28 dezembro 2023

Monte lauribano in finibus Gallecie

 


O infante Ramiro, filho de Ordonho II, rei da Galiza, e neto de Afonso III das Astúrias, terá nascido no ano 900. Reza a história que foi criado por D. Onega e marido, Conde Diogo Fernandes, em terras bem próximas de nós, entre Coimbra e Viseu. Nesta cidade teve a sua Corte entre 926 e 931,  já com o título de Ramiro II. O Rei Ramiro foi um “esforçado guerreiro e bom político” que acabou por se tornar figura lendária, recorda Jorge de Alarcão. 

Ramiro, personagem ao longo dos tempos gravada na memória popular, foi recuperada por Almeida Garrett com o romance popular “Miragaia” incluído no primeiro volume do “Cancioneiro”.

Tem esta espécie de introdução a ver com os tempos em que as terras de Lorvão faziam parte do reino de Leão integrando a região da Galiza. Recorde-se que os limites meridionais desta região nos séculos IX e X começaram por ser o rio Minho, depois o Douro e por fim a linha do Mondego. Nesta fronteira mais a sul pontificavam a estratégica cidade muralhada de Coimbra e o importante Mosteiro de Lorvão. 

A designação de “Gallaecia” aplicava-se assim a todo o território até ao Mondego.  Os poderes Asturo-Leoneses assim o entendiam quando se referiam à periferia ocidental dos seus domínios.

Sobre este aspecto vamo-nos cruzar de novo com Ramiro II: em 933, um documento de Lorvão, por ele assinado situava aquele cenóbio “in finibus Gallecie”. 

Trata-se do documento nº 37 dos “Portugaliæ Monumenta Historica” (PMH) / Diplomata et Chartae. uma coletânea de textos da história de Portugal.  Publicada pela Academia das Ciências de Lisboa entre 1856 e 1917, dividida em quatro secções: Scriptores (autores), Leges et Consuetudines (leis e costumes), Diplomata et Chartae (diplomas e cartas) e Inquisitiones (inquirições). As primeiras três foram compiladas sob a direção de Alexandre Herculano anteriormente a 1873, e a última, Inquisitiones, entre 1888 e 1897, após a sua morte. Os documentos datam da Idade Média e são primariamente escritos em latim medieval e língua galego-portuguesa.


22 dezembro 2023

Boas Festas 2023

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21 dezembro 2023

O Lagar do Pisão (re)visitado por Arménio Simões no seu “Trilho do Tempo”


Em 2015 ao visitar a Feira Cultural de Coimbra detive-me num dos espaços onde a par da exposição de gaitas artesanais de cana se encontrava um à venda um curioso livro sobre memórias etnográficas. Tudo da autoria de Arménio Simões, um engenheiro reformado, com quem estabelecemos uma pequena conversa.

Sobre o livro, de acordo com o prefácio, trata-se de “um vasto e rigoroso testemunho, no qual as crendices, as alfaias, os engenhos, os processos relativos à moagem, são tratados com enorme fidelidade.”

Analisando melhor a obra intitulada Trilho do tempo: etnografia do século XX ao redor de Almalaguês (2013) deparámo-nos com uma preciosa referência ao “Lagar do Pisão” (Lorvão) com fotografias extraordinárias e curiosas informações recolhidas junto do proprietário, Sr. Alípio Marques, que o autor oportunamente contactou. 

Ao falar dos lagares de azeite, escreve Arménio Simões: 

“Curiosamente, assim como o início do século XX coincidiu com o aparecimento do lagar movido por eletricidade e a morte lenta do de vara que se havia de prolongar até meados do século, o mesmo se havia de verificar na seguinte viragem com o aparecimento duma terceira geração de diferente tecnologia, diferindo pela morte súbita do lagar de prensas hidráulicas que até meados do século ainda manteve o tradicional sistema de separação do azeite por meio de tarefas onde se verificava que o azeite é como a verdade, vem sempre ao de cima, até quando substituído pelo sistema mecânico duma máquina centrifugadora.”

Depois de referir diversos exemplos da região de Almalaguês o autor faz uma incursão até à região de Penacova: 

“Em Lorvão, ano de 2011, no concelho de Penacova e por gentileza do Senhor Alípio, seu então proprietário, tivemos acesso a um exemplar de azenha e duas varas, ainda em razoável estado de conservação.



Tendo-o comprado como parte integrante dos terrenos que pertenceram ao mosteiro, e no culminar duma série de transmissões de propriedade que o levaram até ele, o Senhor Alípio começou por recuperá-lo e lhe dar uso durante algum tempo, e enquanto rentável, após o que se sucederam alguns anos de deteriorante inatividade até quando resolveu recuperá-lo como peça de estimativo valor museológico familiar, não obstante a própria longevidade de que anos o não impediam.

Conservando uma das duas grandes varas originais e feita de pinheiro manso, a outra, do lado esquerdo, mandou fazê-la em 1945, para o que usou um dos seus próprios eucaliptos com cerca de cinco toneladas e arrancado nas proximidades de onde demorou dois dias a percorrer uma distância de quinhentos metros, sobre dois eixos e puxado por duas juntas de bois, não obstante o acentuadamente favorável declive do terreno.” 

Estas informações, bem como o registo fotográfico (que será da primeira década deste século) vêm completar os elementos que nos aparecem em diversos escritos (por exemplo Patrimónios de Penacova, de Leitão Couto e David Almeida) e na página da Direcção Geral do Património Cultural / Sistema de Informação para o Património Arquitectónico).

É aí, sob o título “Conjunto Arquitectónico Rural de Pisão - Portugal, Coimbra, Penacova, Lorvão” que encontramos os dados oficiais sobre este património do nosso concelho, protegido legalmente (Portaria n.º 637/2010, DR, 2.ª série, n.º 164, de 24 de agosto 2010)  como CIP - Conjunto de Interesse Público.

O Lagar insere-se num conjunto mais alargado de arquitectura agrícola, que inclui também  um grupo de Azenhas, um  Forno de Cal e uma casa anexa de tipologia rural. 


Sublinha a DGPC “o particular significado a nível histórico-social e etno-tecnológico do conjunto”, dado que, à data ( 2011) o lagar de azeite conservava ainda “todo o equipamento essencial a um lagar de varas, sendo um exemplar tipológico que se salienta pela sua originalidade e raridade, assim como as azenhas, estando uma delas ainda em funcionamento.” Graças à sensibilidade cultural dos herdeiros do Sr. Alípio Marques o conjunto conhecido como Lagar do Pisão mantém ainda as características e o estado de conservação acima descrito.

Este espaço rural rural, situado num vale a Norte do Lorvão, tem uma “envolvente paisagística de grande beleza panorâmica” onde predominam “o riacho, que corre ao lado do lagar de azeite e azenha de menores dimensões, a casa frente à azenha destacada com forno de cal na encosta.” 

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Fontes:http://www.monumentos.gov.pt/Site/APP_PagesUser/SIPA.aspx?id=2663; Arménio Simões, Trilho do tempo: etnografia do século XX ao redor de Almalaguês

Governadores civis (3): Artur Ubaldo Correia de Sousa Leitão (1867-1906)


GOVERNADORES CIVIS NATURAIS DE PENACOVA 
OU AO CONCELHO LIGADOS POR CASAMENTO

Natural de Penacova. Bacharel em Direito. Foi Governador Civil de Leiria entre 1 de Janeiro de 1904 e 22 de Março de 1906.

