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12 abril 2024

Penacova um olhar 1921 (III): visita à Quinta do Sr. Carvalho


O "Jornal de Penacova" publicou em 1921 um artigo/crónica que nos dá uma imagem, nalguns aspectos curiosa, do nosso concelho naqueles primeiros anos do século passado. 
Levava o título genérico de “Monografia” e era assinado por Bernardino Pereira. 
Damos, hoje, continuidade ao texto que temos vindo publicar, com uma visita à Quinta de Santo António.

[...] Subimos a vasta escadaria e chegámos ao jardim que contorna a casa. Que vimos? Impossível é fazer a descrição de tudo. Um belo horizonte. 

Ao longe as cumeadas de algumas serras com urzes, tojos, ou circundadas pelas folhas verdes dos pinheiros; ao fundo o comprido vale das duas margens do majestoso Mondego; nos altos, fileiras inúmeras de moinhos de vento; nos baixos, azenhas de água e barcos deslizando para montante e jusante, no Mondego; a seus pés estende-se a graciosa vila de Penacova; Além, Riba de Baixo, Carvoeira... e mais além a Cheira, Chelo, Chelinho, Rebordosa... Aqui e acolá diversos montes e vales e lá no fundo a lisa corrente do cantado Mondego em amplo leite tortuoso e em cujos meandros a vista se enamora;

Junto às casas dos vizinhos, lindos pomares, belos jardins e algumas vinhas e por aqui e acolá, alcandorados nos montes, casais caiados, brilhantes e de nota alegre e poética, mesmo dentro da Quinta hospitaleira, vinha, horta, pomar, alamedas, grutas artificiais com graciosas estalagmites, lagos artificiais, aquário, repuxo, jardim ao ar livre e jardins de estufa.

Plantas de climas temperados e de climas quentes, tudo devidamente tratado com amor, cuidado e arte, e tudo dividido por lindos caminhos, com bancos de repouso e mesas especiais nas grutas onde têm descansado e tomado refeições diversas diplomatas e cavalheiros estrangeiros e portugueses.

O Sr. Carvalho que nos recebeu admiravelmente mostrar-nos tudo de boa vontade e convida-nos por fim para penetrar no seu chalet de habitação. Ali completa-se o encanto com toda o conforto.

Estética, ciência e arte. Ricamente atapetado, tudo bem instalado com mobília e outros artigos decorativos de luxo, lindamente ornamentados. As diversas salas de recepcão, de fumo, de música... são tão ricos alguns quadros e pinturas, que julgamos estar nalgum museu.

E fomos também até ao primeiro andar onde estava um bom piano e onde a Madame Raimunda Martins de Carvalho, de origem brasileira e professora de piano exímia, executou notáveis trechos de músicas estrangeiras. E para o sr Joaquim de Carvalho, honra ao mérito! Ali mora um fidalgo, por direito e merecimentos próprios, nobre descendente, como tantos outros, do concelho de Penacova, da antiga e heróica raça portuguesa!

Subimos a vasta escadaria e chegámos ao jardim que contorna a casa. Que vimos? Impossível é fazer a descrição de tudo. Um belo horizonte: ao longe as cumeadas de algumas serras com urzes, tojos, ou circundadas pelas folhas verdes dos pinheiros; ao fundo o comprido vale das duas margens do majestoso Mondego; nos altos, fileiras inúmeras de moinhos de vento; nos baixos, azenhas de água e barcos deslizando para montante e jusante, no Mondego; a seus pés estende-se a graciosa vila de Penacova; Além, Riba de Baixo, Carvoeira... e mais além a Cheira, Chelo, Chelinho, Rebordosa... Aqui e acolá diversos montes e vales e lá no fundo a lisa corrente do cantado Mondego em amplo leite tortuoso e em cujos meandros a vista se enamora;

Junto às casas dos vizinhos, lindos pomares, belos jardins e algumas vinhas e por aqui e acolá, alcandorados nos montes, casais caiados, brilhantes e de nota alegre e poética, mesmo dentro da Quinta hospitaleira, vinha, horta, pomar, alamedas, grutas artificiais com graciosas estalagmites, lagos artificiais, aquário, repuxo, jardim ao ar livre e jardins de estufa.

Plantas de climas temperados e de climas quentes, tudo devidamente tratado com amor, cuidado e arte, e tudo dividido por lindos caminhos, com bancos de repouso e mesas especiais nas grutas onde têm descansado e tomado refeições diversas diplomatas e cavalheiros estrangeiros e portugueses

O Sr. Carvalho que nos recebeu admiravelmente mostrar-nos tudo de boa vontade e convida-nos por fim para penetrar no seu chalet de habitação. Ali completa-se o encanto com toda o conforto.

Estética, ciência e arte. Ricamente atapetado, tudo bem instalado com mobília e outros artigos decorativos de luxo, lindamente ornamentados. As diversas salas de recepcão, de fumo, de música... são tão ricos alguns quadros e pinturas, que julgamos estar nalgum museu.

E fomos também até ao primeiro andar onde estava um bom piano e onde a Madame Raimunda Martins de Carvalho, de origem brasileira e professora de piano exímia, executou notáveis trechos de músicas estrangeiras. E para o sr Joaquim de Carvalho, honra ao mérito! Ali mora um fidalgo, por direito e merecimentos próprios, nobre descendente, como tantos outros, do concelho de Penacova, da antiga e heróica raça portuguesa!

SABER + sobre a QUINTA DE STO ANTÓNIO



02 janeiro 2021

Milagre em Penacova: uma história caída no esquecimento...

Não sei se alguém em Penacova ouviu alguma vez falar deste caso que parece ter sido mesmo verdade. Foi notícia na Gazeta de Lisboa onde chegou por meio de “pessoa de grande crédito, moradora na mesma vila”. 


Ao monte da Senhora da Guia, quando ainda não existia a capela, mas um enorme templo inacabado, foi Isabel Francisca, viúva de Manuel de Brito, "assoalhar" lã levando consigo um filhinho de um mês, chamado António. 

A dado momento, do alto da abóbada da igreja, desce uma enorme ave de rapina, talvez um bufo ou guincho, como refere a crónica, que rapta o bebé, cravando-lhe as enormes garras. Num ápice dirige-se para a zona de Entre Penedos enquanto a mãe, impotente, solta um grito de desespero. 

E naquele momento de grande aflição de imediato implora a protecção de Santo António.

Ora, ao passar sobre a Quinta de Bernardo Cabral de Castello Branco,  presumivelmente na zona de Vila Nova, pousou junto a uma fonte onde existia uma imagem daquele Santo. Afugentada por uns trabalhadores que por ali andavam, a enorme ave de rapina deixou a pobre criança em paz e sem feridas de maior, a não ser “leves” (?) marcas das garras. 

Só podia ser milagre!

E quer os que presenciaram quer os que de tudo tiveram conhecimento mais não fizeram que redobrar a devoção a Santo António, já venerado na antiquíssima capela existente na encosta sul da vila. 




Fontes: Gazeta de Lisboa, 3 de Julho de 1749
              O Padre Santo António de Lisboa de Manoel Bernardes Branco, 1887