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28 março 2024

Personalidades (3): Abel José Fernandes Ribeiro (1898-1962)


Abel José Fernandes Ribeiro nasceu no dia 23 de Novembro de 1898 em Arganil. Filho de José Ribeiro Mendes, industrial de marcenaria, e de Natalina de Jesus Fernandes, naturais e residentes na vila. Neto paterno de António Ribeiro Mendes e de Maria José Castanheira e materno de Manuel Fernandes e de Beatriz de Jesus Fernandes.

Fez o Curso Industrial em Coimbra no estabelecimento de ensino que a partir de 1951 adoptaria novas instalações e a designação de Escola Industrial e Comercial Brotero.

Quando já estava ligado à família da Estrela d’Alva (casara em 23 de Junho de 1919 com Maria da Natividade de Oliveira Coimbra, filha de Alípio Barbosa de Oliveira Coimbra), adquiriu conhecimentos na área da cerâmica e viajou pelo país e estrangeiro para conhecer melhor os meandros técnicos e comerciais daquela indústria.

A imprensa regional, designadamente A Comarca de Arganil, aquando do seu prematuro falecimento (contava apenas 63 anos), destacou as suas qualidades organizacionais, intelectuais e técnicas, numa palavra, predicados de um “óptimo empreendedor”.

Na fábrica da Estrela d’ Alva levou avante um conjunto relevante de reformas e na fábrica de Taveiro, de igual modo “mostrou com vigor aquelas capacidades.”

Foi Presidente da Câmara Municipal de Penacova “prestando relevantes serviços ao concelho” em especial no domínio da electrificação, extinguindo os Serviços Municipalizados e fazendo um contrato com a Companhia Eléctrica das Beiras.

A nomeação para a Presidência da Câmara ocorreu a 12 de Dezembro de 1945. A seu pedido, foi exonerado em 15 de Fevereiro de 1950. Sucedeu a Alberto Alçada, seu cunhado, que exercia o cargo desde 17 de Fevereiro de 1939. Refira-se ainda que quem se lhe seguiu naquela presidência foi Francisco Rodrigues Martins.

Abel Fernandes Ribeiro, que já tinha o seu nome na toponímia de Taveiro, vai igualmente dar o nome ao arruamento que serve a antiga fábrica de cerâmica da Estrela d’ Alva.

Retrato publicado no livro 
100 anos de História - Cerâmica Estrela d' Alva

Pai de Alípio Ribeiro Barbosa Coimbra (1920-2003) e de Álvaro Barbosa Ribeiro (1921-1999) que também foram presidentes da Câmara de Penacova e figuras de relevo nas empresas da família em S. Paio e Taveiro.

Abel José Fernandes Ribeiro, ”um dos mais importantes e conceituados industriais desta região e antigo presidente da Câmara de Penacova”, para citar o título de A Comarca de Arganil de 3 de Julho, faleceu na Estrela d’ Alva no dia 30 de Junho de 1962. No seu funeral incorporaram-se muitas centenas de pessoas. Os seus restos mortais repousam no cemitério das Ermidas (S. Paio) em jazigo de família.

10 maio 2019

Indústria cerâmica nos finais do séc. XIX em Penacova


Nos finais do século XIX a actividade industrial em Penacova resumia-se a muito pouco. Recorde-se que ainda não existia a Cerâmica Estrela d’Alva pois só em 1904 iniciaria a sua laboração.

Por volta de 1915 apontavam-se como “bandeiras” da industrialização do concelho, a Estrela d’Alva, a Fábrica de Cal da Galiana e o Lagar de Vila Nova, tendo como principais investidores, respectivamente, Alípio Barbosa, Amândio Cabral e José Maria de Oliveira.

Nos inícios do século XX, encontramos na freguesia de Sazes pedreiras de mármore e de calcário. Na freguesia de Penacova a extração de cal preta de muito boa qualidade e também granito, para cantaria e mós. Granito igualmente explorado na freguesia de Friúmes. Há notícia do registo, na comarca de Penacova, de dez minas de metais preciosos, carvão, ferro e chumbo que, no entanto, não se encontravam em fase de exploração. De referir ainda as indústrias da cal, dos palitos, da madeira e da lenha, que detinham já algum peso no panorama concelhio.

