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04 julho 2017

Nos 150 anos da abolição da Pena de Morte: reflexos na história das gentes de Penacova

OS CASOS LUÍSA DE JESUS E EXPLOSÃO DE PÓLVORA NA CORTIÇA

Estão por estes dias a celebrar-se os 150 anos da Abolição da Pena de Morte em Portugal. Não sabemos quantas pessoas ligadas a Penacova foram condenadas à pena capital ao longo dos tempos, mas há dois casos que fizeram história: o caso de Luiza de Jesus (natural de Figueira de Lorvão), por ter cometido cerca de 30 infanticídios, e o fuzilamento de 6 penacovenses por envolvimento no episódio da “Queima da Pólvora" na Estrada da Beira, junto à Cortiça.



Luiza de Jesus, uma mulher de 22 anos, ia buscar “enjeitados” à Misericórdia de Coimbra a “pretexto de criação, matando-os e enterrando-os depois, para se aproveitar do enxoval e dos 600 réis de criação pagos adiantadamente!” – pode-se ler na bibliografia sobre o assunto.  Acharam-se enterradas trinta e três crianças, confessando a ré haver garrotado vinte e oito por suas próprias mãos!
Foi atenazada pelas ruas de Lisboa, cortadas as mãos em vida, garrotada e queimada. Corria o ano de 1772. Entre nós a pena de morte era executada geralmente por estrangulamento (forca ou garrote), por degolamento, pela queima do corpo da vitima (vivicombúrio) ou por esquartejamento, atando a vitima pelas quatro extremidades ás caudas de quatro cavalos. De referir também o fuzilamento.
Havia ainda modos de agravar: em vida, o atenazamento, bem como o corte ou mutilação das mãos, o arrastamento da vitima, no percurso, até o sitio da forca. Em casos mais cruéis podia ser arrancado o coração. Depois da morte, era frequente o corte da cabeça, o esquartejamento (as partes eram distribuídas pelos lugares centrais da cidade, ou colocados às portas dela) e noutros casos, era queimado o cadáver.
Assento de Baptismo de Luísa de Jesus (publicado no jornal Expresso)

Saiba mais sobre este caso AQUI e AQUI.

Caricatura representando D. Pedro  e D. Miguel
disputando a coroa portuguesa, por Honoré Daumier, 1833

Passados 61 anos, em 1833, temos notícia do fuzilamento de 6 penacovenses, por motivos políticos: António Homem de Figueiredo e Sousa, natural da Cruz do Souto, freguesia de Farinha Podre,  Padre António  da Maya, natural da Cruz do Souto, freguesia de Farinha Podre, pároco encomendado da freguesia do Covelo de Ázere, Francisco Homem da Cunha, filho de Bernardo Homem e irmão de Guilherme Nunes, do lugar da Cortiça, Francisco de Sande Sarmento, solteiro, natural da Carvoeira, freguesia e concelho de Penacova, Felisberto de Sande, solteiro, natural da Carvoeira, freguesia e concelho de Penacova,  Guilherme Nunes da Silva, filho de Bernardo Homem e irmão de Francisco Homem da Cunha e José Maria de Oliveira, natural da Cortiça, freguesia de Paradela.
Conta-nos Henriques Seco (Memórias do Tempo Passado e Presente – 1880) : “É sabida a perseguição que aos liberais foi feita desde 1828 a 1834. Uma das terras do país que mais sofreu então foi a vila de Midões. Fugindo á perseguição, alguns de entre eles vagavam por diferentes terras da província, e por acaso nos primeiros dias do mês de Agosto de 1832 estacionavam junto à Cortiça (quilometro 42 da estrada de Coimbra a Celorico) onde os povos lhe não eram hostis, e havia também muitos cidadãos comprometidos na causa liberal.”  
Ao fim da tarde do dia 4 de Agosto de 1832, os mesmos liberais foram avisados  que havia chegado à Ponte da Mucela “um troço de quarenta voluntários realistas, vindos de Abrantes, escoltando um comboio de vinte carros com pólvora”. Os liberais envolveram-se e depois de vários episódios (ver AQUI e AQUI) foram perseguidos, presos e por fim, muitos deles, condenados à pena capital. A povoação da Cortiça foi quase totalmente incendiada em 1832 pelas milícias miguelistas que quiseram vingar o assalto ao  combóio de carros de bois carregados de pólvora, proveniente dos paióis de Abrantes e destinada ao cerco do Porto. A pólvora foi seguidamente destruída por explosão nas proximidades da Cortiça e, como não foi possível prender todos os guerrilheiros, sofreram as retaliações os moradores daquela localidade.







