25 agosto 2019

Para a história do Reconquinho


Desde 2013 que a Praia Fluvial do Reconquinho ostenta dois dos maiores galardões atribuídos às praias fluviais: Bandeira Azul e Praia Acessível. 

O Reconquinho, que integra o Roteiro do Arista, dispõe de óptimas condições de lazer e diversão: bar, apoios de praia, fluvioteca e centro de Trail Running Carlos Sá. Neste Verão foi (apesar de com um ano de atraso) noticiado o facto de o canal National Geographic ter considerado o Reconquinho como uma das nove praias fluviais mais bonitas de Portugal. Em 2016 uma das candidaturas ao Orçamento Participativo (apresentada por Maria Esmeralda Cruz) propunha a criação de Piscinas Flutuantes no local. 

A praia fluvial do Reconquinho, enquanto estrutura municipal, tem já uma longa história. Em 1964 noticiava a imprensa local que já se encontrava “a funcionar a praia do Reconquinho no rio Mondego”, onde todos os dias se vinha notando grande movimento “por parte de aristas” que iam “até ali dar o seu passeio, tomar o seu banho ou dar uma voltinha de barco.” Em 1970 é feita referência ao Parque de Campismo, à Escola de Natação  e â Praia Fluvial como sendo iniciativas da Sociedade de Progresso de Penacova com o apoio da Câmara Municipal. No ano seguinte, no Notícias de Penacova,  falava-se “de muitos milhares de pessoas de todas as classes sociais” que aí afluíam e reconhecia-se o potencial turístico do local, na medida em que se revelava como “um dos bons cartazes propagandísticos de Penacova e um bom fulcro de incentivação ao turismo na região.” 

O parque de Campismo de Penacova , em 1975,  junto á Praia Fluvial do Reconquinho 

Em Novembro de 1976, noticiou-se que a praia fluvial iria, no ano seguinte, “sofrer beneficiações” que passariam por terraplanagem, melhoramento dos acessos, colocação de mais passadeiras e “novas barracas”, bem como construção de instalações sanitárias. 

A vida do rio teve, durante séculos, uma grande importância para as populações dando origem a muitas lendas e narrativas, entre elas “As Bruxas do Reconquinho”. Está referida na obra “Portugal Lendário – Tesouro da Tradição Popular”, de José Viale Moutinho. Também no jornal “Nova Esperança” (1987) o pintor João Martins da Costa nos deixou um excelente reconto desta narrativa (reveja aqui). Segundo a tradição, “certa noite enluarada, as bruxas pegaram uma barca do Reconquinho e foram de abalada até à India.” 

Em 2008 a Unidade de Acompanhamento e Coordenação (UAC) dinamizou uma Feira à Moda Antiga com animação de rua subordinada ao tema “As bruxas do Reconquinho vão à India”. Com o dinamismo que o teatro começa a ter no nosso concelho, quem sabe, um dia possamos assistir no Reconquinho a uma representação encenada desta tão curiosa lenda. Fica a sugestão. 




22 agosto 2019

Pintores relacionados com Penacova no museu do Chiado


Um dos núcleos do Museu Municipal de Coimbra é o Edifício Chiado que alberga a Coleção Telo de Morais, uma coleção de Arte que integra pintura portuguesa (séculos. XIX e 1ª metade do séc. XX), mobiliário, cerâmica, escultura, pratas e outros objetos artísticos de carácter decorativo. Aqui podemos ver alguns quadros de pintores que deixaram marca em Penacova, designadamente:

João Martins da Costa (1921-2005), filho de penacovenses, José da Costa e Cacilda Martins. O seu avô materno era industrial de latoaria em Penacova e o paterno, Abílio Costa, era proprietário de um trem que servia de diligência entre Coimbra e Penacova. Formou-se em Pintura na Escola Superior de Belas Artes do Porto. São obras de Martins da Costa que foram Pintura em Penacova e de Penacova: "Penacova – A Ponte" (1945); "O Vale do Mondego" (1982); "Outono na Serra – Penacova" (1984); "Caminhos Paralelos", no Mirante" (1991); "A Persiana – Penacova " (1991); Nuvens sobre o Vale de Penacova I e II" (1945).

José Tagarro (1902-1931), natural do Cartaxo e amigo do pintor Waldemar da Costa, visitou várias vezes no concelho de Penacova, a povoação de Gavinhos, instalando-se em casa de uma tia daquele pintor. Em 2002 a Associação Cultural "Pulsar" do Cartaxo promoveu uma vinda a Gavinhos de um grupo de cerca de 50 pessoas.

