08 dezembro, 2025

As obras de conservação e restauro do Mosteiro e a presença de Salazar em Lorvão

Cem anos ´decorridos sobre a data de extinção das Ordens Religiosas, decretada em 1834, o Mosteiro de Lorvão tinha atingido tal grau de ruína que chegou a estar iminente a sua derrocada, especialmente da Igreja. As obras foram sendo adiadas e só por volta de 1940 se começou a vislumbrar uma solução para evitar essa “catástrofe” a nível de património cultural. Por esta altura, Salazar esteve em Lorvão para se inteirar do andamento das obras em curso. O jornal A Comarca de Arganil (31/10/1944) noticiou essa deslocação do Chefe do Governo. 

“Ontem,  a população de Lorvão, sede desta freguesia, teve o agradável ensejo de voltar a ver na sua terra o eminente Chefe do Governo, sr. dr. Oliveira Salazar. 

Foi inesperada esta visita, motivo por que não pode ser tributada a s. ex.ª, com pesar de todos os lorva- nenses, a homenagem de que era justamente merecedor. 

Mostra o sr. Presidente do Conselho, com a sua comparência em Lorvão, que se interessa a valer por que o notável Mosteiro, que muito honra o nosso concelho, seja restaurado o mais breve possível, para que os seus inúmeros visitantes não levem dali má impressão.

Era cerca do meio-dia quando o sr. dr. Oliveira Salazar chegou, vindo na sua companhia de mais três pessoas, sem dúvida técnicos das repartições dependentes da Direcção Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais. 

A sua demora foi de duas horas, percorrendo todas as dependências, entre elas o Museu, e interessando-se vivamente pelos mais pequeninos detalhes das obras em curso. Quis saber o número de operários que nelas têm trabalhado e há quanto tempo estavam paradas. 

O guarda do Mosteiro, sr. Manuel Gaudêncio, prestou todos os esclarecimentos pedidos pelo ilustre Chefe do Governo. Finda a visita, o sr. dr. Oliveira Salazar e a sua comitiva tomaram um pequeno lanche ao ar livre, junto do Mosteiro, após o que se retiraram pela estrada de Penacova - a mesma por onde tinha vindo. 

As obras de restauro estão paralisadas há uns oito dias e nelas têm trabalhado diariamente cinco operários, debaixo da direcção do respectivo encarregado, sr. Máximo. Os serviços feitos têm sido os escoramentos dos tetos e paredes, como preliminares das grandes obras a realizar.” 

Recorde-se, muito resumidamente, todo o processo de recuperação arquitectónica e artística* deste Monumento Nacional.

A situação de quase ruína e a iminência de ruptura, em especial das estruturas da zona da Igreja, por cedência das fundações, já tinham sido reconhecidas em vistorias efectuadas em 1916 e em 1923. Estas “patologias graves” ao nível da estrutura, só na década de quarenta começaram a ser intervencionadas, sob a tutela da Direcção Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais.

Assim, em 1943 (prolongando-se por toda a década) foram iniciadas as obras mais inadiáveis de conservação e reparação, estabilizando a estrutura do cunhal norte da cabeça da Igreja, em ruptura iminente, como se referiu. Estas operações foram coordenadas pelo arquitecto Amoroso Lopes (1913 - 1995), técnico  igualmente responsável pela construção, anos mais tarde, da cúpula do Panteão Nacional (Lisboa), e entregues ao empreiteiro Manuel Jesus Cardoso. 

Numa segunda fase, que se prolongou até cerca de 1960, procedeu-se à reconstrução e consolidação dos espaços do mosteiro, repondo a traça seiscentista, e recuperando paredes, coberturas, pavimentos e vãos. Tentou-se também recuperar retábulos, pinturas e esculturas. 

No final da década de cinquenta (1957) o Ministério das Obras Públicas considera estar concluída a recuperação de maior vulto deste valioso património lorvanense. 

Os anos sessenta ficam marcados com a adaptação do edifício do antigo dormitório a Hospital Psiquiátrico, sob a tutela do Ministério da Saúde. Unidade que funcionou de 1960 a 2012. Em 1984 tinha 330 camas e empregava mais de 170 pessoas, sendo 70% do lugar de Lorvão e arredores. 

*Confrontar Lorvão: um mosteiro e um lugar, Tânia Sofia Lopes Antunes, 2013 (tese de Mestrado) 

Sem comentários:

Enviar um comentário