Arthur Ubaldo Correia de Sousa Leitão nasceu no dia 8 de Fevereiro de 1867 em Penacova. Filho do Conselheiro Alípio de Oliveira de Sousa Leitão, advogado, e de Maria Puresa Correia de Almeida. Neto paterno de David Ubaldo da Silva Leitão e de Maria do Espírito Santo Sousa Almeida e materno de Joaquim Correia de Almeida e de Maria Rosa Mendes.

Estudou Direito em Coimbra, cuja Universidade frequentou a partir de 1887. Ainda estudante universitário ocupou o cargo de vice-presidente da Câmara, num dos mandatos de José António de Almeida. Ele próprio nos conta essa entrada na vida política num depoimento publicado no Jornal de Penacova aquando do falecimento, em 1901, daquele antigo Presidente, pai de António José de Almeida: “Posso bem dizer que entrei na vida pública pela sua mão. Ainda novo, quando estudante do 2º ano jurídico, fiz parte de uma Câmara da sua presidência. Senti então as responsabilidades d’um rapaz de vinte e um anos, que conhecia os códigos pela lombada” – recorda – “ Ao sentar-me pela primeira vez na minha cadeira de camarista, senti como que desabrochar a consciência que me impelia para o caminho do dever cívico e fazia então protestos de trabalhar, de ser útil à minha terra, de velar pelos seus interesses, por tudo enfim que pudesse concorrer para o enriquecimento de Penacova.”

Casou em 27 de Janeiro de 1892, na Capela de Vale de Açores, Mortágua, com Maria Piedade Gouveia Sousa (cuja irmã, Delfina Amália, havia casado no ano anterior com Joaquim António Tenreiro), filha de José de Gouveia d’Almeida e Sousa, bacharel.

Há notícia de que em 1901, na altura em que era Secretário da Penitenciária de Coimbra, foi eleito pela Câmara de Penacova para fazer parte do Conselho Distrital de Agricultura.

Também foi director do Jornal de Penacova, o primeiro periódico a ser publicado no nosso concelho tendo vindo a lume no dia 1 de Setembro de 1901.

Foi, no entanto, como Governador Civil de Leiria que mais se distinguiu. Ocupou o cargo entre 1 de Novembro de 1904 e 22 de Março de 1906. O deputado Oliveira Matos, na sessão da Câmara dos Deputados de 17 de Fevereiro de 1906, teceu-lhe rasgados elogios, enquanto homem, nobre e honrado e enquanto político, activo, leal e prestigiado. Esta intervenção de Oliveira Matos ocorrera no contexto do voto de pesar pelo falecimento recente de Alípio Leitão, antigo Deputado naquela Câmara.

Vítima de acidente de automóvel em Santa Comba Dão, o Conselheiro Artur Leitão, que residia em Vale de Remígio, faleceu no dia 18 de Maio de 1906, com apenas 39 anos de idade. Passado um ano da sua morte, foi homenageado pela Câmara Municipal, tendo sido colocado no Salão Nobre um retrato seu pintado pelo famoso pintor Eugénio Moreira, que na época vivia em Penacova. Que será feito desse quadro?

Ainda em 1908, aquando da homenagem a Oliveira Matos e do arranque das obras da Ponte do Alva, o Jornal de Penacova, num artigo assinado por Guedes Pessoa, recorda que Artur Leitão, ultrapassando mesmo questões familiares, intercedera junto de Luciano de Castro, primeiro-ministro e chefe do Partido Progressista, e conseguira também ter em Oliveira Matos um aliado, facto que muito contribuiu para que fosse possível concretizar grandes melhoramentos no concelho.

06 dezembro 2023

Poetas penacovenses (XI): um poema de Luís Pais Amante





 Sem abrigo


Eu sei quão dolorosa vai a actual situação

Os momentos que passas sem nada comer

O frio que te aperta a coluna em ondulação

As pessoas que passam sem nada te dizer


Eu reconheço que este tempo está fingido

Que quem não tem eira nem beira está mal

As Autoridades não enxergam bem o perigo

Nas ruas da nossa cidade já só há frio termal


Estar sem abrigo e só é estar a bater no fundo

A vida não existe para se suportar em angústia

Para andar de saco na mão percorrendo mundo


Caminhando à noite és mesmo um errabundo

O tua fome persistente já só te dá parageustia

A Sociedade oferece-te estatuto de vagabundo


Luís Pais Amante

Casa Azul

A cogitar sobre o modo como cresceu, ultimamente, este fenómeno triste.


01 dezembro 2023

Memórias da apanha da azeitona em Travanca do Mondego

A cultura da oliveira e a produção do azeite sofreu nas últimas décadas muitas transformações. Longe vai o tempo em que o processo era feito manualmente, a faina da azeitona coincidia com a quadra do Natal, os lagares eram movidos a água e as prensas eram pesadas varas de castanheiro, de pinheiro ou de eucalipto. Aqui fica o registo desses tempos escrito em 2011. Maria da Pureza, que no passado dia 27 teria feito 96 anos se fosse viva, depois de ter conhecimento da recriação da apanha tradicional da azeitona que a Junta de Freguesia de Travanca fez nesse ano, registou algumas memórias - como era seu hábito fazer, sobre este e outros temas -  que nos transmitem um pouco deste trabalho sazonal tão marcante para o ritmo da vida no campo.



"A apanha da azeitona era um pouco complicada e perigosa. Apanhava-se muito frio. Não era fácil andar numa escada em cima de uma oliveira. Às vezes a escada era atada à oliveira para ficar segura. A azeitona era respigada à mão mas também se utilizava a vara para varejar a que estava mais difícil e os ganchos para puxar as hastes que estavam mais longe da escada. Estendiam-se os panais debaixo das oliveiras e começava o trabalho. Os homens subiam as escadas e iam respigando. A que caía fora dos panais era apanhada por mulheres para cestos feitos de tiras de madeira. A seguir ia para os sacos, depois era erguida. Punham-se panais encostados a uma parede e com um prato atirava-se a azeitona do saco e jogava-se ao ar no sentido contrário ao vento para limpar as folhas.

De manhã, íamos já com um almoço tomado e levávamos uma bucha para o meio da tarde. Antigamente andava-se a apanhar até Janeiro. Agora fica madura mais cedo.

A família Tenreiro de Oliveira do Mondego tinha oliveiras em Travanca e arredores. O Sr. José Cortez de Lagares era encarregado de contratar as pessoas para a apanha dessa azeitona. Formavam grupos e traziam um corno. Tocavam de manhã para se juntarem. Como as oliveiras eram longe umas das outras iam tocando durante o dia para saberem uns dos outros. A Igreja de Travanca também tinha oliveiras em vários sítios, até no Vale do Barco.

Antigamente muitas pessoas ofereciam uma oliveira à Igreja. Os membros da Irmandade é que se encarregavam da apanha dessa azeitona, chamavam-lhe a azeitona da Confraria. Também juntavam grupos: de manhã tocavam o corno para se juntarem, iam tocando durante o dia para se comunicarem e à noite, quando regressavam a casa. Essa azeitona era leiloada. Uma parte era para pagar ao pessoal, a outra revertia para a Igreja. Só estes grupos é que utilizavam o corno.

Até ter vez no lagar, a azeitona era conservada em tulhas com sal; hoje em dia não se utiliza o sal, conserva-se em água. Antigamente a funda do azeite chegava a 20 e tal por cento, porque a azeitona ia para o lagar muito apertada.

Os lagares só faziam três moinhos por dia. Eram tocados a água, quando faltava a água eram os bois que faziam andar a roda. Essa roda é que fazia andar as galgas, eram pedras em forma de mó feitas de pedra milheira. Estavam a andar de roda, a moer a azeitona. Depois de moída era enceirada numas ceiras enormes feitas de capacho. A seguir ia para a prensa. Era o tronco inteiro de uma árvore muito forte com raiz e pedras agarradas. No meio tinha uma cavidade onde trabalhava um fuso, em madeira com rosca, tinha uma peça com buracos e metiam umas trancas. Eram dois homens que faziam aquilo rodar para ir baixando a vara e apertando cada vez mais. O azeite seguia para as tarefas, que eram umas pias de pedra. Estava um tempo a apurar. Não havia separadora.

