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08 março 2024

Poetas penacovenses (XII): "Tanto caminho..." - Poema de Luís Pais Amante


ANA PAULA CAMPOS
"Tanto caminho por percorrer". Acrílico sobre tela  40x50 . Coleção Incompletude

Tanto caminho…

Só vejo pela frente

Um caminho longo

Que me põe dormente

Caminho feito à mão

E na medida da dor

O Espaço é pequeno

E gira sereno

Nas perspectivas da vida

As pedras a sobressaírem

Dificultando a caminhada

As árvores refilando

Por lhes não darem nada

E eu

A olhar pra mim sem esperança

Carregada de problemas demais

De circunstâncias reais

Pensando:

“Tanto caminho por percorrer”

Tanta distância pra Liberdade

De me ter


Luís Pais Amante

Telheiras Residence | 23Set23; 10h45 
A olhar para uma pintura em acrílico sobre tela, da Minha Amiga Ana Paula Campos.

06 dezembro 2023

Poetas penacovenses (XI): um poema de Luís Pais Amante





 Sem abrigo


Eu sei quão dolorosa vai a actual situação

Os momentos que passas sem nada comer

O frio que te aperta a coluna em ondulação

As pessoas que passam sem nada te dizer


Eu reconheço que este tempo está fingido

Que quem não tem eira nem beira está mal

As Autoridades não enxergam bem o perigo

Nas ruas da nossa cidade já só há frio termal


Estar sem abrigo e só é estar a bater no fundo

A vida não existe para se suportar em angústia

Para andar de saco na mão percorrendo mundo


Caminhando à noite és mesmo um errabundo

O tua fome persistente já só te dá parageustia

A Sociedade oferece-te estatuto de vagabundo


Luís Pais Amante

Casa Azul

A cogitar sobre o modo como cresceu, ultimamente, este fenómeno triste.


31 agosto 2023

Poetas penacovenses (X): A Lua Azul vista pelo poeta... da Casa Azul


"Na última noite, os céus foram iluminados por uma super lua azul, um fenómeno raro que foi visível também em Portugal. A última super lua do ano foi vista em vários pontos do mundo. Da Europa à Ásia, passando por Brasil, Estados Unidos e Portugal. Em Portugal, o fenómeno conseguiu ser visto às 2h30 desta quinta-feira. A Lua Azul, como é chamada - por ser também a segunda lua cheia do mês -, esteve a 357 344 quilómetros de distância da Terra e parecerá ter mais “área” do que a média. Segundo a NASA estima-se que o a próxima Lua Azul apenas apareça novamente em 2037.”

in Rádio Renascença, 31 agosto 2023

Do amigo Luís Amante recebemos um poema (acompanhado de foto), alusivo a este fenómeno que também nos céus de Penacova foi motivo de curiosidade. Muito obrigado!  Com todo o gosto o publicamos, em primeira mão, no Penacova Online. 


Oh Lua Cheia


Esta Lua d’hoje

Veio cheia de intenção

Nesta despedida do Verão


Ilumina-me a Casa toda

E, também, a minha necessidade

De a sorver, porque rara, com solenidade


!… É Lua Cheia Azul …!


Parece feita de lã e algodão

Sobressai do céu bem escurecido

E dá-lhe vida, pra ficar bem parecido


Corre espelhada no Rio

Pondo o Espelho d’Agua quase quente

Motivos -muitos- para me manter contente


Luís Pais Amante

Casa Azul
A observar a Lua Cheia Azul, como a minha Casa.

01 dezembro 2022

O rio Mondego na poesia de Ulisses Baptista

Regresso às Origens é o título do novo livro de poesia de Ulisses Baptista, autor penacovense. Já em 2012 havia publicado Meu Rio de Prata, uma “Breve História de Penacova e suas Tradições”, de acordo com o subtítulo desta obra, toda ela traduzida em estrofes de quatro versos, num total de cento e oitenta e três.

Agora, além da temática do Rio Mondego, Ulisses Baptista, Engenheiro do Ambiente, reúne um conjunto de cinquenta e um poemas onde se cruzam recordações de infância, passada na Carvoeira, preocupações ambientais e sentimentos perante a Vida e a Natureza.

Além das duas poesias sobre o Mondego, que transcrevemos, encontramos também o poema “Lembranças do Mondego”. Fica um excerto: “Nunca julguei que um dia ao te domar / O Homem, que tem voz no meu lamento / Servisse pra tão só te ver passar”.

Ulisses Baptista vem publicando textos em prosa e em verso na página do Facebook “Carvoeira, terra amiga”, de que é administrador. Um espaço que tem como conteúdo as “histórias e as lendas”, bem como, “fotos e factos sobre a Carvoeira, seus lugares e suas gentes”.


