magnífico edifício”, estando  apetrechado com “os melhores requisitos” e podia receber uma média de 150 crianças, acrescentando : ” É dum encanto indescritível a paisagem que o cerca como outra mais bela não sei que exista em Portugal”.

 
Texto: David Almeida
Imagens: Acção Regional, 1932 [recolha de David Almeida]

15 setembro 2010

O novo ano lectivo...um texto do Notícias de Penacova ( 1932 )

Neste arranque do ano lectivo, trazemos aqui um texto publicado no jornal NP de 17 de Setembro de 1932, na rubrica Tribuna do Professorado. Nesse tempo as aulas só começavam em Outubro, como muitos de nós sabemos. Comentários? Deixamo-los para os leitores ...
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