Eu só fui a dois lagares desses tocados a água, o da Ribeira da Pesqueira (fui uma vez mais o meu pai levar almoço ao lagar da Ribeira da Pesqueira e lá é que eu vi como eram os lagares daquele tempo) e o do rio Alva no lugar do Cornicovo. Eram os dois do Sr. Celestino da Conchada. Mais tarde foram vendidos para o Sr. José Carlos de Oliveira do Mondego. Também havia o Lagar do Petêlo e o da Ribeira de Lagares.   

Os lagares eram sempre em sítios baixos e com maus caminhos. Eram carros de bois que carregavam a azeitona em sacos de mais de 100 quilos. Era carregada para o carro numa padiola. Vinha um homem na véspera ensacá-la.

No lagar tinha o mestre que era o responsável pelo fabrico do azeite. No Lagar da Ribeira da Pesqueira era o Sr. Joaquim Manaia da Parada. Tinha um lenheiro que fornecia a lenha para a fornalha e mato das ladeiras e mais três homens para descarregar a azeitona e todo o trabalho que era preciso. A luz eram candeias de azeite. Os trabalhadores dormiam em tarimbas.

O azeite era medido para latas do dono do lagar. Quando estavam vazias tínhamos de as levar ao lagar. Quando se ia assistir à medição do azeite levava-se uma vasilha para as borras, que postas ao lume, o azeite apurava e tirava-se até dois litros. Também se trazia a baganha para alimento dos porcos. Por cada moinho de baganha, dava-se uma refeição aos trabalhadores.

Eu só fui a dois lagares desses tocados a água, o da Ribeira da Pesqueira (fui uma vez mais o meu pai levar almoço ao lagar da Ribeira da Pesqueira e lá é que eu vi como eram os lagares daquele tempo) e o do rio Alva no lugar do Cornicovo. Eram os dois do Sr. Celestino da Conchada. Mais tarde foram vendidos para o Sr. José Carlos de Oliveira do Mondego. Também havia o Lagar do Petêlo e o da Ribeira de Lagares. 

Mudaram os tempos."

                                                                            Maria da Pureza dos Santos Gonçalves (1927-2020)

Portela, Travanca do Mondego

Texto publicado em 2011 no Nova Esperança


06 novembro 2023

Governadores civis (2): Fernando Augusto de Andrade Pimentel e Melo (1836-1892)

GOVERNADORES CIVIS NATURAIS DE PENACOVA 
OU AO CONCELHO LIGADOS POR CASAMENTO


Fernando Augusto de Andrade Pimentel e Melo nasceu em Penacova no ano de 1836. Filho do Bacharel Fernando António de Andrade Pimentel e Melo e de Joaquina Emília Augusta de Melo. Casou com Maria Júlia Godinho de Sousa, em S. Miguel de Poiares, a 30 de Agosto de 1866.

Doutorou-se em Medicina em 30 de Julho de 1862. Professor catedrático (1870) na Universidade de Coimbra onde já lecionava desde 1865. Enquanto médico e professor universitário publicou Da albuminúria nas mulheres grávidas (1862) e Instruções contra a Cólera-Morbus (1885).

Foi Director do Hospital dos Coléricos e do Asilo da Mendicidade de Coimbra ou dos Expostos e médico do Seminário Diocesano.

Por ocasião da sua morte o volume XL (1893) de O Instituto refere que Fernando de Mello fora “exímio professor, distintíssimo orador e notável clínico.”

Fernando de Melo distinguiu-se também na política. Foi dirigente do Partido Regenerador em Penacova e Procurador à Junta Geral do Distrito de Coimbra por este concelho (e pelo concelho de Poiares). Teve também notória intervenção política enquanto deputado. Nesse sentido se lhe referiu “O Instituto”:

“Possuía notáveis dotes de orador, tinha a palavra inspirada, fisionomia atraente, ideias elevadas, polidez na dicção e perspicácia no argumentar”.

Na Câmara dos Deputados afirmou (1870) que, apesar de ter a obrigação de defender a nação e de proteger os interesses de todos, tinha de defender em primeiro lugar os interesses daqueles que o “honraram com a sua confiança” não esquecendo o círculo que o elegera.

De 3 de Agosto de 1876 a 22 de Setembro do mesmo ano e de 31 de janeiro de 1878 a 9 de Junho de 1879 esteve à frente do Governo Civil de Coimbra.

O seu nome integra também a lista dos Presidentes da Câmara Municipal de Coimbra, cargo que exerceu de 1874 a 1875. Foi ainda Provedor da Santa Casa da Misericórdia de Coimbra.

Foi agraciado com a Grã-Cruz de Isabel a Católica.

Por influência sua, em 1867 o concelho de Penacova passou a agregar as freguesias de Poiares, Almaça, Cercosa e S. Paio. Só que, passado um mês, na sequência do movimento que ficou conhecido por “Janeirinha”, o despacho de Martens Ferrão foi anulado, não passando tudo de “uma existência de rosas”, na expressão dos progressistas penacovenses, seus rivais na política local.

Quando está na ordem do dia a questão das touradas, recorde-se que já em Julho de 1869 foi apresentado na Câmara dos Deputados um projecto de lei para proibir as corridas de toiros. Tendo como proponente Alves Mateus, o documento era subscrito por 17 deputados, entre os quais Fernando Augusto Andrade Pimentel de Melo.

Fernando de Melo faz parte da toponímia da vila de Penacova desde 1902.

Faleceu, vítima da tuberculose, com apenas 56 anos.

17 outubro 2023

António José de Almeida e a «viagem gloriosa» ao Brasil



Fonte do texto e imagens: Museu da Presidência

A viagem ao Brasil do Presidente António José de Almeida, em 1922, para participar nas comemorações dos 100 anos da sua independência, é motivo da exposição organizada pelo Museu da Presidência da República.

Cerca de 200 peças da coleção do Museu, mas também de museus nacionais e de colecionadores privados – algumas delas recebidas e expostas no Rio de Janeiro, há 100 anos –, trazem ao presente aquela «viagem gloriosa», lembrando também o percurso pessoal de António José de Almeida, desde a terra que o viu nascer, Vale da Vinha, em Penacova, até ao monumento que o homenageia, em Lisboa.
A exposição aberta ao público no Jardim da Cascata do Palácio de Belém recorda o momento alto do mandato presidencial que nem os imprevistos logísticos ofuscaram. Pela primeira vez desde que a corte portuguesa se mudara para o Brasil (1808 – 1821), um Chefe do Estado português visitava aquele país. Era o abraço fraterno ao país-irmão na comemoração do primeiro centenário da sua independência.
Veja a apresentação da exposição «António José de Almeida e a “viagem gloriosa” ao Brasil» e embarque connosco. De terça-feira a domingo; 10h00-13h00 (última entrada às 12h30) e 14h00-17h30 (última entrada às 17h00).

16 outubro 2023

“Palitos de Lorvão: Saberes Partilhados”-valorizar e promover


O Programa SABER FAZER, que é uma iniciativa da Direcção Geral das Artes (DGA), pretende fazer “o mapeamento e a caracterização das artes tradicionais em território nacional”. Este programa surge no âmbito da Estratégia Nacional para as Artes e Ofícios Tradicionais (2021-2024) e assenta em quatro pilares - preservação, formação profissional, capacitação e promoção.

