Só no concelho de Penacova
(território actual) foram cerca de 60 pessoas assassinadas, entre elas uma
criança, e perto de 80 casas incendiadas, não contando com a destruição total de 6
aldeias e das “casas principais”, não contabilizadas, de Oliveira do Cunhedo.
Atingidas pelo fogo posto também 2 igrejas, 1 capela e 1 residência paroquial.
Os relatos[1]
que cada paróquia - dos então arciprestados de Sinde, Arganil e Mortágua - fez
no rescaldo da incursão dos franceses, principalmente no primeiro trimestre de
1911, dão-nos uma ténue imagem do que realmente aconteceu.
A freguesia mais atingida em termos
de vítimas pessoais foi sem dúvida Farinha Podre: assassinados 16 homens e 9
mulheres. O mapa elaborado pelo pároco regista mesmo os locais e por vezes os
nomes. Na Sede da freguesia pereceram 3 homens e 3 mulheres, em Hombres 5 homens
e 3 mulheres, em Laborins 2 homens, no Carvalhal, na Cruz do Soito e no
Silveirinho 1 homem em cada uma das terras. Calcula-se que muitas outras
pessoas terão acabado por morrer na sequência dos maus tratos sofridos. Também
a destruição de 30 casas incendiadas nos dão uma ideia da violência e do terror
espalhado na actual freguesia de S. Pedro de Alva.
Na freguesia de S. Paio de
Farinha Podre assassinaram 1 criança, contabilizando-se no total 3 indivíduos
do sexo masculino e três do sexo
feminino. Além de 8 casas incendiadas também a Igreja sofreu igual ofensa.
Nesta, roubaram imagens e objectos de culto.
Todo o concelho sofreu de um modo
ou de outro. Apenas a freguesia de Sazes terá tido a sorte de passar à margem
destas desgraças. Refere o relato do arcipreste que “nesta freguesia não
entraram franceses alguns.”
A freguesia de Carvalho foi outra das que sofreram duros revezes. Não tanto em mortes mas sim em destruição. Morreu 1 indivíduo do sexo masculino e é importante recordar que as aldeias de Seixo, Soalhal, Pendurada, Lourinhal e Cerquedo foram totalmente incendiadas. Quanto a roubos o relatório traduz a situação em poucas palavras dizendo que “tudo se foi”.
Por falar em aldeias incendiadas
passemos à freguesia de Penacova. A aldeia do Felgar foi também completamente
destruído pelo fogo. Foi esta zona da freguesia (Felgar, Travasso, Sanguinho,
Ferradosa, Hospital, Balteiro e Ribas) a mais atingida pelos invasores,
registando-se “pesados roubos” de gado, porcos, fruta e alfaias religiosas. Das
capelas do Travasso e da Riba de Cima levaram o cálice e “todos os ornamentos”.
No que toca a mortes há a referência a 5 homens e 3 mulheres.
Passando a Lorvão, há o registo do assassinato de 4 homens e a ocorrência de inúmeros “roubos sacrílegos”. Nas
capelas do Roxo e do Caneiro foram roubados cálices, patenas, paramentos e
óleos.
Figueira de Lorvão “foi menos
atacada”… No entanto, mataram António Francisco e F. Henriques dos Santos e
ainda Ana Marques, de 45 anos, moradora em Alagoa.
Em Paradela assassinaram Manuel Carvalinho e Isabel Henriques,
ambos na casa dos 80 anos. Na Sobreira foi um homem de 40 anos: António
Silveira e ainda uma mulher de 50 anos, viúva, Isabel Lemos. As violações foram
outro dos dramas vividos, quer nesta freguesia, quer em todas as zonas
atingidas. Nesta freguesia queimaram a residência paroquial “com tudo o que
tinha dentro” e 16 casas tiveram igual destino. Roubaram “todo o grão, vinho e
azeite”, hortas e gado. Destruíram
searas e vinhas. Na Igreja “escavacaram” o trono, o altar-mor e o
sacrário. Queimaram todos os livros de Assentos, Pastorais e outros documentos.
Oliveira do Cunhedo e Travanca foram “visitadas” pelos franceses em Setembro de 1810, nas vésperas da
batalha do Buçaco, e em Março de 1811 quando retiravam pela margem esquerda do
Mondego.
Em Oliveira assassinaram 3 homens e 1 mulher e incendiaram
as “casas principais” da localidade. Roubaram casas, “grãos”, gado e a Igreja.
Na freguesia vizinha de Travanca, mataram 3 homens, sendo um
deles Manuel Rodrigues, sapateiro de Lagares, com mais de 80 anos. Outro foi
vítima de cutiladas. Uma mulher casada foi presa, acabando os soldados de Napoleão por “a
deixar”…provavelmente violada como tantas outras. Queimaram 7 das melhores casas e roubaram
tudo o que apanharam na residência paroquial. Na Igreja, que foi assaltada por
duas vezes, “arrancaram a pedra de Ara”, destruíram o sacrário e relíquias e
até os galões dos paramentos levaram.
Em Friúmes assassinaram 6 homens e 4 mulheres. Luís António
levou um tiro na cara e João Reis foi enforcado na Igreja, escapando por
milagre. Incendiadas 15 casas, queimada a Igreja e a capela do Espírito Santo
em Vale do Tronco (que acabou por ser demolida). Roubaram 600 cabeças de gado, 800 alqueires de milho, 10 pipas de vinho e 60 alqueires de azeite.
Milhares de páginas se escreveram nestes 200 anos passados
sobre a chamada Guerra Peninsular. E quem se lembra das “vítimas mais humildes
e ignoradas”, das “populações civis espoliadas, cruelmente martirizadas e
assassinadas”? – perguntamos também, subscrevendo as palavras de Maria Antónia Lopes, da
Faculdade de Letras e Centro de História da Sociedade e da Cultura da
Universidade de Coimbra.
[1] Relatórios
elaborados pelos párocos e arciprestes da diocese de Coimbra, dando conta dos
“Estragos, incêndios e mortes causados pelo exército na invasão de 1810-1811”.
Financial funds services in UAE
ResponderEliminarLooking For Investors in UAE
Asset Management Companies in UAE
Funds in Dubai
Funds in UAE
watch winders in USA