09 maio 2024

Vox et Communio: um exemplo salutar

V o x  e t  C o m m u n i o:  u m  e x e m p l o  s a l u t a r 

por Luís Pais Amante

Estive, há dias, a assistir ao Concerto “Um Menino chamado Zeca” [na minha terra Penacova] concebido pelo Maestro Rodrigo Carvalho, com base nas Canções icónicas do meu amigo José Afonso e com “salpicos” do Livro de José Jorge Letria.

Crédito da imagem: 

Podia ter acontecido em qualquer parte do Mundo, dada a excelência do Evento, mas aconteceu ali, no nosso Auditório; no interior de uma Beira carente de enaltecimento.

E foi um êxtase absoluto para quem, como eu, gosta deste tipo de música, toda ela envolta no cheiro do nosso Abril dos Cravos e, neste caso, na leveza da intimidade amiga da juventude sã que por lá anda em “construção permanente”, cunhando e elevando a nossa Cultura Local.

Aquelas vozes (irrepreensíveis na afinação, na afirmação e na identidade) deixam qualquer pessoa maravilhada…arrepiada, até.

E não digo isto por termos (eu e elas e eles) uma espécie de ligação electrizante - há já uns anos - com episódios mesmo muito, muito felizes, como guitarrada e cântico improvisados num Restaurante muito conhecido de Lisboa, com as salas envolventes a aplaudir, admiradas.

Falemos, pois, da Associação e dos seus Associados, de origens sociais diversificadas.

… e do sonho que comanda tudo aquilo …

O Coro Vox et Communio é o braço (digamos assim) da Associação Cultural de Penacova, na sua forma civilista e actua no âmbito das artes do espectáculo. Foi constituída no dia 28 de Maio de 2012, estando, portanto, prestes a celebrar o seu décimo segundo aniversário, embora saibamos de trabalhos preparatórios muito anteriores, enquanto Coral Infanto-Juvenil.

Está integrado no designado Associativismo Jovem, com apoios modestos, mas efectivos.

A sua sede é (tentem perceber bem o significado disto, p.f.) na Rua da Alegria, na Ronqueira, uma Aldeia bonita, soalheira, aconchegada pelo Rio Mondego, onde apetece absorver o ar.

Na criação desta Associação, estiveram envolvidas muitas pessoas da minha terra -meus conterrâneos e amigos - mas muito activamente, um par de namorados apaixonados, humildemente ricos na postura que exibem e muito valiosos, como geração empreendedora que se têm vindo a afirmar: o Rodrigo e a Paula, pelos quais nutro um enorme apreço.

E, talvez por isso, quem estiver atento à “Juventude Vox” (chamemos-lhes assim), percebe que ali se fabrica e cultiva respeito e amor e paixão e se forma gente de elevado valor.

Amor à Associação; paixão pela música e pelo canto; com intuitos firmes de solidariedade.

Até parece estar-se em presença de uma incubadora, que constitui notório exemplo!

O Vox Associação teve comando directivo do Paulo Martins e da Marta Oliveira e, agora, é dirigido pelos próprios Coralistas, já emancipados -e bem- nos seus destinos, o que significa um bom modo de crescimento social e intelectual de coragem e de independência responsável.

Sendo a música, através do canto, o amor principal e mais comum, na verdade, elas e eles dedicam-se, igualmente, a actividades solidárias e ambientais, para não falar nas actividades associativas dos Estabelecimentos de Ensino para onde se vão direcionando.

!… Líderes potenciais, portanto …!

Sim, os Jovens Coralistas também vão fazendo um caminho consistente - e consciente - para o Ensino Superior diversificado e disperso pelo País.

E não admira, pois, que tenhamos para referir - orgulhosos - aleatoriamente, embora, já licenciados ou com estudos superiores em curso, nas áreas de: Geografia, Gestão, Bioquímica, Informática, Fisioterapia, Fisiologia, Ciências Militares Aeronáuticas, Medicina, Engenharia Biomédica, Sociologia, Ciências Farmacêuticas, Música, Engenharia do Ambiente, Design de Equipamentos.