Assume-se a produção artesanal tradicional como um sector dinâmico, inovador e sustentável, que contribui ativamente para a riqueza e diversidade do património cultural e para o desenvolvimento socioeconómico do País”. A Direcção Geral das Artes “valoriza o Saber Fazer como um património cultural único, à luz dos desafios e das exigências atuais e criou medidas para salvaguardar o reconhecimento e o desenvolvimento sustentável da produção artesanal, assentes em três eixos principais: transversalidade, territorialidade e tecnologia.”

O Programa Saber Fazer “assume a produção artesanal tradicional como uma atividade viável e sustentável, com enorme relevância para as questões mais prementes do nosso tempo: preservação de conhecimento, produção sustentável, consumo responsável, respeito pelo clima e pelo bem-estar em comunidade.”

Entre as primeiras medidas a implementar pelo Programa estão Atividades Pedagógicas e um conjunto de Rotas do Saber Fazer, sendo que a mais estruturante é o Repositório do Saber Fazer, concebido como um portal de entrada para conhecer e cultivar as artes tradicionais e o conhecimento que lhes é inerente. Esta plataforma digital, que já contempla os Palitos de Lorvão, pretende reunir e disseminar conhecimento sobre a produção artesanal tradicional, promovendo a transmissão desse conhecimento e a continuidade das atividades artesanais.

Foi neste contexto que o Centro Interpretativo do Mosteiro de Lorvão recebeu, no passado sábado, o "Laboratório de Intervenção Territorial (LIT) Palitos de Lorvão: Saberes Partilhados”. A Direção-Geral das Artes, através do Programa Saber Fazer organizou esta iniciativa juntamente com o Município de Penacova.

Contou com a presença do vereador da Educação, Carlos Sousa, do representante do Centro Interpretativo do Mosteiro do Lorvão e da Penaparque, Mauro Carpinteiro, e da subdiretora da Direção-Geral do Património Cultural, Rita Jerónimo, tendo sido abordados diversos aspectos relacionados com a arte dos palitos.

Maria João Ferreira, do Programa Saber Fazer, fez uma breve apresentação do programa em causa e Rita Jerónimo teceu algumas considerações sobre o Inventário Nacional do Património Cultural Imaterial.










Seguiu-se um painel, moderado por David Almeida, sobre experiências desta arte. Luís Silva, do Grupo Etnográfico de Lorvão, partilhou os seus conhecimentos e vivências de muitos anos e de igual modo a artesã Fátima Lopes, desde muito jovem ligada a esta arte, partilhou a sua experiência. Ana Cristina Mendes salientou o contributo do CEARTE para a certificação das produções artesanais.

Os Laboratórios de Intervenção Territorial são uma das linhas de atuação do Programa Nacional Saber Fazer e consistem numa proposta de dinamização dos lugares das práticas artesanais através do encontro, da cocriação, interdisciplinaridade e experimentação, dando visibilidade aos produtos e serviços artesanais de forma contextualizada, informada e criativa e integrando a produção artesanal na promoção comercial do património cultural.

Esta iniciativa nacional pretende proporcionar e potenciar o encontro de entidades de diferentes regiões, num espírito de partilha informal de experiências e saberes em vários domínios como o da produção, investigação, promoção, valorização e transmissão de conhecimento.

De referir ainda que, inserida na mesma acção, se realizaram duas Oficinas de Experimentação da arte dos palitos de Lorvão, orientadas pela artesã Fátima Lopes tendo como público-alvo os alunos de vários níveis de ensino. As oficinas que decorreram na sede do Agrupamento de Escolas foram muito bem acolhidas.







05 outubro 2023

Outubro de 1910: em toda a vila foi suspenso o trabalho, "pois que todos queriam pormenores do faustoso acontecimento"


O modo como Penacova recebeu a notícia da Revolução Republicana do 5 de Outubro de 1910 e reagiu nos dias subsequentes à mudança de regime e às profundas alterações que se verificaram na vida social e política ficou registado sobretudo nas páginas do Jornal de Penacova.

Durante muitos anos apenas as notícias publicadas neste periódico (edição de 8 de Outubro de 1910) eram do conhecimento de alguns penacovenses. No entanto, a imprensa local de feição republicana foi, nomeadamente durante as duas décadas que se seguiram, fazendo eco das inevitáveis repercussões nos órgãos autárquicos e na vida política em geral.

Outros periódicos locais (por exemplo Ecos de S. Pedro de Alva e A Voz de S. Pedro de Alva) nos fornecem um vasto conjunto de informações que nos permitem compreender melhor as dinâmicas duma época que tem como marca fundamental a mudança de regime político. Dados que podemos complementar com a análise das actas das sessões dos órgãos municipais e de outros documentos dispersos de carácter jurídico-administrativo.

Em Penacova, não foi propriamente no dia 5 de Outubro, ou melhor, do dia 6, quando a esta vila chegou a notícia, que o republicanismo se começou a afirmar. Também aqui, o ideário republicano vinha germinando há alguns anos. Ainda na vigência da Monarquia, em 1908, constitui-se a primeira Comissão Municipal Republicana e no dia 1 de Agosto de 1909 teve lugar um grandioso comício de em S. Pedro de Alva com milhares de participantes. Com a implantação da República as adesões ao Partido Republicano cresceram significativamente, fruto da militância dos núcleos de Penacova e de S. Pedro de Alva a que não era alheia a influência, por vezes discreta, de António José de Almeida que tinha no concelho um grupo de amigos e simpatizantes e uma tribuna privilegiada de propaganda e de mobilização: o Jornal de Penacova.

Logo após a implantação da República e durante os meses seguintes os militantes republicanos do concelho organizaram palestras em muitas aldeias, promoveram a constituição de comissões republicanas a nível de freguesia e dinamizaram e consolidaram os Centros Republicanos de Penacova e S. Pedro de Alva que já vinham do tempo da monarquia.

Vejamos alguns pormenores da notícia publicada por este jornal, dirigido por Amândio dos Santos Cabral:

''Viva a República Portuguesa! Está proclamada a República em Portugal - Novo Governo - o País adere com entusiasmo à República''
– foi com este título, a toda a largura da primeira página que o Jornal de Penacova de 8 de Outubro noticiou a revolução republicana.

Depois de relatar os acontecimentos em Lisboa, o jornal faz referência ao modo como a vila vivenciou este momento histórico:

“A notícia da Implantação da República em Portugal foi trazida a esta vila pelo nosso correligionário Joaquim Serra Cardoso, na quinta-feira, pelas 8 e meia horas da manhã. O nosso amigo tinha ido na véspera para Coimbra, e assim teve a honra de trazer em primeira mão a grata notícia. Logo ao chegar ao Ramal de Santo António, o nosso amigo soltou um estridente Viva a República que foi ouvido na vila o que fez com que o nosso director corresse ao seu encontro, dirigindo-se logo ao Largo Alberto Leitão, onde imediatamente se juntavam muitos cidadãos aclamando a República.”

E prossegue o relato:

“Pouco depois, uma comissão Republicana composta dos nossos correligionários dr. Rodolfo Pedro da Silva, dr. António Moncada, José Pedro Henriques, José Alves de Oliveira Coimbra e o nosso director percorreu a vila convidando os cidadãos para assistirem à proclamação da República nos Paços do Concelho, ao meio dia. “

A notícia fora anunciada por uma salva de 31 morteiros e grande número de foguetes. Imediatamente, ''foi suspenso o trabalho em toda a vila, pois que todos queriam pormenores do faustoso acontecimento.''