José Campas de Sousa Ferreira (1888-1971). Foi autor de vários quadros relacionados com o concelho: "Mirante Emídio da Silva", "Paliteira e Tricana", "Trecho do Mondego", "Entre Penacova e Rebordosa". A Câmara Municipal possui um quadro deste pintor, representando o Mirante, oferecido por Emídio da Silva em 1916.


TRABALHOS DE MARTINS DA COSTA

TRBALHOS DE JOSÉ TAGARRO

TRABALHO DE JOSÉ CAMPAS






09 agosto 2019

Impressões de uma viagem a Chelo, Lorvão e Paradela em 1914

[A Firma Barbosa, Fernandes & C.ª,  o Mosteiro de Lorvão e o Prof. Manuel Joaquim da Silva]


O Mosteiro de Lorvão em 1910

Envolto no escuro humedecido do ambiente pesado, Chelo de Penacova adejava-nos, hospitaleiro, com os braços abertos. Foi aí que pudemos tomar conhecimento do estado adiantado da nossa indústria paliteira. A Firma «Barbosa, Fernandes & C.ª" cumulando-nos de gentilezas e satisfazendo-nos as importunas curiosidades, não duvidou patentear-nos os seus aperfeiçoados mecanismos para a confecção das caixas em que apresenta, no mercado, todo o stock de palitos entrado nos seus armazéns.
Como outrora em Roma e ainda hoje nalgumas populações menos cultas, também em Chelo se prescinde, muitas vezes, da moeda para as transacções comerciais. Os palitos-moeda correm ali, entre comerciantes e consumidores, sem grande risco de falsificações. E tem largo curso no estrangeiro. . . 

A pensar em tudo isso, passámos nós momentos descuidados, como descuidada foi a noite, levada dum sono só. Nos tímpanos conservamos, ainda, os últimos sons da Portuguesa, executada com alma por um Zé Pereira de fama, á nossa chegada! Pareceu-nos que era a Portuguesa … 

Percorridos três quilómetros desde Penacova, surge-nos o velho convento «no meio de umas serras mui ásperas», — como diria Bernardo de Brito,— altivo, ainda, apesar dos séculos, com a sua cúpula altaneira e firme, desafiando o porvir com denodo e sobranceria. A sua fundação, em época não fixada exactamente, da qual o autor da Crónica de Cister, apenas, nos diz que o mosteiro é em sua fábrica antiquíssimo », não obstante pretender-se localiza-la na época do seu patrono. 

O convívio dos frades de S. Bento com os mouros tolerantes; o engrandecimento dos monges á custa da sua hábil política em detrimento dos mauritanos, apesar da brandura destes; a decadência moral dos opulentos beneditinos e a sua expulsão dali em 1200, pelo monarca D. Sancho I que entregou o convento a sua filha D. Tereza, rainha de Leão, onde ela professou segundo as regras da ordem de Cister; a transladação em 1715 dos restos mortais de D. Tereza e de sua irmã D. Sancha, fundadora do convento de Celas,canonizadas em 1705, para as urnas de prata que a abadessa do convento de Lorvão, D. Bernarda Teles de Menezes, mandara fazer ao artista portuense Manuel Carneiro da Silva; a extinção do convento, com a morte da sua última freira, no reinado de D. Luiz, e todos os vandalismos cometidos nos seus claustros, mobiliário e ornamentações — tudo isso nos parecia transpirar dos muros envelhecidos do grande monumento, recordando, quiçá com saudade, o seu esplendor, riqueza e vida dos tempos que passaram e não voltam. 

Entramos. E, devemos confessá-lo, experimentamos aqueles sentimentos de admiração e respeito que António Seco, no século passado, dizia serem comuns a quantos transpunham os limiares desse belo monumento. 

Ainda hoje, apesar dos estragos, inspira esses sentimentos. É toda uma preciosidade que o seu interior encerra, maravilhando os detalhes dos seus motivos decorativos. Lino de Assunção não duvidou escrever: «aspecto geral de grandiosidade, opulência, delicadeza e gosto”. 

O seu coro cadeiral, com graciosas talhas de efeito e duas ordens de artísticos assentos, está ao nível do pavimento da igreja, como, no dizer do autor de As Freiras de Lorvão, usavam os cistercienses, sendo separado da capela-mor por um gradeado de bronze, obra de subido valor feita, ao que parece, em 1784. 

