23 março 2020

Quem terá sido o autor do diário (1907) encontrado em Lorvão?


“Os trabalhos e os dias em terras de Lorvão nos inícios do século XX” é o título de um artigo de Guilhermina Mota, da Universidade de Coimbra, publicado na Revista Portuguesa de História em 2016 a propósito de uns apontamentos encontrados dentro de um livro da Confraria das Almas ou Confraria dos Leigos.

O manuscrito espelha o “quotidiano de um habitante da região de Lorvão” que, entre 29 de Agosto de 1907 e 3 de Janeiro de 1908, “regista num diário pessoal acções, eventos, quase nada de emoções.”

Não se sabe o autor mas “este registo permite reconstituir parcialmente as tarefas com que se ocupa e parte da sua rede de relações sociais, onde se destacam as que se associam à Confraria das Almas. “

Alguém, em terras de Lorvão, registou, numa segunda-feira, 2 de setembro de 1907, o seguinte:

«Reguei feijões e coives concertei a porta do relogio puz a aza na tampa do forno, defolhei um pouco no Valr.º da Boiça, armei os barrotes p.ª fazer palheiro arrumado á tulha etc Veio o Ant.º que levou 18 mil rs para o j.º do Sr Duque».

“Ao longo dos meses que se seguem vai desenvolver muitas outras actividades que lhe tomam as horas e consomem as energias, mas que lhe merecem tal consideração que as deixa registadas em breves apontamentos.”

Diz Guilhermina Mota que “este diário pertence a um homem do campo, que assenta as minudências do seu dia a dia, quer as tarefas desenvolvidas, quer os momentos de recreação e vagar.”

“Seja como for, quem redige tem uma letra bem desenhada e uma exposição do pensamento ordenada e sintética que aponta para alguém com mão habituada à pena. Cultivar a escrita, dominar a disciplina do registo, sentir a necessidade de recordar o acontecido, tudo isto nos mostra um perfil que não corresponde àquele que, no dealbar de novecentos, se atribui ao campesinato, rústico, ignorante, incivilizado, muitas vezes analfabeto.”

Quem seria este homem que amanhava terras,  que se ajeitava como artesão, que também orientava obras de pedreiro, que movimentava dinheiro e, que “surpreendentemente” - acentua aquela investigadora – sabia escrever?

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