Quase a terminar o século XIX, durante a vigência de um
governo presidido por Luciano de Castro, foi solicitado às “camaras municipaes
do paiz” um relatório sobre as condições de vida dos “povos”, suas necessidades
e aspirações . Deveriam também ser apresentados alguns “meios de remediar ou
atenuar o mal presente e preparar a prosperidade futura”.
Assim, a Câmara de Penacova enviou em 11 de Outubro de 1898,
ao então ministro das Obras Públicas, conselheiro Elvino de Brito, um documento que, passados quase 120 anos,
nos poderá ajudar a perceber melhor alguns dos problemas com que Penacova ainda
hoje se debate.
Dada a sua extensão, começaremos hoje por publicar a parte
inicial do relatório que depois de uma breve caracterização geográfica, tece
algumas considerações sobre a situação da agricultura.
“ O concelho de Penacova está situado a nordeste de Coimbra
e confina pelo norte com os de Mealhada e de Mortágua; pelo nascente com os de
Tábua e Arganil e pelo Sul com o de Poiares. A sua superfície é de 160 km2 aproximadamente;
a população é de 18 382 habitantes, isto é, cerca de 114 habitantes por
quilómetro quadrado.
O clima é frio e salubre, o solo muito irregular e
montanhoso, mas fértil. Por todo ele se
cultivam cereais, especialmente o milho e centeio, havendo também cultura de
trigo, cevada e aveia. É considerável a sementeira de batata e feijão. As
vinhas davam-se optimamente antes da invasão filoxórica, sendo o vinho de boa
qualidade; hoje estão sendo renovadas pela cepa americana, que vegeta
excelentemente.
A produção de azeite era ainda há poucos anos muito avultada
mas tem decrescido muito, devido à moléstia que seca as oliveiras.
Os castanheiros vegetaram optimamente mas estão igualmente
quase extintos pla moléstia que os afecta com grande prejuízo para este
concelho.
Há em geral bastantes árvores de fruto Das diversas
espécies, que se desenvolvem e frutificam bem e os frutos são saborosos,
segundo a sua qualidade.
Nos terrenos mais
fracos das encostas dá-se bem o pinheiro, sendo grande a extensão desta
sementeira e grande o seu rendimento em madeira e lenha.
As terras cultivadas dão boas pastagens.
Não há terrenos desaproveitados, a não serem, nas serras, os
baldios que são extensos e apenas servem para pastagens de gados, e nas margens
dos rios Mondego e Alva os areais em que se pode alargar muito cultura do milho e feijão pela notável
fertilidade dos terrenos marginais, enquanto são inundados pelas enchentes.
A riqueza não está acumulada, mas a propriedade, em geral,
excessivamente dividida. As terras amanhadas são na sua maior parte regadas com
a água das fontes e nascentes que há muitas, ou com a das ribeiras e rios
(Mondego e Alva) geralmente abundantes."
(CONTINUA)
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