domingo, setembro 12, 2010

Nova Escola do 1º Ciclo vai abrir sob o signo da polémica e do insólito…


Em tempos, assistimos em Coimbra a uma conferência de Siza Vieira e uma ideia que retivémos foi a do “ diálogo” entre o existente e o novo, como pressuposto para qualquer projecto arquitectónico. Falava a propósito da sua obra em Marco de Canaveses, a Igreja de Santa Maria. Sem entrar em mais pormenores , serve esta introdução para chegar à polémica que corre por Penacova pelo facto de a nova escola estar paredes meias com o cemitério da Eirinha, sujeitando os alunos, não só à vista permanente e diária dos socalcos daquele, mas também à movimentação inevitável em dias de funeral, conforme o Penacova Actual denunciou recentemente. Também o blogue O Homem das Tabernas já havia há dias “ brincado”, não com a questão do cemitério, mas sim com o facto do edifício ter falta de espaços de recreio abertos, ser um edifício muito fechado e com pouca penetração de luz natural. Assim, parecendo “ mais talhado para a clausura e reclusão” os autores do blogue adiantam que a autarquia já estaria a tratar de reconverter tudo aquilo em Estabelecimento Prisional.

Mas voltemos à questão do diálogo entre as pré-existências e as novas estruturas. À luz desta ideia, fácil é verificar que a concepção e implantação do projecto, a ter que ser naquele local – e esse é outro motivo de polémica - não terá conseguido uma boa solução, minimizando a exposição da escola e dos alunos ao “ silêncio da morte“ , inevitavelmente quebrado quando o sino da igreja tocar os “ sinais” e um funeral daí a pouco irromper pelo cemitério adentro.

Vários psicólogos se têm debruçado sobre a reacção das crianças perante a morte, nas diferentes fase do desenvolvimento. Com a internet é fácil, hoje, ler algumas coisas sobre esta questão. Ver, por exemplo aqui e também uma outra posição possivelmente mais questionável. Seja como for, é legítima a preocupação, não só dos pais, mas também dos professores que ali irão trabalhar.

Curiosamente o Governo através do Decreto-Lei n.º 80/2010 de 25 de Junho veio revogar o Decreto-Lei n.º 37 575,de 8 de Outubro de 1949, que estabelecia uma distância mínima de afastamento dos edifícios escolares em relação a cemitérios, nitreiras ou fábricas cujas emanações fossem incómodas ou doentias e também a novos estabelecimentos cuja edificação e funcionamento fossem susceptíveis de constituir vizinhanças incómodas, perigosas ou insalubres para os edifícios escolares. Segundo o texto do diploma, este “ tem como principal objectivo actualizar a legislação que, em face da evolução na área do urbanismo e do ambiente, se tornou anacrónica. Como vemos esta legislação ainda é recente. Não se compreende que, quando ainda estava em vigor o tal decreto de 1949, tenha sido licenciada a construção duma escola mesmo em frente dum cemitério. Não acreditamos que tenha sido por desconsideração pela educação, pelas crianças, pelos professores, que se tenha feito esta opção.

A polémica está pois, lançada, apesar de na entrevista que o Vereador da Educação concedeu ao jornal Nova Esperança, nada ser referido, tendo sido salientada, isso sim, “ a qualidade das instalações do Centro”.

Sobre polémica e sobre o insólito número um ficamos por aqui.

O insólito número dois, é o facto de, segundo parece, a nova escola ir abrir sem as obras estarem cabalmente concluídas e sem que o equipamento esteja todo instalado. Pelo que refere o Penacova Actual, “ o mobiliário destinado às salas de aulas transitou das escolas desactivadas para a nova EB1 “. Atrasos há sempre nestas coisas de obras. Quantas vezes, por esse país fora, se anunciou a abertura de novos centros educativos em Setembro e só alturas da Páscoa tal foi possível? Estas obras não estão assim tão atrasadas e sendo assim, não seria de adiar por algum tempo a abertura? São questões que o cidadão comum legitimamente coloca. Sem pôr em causa a ponderação consciente dos responsáveis, não deixa de ser um aspecto insólito a manchar a abertura deste novo equipamento educativo, cheio de aspectos positivos também. Cremos que disso ninguém duvida.

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