quinta-feira, setembro 19, 2024

O Roxo em exposição de fotografia


A exposição de fotografia “Olhando à minha volta” de João Pais de Faria foi inaugurada a 27 de Julho na Galeria Almedina do Museu Municipal de Coimbra. No conjunto das imagens figura um pormenor do Roxo captado em 2009.

João Pais de Faria trabalhou praticamente toda a sua vida em Coimbra e a fotografia sempre fez parte dos seus interesses. Esta é a sua primeira exposição, que tem como mote “Uma fotografia não se explica, sente-se!”. A mostra, de entrada livre, pode ser visitada até 22 de setembro,

João Pais de Faria é técnico de Informática aposentado, natural de Coimbra, onde residiu e trabalhou quase toda a sua vida. Autodidata nesta área, fazia fotografia pelo gosto da captura do momento e não se preocupava propriamente com a sua divulgação. Contudo, perante a apreciação positiva das pessoas que o rodeavam, decidiu divulgar as fotos através de alguns sites, avançando agora com a sua primeira exposição com o apoio da Divisão de Museologia da Câmara Municipal de Coimbra.                                                                                              (in coimbra.pt)




Governadores civis (6): Vítor Fernando da Silva Simões Alves


Naturais de Penacova, ou a este concelho ligados por casamento, contam-se seis Governadores Civis. Conforme já registado no Penacova Online, recordemos: José Joaquim dos Reis Vasconcelos (Governador Civil Interino de Lisboa, 1846); Fernando Augusto de Andrade Pimentel de Melo (Governador Civil de Coimbra, 1876 e 1878-1879); Júlio Ernesto de Lima Duque (Governador Civil de Évora, 1904-1905); Artur Ubaldo Correia se Sousa Leitão (Governador Civil de Leiria, 1904-1906); Luís Duarte Sereno (Governador Civil de Coimbra, 1905) e Vítor Fernando da Silva Simões Alves (Governador Civil de Bragança, 2009).

Completamos hoje a série de notas biográficas sobre estas seis personalidades, transcrevendo o que relativamente a Vítor Alves, nascido em Sazes do Lorvão em 1956, se encontra publicado em Os Governadores Civis do Distrito de Bragança ( 1835-2011), edição da Câmara Municipal de Bragança, 2024:



VÍTOR FERNANDO DA SILVA SIMÕES ALVES
"Professor do ensino secundário e superior. Licenciado em História e mestre em História Económica pela Universidade de Coimbra. Membro da Assembleia Municipal de Bragança (1989-1997 e 2005-2009). Vereador da Câmara Municipal de Bragança (1997-1998). Presidente da Assembleia de Freguesia de Sazes de Lorvão (2005-2009 e 2009-2013). Governador civil de Bragança (2009).

Natural da freguesia de Sazes de Lorvão, concelho de Penacova. Filho de Avelino Simões Alves e de Maria Idalina da Silva. Casado com Olga Maria Cabrita Nunes, de quem teve dois filhos, Ricardo Nunes Alves e Carolina Nunes Alves.

Em 1978, iniciou a carreira profissional como docente do ensino secundário, antes ainda de concluir a licenciatura em História, na Universidade de Coimbra, o que veio a acontecer em 1983, com a classificação de 16 valores.

Em 1987, passa a lecionar na Escola Superior de Tecnologia e Gestão (ESTiG) do Instituto Politécnico de Bragança (IPB).

Neste âmbito, foi coordenador do Departamento de Ciências Sociais da Escola Superior de Educação de Bragança (1988-1990), coordenador do Departamento de Direito e Ciências Sociais da ESTiG durante vários anos, presidente do Conselho Pedagógico da ESTiG (1998-1999) e diretor da Escola Superior de Tecnologia e Gestão de Mirandela, do Instituto Politécnico de Bragança. (1999-2006).

Em 1989, obteve o grau de mestre em História Económica, também pela Universidade de Coimbra, com a classificação final de Muito Bom, tendo apresentado uma dissertação subordinada ao tema Sazes de Lorvão de 1660 a 1670. Organização do Espaço, Sociabilidade e Poderes numa Paróquia Rural.

Em 1991, efetuou uma pós-graduação em Economia na Universidade Lausanne (Suíça), e em 2009, requereu a prestação de provas de doutoramento em História Económica na Universidade de Coimbra, com uma tese sobre o Quotidiano e Poderes em Torre de Moncorvo, do Marquês do Pombal ao Liberalismo.

Publicou numerosos trabalhos em revistas nacionais e internacionais e foi coordenador de múltiplos projetos, entre os quais, A Expansão da Vinha no Douro Superior nos Séculos XVIII e XIX; As Políticas de Abastecimento no Douro Superior (1700- 1900); Poder e Sociedade em Torre de Moncorvo (1750-1830); Programa de Promoção de Trás-os-Montes e Alto Douro (2005-2006); Plano Regional de Ordenamento do Território de TMAD (2004-2006); e Avaliação do Programa da Rede Social de Mirandela (2006).

