27 fevereiro 2019

Mosteiro de Lorvão: processo de musealização tarda em avançar



A Deputada do PCP Ana Mesquita, acompanhada por membros da Comissão concelhia de Penacova, da direcção Regional de Coimbra do PCP e de eleitos da CDU reuniram com a Associação Pró-Defesa do Mosteiro do Lorvão para acompanhar os desenvolvimentos referentes ao processo de musealização previsto para parte do monumento.


Da  Direcção da Organização Regional de Coimbra do PCP recebemos a seguinte Nota:
“De acordo com as informações prestadas, o projecto de musealização encontra-se concluído há cerca de um ano e meio e, desde então, não se têm registado avanços. Segundo a Direcção da Associação, o problema prende-se agora com o plano de segurança contra incêndios, que necessita de ser adaptado a exigências legais que não terão sido acauteladas no planeamento e execução da obra realizada.
De relembrar que as obras de requalificação dos claustros do Mosteiro de Lorvão terminaram em 2014, tendo o Estado, através da Direcção Regional de Cultura do Centro (DRCC) investido 1,7 milhões de euros para requalificar e adaptar parte do Mosteiro com vista a receber e tornar visitável espólio de arte sacra. O PCP desde sempre exigiu que o Governo avançasse com o investimento e as diligências necessárias à rápida abertura do Museu, tendo, para esse efeito, apresentado o Projecto de Resolução 534/XIII - Musealização e pleno funcionamento do Museu do Mosteiro do Lorvão.
A verdade é que o tempo passa e o espaço ainda continua vazio, tendo sido tomadas opções no sentido de desresponsabilização do Governo e da Administração Central pela concretização do espaço museológico. Assim, acaba por ser assinado, em Outubro de 2016, um protocolo entre a Direcção Regional de Cultura do Centro e a Câmara Municipal de Penacova (CMP), para que esta última passasse a assegurar o projecto.
De acordo com informações vindas a público pela comunicação social, a candidatura a fundos comunitários para a musealização do espaço foi feita há um ano, tendo a CMP de assegurar 15% de contrapartida nacional de cerca de 380 mil euros. No entanto, a Associação Pró-Defesa do Mosteiro do Lorvão refere uma verba mais elevada, que rondará 600 mil euros, a que deverão acrescer cerca de 34 mil euros, assegurados pela autarquia, para adaptações referentes a acessibilidades.
Além dos problemas com o plano de segurança contra incêndios, a Associação alerta para a possibilidade de existirem equipamentos que podem nem sequer estar a funcionar devidamente, como é o caso do elevador e do sistema de AVAC, pois nunca terá sido ligada e testada por falta de energia trifásica.
Mais ainda, está ainda por resolver uma questão relativa a telas com necessidade de realização de intervenções de conservação e restauro, que terão sido adjudicadas pela DRCC/DGPC à empresa Memoriae Tradere. A empresa terá conhecido dificuldades de gestão e, eventualmente, entrado em processo de insolvência, pelo que se colocam dúvidas sobre a conclusão dos trabalhos de recuperação e salvaguarda das telas em curso, sendo que uma das obras se encontra em condições de grande fragilidade após ter estado depositada no chão e sujeita a incidência de luz e humidade durante quatro anos.
O PCP considera que o Governo não se pode desresponsabilizar pelo Património Cultural e que tem de tomar medidas para garantir o pleno funcionamento do espaço museológico do Mosteiro do Lorvão e, por isso, vai enviar ao Ministério da Cultura uma pergunta regimental questionando que intervenção vai ser tomada para rápida resolução dos problemas relatados.
Este é um processo que não pode deixar de fazer reflectir também sobre o futuro que aguarda o Património se a transferência de competências na Cultura se concretizar nos moldes anunciados pelo Governo PS, comportando severos riscos para o património  e os interesses das populações e significando simplesmente um ónus e uma transferência de encargos para as autarquias locais.”
Refere a mesma nota que o PCP visitou ainda o Grupo de Solidariedade Social, Desportivo, Cultural e Recreativo de Miro.
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08 fevereiro 2019

A Lenda dos Três Rios









Muitas das compilações existentes sobre lendas portuguesas a referem, atribuindo-a à tradição oral da zona de Pombeiro da Beira, mas muito raramente é feita referência à versão do Visconde Sanches de Frias na monografia sobre aquela localidade publicada em 1896.


