27 fevereiro 2023

Personalidades (2): Abel Rodrigues da Costa


Abel Rodrigues da Costa nasceu em Penacova no dia 20 de Agosto de 1902. Neto paterno de Bento da Costa e Maria Carolina e materno de Luís Rodrigues Perpéctuo e Ana de Jesus. Os pais, Libório da Costa, barqueiro, e Maria Cândida, doméstica, eram naturais e residentes  na vila.  

Emigrou para o Brasil quando tinha 21 anos, onde já se encontravam dois irmãos. No Rio de Janeiro destacou-se como empresário da indústria de carnes verdes, celebrizando-se com a marca “O Porco que Ri”. A firma “Abel Rodrigues da Costa & Cª Lda” era proprietária do “Açougue Universal” e das filiais “Grande Açougue da Lapa” e “Salsicharia Olímpica”.

Além da actividade empresarial, foi presidente da Casa das Beiras e Beneficência Portuguesa e membro das direcções  do Ginásio Clube Português e do Clube Português de Leitura, no Rio de Janeiro.

Abel Rodrigues da Costa foi condecorado em 1953 pelo Estado Português com a distinção de “Cavaleiro da Ordem de Benemerência”.

Visitava a sua terra natal com bastante frequência, contribuindo com avultadas verbas para a concretização de muitas obras públicas, apoio a instituições e donativos regulares a pessoas carenciadas. A ele muito ficaram a dever a Câmara Municipal, os Bombeiros, a Misericórdia (principalmente  o Hospital), a Filarmónica, a Igreja e as Capelas.

Em 1947, o Comendador Abel Rodrigues da Costa ofereceu à Câmara 30 000$00 para o ajardinamento do Terreiro e, mais tarde, 500 contos para apoio construção de parque de estacionamento entre a Pensão Avenida e a Capela de S. João.

Em 1946, a 15 de Agosto, aquando da sua primeira visita depois de ter emigrado, foi homenageado no Salão Nobre dos Paços do Concelho. 

Na segunda metade da década de cinquenta do século passado, foi atribuído o nome da Abel Rodrigues da Costa à artéria que liga a capela de S. João à Igreja Matriz. Também nesta altura, mais do que a placa toponímica, se entendeu que seria de toda a justiça a edificação de um busto em local central da vila. Proposta  que nunca chegou a ver a luz do dia.

Em 1951, no contexto do Cortejo de Oferendas para o Hospital da Misericórdia, coordenou no Brasil uma subscrição que rendeu 70 000$00, uma verba bastante significativa para a época.

Visitou novamente Penacova em 1952. Recebido entusiástica e solenemente em 7 de Junho foi homenageado, na hora de voltar ao Brasil, com um Jantar de Despedida que teve lugar na Pensão Avenida. 

Em 1956 veio a Penacova e voltaria em 1969  mais uma vez à sua terra natal oferecendo 5000$00 à Misericórdia e dinheiro para ser distribuído pelo Natal a pessoas necessitadas. Aos Bombeiros ofereceu o seu automóvel para ser sorteado em favor da Corporação. Deixou ainda  200 contos para a estrada no interior da Cheira e 1000$00 para o Notícias de Penacova. 

No dia do 80º aniversário, em 1982, Abel Rodrigues da Costa encontrava-se em Penacova. A Câmara, presidida pelo Dr. Joaquim Leitão Couto, prestou-lhe uma homenagem, visitando-o na sua residência e manifestando-lhe o reconhecimento concelhio pelo apoio ao Hospital da Misericórdia, ao embelezamento do Mirante, aos Bombeiros e a muitos penacovenses com dificuldades económicas. 

A ele se deveu também a compra de todo o equipamento para a sala de operações do Hospital (1951), o apoio ao Asilo de Figueira de Lorvão e a abertura da avenida de acesso ao Mirante (1951)  e, mais tarde, o financiamento da construção da estrada para o Penedo do Castro (1973). 

Quando já era viúvo de Vita Soares Perpéctuo, o Comendador e Grande Benemérito de Penacova, Abel Rodrigues da Costa, faleceu no Rio de Janeiro em 5 de Novembro de 1990, 

11 fevereiro 2023

Personalidades (1): Manuel de Oliveira Cabral

 


Nasceu na Covilhã a 15 de Setembro de 1890 e morreu em S. Martinho do Porto em 30 de Outubro de 1974, terra onde casara, em 1916, com Estefânia Cabreira. 

Na capital do norte, onde viveu muitos anos, dirigiu o suplemento infantil de “O Comércio do Porto”. O nomes Estefânia Cabreira e Oliveira Cabral ficaram impressos na capa de muitas obras de carácter didáctico, em especial manuais escolares e colectâneas de música e poesia para crianças. Quem frequentou a escola primária nos anos trinta terá muito provavelmente estudado pelo “ Bom Amigo” e pelo “ Cantinho Florido”, livros de leitura para a 1ª e 4ª classes, respectivamente.