MONDEGO, MEU RIO DE PRATA

Meu rio de prata,
Outrora fecundo,
Morro de saudade,
Por não me rever
No que te fizeram.
Que é feito de ti
Meu rio de prata?
Águas cristalinas
E areias tantas,
Taludes orlados
Com moitas de junco.
Meu rio de prata,
Outrora fecundo,
Que há em ti que eu veja:
Um simples canal,
E ao largo os montes
E o azul do céu,
Não em ti espelhado.
Mas tu, um príncipe folião,
Perdeste a garra
Neste canhão.
Meu rio de prata,
Bem que eu te queria
Como eras dantes:
Seixos roliços
Postos ao acaso
E tapetes de erva,
Que pisei descalço,
Porque era criança.
E criança fui
E em ti me fiz homem
E assim me deixaste,
Meu rio de prata,
Outrora fecundo.


MONDEGO

Tinhas as orlas espraiadas
Em linhas ténues nas areias,
As curvas pouco fechadas
No correr das tuas veias.
Por ti se encantaram povos,
Distantes na madrugada,
Que vieram trazer aos novos
Mensagens de paz velada.
Revoltoso no Inverno,
Quando inundava as terras,
E as águas, num inferno,
Vinham do cimo das serras.
No auge da estação quente,
A cor da prata no leito,
Límpido e transparente,
Num panorama perfeito.
Em ti refletiam as cores,
O celeste azul do céu,
As praias desses amores
Que tanto poeta escreveu.

E quando a força bruta
Trouxe o mal que te quebrou,
A beleza, em forma astuta,
Ainda assim nos encantou.



09 setembro 2020

Poetas penacovenses (VII): Cogitando sobre as consequências deste tempo...

Nu

Poema de Luís Amante

Neste tempo de percurso cinzento, fiquei nu

Corri devagar, pensei sem saber, contive a tristeza

Não sorri, nem o exteriorizei, nem falei com o cu

Apenas dei por mim a percorrê-lo só, com leveza


A minha rua, sem gente, vai nua de despojada

E eu despido no silêncio que me afaga

De beijos francos, carinhos em laço de vaga

De abraços ternos, de ti como sorte almejada

 

Nu é o despido de tudo, até de auto-estima

Silêncio é o ponto mais assertivo da rima

Gente é vida, amizade é culto abrangente

 

A tristeza cresce nesta condição dormente

O mundo entorpece até para lá do pungente

A crença desvanece, passando a saber a lima

 

Luís Pais Amante
Telheiras Residence
9Set20; 17h45
Cogitando sobre as consequências deste tempo

25 março 2020

Poetas penacovenses (VI): Poesia em tempo de pandemia


Em prosa ou em verso, Penacova já se habituou às reflexões de Luís Pais Amante.
Agradecemos o envio deste texto que o autor fez questão de partilhar - em primeira mão connosco - e que entendemos dever ser também partilhado com os leitores do Penacova Online.

A DISRUPÇÃO DO MUNDO

O nosso tempo entrou em modo de quebradura
Distanciou, inda mais, o mundo já em fractura
Colocou-nos em quarentena
Afastou-nos da fala à “boca pequena”
E separou-nos
Do abracinho da Madalena

Estamos em disrupção
Não podemos dar a mão
Nem abrir o coração
Nem correr em contramão
Nem tocar no corrimão
A nossa civilização está em colapso
Cavado nos fregueses do relapso
Está instalada a rutura
Do carinho e da ternura
Estão fechadas as fronteiras
Separadas as nossas esteiras
Confinadas povoações
Com tampões colocados nos próprios dos aldeões
Donos do livre ar sem convulsões
Temos que acabar com isto, alterar o paradigma
Cantarmos em sol com rima
Unir esforços
Mandar para trás os remorsos
Confinarmos os destroços
Puxarmos pela destreza
Darmos mais atenção à limpeza
Trabalharmos com mais firmeza
Responder com luva branca à safadeza
Adoptar só a justeza
... e esperar ...
... que venha o Verão e o vírus fique sem ar!

Luís Pais Amante
Telheiras Residence
25Mar20; 17h15

Concentrado no meu novo modo de vida de “solitário solidário”.


13 janeiro 2017

Associação Cultural Divo Canto promove apresentação concelhia do novo livro de Luís Pais Amante

Depois de ter sido lançado em Lisboa (ver aqui na Associação 25 de Abril e na Casa do Concelho de Penacova, o livro REFLEXO[s], de Luís Pais Amante, vai ser apresentado em terras penacovenses, por iniciativa da Associação Cultural Divo Canto. A sessão de apresentação deste segundo livro de poemas será no próximo dia 21, sábado, pelas 16 horas, no auditório do Centro Cultural de Penacova. A cerimónia contará com dois momentos musicais proporcionados pelo Coral Divo Canto e pelo Grupo de Concertinas do Caneiro.