Alguns já a frequentar Mestrados.

Ou seja, Caros Penacovenses e Amigos:

Saibamos merecer o que é nosso, porque nelas e neles (Jovens) é que está o nosso futuro!


07 maio 2024

As fontes de Cácemes, Corgas e Caldas numa crónica dos anos quarenta


(…) Numa tarde calmosa de Setembro de 1935, passávamos sequiosos ao cimo de Cácemes. Eis que na ribanceira da estrada dos «dois Emídios» (como alguém lhe chama), nos surge uma telha jorrando água abundante e finíssima. Foi então, mais do que nunca, que encontrámos verdadeira a quadra que Menano cantava ao fado: Benditas sejam as fontes | Que à beira .estão dos caminhos | Aonde matam a sede | As bocas dos pobrezinhos.... Hoje já, ali se não encontra a telha primitiva. É um monumento em grandeza e bom gosto, que assinala o local outrora ermo e solitário, cheio de mato e silvas. É uma fábrica de refrigerantes para serem confeccionados com a água da pobre telha de outros tempos. Mas não amaldiçoemos o progresso, que vai assim valorizando a terra portuguesa e vai dar pão a tantos operários que ali vão trabalhar naquela empresa.

Há anos falou-se muito das águas das Corgas, ao lado da igreja de Sazes. Registou-se a nascente, constituiu-se uma comissão, desafogou se o local, construiu-se um barracão ao cimo da ladeira, encheram-se ali milhares e milhares de garrafões devidamente rotulados. Corria que estava aberto àquelas águas um mercado excepcional no Brasil. Houve banquetes, onde, a propósito das águas, se bebeu... algum vinho. Mas tudo foi esmorecendo. As silvas tornaram a engrinaldar a nascente; o barracão caiu e desapareceu; e as águas, que toda a gente que as usa continua a achar maravilhosas, continuam a moer o milho, o trigo e o centeio e a espadelar o linho nos seus engenhos e finalmente a regar os milhos de Sazes que, sem elas, pouco ou nada produziriam...

Admirador apaixonado de todas as belezas naturais, apesar das pernas protestarem, lá fui um dia até às Caldas, junto à Quinta da Aguieira, em frente de Vila Nova. É que me diziam que era uma nascente de águas copiosas, muito leves, muito límpidas e tépidas, nas frígidas manhãs de inverno. E confesso que não dei por mal empregado o tempo e o esforço que tive de empregar É realmente uma nascente invulgar. O brotar da água claríssima em sentido vertical por entre seixos polidos e clarinhos, num espaço de alguns metros quadrados, borbulhando gazes; o aspecto florestal e selvático do local, onde tudo cresce com exuberância; o contraste que nos oferece a rudeza das penedias e o escalvado da serra de Entre Penedos e a secura das vertentes da Senhora do Monte

Alto; a proximidade do rio, que nos seus minúsculos barquinhos, ali nos pode conduzir, tudo isto me disse que era um acto de desamor, o turismo local não olhar melhor por aquele arrabalde de Penacova e torná-lo mais acessível e desfrutável aos amantes da natureza que aqui vêm à nossa terra, precisamente por amor dela.

A fonte das Caldas seria para Penacova a sua Fonte dos Amores e o seu Choupal...

Três fontes: Cácemes, Corgas e Caldas. Já que os outros amam as primeiras, porque não hão-de amar os penacovenses esta última?

M. MARQUES

in Notícias de Penacova


A propósito:

https://hidrogenoma.dgeg.gov.pt/agua-mineral-natural/corgas-bucaco

https://www.caldasdepenacova.pt/

https://centralpenacova.blogspot.com/2010/01/agua-das-corgastao-natural-como-sua.html

https://diariodarepublica.pt/dr/detalhe/contrato-extracto/552-2011-828954