terça-feira, julho 21, 2020

Uma prenda para Penacova nos 80 anos do “Ténis”


A história do campo de “Ténis” de Penacova começa em 1940 (e não na década de 50 como foi dito recentemente aquando da inauguração das obras de requalificação). Antes disso naquele local o que existia era apenas um terreno de cultivo, por vezes montureira de lixo, onde, de acordo com informação de Vasco Viseu, em 1956, no Notícias de Penacova, afloravam vestígios de robustas paredes que em tempos recuados teriam sido construídas para dar lugar a um edifício destinado a Teatro, o que, obviamente,  nunca se concretizou. 

Por volta de 1940 foi António Feliciano de Sousa - o mesmo que nos anos 50 mandou construir o “Moinho do Aviador" -  o principal impulsionador da construção de um campo de Ténis em Penacova. Filho de um professor de Gondelim, José Júlio de Sousa Henriques, exercia a profissão de solicitador no Porto. Pessoa “capaz de ideias desempoeiradas, tudo sacrificou para que a ideia não fosse para o cesto dos papéis velhos”, assumindo a maior parte do custo da obra, salientam os jornais da época. 

Também Alípio Barbosa esteve envolvido no projecto. Nestas coisas, como se costuma dizer, “está tudo ligado”: na altura quem era o Presidente da Câmara? Era Alberto Alçada, seu genro, ambos ligados, como se sabe à Cerâmica Estrela d’Alva. Conta mais tarde (em 1957) Oliveira Cabral que certo dia Feliciano de Sousa lhe havia mostrado as contas discriminadas da construção do campo de ténis. Aquele pedagogo e jornalista, que foi um dos mais célebres aristas, também vivia no Porto. E foi precisamente daquela cidade que vieram os tenistas profissionais para dar brilho à inauguração, onde não faltou uma instalação sonora, montada pelo dono da Ideal Rádio, Júlio Silva, também da capital do Norte. 

Em Agosto de 1940 já se noticiava que os trabalhos estavam avançados e enaltecia-se a localização e a pertinência de tal obra: “A sua situação magnífica é invejável. A sua falta fazia-se sentir numa terra tão visitada pelos turistas e tão movimentada no Verão pelas pessoas que desejam descansar uns dias nesta deliciosa estância como é Penacova-a-Linda”. 

A inauguração teve lugar no dia 29 de Setembro daquele ano, domingo, integrada na Festa dos Bombeiros. No programa dos festejos, de sábado a terça, destacava-se também uma Récita ensaiada e organizada por Raimunda Martins de Carvalho e provas de ciclismo onde marcaram presença o “afamado corredor de Chelo”, José dos Santos Ralha (homenageado em 2014 na Gala do Desporto) e Antero Maia. 

No entanto, o Campo de Ténis, como tal, poucas vezes terá funcionado, ao ponto de Oliveira Cabral achar que não se justificava aquela designação, atendendo a que apenas uma vez se jogou ali “a preceito” e poucas mais “de qualquer maneira”...

Passados pouco mais de dez anos, já na imprensa local se dizia que as escadas de acesso estavam uma “vergonha” e perguntava-se por que não se reparavam e sugeria-se que ali fosse construído um palco “para dar uma récita ao ar livre”, pois “o Ténis” seria “um dos lugares onde se podiam realizar boas festas.” A ideia de construção de uma piscina foi também equacionada e perante a sua inviabilidade avançou-se, em 1956, com a proposta de um campo de patinagem. 

Nesse ano, o agora também designado “Parque Municipal”, teve obras de beneficiação a expensas de Abel Rodrigues da Costa. Foi construída uma “ampla e cómoda escadaria de acesso ao primeiro piso” e outros arranjos (por exemplo, vedação com muro ao lado da estrada), e foi colocado um “portão condigno”. 

Os anos passaram e o espaço foi-se degradando. Lendo as memórias de Luís Amante e de Pedro Viseu, publicadas no Penacova Actual, recordamos que o "ténis" foi local de eleição para os jovens da vila (e estudantes que foram passando por Penacova) jogarem futebol, namoriscarem, jogarem matraquilhos, “flippers”… Recordam-nos ainda que aqui actuaram os GNR e os SITIADOS, que teve restaurante-bar, escorregas e baloiços. No fundo, serviu um pouco para tudo: para a vacinação de “canídeos”, para a instalação de pavilhões pré-fabricados da “Escola Secundária”, para bailes, para festas. Por fim encerrou “durante anos, muitos e demasiados anos” – desabafa Pedro Viseu. 

Finalmente, chegou a hora de a Câmara Municipal de Penacova, presidida por Humberto Oliveira, avançar, no âmbito do PARU (Plano de Ação de Regeneração Urbana) com a requalificação do icónico “Parque Municipal (Ténis)”, revitalizando assim “um dos históricos espaços públicos de eleição das gentes de Penacova, que por incúria, falta de manutenção ou até pela dificuldade de conter a exigente topografia acentuada que o caracteriza, foi deixado ao abandono.” 

A obra implicou um investimento de cerca de 500 mil euros estando previstos mais 100 mil para a colocação de telas de sombreamento. 

A inauguração deste renovado espaço teve lugar no dia do feriado municipal (17 de Julho de 2020) com a presença da Ministra da Coesão Territorial, Ana Abrunhosa, 80 anos depois de ter sido iniciado naquele local um sonho que ainda hoje perdura: acrescentar às singulares belezas naturais o poder da acção e do querer dos penacovenses em prol do seu bem-estar e daqueles que nos visitam. 

Sem comentários:

Enviar um comentário