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02 setembro 2019

Penacova na Exposição Distrital de 1869: cento e cinquenta anos depois


De 2 a 31 de Julho de 1869 realizou-se em Coimbra a Exposição Distrital de Indústria Agrícola e Fabril e de Arqueologia, organizada pela Associação dos Artistas de Coimbra.

O concelho de Penacova também se fez representar. Na época, era Administrador concelhio o Dr. Joaquim Correia d’Almeida. Este, num ofício dirigido à organização,  comunica a intenção de disponibilizar para a mesma “o foral original”, com uma encadernação antiquíssima,  concedido por D. Manuel,  e um “exemplar do desenho das armas da Câmara". Mas a representação de Penacova não se ficou por aí. Há notícia de muitos outros objectos e produtos agro-florestais e minerais ali apresentados.

Esteve exposto mármore da pedreira de Sazes e “Cal em Pedra”, proveniente do forno de Manuel dos Santos Laço, de Sernelha. Refere o catálogo da exposição, que os fornos de cal do concelho de Penacova eram “muito superiores aos de Coimbra."

De referir também um “tinto de mesa comum de 1868, com força alcoólica de 13, 1”, um “branco de mesa comum” do mesmo ano, com uma graduação de 14,4 e uma “aguardente baixa” com graduação de 16,5.

Azeitona, azeite, cereais (trigo, milho, centeio, cevada), feijão, linho, tremoços, grão de bico, ervilhas, batatas e nozes foram outros tantos produtos apresentados naquele certame.

De Lorvão estiveram patentes amostras de “palitos para os dentes” cedidas por Emídio Maria da Fonseca. António Maria Seabra d’Albuquerque expõs um conjunto de pratos “que a tradição” dizia terem pertencido às “Infantas D. Sancha e D. Teresa”, agora na posse do Marquês de Sousa Holstein.

Especial destaque na exposição mereceram os seguintes produtos de Penacova: uma cesta, conjuntos de varas de castanho, amostras de palitos, amostras de  "pau" de castanho e de pinheiro, de cortiça, de carqueja e também de palha de milho (bandeira, folha e capa).  

A "cesta redonda" fora executada por José Joaquim Carvalho. Utilizava-se a “vara de castanho dos soitos  de talhadia (aproveitamento dos rebentos). Muitas pessoas do concelho se ocupavam na indústria da cestaria. As cestas eram vendidas em Coimbra e noutras localidades da região. As varas de castanho (cortadas de quatro em quatro anos) também expostas, traduziam a existência de muitos soitos no nosso concelho. Além da utilização no fabrico dos cestos entravam na produção de arcos de diversas vasilhas e serviam também para varejar a azeitona e para uso dos “carreiros” com as suas juntas de bois.

Os palitos para os dentes não podiam faltar. Haviam sido premiados na exposição internacional de Paris (1855). No entanto, refere-se no citado relatório que naquele momento se encontrava em decadência aquela indústria, que era “boa” mas podia ser “óptima”, se não fosse” a fraude de alguns paliteiros que a desacreditaram no país e no estrangeiro.” No fabrico dos palitos empregava-se a “vergôntea de salgueiro branco e choupo de dois anos”.

O “pau” de castanho era abundante e era aproveitado para fabricar vasilhas para vinho e na construção de casas. Quanto ao pinheiro “foi este concelho um dos mais abundantes” nesta madeira, mas à data, a “boa madeira” estava quase esgotada, devido à construção de novas casas e de barcas. Também a exportação de madeiras e de lenhas para Lisboa e “para fora” gerara a sua escassez.


A indústria da cortiça dava trabalho a muita gente. Era extraída não só no concelho mas também a grandes distâncias. Era transportada para a “borda do rio”, onde era preparada e daí enviada para o Porto da Figueira nas barcas serranas.

A apresentação de amostras de carqueja poderia parecer de pouca importância. Pelo contrário. Recorde-se que o concelho de Penacova era o principal fornecedor da carqueja e lenha que se consumia nos fornos e nas casas da cidade de Coimbra.

A palha de milho também ocupava um lugar de relevo na economia do concelho. Dizia-se que era aqui que se aproveitavam melhor as palhas do milho. Tirava-se primeiro a “bandeira”, de seguida “desfolhava-se” e ficava apenas a espiga na capa. No final da maturação as espigas eram conduzidas para as eiras onde eram “escamisadas” e deixadas a secar. A “capa” era um “óptimo alimento para o gado e para outras aplicações”.

Através da consulta do catálogo/relatório desta exposição é possível recolher alguns elementos caracterizadores da vida social e económica do nosso concelho (e de todo o distrito de Coimbra) na década de sessenta do século XIX.

A  primeira exposição internacional em Portugal fora em 1865. Teve lugar no Porto, onde, à semelhança do que sucedera em Londres em 1851, se erigiu também, propositadamente, um «Palácio de Cristal». Quatro anos passados sobre a data da realização do nosso primeiro certame internacional da indústria, a Associação dos Artistas de Coimbra, impulsionada por Olímpio Nicolau Rui Fernandes, como acima referido,  realizou  com assinalável sucesso esta  exposição de âmbito distrital, onde o nosso concelho ombreou com os restantes do distrito de Coimbra.