Professor, escritor e pedagogo muito conhecido na sua época, Oliveira Cabral também deixou marcas indeléveis em Penacova. A “esta aprazível estância de repouso” como escreveu um dia, veio passar, nas décadas de 40/50 muitas das suas férias. Ainda hoje este casal é recordado por algumas pessoas, especialmente pelos saraus culturais que promoviam. Além disso, Oliveira Cabral foi um dos grandes impulsionadores do grupo “ Os Amigos de Penacova” que viria a dar origem à Sociedade de Propaganda e Progresso de Penacova. Também nos jornais da região, Notícias de Penacova e Correio de Coimbra, ficaram muitos dos seus escritos. Ainda no Natal de 1960 - e cremos que terá sido das últimas colaborações no Notícias de Penacova – podemos ler uma poesia sua, ilustrada por Guida Ottolini, neta de Roque Gameiro. No “Notícias de Penacova” de 30 de Agosto de 1952, escrevia, sob o título “ Parabéns bom povo de Penacova”, felicitando os penacovenses, na pessoa do presidente da Câmara, Francisco Martins, pela criação de uma Biblioteca Popular, à qual prometia oferecer algumas obras, sugerindo a criação de uma secção infantil. Neste artigo, Oliveira Cabral levanta a questão duma presumível doação testamentária de livros à Câmara de Penacova por parte de Emídio da Silva, facto de que pouco se sabia.

Também no mesmo ano e no mesmo periódico, Manuel do Freixo, pseudónimo de Manuel Vieira dos Santos, escreve sobre Oliveira Cabral, rendendo-lhe homenagem e manifestando o seu agradecimento pela acção que desenvolvera em prol de Penacova. Conta o Arcipreste Manuel dos Santos que fora aquando da primeira homenagem a Abel Rodrigues da Costa que Oliveira Cabral lhe prendera a atenção, ao propor a atribuição do nome daquele benemérito a uma artéria da vila, o que acabou por acontecer, como sabemos. Neste artigo a que estamos a fazer referência, Manuel do Freixo, não esquece a fundação de “ Os Amigos de Penacova” e o seu esforço por “ orientar Penacova no sentido turístico “, salientando nesse aspecto, a publicação duma “ pagela artística” intitulada “ Algumas Palavras sobre Penacova”. Para o articulista, esta iniciativa onde revela o quanto aquele “aprecia, admira e estima tudo o que diz respeito à alcandorada vilazinha de sua predilecção”.

O folheto abre com uma vista geral de Penacova, tirada a partir da zona do Penedo do Castro, aparecendo depois uma gravura sobre o quadro de Eugénio Moreira “ A Ferreirinha ou a Gioconda de Penacova” – que hoje podemos apreciar no Museu Soares dos Reis – enquadrada por um texto do escritor Antero de Figueiredo nas suas “Jornadas em Portugal”. Da “pagela” faz parte também o conhecido cartaz com o slogan “ Penacova - Zona de Turismo - A 25 Km de Coimbra”. É também aqui que Oliveira Cabral publica as quadras “Penacova,a Linda”, inspiradas num trecho de um livro de Raul Proença.

Em Outubro de 1950, Oliveira Cabral publica no Notícias de Penacova uma Carta Aberta ao Presidente da Câmara, onde faz questão de esclarecer que “ não é natural de Penacova, não tem interesses na vila ou na região” e que, por isso “ fala desapaixonadamente”. Começa por louvar a iniciativa da Câmara ao editar cartazes de promoção turística, dos quais teve conhecimento no café Guarani, na cidade do Porto e os quais lhe suscitaram alguns reparos sobre o Turismo em Penacova. “ O turismo quer alegria para os olhos e higiene para a saúde” – escreve a dado momento. Assim, vem alertar para “ o estado lastimoso em que se encontra a muralha de suporte em frente da Pensão Avenida” – onde geralmente se hospedava - e para a poeira que os carros levantam quando atravessam a vila. Depois de sugerir o asfaltamento da estrada até à Casa do Repouso, conclui com alguma ironia dizendo que o cartaz “ pode levar algumas pessoas ao engano, mas…só uma vez!”.

Oliveira Cabral, uma figura interventiva em Penacova, que não sendo penacovense, tal como Emídio da Silva, Simões de Castro, Vitorino Nemésio e alguns mais, procurou ser um embaixador desta terra cheia de potencialidades turísticas. 

Escreveu, em 1947, referindo-se a Penacova, a profª Eduarda Silva, que com ele conviveu enquanto jovem:

Sem uma alma cheia de poesia 
Que te cantasse em versos sem rival 
Tua beleza decerto esquecia 
Quem acha belo o nosso Portugal 

E entre tantos que tem cantado 
a tua formosura sem igual  
Um nome com carinho tens guardado 
Porque te ama – Oliveira Cabral

David Almeida
publicado no jornal Nova Esperança, Jan 2011