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10 abril 2023

Enterrar o Bacalhau para agitar e dar cor a Penacova


No dia 8 de Abril, sábado de Aleluia, realizou-se em Penacova o “Enterro do Bacalhau”. Esta manifestação popular que durante muitos anos se fez na vila e que desde os inícios da década de trinta não tinha lugar começou, no ano passado, a ser reavivada graças à iniciativa das associações juvenis “Partículas Soltas” e “Vox et Communio”, tendo-se-lhe este ano juntado a associação musical “Sons do Mondego”.

O cortejo do “Enterro do Bacalhau” arrancou da Eirinha, desceu ao Terreiro (onde em frente a Câmara actuaram grupos de crianças), dirigiu-se à rua principal da vila, entre a Igreja e o largo de Cruzeiro (onde o “bacalhau” acabou por ser enterrado) com uma paragem no Largo de S. Francisco para a apresentação de um Teatro de Rua onde não faltou o humor, a sátira e a crítica social e política, traduzida nalgumas quadras com que o “bacalhau” se tentou defender das acusações que lhe foram dirigidas.

Sandra Henriques, encenadora do grupo de Teatro Partículas Soltas, escreveu na rede social Facebook, a propósito do evento deste ano o seguinte: “Uma vez mais saímos à rua para ver se, de alguma forma, agitamos e damos cor à nossa querida Vila de Penacova (...) E que bem acompanhados estivemos! De um lado os nossos 30 atores (miúdos e graúdos) acompanhados pelos familiares que largam os seus afazeres de Páscoa para virem fazer a festa connosco e mostrarem aos mais novos que é tão bom sermos livres! Do outro, o Vox et Communio com as suas vozes e a garra de se desafiarem constantemente num espírito de cooperação maravilhoso. De outro, a energia contagiante da Associação Musical Sons do Mondego, que era a peça que nos faltava.”

Esta tradição está ainda presente nos dias de hoje em muitos locais do país (Pampilhosa, Figueira da Foz, Góis, Soutocico, Peniche, Sesimbra, Laranjeiro, Barreiro, Rio de Mouro, Alenquer, Torres Novas, etc). Recorde-se que o Enterro do Bacalhau de Soutocico (Leiria) chegou mesmo a ser, em 2020, candidato às 7 Maravilhas da Cultura Popular. A condenação à pena capital e enterro do bacalhau, bem como todo o conjunto de rituais passou a integrar a cultura popular há longos anos atendendo a que durante os quarenta dias que vão do Carnaval à Páscoa a Igreja Católica impôs rigoroso jejum e completa abstinência de carne. Com isso, quando se chegava ao fim da Quaresma já o povo estava farto de comer bacalhau e de se privar de muitas coisas além da carne, por exemplo dos bailes e de tudo o que fosse divertimento.

Assim, o “enterro do bacalhau” passou a assumir-se como uma “tradição que tem lugar no Sábado de Aleluia para celebrar o fim das privações, incluindo as gastronómicas, que tinham lugar na Quaresma. Em geral, o julgamento do bacalhau é uma manifestação teatral que inclui também um cortejo fúnebre. Algumas das personagens que participam são o doutor juiz, os advogados, o oficial de diligências, o réu bacalhau e as testemunhas – salsa, alho, cebola, e vários temperos.” Há localidades - por exemplo Rio de Mouro (Sintra) - que fazem o “enterro do bacalhau”, não no Sábado de Aleluia, mas na Terça-Feira “gorda”, isto é no dia de Carnaval.

Em Penacova, temos notícia dos Cortejos em 1910, 1911 e 1932. Em 1932, a comissão que estava constituída não obteve autorização do Administrador Concelhio tendo surgido um outro grupo que, à última hora, acabou por organizar um cortejo alternativo na Segunda-Feira da Páscoa, com “figuras simbólicas e carros alegóricos”. Em 1910, de acordo com notícia no Jornal de Penacova “foi um verdadeiro sucesso o enterro do bacalhau que teve lugar nesta vila” na noite de Sábado de Aleluia. “A afluência do público ao funéreo e burlesco enterro foi extraordinária (…). O povinho ficou embasbacado ante o aparato para si estonteador e nunca antes visto na nossa terra”. Um autêntico “sucesso” para “um burgo, apático e podre a propósito de diversões.” Em 1911 repetiu-se e até se publicou um “jornal” satírico “A Espinha”. Uma preciosidade: quatro páginas cheias de humor e sarcasmo, como convinha nesta manifestação popular.

Fotografias de Carolina Sim: 

















Fotografias de PENACOVA ONLINE:






















15 abril 2017

Memórias do Enterro do Bacalhau: o "Rabo+R+Rio" de 1911


Sobre o Enterro do Bacalhau de 1910 já escrevemos no Penacova Actual. Também de 1932 se conhecia uma fotografia, bem como algumas referências dispersas. Entretanto, ainda não há muito tempo, conseguimos ter nas mãos um exemplar do “programa” que veio a público nesse ano.

Não menos interessante e valioso é também o “jornal” que se publicou em Penacova aquando do Enterro do Bacalhau de 1911. Falamos de  “A ESPINHA”: uma preciosidade que tivemos a sorte de fotografar. Quatro páginas cheias de humor e sarcasmo, como convinha nesta manifestação popular que marcava o fim da Quaresma.

Proibida durante o regime de Salazar, a tradição foi retomada com o 25 de Abril nalguns pontos do país. Em Penacova o último cortejo terá sido mesmo o de 1932.  


Mas viajemos um pouco até 1911. O programa do “Rabo+r+rio” (em rodapé do folheto aparece a solução da charada) prevê para as oito da noite o início do “luzido” e “pyramidal” cortejo. Dois arautos anunciarão das suas “sonorosas” trombetas, o “passamento” daquele que em vida se chamou Bacalhau.

Como se consegue ainda ler no já carcomido papel, o relato do “funeral” é um texto pleno de humor e sátira. As restantes páginas traduzem também a fértil e mordaz imaginação dos seus “redactores”, num momento, não nos esqueçamos, em que estava ainda fresca a revolução do 5 de Outubro, e se vivia um misto de alguma liberdade de expressão e de luta religiosa. Confrontando o relato do Cortejo de 1910 (ainda na vigência da Monarquia) com o conteúdo deste panfleto, é notório o tom mais solto da sátira e da crítica social.

O tema merecia maior desenvolvimento. Por hoje deixamos os leitores do Penacova Online com este breve apontamento, prometendo voltar ao assunto.

Nota: Gostaríamos de deixar um agradecimento ao nosso amigo Sr. José Alberto Costa que nos facultou o acesso a estes valiosos documentos que com grande sensibilidade cultural e cívica sabe preservar 

Ler +:

CORTEJO DE 1910: http://www.penacovactual.pt/2013/03/penacova-enterrou-o-bacalhau-uma.html
CORTEJO DE 1932http://www.penacovactual.pt/2012/02/o-enterro-do-bacalhau.html