Conta-se, de seguida, o episódio da subida ao telhado da Câmara:

“Como as repartições da Câmara Municipal estivessem fechadas, o nosso director [Amândio dos Santos Cabral] subiu por uma escada ao telhado do edifício dos Paços do Concelho e ali, no meio de aclamações entusiásticas do povo, que se achava no largo, hasteou a bandeira vermelha e verde, augusto símbolo da pátria redimida, a qual foi saudada com entusiásticos vivas e por nova salva de 31 morteiros e inúmeros foguetes. Não pôde nesta ocasião lavrar-se auto de Aclamação, porque como atrás dizemos as repartições da Câmara estavam fechadas, não podendo assim, sem violência, haver-se o livro das actas das sessões. Ao meio dia da tarde apareceu nesta vila o nosso correligionário sr. Leonel Serra, a cavalo, e empunhando uma bandeira branca onde se lia – PAZ – acompanhado de muitos populares, que saudavam a República.”

Como sabemos, o auto não pôde ser lavrado no dia seis. Só no dia seguinte tal foi possível:

“Ontem, cerca das duas horas da tarde, na sala das sessões da Câmara, no meio do maior entusiasmo, foi lavrado o auto que noutro lugar publicamos, da aclamação da República, sendo logo assinado por todos os cidadãos presentes, levantando-se muitos vivas à República, à Pátria portuguesa, etc.”

De acordo com os relatos do jornal, apareceu pouco depois, no largo Alberto Leitão um ''numeroso grupo de correligionários da freguesia de S. Pedro de Alva que foi recebido no meio do maior entusiasmo, indo logo todos assinar o auto.

Em seguida, ''todos os cidadãos que estavam no Largo Alberto Leitão se dirigiram para a nossa redacção – conclui o Jornal de Penacova – fazendo-nos uma calorosa e penhorante manifestação, sendo-lhes aqui oferecida uma taça de champanhe, trocando-se numerosos brindes, sempre no meio do maior entusiasmo.''

O Jornal de Penacova esteve, assim, totalmente empenhado na dinâmica que naqueles dias se viveu. Em jeito de balanço e de apelo, escreve este semanário: ''Como os nossos leitores poderão verificar lendo os nomes que firmaram o auto de aclamação da República foram numerosas as adesões ao novo regime, e esperamos que aqueles que ainda não aderiram o façam brevemente, com o que rejubilaremos.''

Este jornal transcreve na íntegra o texto exarado no livro de Actas das Sessões da Câmara:

“Auto de aclamação da República Portuguesa no concelho de Penacova

Aos seis dias do mês de Outubro do ano de 1910 pelas 12 horas do dia, nesta vila de Penacova e no Largo Alberto Leitão, fronteiro aos Paços do Concelho, foi entusiasticamente aclamada a República Portuguesa, proclamada em Lisboa no dia cinco do corrente, e hasteada a bandeira republicana no edifício acima referido. E não podendo este auto ser lavrado logo após a aclamação, em virtude de estarem ausentes as autoridades administrativas deste concelho e fechadas as portas da câmara municipal sendo impossível, por isso, sem violência haver-se o competente livro das actas das sessões da mesma câmara, se lavra hoje, 7 do corrente, o presente Auto de Aclamação da República Portuguesa, que vai ser assinado pela Comissão Republicana Local, pelas pessoas que tomaram parte naquela manifestação e ainda pelas demais presentes a este acto que espontaneamente o queiram fazer. Depois de lido por mim, Alípio de Sousa Correia Leitão, secretário da Câmara que o escrevi.”

O documento é assinado por cerca de sessenta pessoas. A ordem aqui apresentada não corresponde à que se observa no original.

Por ordem alfabética teríamos: Abílio Augusto Fernandes, Alberto Cabral de Nascimento Palma, Alípio Serra Cardoso, Amândio dos Santos Cabral, Américo Pinto Guedes, Aníbal Duarte de Vasconcelos, António Carlos Pereira Montenegro, António Casimiro Guedes Pessoa, António Correia da Silva, António Gomes Freire de Almeida e Silva, António Henriques Fonseca Júnior, António Joaquim Dias, António Lopes da Costa Carvalho, António Seiça Ferrer de Saldanha Moncada, Armando Alberto Pimentel, Athalyba Duarte Sousa, Augusto Ribeiro de Almeida, Carlos Mendes, Constantino António Carvalho, Daniel da Silva, Eduardo Pedro da Silva, Eduardo Silva, Fernando Miguel, Francisco Augusto Guedes, Francisco de Almeida Ventura, Francisco da Costa Gonçalves, Francisco Sousa Júnior, Heitor Ribeiro de Almeida, Henrique de Assumpção, Henrique Freire Garcez, Henrique Silva, João Augusto Simões Barreto, João Casimiro Guedes Pessoa, Joaquim Augusto de Carvalho, Joaquim Cabral Júnior, Joaquim Madeira Marques, Joaquim Pereira Castanheira, Joaquim Pita d’Eça Aguiar, Joaquim Serra Cardoso, José Alves de Oliveira Coimbra, José António de Almeida Júnior4, José Augusto Monteiro Júnior, José Augusto Ribeiro, José de Almeida Coimbra, José de Matos Vieira, José dos Santos Silva, José Maria Marques, José Maria Pereira Pimentel, José Pedro Henriques, José Ventura de Almeida, Leonel Lopes Serra, Luís Pereira de Paiva Pita, Manuel Maria Ralha, Manuel Correia da Silva, Manuel Maria Ferreira, Manuel Silva, Rodolfo Pedro da Silva, Roldolfo Silva, Silvério de Amaral Guedes e Urbano Ferreira da Natividade.

No dia 10 de Outubro a Câmara (presidida por Joaquim António da Silva Tenreiro) apresentou a demissão e declarou formalmente a adesão à República. Dois dias depois, tomou posse uma primeira Comissão Administrativa, encabeçada por Amândio dos Santos Cabral. O seu mandato teve curta duração porque, por imperativo legal, foi nomeada uma nova Comissão que tomou posse no dia 24 de Outubro, tendo como presidente António de Seiça Ferrer de Saldanha Moncada.

Recorde-se que até 1913 a governação municipal foi sendo legitimada por nomeação do Governo Civil. Só naquele ano se realizaram eleições para as Câmaras Municipais. Passou a existir um Senado Municipal e uma Comissão Executiva, mantendo-se a figura do Administrador Concelhio.

Fonte  / clique neste link  BNP 


31 agosto 2023

Poetas penacovenses (X): A Lua Azul vista pelo poeta... da Casa Azul


"Na última noite, os céus foram iluminados por uma super lua azul, um fenómeno raro que foi visível também em Portugal. A última super lua do ano foi vista em vários pontos do mundo. Da Europa à Ásia, passando por Brasil, Estados Unidos e Portugal. Em Portugal, o fenómeno conseguiu ser visto às 2h30 desta quinta-feira. A Lua Azul, como é chamada - por ser também a segunda lua cheia do mês -, esteve a 357 344 quilómetros de distância da Terra e parecerá ter mais “área” do que a média. Segundo a NASA estima-se que o a próxima Lua Azul apenas apareça novamente em 2037.”

in Rádio Renascença, 31 agosto 2023

Do amigo Luís Amante recebemos um poema (acompanhado de foto), alusivo a este fenómeno que também nos céus de Penacova foi motivo de curiosidade. Muito obrigado!  Com todo o gosto o publicamos, em primeira mão, no Penacova Online. 


Oh Lua Cheia


Esta Lua d’hoje

Veio cheia de intenção

Nesta despedida do Verão


Ilumina-me a Casa toda

E, também, a minha necessidade

De a sorver, porque rara, com solenidade


!… É Lua Cheia Azul …!