21 março 2016

Luís Pais Amante: conectado com a terra, com o rio, com os locais onde trabalhou, passeou e foi feliz

Luís Pais Amante, advogado e consultor em Lisboa, é natural de Penacova. No dia 12 de Março, apresentou no Centro Cultural o livro de poesia a que deu o título de “Conexões”. É o próprio autor que esclarece que o título foi escolhido “por ser o que melhor respeita todo este percurso de ligação e interligação e coligação com o mundo e com os seus problemas – e a minha visão deles – a partir dos locais onde passei o meu tempo e independentemente dos continentes onde eles se localizaram.”

Confessa também que vir a Penacova, tantos anos depois de a ter deixado, “continua a ser uma gratificante (re)descoberta!”. E no conjunto dos sessenta e dois poemas, ela está bem presente. “Espelho d’ Água” é um deles, merecendo especial destaque na contra-capa do livro:


Olha-se para ti, cá de cima
...e pressente-se o romance
O teu espelho, na água
Curva a mágoa num alcance
Mondego!
E sobe todo o nosso ego
E chora a rima...de relance
Olha-se para ti, cá de cima
... e logo bem se percebe
Que tudo ali se vai indo, na corrente
Seguindo um caminho consistente
Turvando a mente, ao de leve
Rio!
E ali se reflecte a felicidade da alma
E, fixando a imagem, se dá calma à idade
Absorvendo toda a aura da beldade
Processando-a com o passado persistente
Tudo o que tivemos, lá se vai
Tudo o que queremos, de lá se vem
Tudo ali se renova com beleza
Em trabalho consciente da natureza
... até tu, minha terra
Penacova!





O Dr. Luís Amante revela-nos, de coração aberto, o seu percurso de vida e ajuda-nos a compreender melhor este “seu trabalho para além do trabalho” – a escrita poética.

“Conectado com a minha terra, com o meu Rio, com as nossas casas e com os locais onde trabalhei, onde passeei e onde fui feliz, a verdade é que sobreveio sempre tempo e inspiração para ir traduzindo as experiências vividas em poesia.”

“Em Agosto de 1973, quando deixei a casa dos meus Pais, em Penacova, no Cruzeiro e fui para Lisboa, onde ainda resido, levava a certeza de querer evoluir como homem e de manter bem presentes, sempre, as bases e os ensinamentos da minha educação, da nossa simplicidade e da sua honestidade intrínseca.

Eram tempos de grandes dificuldades, há que admiti-lo sem vergonhas!

Ao longo destes anos que, entretanto se passaram – e são os anos de uma vida – tive a felicidade de ter um percurso ascendente e fui sendo titular de cargos de alguma responsabilidade.

Modestamente, embora, sei que construí coisas importantes e que me dediquei a causas interessantes.

Principalmente, sei que ajudei a consolidar uma Família e um grupo de empresas tradicionais, coesas e fraternas e solidárias e dedicadas, como as nossas, felizmente, são.

Mas continuei – ou tentei continuar – a ser a mesma pessoa humilde que nasceu numa terra do interior, gratificado pelo esforço que fizeram por si, dedicada aos seus amigos de infância, sem nunca esquecer as suas raízes.

E uma pessoa firme, por vezes dura, como somos quase todos por aqui, na Beira.

Corri mundo na minha profissão de consultor e conheci por dentro a problemática das empresas e as vicissitudes do desenvolvimento, em situações complexas e em países de onde saí chocado.

Mas sempre aproveitei, nos tempos livres que se me ofereciam, os ares puros da minha terra, o acolhimento das suas gentes, a bondade dos meus amigos e o prazer da sua boa comida, da minha pesca e das minhas caminhadas, que sempre me deliciaram, tudo servido num prato de beleza natural incomparável.

Ir à minha terra, ao fim de tantos anos, continua a ser uma gratificante (re)descoberta!

Participar, tanto quanto possível, nas questões da minha terra, constitui‑se para mim como imperativo de consciência.

E não ter terra, no sentido bem português de não ter – e manter –raízes no país profundo, tantas vezes esquecido, seria para mim um drama, na justa medida em que é aí que encontro a amizade desinte­ressada e a genuinidade do povo, essa instituição na qual tantos dizem ter a razão do seu desígnio, mas que, na realidade vão esquecendo a cada passo... Da evolução dos seus interesses particulares.

Em boa verdade, vai sendo a problemática de todo um Povo causticado – tendo como expoente os indefesos – que se torna a minha fonte privilegiada de preocupação actual, confesso.