Fora do âmbito académico, foi gestor do Programa de Desenvolvimento Integrado do Vale do Côa (PROCÔA) em 1996 e 1997, e em março de 2010 foi nomeado diretor executivo do Agrupamento de Centros de Saúde do Alto Trás-os- -Montes I – Nordeste.

Militante do Partido Socialista, desempenhou vários cargos de relevo na Câmara Municipal de Bragança, quer como membro da Assembleia Municipal (1989-1997 e 2005-2009), quer como vereador (1997-1998).

Foi também presidente da Assembleia de Freguesia da sua terra natal, Sazes de Lorvão (2005-2009 e 2009-2013).

Em 15 de julho de 2009, na sequência do pedido de exoneração de Jorge Gomes como governador civil de Bragança, foi nomeado para o mesmo cargo, por resolução do Conselho de Ministros de 9 de julho, sob proposta do ministro da Administração Interna, Rui Pereira.

O convite, nas palavras do próprio, “surpreendeu-me um pouco, pois nos últimos anos não tenho andado na política ativa, embora não me tenha afastado totalmente, pois mantive o sentido de ajuda pública”, mas foi essa “noção de serviço público e o facto de querer servir quando é necessário” que o levaram a responder afirmativamente, embora sob o compromisso de apenas “substituir o antigo governador civil enquanto se verifique essa necessidade, ou seja, até às eleições legislativas”.

Efetivamente, Vítor Alves seria exonerado a 19 de novembro seguinte, na sequência da recomposição do elenco de governadores civis feita pelo segundo Governo presidido por José Sócrates, que havia sido reeleito em setembro.

Apesar de curto, o seu mandato foi alvo de algumas atribulações. Desde logo, no contexto das referidas eleições legislativas, membros do Partidos Social Democrata de Vinhais reclamaram junto da Comissão Nacional de Eleições “em virtude de uma câmara de vigilância apontada diretamente” para um posto de voto, levando o governador civil de Bragança a pronunciar-se sobre o assunto, concluindo Vítor Alves que tais alegações não tinham qualquer fundamento.

Nas eleições autárquicas, realizadas no mês seguinte, houve necessidade de repetir a votação em três freguesias do distrito, depois de se observar um empate entre as candidaturas de PS e PSD, suscitando a intervenção de Vítor Alves na organização do novo processo eleitoral.

Foi ainda confrontado, durante o mês de agosto de 2009, com os graves incêndios florestais que afetaram o distrito de Bragança, com particular intensidade em Calvelhe, onde o fogo destruiu mais de mil hectares de floresta, trabalhando de perto com a Autoridade Nacional de Proteção Civil na articulação dos meios que intervieram no combate às chamas.

Ao presente [2015) reside em Bragança, onde continua a lecionar na ESTiG/IPB.

Fontes e Bibliografia: Informações prestadas por Vítor Alves | Diário da República, Série II, n.º 144/2009, 28.7.2009; n.º 166/2009, Série II, 27.8.2009; e n.º 230/2009, Série II, 26.11.2009; Série II, n.º 71, 13.4.2010 | Comunicado do Conselho de Ministros de 9 de Julho de 2009 http://www.portugal.gov.pt/pt/o-governo/arquivo-historico/governos-constitucionais/gc17/comunicados-cm/cm-2009/20090709.aspx| Jornal Nordeste, 15.7.2009 |Correio da Manhã, 11.10.2009|LUSA, 15.10.2009."

terça-feira, setembro 17, 2024

𝕯𝖆 𝖒𝖎𝖓𝖍𝖆 𝖏𝖆𝖓𝖊𝖑𝖆:: GRITO pelos Bombeiros de Portugal


Fui Bombeiro Voluntário de Penacova, na minha juventude!

Sou sócio desta Corporação Humanitária há tanto tempo, que já não me lembro bem a data, quase de certeza aproximada a meio século.

Tínhamos um carro (Bedford) e uma ambulância (VW sanduíche). Mas éramos bravos, estóicos, resilientes e, ao mesmo tempo, gratificados por vestir aquela farda!

Orgulhosos!

As pessoas da terra sabiam como nos expúnhamos ao perigo e, sem dúvida, reconheciam-nos.

Um dia, num incêndio fora do nosso concelho (em Vale da Ovelha, do concelho de Mortágua) mas bem nas nossas extremas, que eu já não consigo datar, mas entre 1969 e 1971) o Vasco Viseu, há pouco regressado da tropa (Angola, Pedra Verde) após o toque da sirene, pegou no volante e, acompanhado pelos irmãos (Quim Zé e Luís) e por mim (acho que me chamavam Cadete) arrancou em direção ao fogo. Pelo caminho (à Igreja) apareceu o António Dias ainda a vestir-se, porque tinha estado noutro fogo há pouco tempo.

E lá fomos nós (tanque cheio, moto-serras, picaretas, pás, etc) para fazer o bem, num terreno vizinho, voluntariamente. Até Vale da Ovelha.

