12 janeiro 2014

Louvado seja Deus pela Voz Solene do Órgão

Aspectos das obras de restauro / fotos da APDML
Na página do facebook da Associação Pró-Defesa do Mosteiro de Lorvão, podemos ler que “o órgão já tem voz”. Aí se noticia que se encontra “em fase de afinação e instalação final dos últimos registos o órgão monumental de Lorvão”. Recorda-se que foram “mais de duas décadas de luta” e acrescenta-se que “os trabalhos deverão ainda prolongar-se pelo mês de Janeiro, findos os quais poderemos assistir ao concerto inaugural.”

A importância histórica, cultural, musical do Órgão de Lorvão é inegável. Mais uma vez vamos reler um dos muitos escritos do Prof. Doutor Nelson Correia Borges no Notícias de Penacova.

NOTÍCIAS DE PENACOVA_1968
Este ilustre historiador penacovense escreveu (1968) naquele periódico um conjunto de quatro artigos sobre este tema onde nos apresenta “alguns dados de ordem técnica e histórica”. No primeiro artigo Nelson Correia Borges lamenta que “depois de importantes obras de restauro levadas a cabo em 1955 pela DGEMN e que fizeram voltar o alentado instrumento ao seu antigo esplendor, dum momento para o outro elas ficassem inutilizadas parcialmente por injustificável incúria, em virtude de ter-se dado infiltração de água das chuvas durante umas obras de reparação do telhado”.  
Segundo este especialista da temática lorvanense “é provável que existisse em Lorvão em eras mais recuadas um órgão”. Todavia “ o primeiro órgão de que há notícia foi o que em 1718 mandou fazer a abadessa D. Cecília d’Eça e Castro. A abadessa D. Maria da Trindade resolveu reformá-lo, mandando mudá-lo, acrescentar-lhe mais registos e dourar-lhe a caixa.
Entretanto dão-se as obras de reconstrução da Igreja que começaram em 1748 e se prolongaram por cerca de vinte anos. Depois das obras, as religiosas quiseram dotar os mosteiro com um órgão que primasse pela “grandiosidade e perfeição técnica.” Assim, foi a abadessa D. Madalena Maria Joana Caldeira (1783-1786) que encomendou a António Xavier Machado e Cerveira, (que seria irmão de Machado de Castro) o actual órgão. Só ficou concluído em 1795, com o número 47 de fabrico. Em estilo “neo-clássico, conjuga-se admiravelmente com o interior da Igreja” – escreve o Prof. Nelson Correia Borges.Apresenta duas fachadas, uma para a nave e outra para o coro, “ sendo o único, no nosso país, com este aspecto”.
“Pouco tempo depois vieram as invasões francesas com os seus dias atribulados e começou a decadência que já se adivinhava com o fim do séc. XVIII. O tempo se encarregou de emudecer o alentado instrumento que desde os fins do século passado [XIX] não voltou a ouvir as suas vozes.”

A opinião do eminente organista americano  E. Power Biggs que visitou Lorvão

Em 1955 o órgão “recuperou a voz”  graças às obras acima referidas, levadas a cabo pela Firma João Sampaio (Filhos), Lda. Neste restauro foram introduzidas modificações nos foles e na cobertura do teclado. Os primitivos foles eram em forma de cunha e necessitavam de dois homens que tinham de se revezar com frequência. Foram substituídos por um único fole paralelo, instalado em sala contígua, com a vantagem de fornecer sempre a mesma pressão de ar. O seu conjunto harmónico é constituído por cerca de dois mil e quinhentos tubos de metal e madeira.
 “Por nunca ter sido publicado – refere o Prof. Nelson Correia Borges – julgamos de certo interesse dar a conhecer o seu dispositivo”.
São dois os teclados que agrupam os sessenta e um registos, correspondendo a dois órgãos distintos: um voltado para a igreja e outro para o coro.
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Descrição do complexo dispositivo harmónico, publicado pela 1ª vez pelo
Prof. Nelson Correia Borges em 1968

A pedaleira é composta por cinco pedais para o comando dos diversos efeitos (crescendos, decrescendos…). O tubo mais pesado tem cerca de 120 quilos e mede aproximadamente 6 metros de comprimento e tem 40 centímetros de diâmetro. Pode ver-se na fachada voltada para a nave.
“Teria o órgão de Lorvão tido música escrita propositadamente para ele? “ - tudo leva a crer que sim – entende Nelson Correia Borges - pois Lino d’Assunção refere uma monja que era exímia em música, D. Teresa Sancha Mafalda e que teria composto muitos hinos, uma missa e várias matinas.
Já em 1968 Nelson Correia Borges escrevia que “ é necessário que o órgão volte a poder fazer-se ouvir” (…) oferecendo, assim, Penacova  “a par de bucólicos passeios nas barcas serranas do manso Mondego, recitais no órgão de Lorvão”

Esse sonho parece agora estar prestes a ser concretizado. 

OBS: o título desta postagem refere-se a um conhecido cântico litúrgico, verso que é subtítulo dos artigos referidos.

3 comentários:

  1. Muito obrigado pelo artigo. Já tendes informações sobre o concerto de inauguração?

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  2. Inauguração a 03 de Maio de 2014, pelas 21horas

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