Pela manhã, da minha janela, por baixo dela
O meu circuito parecia que encolheu
... ou que, dando guarda à liberdade, se encheu!
Hoje é Domingo, segundo do novo ano
Que se segue a um outro, espartano
As pessoas encolhidas de geada branda
Sem benesses ou compadrio
Vieram respirar ar puro
Vieram a fugir do confinamento
Vieram ganhar coragem para o sofrimento
Que se avizinha ...
Desci pra me juntar à multidão
Pra sentir de perto o bater do coração
Sapatilhas calçadas
Ceroulas apertadas
E calças de fato de treino por cima
Com anorac de neve
De frente no caminho solto
Uma família de máscaras: uma azul clara; outra verde; outra
preta
Atrás com distância de segurança
Outra família sem máscara
Rapaz atleta; rapariga de olhar suave ... os filhos de
bicicleta
A seguir um grupo grande a correr sem gemer
De gente madura transportando frescura
Quatro voltas alargadas no espaço do meu tempo
Outras quatro circunscritas à volta do Estádio Universitário
E, sempre, o mesmo pensamento:
- quem será que está livre do vírus danado?
- como é que, afinal, ele se tem propagado, assim, tão
descontrolado?
Daqui a cinco dias terminam os meus sessenta e seis
Gostava que a passagem fosse no ambiente do “ar puro” da
minha terra
Encostadinho ao cheirinho da nossa serra
A olhar pro Rio, envergonhado com frio
Mas não vai dar
Não posso passar
Os meus conterrâneos estão lá a sofrer
... e no meu novo “circuito”, só dá pra temer!
Luís Pais Amante
Telheiras Residence,10Jan21; 14h00
A tentar descodificar este tempo, em sofrimento.
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Obrigado Dr. Luís. Muita saúde! Abraço
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