Quem não se recorda das edições antigas da revista Modas e Bordados? Ora, esta revista, associada ao jornal O Século, publicou em 1932 um artigo sobre Penacova, assinado por Maria Lúcia. Quem era Maria Lúcia?
No início dos anos trinta,
durante cerca de meia dúzia de anos, viveu em Penacova, dado que o seu marido
Joaquim Jerónimo da Silva Rosa, funcionário público, natural de Lorvão onde
nasceu em 1900, foi colocado naquela vila. Maria Lúcia Vassalo Namorado era sobrinha de Maria Lamas e foi uma escritora e jornalista de renome. Curiosamente, essa carreira
jornalística começou no Notícias de Penacova onde deixou muitos escritos. Refira-se
que o marido foi também um dos fundadores deste periódico. Lúcia Namorado criou passado algum tempo e dirigiu durante muitos anos a também afamada revista OS NOSSOS
FILHOS, onde apareceram muitas referências a Penacova, inclusivamente
fotografias de bebés/crianças da vila. Existem estudos académicos detalhados sobre
Lúcia Namorado e a sua relação com a nossa terra.
AQUI FICA O TEXTO publicado em 18 de Outubro de 1932:
Penacova
paisagem de sonho e beleza
Pequenina, modesta, privada ainda hoje de comodidades modernas, embora distanciadas apenas cerca de 20 quilómetros de Coimbra, a que a liga uma lindíssima estrada, Penacova impõe-se pelo acaso da sua situação caprichosa, a meio de uma paisagem privilegiada de beleza. Particularidade singular, talvez única na nossa Terra, essa paisagem, sendo grandiosa é, ao mesmo tempo, limitada. Como se a natureza entendesse que os olhos tinham ali pasto bastante para alimentar sucessivas e atentas contemplações.
paisagem de sonho e beleza
Pequenina, modesta, privada ainda hoje de comodidades modernas, embora distanciadas apenas cerca de 20 quilómetros de Coimbra, a que a liga uma lindíssima estrada, Penacova impõe-se pelo acaso da sua situação caprichosa, a meio de uma paisagem privilegiada de beleza. Particularidade singular, talvez única na nossa Terra, essa paisagem, sendo grandiosa é, ao mesmo tempo, limitada. Como se a natureza entendesse que os olhos tinham ali pasto bastante para alimentar sucessivas e atentas contemplações.
Rodeia-a uma infinidade de montes: uns cónicos e rochosos; outros, de
ondulações suaves, grandes extensões de pinhais salpicados e de povoados - nódoas claras que, surgindo
dentre a romaria verde, alegram a vista e fazem lembrar sorrisos
cândidos e saudáveis. No vale, amplo e luminoso, duma claridade doce de
aguarela, passa o rio silencooso e manso, estorcendo-se em curvas airosas que descobrem,
ora à direita, ora à esquerda, areais onde as lavadeiras coram a roupa, e onde
o milho que viceja e amadurece nas ínsuas vizinhas, depois de loiro e
descasulado, é estendido para secar.
Cortando as águas límpidas do rio, que
deixam ver as areias de oiro cantadas
pelos Poetas, deslizam, carregdas de madeira, as barcas negras e muito esguias,
de grande proa revirada; os barqueiros, tisnados, conduzem-nas à vara,
penosamente, correndo sobre os bordos, num esforço exaustivo, prodigioso de
equilíbrio; e só quando o vento sopra a faina abranda um pouco: nas barcas
escuras incha e resplandece a brancura duma vela.
É assim aquele vale de cores macias e duma serenidade extática. Ao
centro eleva-se uma colina semeada de oliveiras e coroada por uma povoação que
dir-se-ia, na verdade, uma rainha no trono - tal como está debruçada para o
Mondego, do alto duma penha erguida
numa cova.
É a vila de Penacova uma das mais antigas da Península; nela , porém,
nada nos fala da sua vetustez, pois nem sequer do seu remotíssimo castelo
existem vestígios. Vários investigadores afirmam que é de origem cantábrica,
mas parece assente que a primeira notícia desta vila data do tempo do conde D.
Henrique.
D. Sancho I mandou-a povoar e deu-lhe em 1193 foral que foi confirmado
em Coimbra por D. Afonso II; D. Manuel I deu-lhe novo foral em Lisboa, no ano
de 1513.
É hoje muito visitada por pessoas atraídas pela justa fama dos seus encantos
naturais, e tem um grupo de bons amigos empenhados em a dotar com
melhoramentos, dentre os quais se destaca o esplêndido edifício do preventório,
prestes a funcionar – obra cujo largo alcance social é desnecessário encarecer.
A população, que é pobre, emigra
facilmente, sobretudo para as Américas.
A principal indústria do concelho é dos palitos, que se intensifica na
freguesia de Lorvão – cova sombria, triste, contraste profundo da beleza colorida
e sonhadora de Penacova: nessa aldeiasita se desmorona o velhíssimo mosteiro do
mesmo nome, outrora riquíssimo e agora desmantelado, mas onde ainda se
encontram jóias artísticas de raro valor, belas evocações de páginas distantes
da nossa História maravilhosa.
MARIA LÚCIA
Maria Lúcia Vassalo Namorado (e Silva Rosa) era prima direita de Maria Lamas, ambas naturais de Torres Novas. O seu convívio iniciou-se aí e a amizade e colaboração literária e cívica entre elas prolongou-se ao longo de suas vidas.
ResponderEliminarRui Namorado Rosa