Tenho, aliás, a sensação triste de que a minha geração das liber­dades falhou completamente quando se tratou de proteger, como se lhe impunha, os mais desprotegidos de hoje: doentes, reforma­dos, idosos, deficientes, sós, desempregados... E demais pessoas que já não têm tempo para reagir às vicissitudes do País.

Entretanto fui fazendo poesia – a minha poesia – e fui guar­dando ou oferecendo, ou dedicando o meu hobby e passando para as folhas brancas dos livros que fui lendo todos os meus senti­mentos, todos os meus pensamentos, todas as minhas impressões e todas as minhas apreensões.

Nesses livros encontra‑se, pois, o meu património literário, parte do qual constitui este livro que eu agora vos dou.

Sensível aos argumentos das pessoas mais próximos e, princi­palmente, da minha mulher, aquiesci à presente publicação que é despretensiosa e não quer mais do que dar a conhecer o meu trabalho para além do trabalho.

Sabendo que vou espantar muita gente que ao longo dos tem­pos se cruzou comigo (colegas, colaboradores, amigos, clientes, parceiros, fornecedores, professores) o certo é que admiti chegado o momento de me revelar a todos nesta faceta singular, que admito me completa como ser humano e que agora me tempera a idade, sobremaneira.

O resto, fica sujeito ao critério a que sempre estive sujeito nas minhas múltiplas actividades profissionais e ao qual sempre, tam­bém, me submeti por inteiro: o do contraditório e da crítica.


O título Conexões foi escolhido por ser o que melhor respeita todo este percurso de ligação e interligação e coligação com o mundo e com os seus problemas – e a minha visão deles – a partir dos locais onde passei o meu tempo e independentemente dos continentes onde eles se localizaram.

Conectado com a minha terra, com o meu Rio, com as nossas casas e com os locais onde trabalhei, onde passeei e onde fui feliz, a verdade é que sobreveio sempre tempo e inspiração para ir traduzindo as experiências vividas em poesia.

Quase sempre quando escrevi nas folhas brancas dos tais livros, registei o local e, muitas vezes, a própria hora. Tal facto pretende transportar‑me para a vivência concreta daquele momento, ainda hoje quando os releio. Os poemas aqui colocados neste livro, estando sequenciados no tempo – datados – podem não ser seguidos, por esses que se lhes seguiram não terem sido para aqui seleccionados.

Dito tudo isto devo agradecer às minhas fontes de inspiração, em primeiro lugar, a minha mulher, Ana Marques Lito, a Marga­rida Ferreira, que me assistiu na compilação, ao Fernando Mão de Ferro, meu Editor e sua equipa da Colibri (Helena e Raquel) e à minha sempre amiga Maria José Vera (filha do saudoso poeta António Vera), que aqui faz o favor de me anunciar ao mundo enquanto poeta, com toda a sua bon­dade e conhecimento.

Bem hajam todos.

Aos meus leitores, bom proveito.

A Penacova e aos meus conterrâneos, muito obrigado!

Do amigo, Luís Pais Amante
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Fotos: Penacova Eventos

03 abril 2012

Páscoa em Penacova: recordações de infância e juventude

Maria Eduarda Silva - 1946

A PROCISSÃO DE SEXTA-FEIRA SANTA
"Há muitos, muitos anos, era eu uma criança"  e vivia numa vila que era a minha terra natal.
Ali, a primavera era especialmente bonita, com céu azul, mil andorinhas esvoaçando, flores e verdura por todos os cantos, um rio sereno que deslizava, um ar limpo e temperatura amena.

Profª Eduarda Silva
penacovense radicada
no Sátão-Viseu
A criançada, à tardinha, brincava no largo do Terreiro, corria pela Pérgola às escondidas e em segurança. Havia pessoas adultas que vigiavam e se compraziam com os seus folguedos…
Pela Páscoa, as amêndoas, os folares, o repicar dos sinos em Aleluias pela Ressurreição do Senhor, enchiam as nossas almas de criança de uma alegria indescritível.
Porém, mais do que tudo isso, a procissão do enterro na 6ª feira Santa era para nós um momento de grande ansiedade.
Eu e mais três primas, víamos passar aquele cortejo seguido da banda filarmónica que tocava uma marcha fúnebre, não recordo já de que autor, que nos comovia profundamente.
A Verónica que todos os anos era escolhida para entoar aqueles cânticos mágicos, parava sempre nos mesmos lugares e era escutada em profundo silêncio. Depois…
Ficávamos à varanda da casa da avó Ernestina a ver passar aquela devota gente, até se extinguirem ao longe os últimos acordes musicais da Banda.
Meu Deus, como recordo!
Como tenho saudades!"
Mª Eduarda