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31 julho 2015

Leituras para férias: Penacova paisagem de sonho e beleza


Quem não se recorda das edições antigas da revista Modas e Bordados? Ora, esta revista, associada ao jornal O Século publicou em 1932 um artigo sobre Penacova, assinado por Maria Lúcia. Quem era Maria Lúcia?

No início dos anos trinta, durante cerca de meia dúzia de anos, viveu em Penacova, dado que o seu marido Joaquim Jerónimo da Silva Rosa, funcionário público, natural de Lorvão onde nasceu em 1900, foi colocado naquela vila. Maria Lúcia Vassalo Namorado era sobrinha de Maria Lamas e foi uma escritora e jornalista de renome. Curiosamente, essa carreira jornalística começou no Notícias de Penacova onde deixou muitos escritos. Refira-se que o marido foi também um dos fundadores deste periódico. Lúcia Namorado criou passado algum tempo e dirigiu durante muitos anos a também afamada revista OS NOSSOS FILHOS, onde apareceram muitas referências a Penacova, inclusivamente fotografias de bebés/crianças da vila.   Existem estudos académicos detalhados sobre Lúcia Namorado e a sua relação com a nossa terra. 

AQUI FICA O TEXTO publicado em 18 de Outubro de 1932:

Penacova 
paisagem de sonho e beleza  

Pequenina, modesta, privada ainda hoje de comodidades modernas, embora distanciadas apenas cerca de 20 quilómetros de Coimbra, a que a liga uma lindíssima estrada, Penacova impõe-se pelo acaso da sua situação caprichosa, a meio de uma paisagem privilegiada de beleza. Particularidade singular, talvez única na nossa Terra, essa paisagem, sendo grandiosa é, ao mesmo tempo, limitada. Como se a natureza entendesse que os olhos tinham ali pasto bastante para alimentar sucessivas e atentas contemplações.

Rodeia-a uma infinidade de montes: uns cónicos e rochosos; outros, de ondulações suaves, grandes extensões de pinhais salpicados e  de povoados - nódoas claras que, surgindo dentre a romaria  verde,  alegram a vista e fazem lembrar sorrisos cândidos e saudáveis. No vale, amplo e luminoso, duma claridade doce de aguarela, passa o rio silencooso e manso, estorcendo-se em curvas airosas que descobrem, ora à direita, ora à esquerda, areais onde as lavadeiras coram a roupa, e onde o milho que viceja e amadurece nas ínsuas vizinhas, depois de loiro e descasulado, é estendido para secar.

Cortando as águas límpidas do rio, que deixam ver as areias de oiro cantadas pelos Poetas, deslizam, carregdas de madeira, as barcas negras e muito esguias, de grande proa revirada; os barqueiros, tisnados, conduzem-nas à vara, penosamente, correndo sobre os bordos, num esforço exaustivo, prodigioso de equilíbrio; e só quando o vento sopra a faina abranda um pouco: nas barcas escuras incha e resplandece a brancura duma vela.

É assim aquele vale de cores macias e duma serenidade extática. Ao centro eleva-se uma colina semeada de oliveiras e coroada por uma povoação que dir-se-ia, na verdade, uma rainha no trono - tal como está debruçada para o Mondego, do alto duma penha erguida numa cova.

É a vila de Penacova uma das mais antigas da Península; nela , porém, nada nos fala da sua vetustez, pois nem sequer do seu remotíssimo castelo existem vestígios. Vários investigadores afirmam que é de origem cantábrica, mas parece assente que a primeira notícia desta vila data do tempo do conde D. Henrique.

D. Sancho I mandou-a povoar e deu-lhe em 1193 foral que foi confirmado em Coimbra por D. Afonso II; D. Manuel I deu-lhe novo foral em Lisboa, no ano de 1513.

É hoje muito visitada por pessoas atraídas pela justa fama dos seus encantos naturais, e tem um grupo de bons amigos empenhados em a dotar com melhoramentos, dentre os quais se destaca o esplêndido edifício do preventório, prestes a funcionar – obra cujo largo alcance social é desnecessário encarecer.

A população,  que é pobre, emigra facilmente, sobretudo para as Américas.

A principal indústria do concelho é dos palitos, que se intensifica na freguesia de Lorvão – cova sombria, triste, contraste profundo da beleza colorida e sonhadora de Penacova: nessa aldeiasita se desmorona o velhíssimo mosteiro do mesmo nome, outrora riquíssimo e agora desmantelado, mas onde ainda se encontram jóias artísticas de raro valor, belas evocações de páginas distantes da nossa História maravilhosa.

MARIA LÚCIA