Mas, tendo percorrido a única nave do templo, com o seu ar clássico de grandeza, pudemos saciar uma grande parte da nossa curiosidade, observando os seus retábulos e capitéis, os túmulos das filhas de D. Sancho I e os quadros agradáveis de Pascoal Parente, as suas particularidades interessantes e o seu conjunto admirável. 

Subidos 125 degraus que nos conduzem ao circuito da cúpula, descobrimos em volta os restos mutilados do claustro e outras dependências que a incúria, ou a barbárie, dos encarregados da sua conservação deixou vandalizar há uns 10 ou 15 anos. Belas pechinchas o compadrio ali minou. Mas, para que recordar isso cujo remédio é já impossível? Todavia, um facto existe ainda que não abona demasiado o amor pela arte — o estarem arrendadas algumas celas do convento donde irradia com abundância o fumo suficiente para inundar toda a nave do velho convento! 

Foi isso que todos íamos dizendo quando, com saudade, abandonávamos Lorvão e, pela tarde serena e desanuviada, nos dispusemos a fazer o percurso até Paradela. 

Aqui, noite caída já, encontrámos um espírito original, em múltiplos ramos de aptidão artística, alimentando todos os ócios da sua situação de professor aposentado em variados motivos de reconhecida utilidade. Com agrado passamos algumas horas admirando-lhe os recursos de verdadeiro artista. Instrumentos de corda, moveis domésticos, manifestações diversas de talha, assuntos mecânicos, etc., são os. entreténs favoritos do sr. Manuel Joaquim da Silva. 

Mas, ninguém se prestara, naqueles sítios, a manufacturar palitos, à nossa vista, com aquela rapidez e perfeição que se tornou proverbial. Era domingo, dia "de descanso”. Alguém, porem, segreda-nos de lado que, sendo um fraco distante, poderíamos no dia seguinte voltar a Lorvão para satisfazer a nossa curiosidade, pois que, com à maior fatalidade, deveríamos gostar. Era curioso o informador. Declinamos o convite depois de ter agradecido. E, fazendo-nos de abalada, lua clara e amiga seduzindo-nos lá de cima com o seu brilhar de languidez poética, regressámos à cidade das luzes onde nos esperava um sono reparador. A lição foi longa, mas proveitosa.

A. A. DA CAPELA E SILVA
In Gazeta de Coimbra, 1914


06 agosto 2019

Faz hoje 100 anos António José de Almeida foi eleito Presidente da República

António José de Almeida em 5 de Outubro de 1919
Em 1919 procedeu-se a nova eleição para o cargo de Presidente da Republica, de acordo com a lei constitucional de 1911. Esta eleição realizou-se em 6 de Agosto de 1919, para o quatriénio de 1919-1923 em reunião do Congresso, em sessão especial das duas câmaras, Câmara dos Deputados e Câmara dos Senadores, 

A eleição resolveu-se por 3 escrutínios por listas, tendo servido de escrutinadores Alboim Inglês e Lima Duque. Lima Duque que, como sabemos, foi uma figura muito importante na política penacovense e era genro do Conselheiro Alípio Leitão. 

No 1.º escrutínio, verificou-se que António José de Almeida obteve 87 votos, seguido de Manuel Teixeira Gomes com 82 votos, Francisco de Azevedo e Silva com 1 voto, Afonso Costa com 3 votos, Duarte Leite com 1 voto, Correia Barreto com 1 voto, Magalhães Lima com 1 voto e 5 listas em branco. 

Decorrido o 2.º escrutínio verificou-se terem sido votados: António José de Almeida com 93 votos, seguido de Manuel Teixeira Gomes com 83 votos, António Teixeira Gomes com 1 voto e 2 listas em branco. 

Finalmente, realizado o 3.º escrutínio, António José de Almeida obteve 123 votos, seguido de Manuel Teixeira Gomes com 31 votos e 13 listas em branco, sendo declarado, pelo presidente do congresso, eleito para o cargo de Presidente da República o mais votado.

António José de Almeida, foi o primeiro e único Presidente da I República eleito que cumpriu o seu mandato por inteiro. Tomou posse em 5 de Outubro de 1919,




Lima Duque, estava ligado a Penacova pelo casamento (era genro de Alípio Leitão)