Parece feita de lã e algodão

Sobressai do céu bem escurecido

E dá-lhe vida, pra ficar bem parecido


Corre espelhada no Rio

Pondo o Espelho d’Agua quase quente

Motivos -muitos- para me manter contente


Luís Pais Amante

Casa Azul
A observar a Lua Cheia Azul, como a minha Casa.

20 agosto 2023

Emigração para o Brasil: a ida de penacovenses para Barretos (S. Paulo)


Recordar-se-ão os nossos leitores das interessantes “Crónicas Brasileiras”, assinadas por Paulo Santos e aqui publicadas em tempos. Recebemos agora mais um interessante trabalho seu sobre a emigração para o Brasil, onde nos relata a odisseia de algumas famílias penacovenses.  

Obrigado Paulo por esta partilha!

A IDA/VINDA DOS PENACOVENSES PARA BARRETOS (SP-Br)



O tempo passa e não perdoa, e quando nos damos conta, lá se foi quase uma década. Pois foi em 13/12/2013 que David de Almeida publicou em seu blog um texto meu sobre a migração de penaconvenses para o Brasil. https://penacovaonline2.blogspot.com/2013/

Faz parte da História, muitos europeus imigraram para o Brasil, durante aqueles dias difíceis porque passou a Europa. Alguns moradores da freguesia de Penacova seguiram o mesmo caminho.

Como os ascendentes da minha esposa (bisavós, avós maternos, paternos, pai e mãe) eram oriundos da freguesia de Penacova, isso me levou a “entrar de cabeça” na empreitada de saber um pouco mais sobre a aventura da travessia do Atlântico, encontrar os navios, descobrir as datas e onde desembarcaram os Batistas, D´Assumpção, Castanheiras e Feitor. Foi uma longa peregrinação pelos arquivos de registros de desembarque de passageiros, em documentos oferecidos pelo Governo Federal e pelo Governo do Estado de São Paulo. Os dados sobre os antepassados encontrei nos arquivos do museu do Tombo, disponibilizados pela Universidade de Coimbra.

Em uma dessas levas de imigrantes, em 22/04/1924, após cruzarem o Atlântico, a bordo do vapor GELRIA, desembarcaram no porto de Santos (São Paulo-Brasil) Maria Piedade, mãe e filho. Eles integravam o grupo de 721 imigrantes, na 3ª classe, de várias nacionalidades: 355 romenos, 136 tchecos eslovacos, 133 portugueses, 45 austríacos, 22 polacos, 17 alemães, 8 espanhóis, 3 turcos, 1 holandês e 1 húngaro. O pai, Eduardo Batista, tinha vindo alguns anos antes para preparar.

Pesquisas dos registros de batismo, nascimento e de casamento

As pesquisas foram feitas no site https://tombo.pt/ nos registros digitalizados efetuados pela Universidade de Coimbra. Iniciando pelo site do Tombo, busca-se a Região, pretendida, nela o Concelho, depois a Freguesia, por fim o período do ano que interessa, entre os disponíveis. Por exemplo, na Freguesia de Figueira de Lorvão há registros de “baptismo” no período de 1766-1911. E de casamento e de óbitos entre 1849-911. Nem sempre as caligrafias dos registros ajudam, ainda que muitas sejam maravilhosas. Postar fotos desses registros pode decepcionar, daí entender ser preferível disponibilizar os links, e apresentar pelo menos a imagem de um deles, para matar a curiosidade mais imediata.


 

Batistas & D´Assumpção

Eduardo Batista (25/03/1897 - 12/03/1945), nasceu em Carvalhal, batizado aos 17/04/1897, na igreja paroquial de Penacova, registro sob nº 25, páginas 10ª e 11ª, filho de Felicidade da Silva, neto materno de Francisco Lopes Loiro e Maria Benedicta. Faleceu em Barretos (SP-Br).
https://pesquisa.auc.uc.pt/viewer?id=42745&FileID=673870

Maria Piedade (16/03/1898 - 31/12/1963), nasceu Gondelim, batizada aos 9/04/1898, registro nº 26, página 23, na igreja paroquial de Penacova, filha de Maria Rosa d´Assumpção, neta materna de Maria Assumpção Peralta. Faleceu em Barretos (SP-Br).


https://pesquisa.auc.uc.pt/viewer?id=275704&FileID=1021086

Eduardo Batista e Maria Piedade d’Assunção se casaram no dia 5/04/1920, conforme registro n°12, do Registro Civil do Concelho de Penacova, página 17ª e 18ª.
https://pesquisa.auc.uc.pt/viewer?id=275887



Em Portugal, aos 25/09/1920 tiveram Eduardo Batista Filho.

Castanheira & Feitor


Manuel Rodrigues Castanheira (23/04/1906 - 7/05/1982), nasceu na Figueira, o assento de batismo nº 26, dia 2/05/1906, Igreja São João Baptista, da Figueira do Lorvão, Penacova, diocese de Coimbra, filho de António Rodrigues Castanheira e Maria do Rosário, neto paterno de Manuel Rodrigues Castanheira e Deolinda da Silva, maternos: José Simão e Maria do Rosário.

Maria Rodrigues Feitor (5/12/1907 - 12/09/1989), batismo em 25/12/1907, nº 52, Igreja São João Baptista, nasceu na Povoa, pais: Joaquim Rodrigues Feitor e Maria Pereira da Costa, neta paterna de António Rodrigues Feitor e Maria de Nossa Senhora, materna: João Rodrigues Valente e Rosaria de Nossa Senhora. Faleceu em Barretos (SP-Br).

Para ver o registro batismo/nascimento de Manuel basta clicar no link abaixo, deverá abrir na página 53, é o registro nº 26.

https://pesquisa.auc.uc.pt/viewer?id=275512&FileID=1137038

O de Maria, mesmo livro, página 90, registro nº 52, link:

https://pesquisa.auc.uc.pt/viewer?id=275512&FileID=113707


Manuel Castanheira e Maria Rodrigues Feitor casaram no dia 25/09/1926, no Registro Civil da Figueira, concelho de Penacova.


Em Portugal tiveram os filhos: Lucília (02/07/1927) e Horácio (04/03/1929)

No Brasil, Manuel Castanheira e Maria Rodrigues tiveram uma penca de filhos: Maria Terezinha, Armando, Zulmira e Izabel. Todos constituiram famílias, tiveram filhos, deram aos pais netos e alguns bisnetos

Relação de passageiros desembarcados no Rio de Janeiro e em Santos

Para encontrar as listas de passageiros utilizei fontes: para desembarque no porto Rio de Janeiro e outra no porto de Santos, respectivamente:

https://sian.an.gov.br/sianex/consulta/resultado_pesquisa_new.asp
http://www.arquivoestado.sp.gov.br/web/acervo/solicitacao_certidoes/lista_passageiros_pesquisa

Para pesquisar no site do Governo Federal é necessário criar conta e senha. Enquanto que nos arquivos do Governo do Estado de São Paulo é livre. Para pesquisar a lista de passageiros, basta usar um dos links, conforme o posto de desembarque, colocar o nome do navio e o ano, pelo menos uma dessas informações. Evidentemente, inserindo ambas ficará mais fácil a pesquisa. Se colocar o nome do navio e a data correta da chegada, ficará ainda mais fácil.