A indústria cerâmica ocupava um lugar muito modesto. Como já referimos, a Fábrica da Estrela de Alva só alguns anos mais tarde iniciaria a sua laboração.  Um documento do Ministério das Obras Públicas, Comércio e Indústria intitulado “ESTUDO SOBRE O ESTADO ACTUAL DA INDÚSTRIA CERÂMICA”, publicado em 1905, apresenta, no entanto, três polos industriais neste sector: freguesias de Figueira de Lorvão, S. Pedro de Alva e Sazes. Em Figueira e em S. Pedro de Alva fabricava-se telha ordinária. Em Sazes, panelas e caçarolas.

É a parte do documento referente ao concelho de Penacova onde se faz um apanhado geral, com o número de oficinas e fornos, o pessoal empregado e o rendimento anual nas diferentes freguesias e no concelho que, a seguir, se transcreve (grafia actual). Publicamos também algumas das gravuras que integram aquela publicação.


Freguesia da Figueira de Lorvão

“Nesta freguesia e lugar da Sernelha existem 2 fornos de cozer telha ordinária. Em cada um dos fornos empregam-se o dono do forno, mais 2 operários, 2 trabalhadores e 1 rapariga. A duração do trabalho é desde abril a outubro. Os preços dos jornais são de 300 réis para os operários e 240 réis para os trabalhadores, as raparigas não vencem jornal por serem filhas dos donos dos fornos. O barro empregado é avermelhado e é explorado aos lados dos sítios onde estão os fornos, tem a plasticidade necessária para o fabrico a que é destinado, os utensílios empregados no fabrico são os usados nesta espécie de produtos. Não apresentam também novidade alguma. Cada forno produz anualmente 50 milheiros de telha, que vendem na própria freguesia e nas vizinhas a 5$500 réis (em média), sendo, portanto, o rendimento anual de cada forno 275$000 réis, ou 550$000 réis para os 2 fornos.”

 Freguesia de S. Pedro de Alva

“Nesta freguesia e lugar da Cruz do Souto existem 3 fornos de cozer telha ordinária, nos sítios denominados Cabecinho, Carvalhinho e Serra. Em cada um d’estes fornos trabalham permanentemente, durante os meses de laboração, agosto e setembro, 2 operários e 1 carreiro. Os preços dos jornais regulam por 280 réis para os operários  1$200 réis para o carreiro. O barro empregado é esbranquiçado, regularmente plástico e é explorado no sítio do Val do Grou, que fica á distancia de 500 metros aproximadamente dos 3 fornos. Os fornos, utensílios e processos de fabrico são precisamente iguais aos da Figueira de Lorvão. Cada forno produz anualmente 36 milheiros,ou 108 milheiros para os 3 fornos, que vendem a 4$000 réis na própria freguesia e nas vizinhas, sendo portanto o rendimento anual dos 3 fornos réis 432$000. Em Lufreu, lugar pertencente a esta freguesia, está-se montando uma fábrica a vapor para o fabrico de telha tipo marselhês, mas asua construção está ainda bastante atrasada. “

Freguesia de Sazes

 “Há 4 anos pouco mais ou menos veio de Molelos um oleiro com sua mulher, 3 filhos e 2 filhas, todos maiores, estabeleceram-se nesta freguesia para exercer a sua industria. Começaram fazendo as suas pesquisas à procura de barros e, conseguindo encontrá-los razoáveis, principiaram a fabricar louça preta pelo sistema de Molelos. Tem 3 rodas ou tornos de oleiro, um bocado de sola e outro de cana, únicos utensílios que empregam. Fabricam unicamente panelas e caçarolas. A louça é cozida em covas abertas no chão. De tempos a tempos desloca-se parte da família, andando por outras freguesias a fazer e cozer louça, isto é, são fabricantes de louça ambulantes. Desde que vêem que numa freguesia os seus produtos já não têm fácil venda, mudam-se para outra, até que passados 6 ou 8 meses de peregrinação regressam a Sazes, sede do seu estabelecimento. Não se pode fixar bem a produção e rendimento anual d’esta indústria, mas não se deve avaliar em menos de 200$5000 réis.”