10 maio 2019

Notas para a história da indústria dos palitos em Lorvão

Pormenor de gravura da revista "ILUSTRAÇÃO PORTUGUESA"
(1913)


Existe muita bibliografia sobre a indústria dos palitos em Lorvão. Em 1916, a Revista “Arquivos da Universidade de Lisboa” publicou um extenso artigo de José Henrique de Azeredo Perdigão (1896-1993), estudante de Direito.

O artigo daquele que mais tarde viria a ser o 1º Presidente da Fundação Calouste Gulbenkian intitulava-se “A indústria em Portugal - Notas para um inquérito”. Ali se analisa o estado das indústrias em cada um dos distritos do continente e “ilhas adjacentes.”

Referindo-se ao distrito de Coimbra, começa por salientar que “não existem grandes fábricas, verificando-se sim “um grande desenvolvimento nas pequenas indústrias”.

A indústria algodoeira é considerada como “a única verdadeiramente notável” seguindo-se a moagem e o fabrico do papel (Góis, Lousã e Miranda do Corvo). As fábricas de serração de madeira, a metalurgia (fundições e serralharias), a cerâmica (Coimbra, Figueira da Foz, Lousã e Penacova) e a indústria do calçado completam a lista das actividades industriais mais significativas.

A análise do distrito de Coimbra, naquele estudo de Azeredo Perdigão, termina com a referência a Lorvão: “Entre as indústrias caseiras e rurais devemos citar a dos palitos, muito desenvolvida, especialmente em Penacova e Lorvão.” 

“Esta indústria que merece um pouco de estudo, exerce-se nos concelhos de Poiares, Coimbra e Penacova, sendo o principal centro de fabrico a aldeia de Lorvão. O trabalho é manual e só há pouco tempo ainda é que em Penacova se instalou uma fábrica de palitos que deve empregar 34 operários.”

Depois desta introdução seguem-se algumas notas estatísticas, afirmando-se que “na freguesia de Lorvão que deve ter 3 700 habitantes, há 2 220 operários paliteiros ; no concelho de Penacova devem ocupar-se nesta indústria 3.484 indivíduos; no concelho de Poiares, 540; no de Coimbra, 174; ao todo, 4 198 paliteiros, sendo 296 rapazes, 1.605 raparigas, 424 homens e 1 873 mulheres, o que nos revela uma grande preponderância nesta indústria caseira do trabalho feminino, o que aliás acontece com quási todas as outras”.

Ficamos a saber que um “operário destro” podia produzir, por dia, “ 50 palitos - flor ou 2000 marquezinhos, ou 2400 ordinários, ou 4000 maganos”, ganhando assim o” ínfimo salário de 120 ou 140 réis.”

Ao nível do distrito de Coimbra, o “valor económico da indústria paliteira” traduzia-se nos seguintes dados: “valor de maços produzidos: 10 656$00; valor da madeira empregada como matéria prima: 48 491 $00; lucros para os fabricantes: 146 522$00; lucros para o comerciante: 67 368$00; lucros para o fornecedor de madeiras: 16 911$79; lucros totais, ou riqueza que para a região representa a indústria paliteira: 230 801$79.”

Este documento da Universidade de Lisboa, publicado em 1916, sublinha que “uma das coisas mais curiosas que se verifica na região paliteira, é a existência do palito-moeda” pois, “como a maior parte das casas comerciais daqueles concelhos vendem palitos em quantidade, aceitam-nos em pagamento de géneros alimentícios e outros artigos.”


“O empacotamento ou se faz em embrulhos de papel que reunidos formam um maço, ou em pequenas caixas contendo aproximadamente 400 palitos. Há várias casas de empacotamento e exportação que compram os palitos à indústria doméstica e depois de aperfeiçoados os enviam para todo o país e até para o estrangeiro, sendo as Repúblicas Sul-Americanas um bom consumidor deste produto regional” – acrescenta ainda Azeredo Perdigão que não deixa de reconhecer as limitações deste seu trabalho perante a inexistência de “verdadeiras estatísticas industriais”. 


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