IDA/VINDA dos BATISTAS & Assumpção para o Brasil



Eduardo Batista veio para o Brasil no vapor, Zeelandia, de uma companhia holandesa. Desembarcou no dia 15/05/1922, no Rio de Janeiro. Veio sozinho, para preparar as condições para trazer a família, o destino, Barretos, uma cidade bem ao norte do estado de São Paulo, quase na divisa com o estado de Minas Gerais. Ele é p 349º na relação de passageiros.

http://imagem.sian.an.gov.br/acervo/derivadas/br_rjanrio_ol/0/rpv/prj/17898/br_rjanrio_ol_0_rpv_prj_17898_d0001de0001.pdf

Maria Piedade e Eduardo B Filho (3 anos) desembarcaram em Santos no dia 22/04/1924. Vieram no Vapor Gelria, da mesma companhia que o Zeelandia, passageiros 621º e 622º, foram para Barretos. http://www.arquivoestado.sp.gov.br/uploads/acervo/textual/mi_listavapores/BR_APESP_MI_LP_014226.pdf

No Brasil, Eduardo e Piedade tiveram outros filhos: Zulmira, Osmildo, José Batista, Arthur, Américo, Armando e Neide. Exceto Américo, os demais constituiram famílias, tiveram filhos e netos e bisentos.


IDA/VINDA dos Castanheiras & Feitor para o Brasil



Manuel R. Castanheira desembarcou, no porto de Santos, no dia 19/11/1928, veio pelo Vapor Sierra Morena, Companhia Alemã. De Santos, por viaférrea, passando por São Paulo, seguiu, para Barretos, cidade localizada norte do estado de São Paulo, distante uns 500 km (estado seria um distrito em Portugal). Veio também sozinho.

Em 6/03/1934, Maria Castanheira Feitor chegou a Santos, com Lucília (7 anos) e Horácio (5 anos), pelo Vapor Highland Brigade, do Correio Real Inglês. Foram para Barretos encontrar ao encontro de Manuel.

No Brasil, Manuel Castanheira e Maria tiveram mais filhos: Maria Terezinha, Armando, Zulmira e Izabel. Todos constituiram famílias, tiveram filhos, deram aos pais netos e alguns bisnetos

O casamento: Batista & Castanheira


Eduardo Batista Filho (25/09/1920 – 25/10/1984) que nascera em Gondelim (Penacova), que chegou ao Brasil em 22/04/1924, e foi para Barretos. Lucília Castanheira (2/07/1927 - 17/05/2020), que chegou ao Brasil em 6/03/1934 e que o destino a levou também para Barretos. Com tantas coincidências, não deve ter havido muita dificuldade para se conhecerem, tanto que se casaram aos 4/04/1944, em Barretos.

Tiveram: Marísia (1946), Marilda (1947), Marineide (1949, minha esposa) e José Eduardo (1954). Os filhos constituiram famílias, deram a eles lindos e maravilhos netos, dois dos quais levam meu sangue porque eu me casei com a filha caçula.

Assim vieram os antepassados do Concelho de Penacova, são esses os laços que nos unem a Figueira do Lorvão, Povoa, Gondelim e Carvalhal, lugares que ainda não conhecemos, mas que esperamos e desejamos conhecer.


LISTA DE PASSAGEIROS

Nem sempre as imagens baixadas das listas de passageiros ficam adequadas para publicação. É melhor serem vistas direto pelo link. Publicarei apenas uma para mostrar, as demais poderão ser vistas através dos links dos arquivos em PDF, ou até direto nos arquivos governamentais.

Eduardo Batista – desembarque no Rio de Janeiro - 15/09/1922 - Vapor Zeelandia, é o 349º da lista

http://imagem.sian.an.gov.br/acervo/derivadas/br_rjanrio_ol/0/rpv/prj/17898/br_rjanrio_ol_0_rpv_prj_17898_d0001de0001.pdf

Maria Piedade e Eduardo – desembarque em Santos - 22/04/1924 - Vapor Gelria, passageiros 621º e 622º.

Passageiros: 621º e 622º. http://www.arquivoestado.sp.gov.br/uploads/acervo/textual/mi_listavapores/BR_APESP_MI_LP_014226.pdf

Manuel Castanheira – desembarque em Santos - 19/11/1928 - Vapor Sierra Morena, é o passageiro 85º da 3ª classe http://www.arquivoestado.sp.gov.br/uploads/acervo/textual/mi_listavapores/BR_APESP_MI_LP_015090.pdf

Maria Rodrigues, Lucília e Horácio – desembarque em Santos – 5/3/1934 – Vapor Highland Brigade, passageiros 9º, 10º e 11º da 3ª classe

http://www.arquivoestado.sp.gov.br/uploads/acervo/textual/mi_listavapores/BR_APESP_MI_LP_023807.pdf


CURIOSIDADES E DÚVIDAS

Os registros, em parte, solucionaram as dúvidas existentes nas nossas famílias, quanto aos sobrenomes. Em parte, porque nos diversos registros (batismo, nascimento, casamento e listas de embarques), há divergência nas grafias.

d´Assumpção ou d´Assunção: No registro de batismo/nascimento, Maria Piedade consta como d´Assumpção. No registro de casamento aparece como d´Assunção, bem como na lista de passageiros, e no registro de Eduardo Filho. A conferir nos demais filhos do casal Eduardo e Maria Piedade.

Baptista ou Batista: em todos os documentos de Eduardo consta apenas Batista.

Feitor ou Feitora: Nos documentos portugueses consta Feitor, assim seria mesmo Maria Rodrigues Feitor antes de se casar com Manuel Rodrigues Castanheira.
 

MAPAS E DISTÂNCIAS


O Distrito de Coimbra tem 17 Concelhos: Arganil, Cantanhede, Coimbra, Condeixa-a-Nova, Figueira da Foz, Góis, Lousã, Mira, Miranda do Corvo, Montemor-o-Velho, Oliveira do Hospital, Pampilhosa da Serra, Penacova, Penela, Soure, Tábua e Vila Nova de Poiares.


Mapa de Portugal Continental e do Distrito de Coimbra. Penacova ao norte com a coloração azul mais claro.

Penacova tem 11 freguesias: Carvalho, Figueira de Lorvão, Friúmes, Lorvão, Oliveira do Mondego, Paradela, Penacova, S. Paio de Mondego, São Pedro de Alva, Sazes do Lorvão e Travanca do Mondego.

Obs: O Concelho de Penacova, que tem uma área total de 216,7km2 e, de acordo com os Resultados Preliminares dos Censos 2021, uma população de 13.119 habitantes, divide-se- desde 2013 - por 8 freguesias: Carvalho, Figueira de Lorvão, Lorvão, Penacova, Sazes do Lorvão, União das Freguesias de Friúmes e Paradela, União das Freguesias de Oliveira do Mondego e Travanca do Mondego e União das Freguesias de São Pedro de Alva e São Paio de Mondego

Algumas Distâncias (rodovias): Penacova/Gondelim: 12 km
Penacova/Coimbra: 30 km
Penacova/Figueira do Lorvão: 6,5 km
Penacova/Lisboa: 229 km
Lisboa/Santos (de avião): 7.968 km





Maria Piedade d´Assunção e Eduardo (621º e 622º)

Obs: aceito contribuições para eventuais equívocos.
Texto e grafismo: Paulo Santos

____________________________

NOTAS DA REDACÇÃO sobre causas da emigração e sobre o estado "patológico" da emigração portuguesa

“Na raiz da atitude de emigrar havia uma causa geoeconómica e social, mas, também, psicológica, familiar, política e, muitas vezes, de pressão demográfica. A falta de desenvolvimento do sector agrícola, agravada pela carência de e nas propriedades industriais, empurrava o grosso da população, maioritariamente masculina e dentro da faixa produtiva, que, numa penumbra vivenciada na subsistência de um salário de jornaleiro tão exíguo que roçava pelo mínimo indispensável ao seu parco sustento, o desejo de emigrar, sobretudo para o Brasil, no qual, o espírito alimentava o sonho de uma vida melhor.

