10 janeiro 2021

Poetas penacovenses (VIII): A tentar descodificar este tempo, em sofrimento: um poema de Luís Amante

O meu “circuito”


Pela manhã, da minha janela, por baixo dela

O meu circuito parecia que encolheu

... ou que, dando guarda à liberdade, se encheu!

Hoje é Domingo, segundo do novo ano

Que se segue a um outro, espartano

As pessoas encolhidas de geada branda

Sem benesses ou compadrio

Vieram respirar ar puro

Vieram a fugir do confinamento

Vieram ganhar coragem para o sofrimento

Que se avizinha ...

Desci pra me juntar à multidão

Pra sentir de perto o bater do coração

Sapatilhas calçadas

Ceroulas apertadas

E calças de fato de treino por cima

Com anorac de neve

De frente no caminho solto

Uma família de máscaras: uma azul clara; outra verde; outra preta

Atrás com distância de segurança

Outra família sem máscara

Rapaz atleta; rapariga de olhar suave ... os filhos de bicicleta

A seguir um grupo grande a correr sem gemer

De gente madura transportando frescura

Quatro voltas alargadas no espaço do meu tempo

Outras quatro circunscritas à volta do Estádio Universitário

E, sempre, o mesmo pensamento:

- quem será que está livre do vírus danado?

- como é que, afinal, ele se tem propagado, assim, tão descontrolado?

Daqui a cinco dias terminam os meus sessenta e seis

Gostava que a passagem fosse no ambiente do “ar puro” da minha terra

Encostadinho ao cheirinho da nossa serra

A olhar pro Rio, envergonhado com frio

Mas não vai dar

Não posso passar

Os meus conterrâneos estão lá a sofrer

... e no meu novo “circuito”, só dá pra temer!

 

Luís Pais Amante

Telheiras Residence,10Jan21; 14h00

A tentar descodificar este tempo, em sofrimento.

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Obrigado Dr. Luís. Muita saúde! Abraço

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