29 novembro 2015

VIOLENTA EXPLOSÃO JUNTO À CATRAIA DOS POÇOS

Tempos de guerra, tempos de guerrilha. A região entre Ponte da Mucela e Catraia dos Poços acaba de viver momentos de grande tensão. Mais uma vez na história, estas terras são palco de lutas e de perseguições semeando o terror. Agora já não são os invasores Franceses. Também com laivos de grande violência, agora a luta é fraticida. 


Vindo de Abrantes chega à Ponte da Mucela, num dia de Agosto,  um comboio de 20 carros carregados de pólvora com destino ao norte, talvez Viseu ou Lamego. A escoltá-lo vêm 40 “voluntários realistas”. No dia seguinte, dia 5,  logo pela manhã, resolvem fazer uma paragem, na Chamada Eira do Forno, já perto da Cortiça.
A dado momento, um dos “carreiros” que se diz ser um tal José António, da Urgueira, ao passar junto à casa de José Maria de Oliveira, grita: - está ali um malhado!. Era um conhecido  partidário das ideias liberais,  que andava a apanhar fruta nas traseiras da casa. Logo os milicianos se atiram ao pobre homem indefeso bem como  a um outro vizinho. Em seu auxílio surge um grupo de liberais que depois de grande troca de tiros consegue ganhar  aos agressores que eram em bem maior número. Com a situação dominada resolvem desviar o carregamento de pólvora e colocá-lo à disposição  do capitão de Ordenanças do Carapinhal, José Dias Brandão e desse modo ficar em “melhores” mãos. Quando tal intento começava a ser concretizado, eis senão, chega um grupo de outros “voluntários” que vindos do Norte regressavam a Abrantes. Nova escaramuça se trava ali perto dos Poços e os liberais mais uma vez saem de vencida. Só que, pressentindo  que em breve estariam cercados pelas Ordenanças de Penacova e de outros concelhos das redondezas, decidem deitar fogo à pólvora.
Foi então  que junto à Catraia dos Poços, perto da Serra da Sanguinheda,  longe das casas, amontoam a pólvora dos 20 carros de bois e estendem o rastilho. Terá sido Manuel Brandão a acendê-lo. Mas já perto do monte, o pavio apaga-se. Valeu naquele momento a coragem de um penacovense, um dos irmãos Sande, da Carvoeira, antigo Sargento de Caçadores 8.  De rastos aproximou- se perigosamente do monte de pólvora e reacendeu o rastilho, fazendo explodir toda aquela quantidade de explosivos. Imagine-se o estrondo que se fez sentir por terras da Casconha!
Escusado será dizer que não demorou muito para que as tropas (guerrilhas) de Arganil chegassem e perseguissem tudo o que era “liberal”. Muitos destes atravessam o Mondego indo refugiar-se na zona dos Fornos e Alcarraques, já perto de Coimbra. Outros ficaram pela zona do conflito, sendo a maioria imediatamente presa. António Joaquim (ou António do Arrabalde, como era conhecido) ainda se refugiou na toca de um castanheiro, mas de nada lhe valeu.
Às “guerrilhas“ de Arganil juntaram-se as Guerrilhas e Ordenanças de 22 concelhos da região. Também a Infantaria e Cavalaria de Coimbra entraram em campo. Não custa pois imaginar as perseguições, os incêndios, os saques, as prisões (muita gente de Farinha Podre) que sofreram todos os simpatizantes da causa liberal.
Mas a vingança não se ficou por aí, nem sequer pelo abarrotar das cadeias de Mortágua e Arganil. É que os fuzilamentos que se seguiram não foram nem um nem dois: foram sete. Os nomes estão gravados num Mausoléu que existe em Viseu. Pessoas da Carvoeira, da Cruz do Soito...
Foram eles: António Homem de Figueiredo, da Cruz do Soito; António Joaquim, da Várzea de Candosa; Padre António da Maya, natural da Cruz do Soito, pároco encomendado de Covelo de Ázere (que estava inocente, entre outros); Francisco Homem da Cunha e o irmão Guilherme Nunes da Silva, da Cortiça, filhos de Bernardo Homem.Também da Cortiça, José Maria de Oliveira. Por último, naturais da Carvoeira, os irmãos Francisco de Sande Sarmento e Felizberto de Sande. Fuzilados por topas pertencentes às Milícias de Santarém, no Terreiro do Rossio de Santo António, em Viseu, no dia 21 de Março de 1833.
A inscrição existente no referido Mausoléu recorda a  “execranda tirania daquele tempo” e exalta a coragem destes “mártires da liberdade”.  Penacovenses... perpetuados em Viseu... ignorados em Penacova...
NOTA: Voltaremos ao assunto, não só para referir a extensa lista com os nomes de pessoas desta região  que estiveram nas cadeias, mas também para situar este episódio conhecido por “Queima da Pólvora” no conjunto da Guerra Civil que opôs liberais e absolutistas, que semeou o ódio entre “malhados” e “corcundas”...