Em meados de Outubro passado, o
Apocalipse de Lorvão, famoso pelas suas iluminuras, foi inscrito como registo
da Memória do Mundo pela UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação,
Ciência e Cultura).
No século VIII, Beato de Liébana, clérigo asturiano, escreveu o Comentário ao Apocalipse.
Mais tarde, no século XII (c.
1189), o monge Egas (ou Egeas) fez, no Mosteiro do Lorvão, uma cópia dessa obra, acrescentando comentários pessoais e ilustrando-a, ficando assim conhecida
como Apocalipse de Lorvão.
“A iluminura tem no período
românico um lugar de destaque, pois o homem sentia necessidade de explicar
os textos através da imagem, A imagem serve de intermediário visível para
atingir o invisível, é uma técnica diferente de apreensão do conhecimento.” – escreve
F. Brand, autor que iremos seguir de
perto nestes apontamentos.
Refira-se que outros documentos relativos
a Portugal foram também já declarados Memória do Mundo: a Carta de Pêro Vaz de Caminha
(1500), a versão castelhana do Tratado de Tordesilhas (1494) e o Diário da
Primeira Viagem de Vasco da Gama à Índia (1477-1499).
O Apocalipse de Lorvão, em conjunto com O Livro das Aves (datado
de 1184 e do mesmo autor) são considerados como os manuscritos mais ricos e
criativos em imagens sagradas, considerando o período em que foram feitos. O Comentário ao
Apocalipse foi copiado por Egeas em 1198, o que é atestado pela presença do seu
nome e data no cólofon (a nota final de
um manuscrito ou de um livro impresso): “Iam liber est scriptus / qui scripsit sit benedictus
/ qua … / ERA MCCXIIa [1189] / Ego egeas qui hunc librum scribsi si in
aliquibus / a recto tramite exivi, delinquenti indulgeat / karitas que omnia
superant.”
Este manuscrito é formado por 223 fólios com cerca de 340 x 247
mm e é constituído por 70 histórias,
cada uma com uma ilustração. Constitui o único exemplar em que sistematicamente
a imagem comenta o texto. É considerado como apresentando as melhores
iluminuras, mas também aqui não existe consenso entre os estudiosos. Wilhelm
Neuss chega mesmo a considerar as ilustrações extremamente primitivas e
infantis.
Pensa-se que terá havido, além do copista (Egeas) mais
dois iluminadores. Têm essa opinião, por exemplo, Peter Klein e Adelaide
Miranda. No entanto alguns afirmam serem um só, o monge copista e o iluminador.
CONTINUA
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