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26 junho 2015

Coral Divo Canto apresenta hoje Orfeu & Eurídice


O Coral Divo Canto vai apresentar, hoje, pelas 21:30, no Centro Cultural de Penacova,  a Ópera Orfeu & Eurídice.

É graças a um trabalho intenso, de grande qualidade, feito de esforço, paixão e persistência, quer do seu Maestro, Pedro Rodrigues, quer de todos aqueles que ao longo destes anos passaram pelo grupo, que Penacova pode hoje assistir a mais um momento alto de cultura. 

Passo a passo, esta nossa terra vai recuperando o lugar que em finais do século XIX e primeira metade do século XX ocupou. Nesses tempos,  com características mais elitistas, se pensarmos nos eventos artísticos que amiúde se realizavam no “palacete” do casal Raimunda e Joaquim de Carvalho (edifício da actual Casa de Repouso) com a presença de altas figuras da cultura nacional. Pela mão de Raimunda Martins de Carvalho, essa paixão pela cultura, acabou por ser também  transmitida e generalizada a muita gente de Penacova que com ela aprendeu as artes do canto, da música instrumental e do teatro. Falamos nesta figura penacovense como poderíamos recordar muitas outras. Correndo o risco de  sermos injustos, diríamos que na segunda parte do século passado, estas manifestações culturais foram decaindo ao ponto de praticamente chegarmos a poder contar apenas os grupos etnográficos e folclóricos e as filarmónicas enquanto agentes culturais activos.

Assistimos hoje, e o trabalho do Coral Divo Canto é um dos excelentes  exemplos disso, a um renascer e a um multiplicar efervescente de iniciativas de qualidade, que pouco a pouco vão alargando os horizontes da cultura. O espectáculo de logo à noite é, na nossa opinião, um evento paradigmático desta  dinâmica local.

O espectáculo em causa  já foi apresentado no Largo Alberto Leitão em 2014 - tricentenário do nascimento de  Gluck - e no Mosteiro de Lorvão, já em 2015, aquando do capítulo da Confraria da Lampreia. Desta vez, num espaço diferente, num verdadeiro palco, com outras possibilidades de sonoplastia e luminotecnia, aguarda-se que constitua um momento ainda mais intenso e cativante. Mesmo para quem já assistiu, cremos que não será de perder este serão que vai marcar a história cultural de Penacova.

Christoph Willibald Ritter von Gluck (1714 - 1787) foi um dos mais importantes compositores do seu tempo. Foi considerado o grande reformador da ópera clássica por equilibrar a importância da música e da acção dramática. A  ópera “Orfeu e Eurídice” é a obra mais representativa dessa tendência. Foi escrita em 1762 e apresentada em Viena, em italiano. Em 1774 foi reelaborada para ser cantada em língua francesa na Ópera de Paris.
 Gluck

O mito de “Orfeu e Eurídice” é relatado nas “Geórgicas” de Virgílio, e foi utilizado como argumento de outras óperas na história da música, desde “Orfeo” de Monteverdi (1607) até Offenbach, com sua opereta “Orfeu no Inferno” (1858).

Terminamos com o apelo que o Coral Divo Canto faz na sua página do facebook: “Não perca a oportunidade de ser surpreendido com as mais diversas sensações e emoções que só se conseguem transmitir por este que é sem duvida o mais completo género artístico.
A ópera está de volta a Penacova, e desta vez será protagonizada pelos seus conterrâneos. Apareça! “

Leituras complementares:

O MITO DE ORFEU

Orfeu era filho do deus Apolo e da ninfa Calíope; do pai herda uma lira que, uma vez tocada por si, revela um canto do qual, pela sua magia, ninguém consegue livrar-se.
O deus dos casamentos, Himeneu, selou o amor de Orfeu e Eurídice, mas não foi capaz de lhes garantir o êxito da relação. Os maus presságios iniciais concretizaram-se quando a bela jovem, pouco depois, foi assediada por Aristeu. Ao escapar desta perseguição,foi picada por uma serpente o que provocou a sua morte.
Incapaz de aceitar este desenlace, Orfeu vai atrás da sua amada até ao mundo dos mortos. Aí, tocando a sua lira, leva Caronte a guiá-lo ao longo do rio Estige amenizando o sofrimento das almas e conseguindo mesmo entorpecer Cérbero, que,  diante de Hades, acaba por verter algumas lágrimas. Comovido e dando ouvidos aos apelos da esposa Perséfone, permite que Orfeu entre para buscar Eurídice, impondo, no entanto, uma condição: a jovem regressaria com Orfeu ao mundo dos vivos, mas Orfeu não poderia olhar para ela até estar novamente no mundo da luz. Foi conseguindo aguentar mas quando já estava quase a chegar ao fim dos escuros túneis, quis certificar-se se Eurídice o estava a acompanhar. Ao olhar para ela, esta transformou-se novamente num fantasma, deu um grito e  voltou para o mundo dos mortos.
Orfeu estava proibido de a seguir e, deseperado, esperou, jejuando,  sete dias junto ao lago. A angústia apoderou-se dele e não conseguiu a partir daí, enamorar-se por mais nenhuma jovem. Cansadas de serem rejeitadas, as Mênades, furiosas, retalham o seu corpo lançam a cabeça ao Rio Hebrus.
As musas tiveram compaixão deste horrível acto, juntaram os restos mortais e sepultaram-nos no Monte Olimpo.
Agora sim,  no reino dos mortos, Orfeu já se podia juntar a Eurídice.

Na versão de Glück, os amantes recebem uma nova oportunidade do Amor, que permite a Orfeu buscar Eurídice ao reino dos mortos, propiciando o reencontro definitivo de ambos sem que ele tenha que morrer também.

SONETO DE EURYDICE

Eurydice perdida que no cheiro
E nas vozes do mar procura Orpheu:
Ausência que povoa terra e céu
E cobre de silêncio o mundo inteiro.

Assim bebi manhãs de nevoeiro
E deixei de estar viva e de ser eu
Em procura de um rosto que era o meu
O meu rosto secreto e verdadeiro.

Porém nem nas marés nem na miragem
Eu te encontrei. Erguia-se somente
O rosto liso e puro da paisagem.

E devagar tornei-me transparente
Como morta nascida à tua imagem
E no mundo perdida esterilmente.

Sophia de Mello Breyner Andresen,
in Tempo Dividido, 1954