“Mondego, Alva e Zêzere, nascidos da mesma mãe, serpeando pelas vertentes da serra da Estrela, em santa irmandade, amigos e camaradas, viviam tranquilos e alegres, mirando-se cada qual na limpidez das suas águas, e escondendo-se nas gargantas, furnas e sorvedoiros da gigantesca serra. Umas tardes, já quase à boca da noite, envolveram-se em azeda conversa, porque se arrogaram valentias, ao que parece prometeram romper as prisões, que os detinham, trovejaram rivalidades, e acabaram por desafiar-se para uma corrida vertiginosa, cuja meta seria o corpo enormíssimo do mar. O primeiro, que lá esbarrasse...
- Qual dos três saberia melhormente o caminho? — Qual desenvolveria maior tafularia e força? — Quem seria o primeiro a oferecer as suas águas dulcíssimas às salsas águas do mar?
Era o que ia ver-se.
O Mondego, astuto, forte e madrugador, levantou-se cedo, e começou a correr brandamente, para não fazer barulho e não levantar suspeitas, é de crer, desde as vizinhanças da Guarda nos territórios de Celorico, Gouveia, Manteigas, Canas de Senhorim, e dirigiu se, depois de se ter robustecido com a ajuda de colegas, que vieram cumprimentá-lo, à Raiva, na direcção de Coimbra, depois de ter atravessado ofegante as duas Beiras. O Zêzere, que também estava alerta, entrou de mover-se ao mesmo tempo que o Mondego, ocultando-se até certa distância nas anfractuosidades do seu leito penhascoso; foi direito propriamente a Manteigas, onde perdeu de vista o colega, passou também nos terrenos da Guarda, correu para o Fundão, desnorteou, obliquando para Pedrogão Grande; e finalmente, depois de ter atravessado três províncias, deu consigo em Constância, na Estremadura, abraçando-se ao Tejo, a que ofereceu as suas águas, já cansado de caminhar umas 40 léguas e desesperançado de alcançar o mar.

O Alva, dorminhoco e poeta, embora esses atributos não sejam sinónimos, entreteve-se a contemplar as estrelas, mais do que era prudente, adormeceu confiado no seu génio insofrido e nervoso; e, quando despontou, alto dia, estremunhado, em sobressalto, avistou os colegas a correr sobre distâncias a perder de vista. Um desastre, não havia que ver! uma imprevidência, que era forçoso remediar. O Alva atirou consigo de roldão pelos campos fora, rasgou furiosamente montanhas e rochedos, galgou despenhadeiros, bradou vingança temerosa, rugiu ; e, quando julgou que estava a dois passos do triunfo, foi esbarrar com o seu principal antagonista, o Mondego, que lá ia, havia horas, campos de Coimbra fora, em cata da Figueira, onde se lançaria jubiloso no seio volumoso do Oceano, ao ganhar a porfiada contenda.
O Alva esbravejou, como atleta sanhudo, atirou-se ao adversário, a ver se o lançava fora do leito, espumou de raiva; mas... o outro, que deslizava sereno e forte, riu-se, e engoliu-o de um trago.
Ao lugar da contenda e foz do Alva chamou-se propositadamente Raiva, em memória da sua atitude raivosa e do caso tremebundo.”
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FRIAS, David Correia Sanches de; VASCONCELOS, Carolina Michaelis de; VASCONCELOS, Joaquim de - Pombeiro da Beira: memória histórica, descritiva e crítica. Lisboa: Tip.de João Romano Torres, 1896