Para a explicação do intenso movimento emigratório que se fez sentir no período em   questão, concorrem, igualmente, factores externos como a actuação das autoridades brasileiras na promoção de uma política de atracção de braços para fazer face à crescente necessidade de mão-de-obra que substitua o progressivo desmantelamento das estruturas esclavagistas e, ao mesmo tempo, explore um imenso território despovoado.”

In A emigração no concelho de Penacova através dos Registos de Passaportes (1870-1899), de Mário Jorge Martinho da Costa


“É certo que a emigração portuguesa tomou nos últimos anos caracteres realmente alarmantes, não por ela mesma, mas pelo que significava de destruição e quase morte no organismo económico da nação. Até há pouco tempo ainda nem sequer tínhamos um só tratado de comércio, que nos permitisse exportar os produtos da nossa agricultura que podem defender a nossa existência económica (…) a emigração portuguesa perderá dentro de poucos anos o seu aspecto doloroso, patológico, para assumir os caracteres de um fenómeno normal, eminentemente profícuo, e intimamente ligado, nas suas origens e funções, como no seu movimento, à própria vida da nação.”

Afonso Costa, O problema da emigração, 1911















25 julho 2023

Governadores civis (1): José Joaquim dos Reis Vasconcelos

GOVERNADORES CIVIS NATURAIS DE PENACOVA 
OU AO CONCELHO LIGADOS POR CASAMENTO


Circular de Pedro José de Oliveira, pelo Secretário Geral da Repartição Central do Governo Civil de Lisboa, 
ao Administrador do Concelho de Sintra, referente à nomeação de José Joaquim dos Reis e Vasconcelos, 
para o cargo de Governador Civil Interino.

Sabia que, naturais de Penacova, ou a este concelho ligados por casamento, tivémos seis Governadores Civis? Foram eles: José Joaquim dos Reis Vasconcelos (Governador Civil Interino de Lisboa, 1846); Fernando Augusto de Andrade Pimentel de Melo (Governador Civil de Coimbra, 1876 e 1878-1879); Júlio Ernesto de Lima Duque (Governador Civil de Évora, 1904-1905); Artur Ubaldo Correia se Sousa Leitão (Governador Civil de Leiria, 1904-1906); Luís Duarte Sereno (Governador Civil de Coimbra, 1905) e Vítor Fernando da Silva Simões Alves (Governador Civil de Bragança, 2009).

NOTA HISTÓRICA SOBRE OS GOVERNOS CIVIS

Após a instauração definitiva do liberalismo em Portugal foi estabelecida (1835) uma nova divisão territorial do país, tendo sido criados, pela primeira vez, os Distritos, circunscrições administrativas que tinham à sua frente um magistrado, o Governador Civil.
Apesar das mudanças de regime operadas em 1910 com a instauração da República e em 1926 com Revolução de 28 de Maio que esteve na base do Estado Novo, esta estrutura manteve-se intacta até 1974.

A Constituição da República Portuguesa de 1976 alterou profundamente o nosso regime jurídico-administrativo, ao instituir o sistema de governo das autarquias locais, que passaram a ser, no território do Continente, as freguesias, os municípios e as regiões administrativas, retirando assim ao Distrito essa categoria.

No entanto, a Constituição estabeleceu que, enquanto não fossem instituídas as regiões administrativas, o Distrito subsistiria como “divisão distrital”, continuando a ter à sua frente um magistrado administrativo, o Governador Civil.

Em 2011 o Governo presidido por Pedro Passos Coelho exonerou os Governos Civis em exercício e criou as condições necessárias, quer por parte do Governo, quer por parte da Assembleia da República, para se proceder à transferência das competências dos Governadores Civis para outras entidades da Administração Pública.

In Os Governos Civis de Portugal e a Estruturação Político-Administrativa do Estado no Ocidente, 2014

Falaremos hoje de José Joaquim dos Reis Vasconcelos, um daqueles notáveis nascidos no nosso concelho e que pouca gente conhecerá ou terá sequer alguma vez ouvido falar.

Apesar de ter feito carreira política em Lisboa, onde foi Deputado, Par do Reino, Conselheiro de Estado, Governador Civil interino e “rico proprietário”, passou a sua juventude na vila de Penacova e cursou Direito em Coimbra. Foi também pelo Círculo de Arganil que pela primeira vez foi eleito deputado. Enquanto amigo de Alípio Leitão estamos convencidos que, mesmo que indirectamente, terá intercedido pelo nosso município junto do Poder Central.

José Joaquim dos Reis (Campos) e Vasconcelos nasceu em Penacova no dia 1 de Março de 1804, filho de Joaquim José Correia dos Reis e de Joaquina Engrácia de Campos e Vasconcelos.

Matriculou-se no Curso de Direito da Universidade de Coimbra em 17 de Novembro de 1818. Mais tarde, a sua carreira profissional viria a passar pelo desempenho do cargo de Procurador Régio.

Partidário da ideologia liberal, acabou por partir para o exílio quando em 1828 D. Miguel se fez aclamar rei absoluto. Perseguidos, os liberais refugiaram-se na Galiza e depois emigraram em grande número para França e Inglaterra. Por este motivo, cedo deixou Penacova. Conta-se que nesta vila os Miguelistas quando souberam da sua fuga fizeram um boneco em palha, representando-o. No Terreiro, depois de simbolicamente fuzilado deitaram-lhe fogo no meio de grande algazarra. Por tudo isto parece que nunca mais terá voltado a Penacova, mantendo, contudo, contactos com a família Correia e com Alípio Leitão, que casara com a filha de Joaquim Correia de Almeida.Quando em 1879 Alípio Leitão tomou posse como deputado terá ido hospedar-se em casa de Reis e Vasconcelos.

O futuro Duque de Palmela também se exilou em Londres. Junto deste, Reis e Vasconcelos tornou-se procurador dos exilados portugueses. Mais tarde, depois da Convenção de Évora-Monte e da vitória definitiva dos Liberais, foi criado o importante cargo de Curador Geral dos Órfãos. Como recompensa pelos altos serviços prestados junto dos exilados foi José Joaquim o escolhido para o lugar, começando assim a sua ascensão social no círculo aristocrático do liberalismo triunfante. Vivendo na alta “roda dos grandes políticos do constitucionalismo”, no dizer de José Albino Ferreira, foi Par do Reino de 1861 a 1884, data da sua morte.

Já Par do Reino, Conselheiro e com 61 anos de idade, casou com a filha do Visconde de Vila Nova de Gaia, Joana Cândida Stubbs, viúva de António Jacinto de Castro Ribeiro.

Filiado no Partido Histórico, foi eleito deputado pela primeira vez em 1838 pelo círculo eleitoral de Arganil, mantendo-se, quase ininterruptamente, durante muitos anos na Câmara dos Deputados.

De Julho a Outubro de 1846 foi Governador Civil Adjunto de Lisboa e há notícia de que em 1867 fez parte do Conselho de Estado e que em 1875 assumiu funções de Vogal do Supremo Tribunal Administrativo.

Coligiu e publicou, em 1851, a obra em dois tomos, Despachos e Correspondência do Duque de Palmela, abrangendo os anos de 1817 a 1826.
Em Janeiro de 1884 foi eleito para presidir à Comissão Administrativa na Câmara dos Pares, mas acabaria por falecer um mês depois, no dia 7 de Fevereiro. Era na altura presidente do Conselho de Ministros Fontes Pereira de Melo. Na sessão do dia 11 deste mês, sob proposta do “Digno Par” Carlos Bento, foi aprovado por unanimidade um voto de pesar, enaltecendo as suas qualidades de “verdadeiro homem de bem”.