Do que interessa contar é a circunstância de termos sido “quase comidos” pela chama, que se preparava para nos passar por cima, sem sabermos donde surgiu.

O saudoso Vasco (que ainda não tinha digerido já não estar no meio dos tiros) e que veio a ser um Comandante de uma enorme dimensão e prestígio da nossa Corporação, abriu a porta do carro e começou aos gritos:

- saiam todos por esta porta (o fogo estava na direita do Bedford): rolar, rolar, rolar.

E assim foi: enrolados serra abaixo, capacetes pelo caminho, machados a dar de frosca, corda queimada e roçada, entrámos numa ribeira com água…

E o fogo passou, o carro chamuscou, mas nenhum de nós se afogou!

O Vasco tinha visto o local para onde nos ia levar. Era o Comandante daquela “brigada?” e, como tal, assumiu a nossa proteção.

Este foi, só, um dos sustos maiores da minha vida; o outro foi na Costa do Marfim…

E perguntará o Leitor:

- qual o interesse disso agora?

É só o facto de, ali perto, terem falecido 3 Bombeiros há poucas horas; ou melhor, duas Bombeiras e um Bombeiro, da Corporação vizinha de Vila Nova de Oliveirinha, que me fazem vergar perante os seus familiares, que não conheço.

A vida do Bombeiro está sempre em perigo!

A vida do Bombeiro continua a não valer nada!

A Família do Bombeiro está, sempre, com o coração nas mãos!

O reconhecimento aos Bombeiros não existe nesta sociedade da cadeira e do computador, do Ipad e do telemóvel…

Só se sabe que os Bombeiros existem em ocasiões como a que estamos a passar, já com baixas contabilizadas.

Há dinheiro “a jorro” para tudo, menos para dar dignidade ao Estatuto do Bombeiro Voluntário!

Mas estarão 5.500 a trabalhar sem dormir; sem descansar; se calhar sem comer; muitos, a muitos quilómetros de casa.

E, se tiverem um qualquer problema de sinistralidade, muito provavelmente, poucos lhes darão a mão.

É tempo de gritar!

Já não é tempo de mendigar…

Vivam os Bombeiros Voluntários Portugueses!


Luís Pais Amante


domingo, setembro 15, 2024

In memoriam: Joaquim Leitão Couto (15.9.1940 - 25.6.2024)

Completaria hoje, 15 de Setembro, 84 anos de vida o Dr. Joaquim Leitão Couto. Tive a honra e o privilégio de com ele conviver quer no campo político, quer enquanto co-autor de algumas das suas obras publicadas. 

O Penacova Online presta aqui e agora uma simples homenagem a esta figura ilustre do nosso concelho, publicando alguns recortes de imprensa online e impressa, aquando do seu falecimento, que muito dizem da sua pessoa como médico, como político e como grande amigo de Penacova. 


In SPOT- SOCIEDADE PORTUGUESA DE ORTOPEDIA E TRAUMATOLOGIA

Faleceu na terça-feira, dia 25 de junho, aos 83 anos, o Dr. Joaquim Leitão Couto, nascido em Viseu, em 1941 [NR:1940]. Foi um notável médico cuja vida e carreira deixaram marcas profundas, criando um legado de serviço e dedicação ao próximo que será lembrado por muitos.

Desde cedo, o Dr. Joaquim Leitão Couto demonstrou uma vocação para o serviço comunitário e uma paixão pela Medicina. Após se formar, radicou-se em Coimbra, onde se destacou como Assistente na Faculdade de Medicina e como chefe do Serviço de Ortopedia dos Hospitais da Universidade de Coimbra. Sob sua liderança, o serviço de Ortopedia tornou-se uma referência na região, graças à sua dedicação incansável e à sua busca pela excelência no atendimento aos pacientes.

O Dr. Joaquim Leitão Couto não se limitou apenas à sua prática médica. O seu compromisso com o bem-estar das pessoas levou-o a Penacova, terra da sua esposa, falecida em 2009. Lá, tornou-se uma figura central, envolvido em várias instituições locais, incluindo os Bombeiros e a Santa Casa da Misericórdia. A sua dedicação a Penacova era evidente e incansável, contribuindo significativamente para o desenvolvimento da comunidade, tanto no âmbito social quanto cultural.

Além destas atividades, o ortopedista também se envolveu ativamente na vida política e cultural de Penacova. Entre 1979 e 1982, presidiu a Câmara Municipal, onde trabalhou incansavelmente para o progresso do concelho. Mais tarde, assumiu a presidência da Assembleia Municipal, continuando a sua missão de servir a comunidade. A sua paixão pelo património levou-o a ser um dos grandes mentores do Museu do Moinho Vitorino Nemésio, na Portela de Oliveira, uma obra que reflete o seu amor pela história e pela cultura local.

Em reconhecimento à sua contribuição inestimável para a comunidade, o Dr. Joaquim Leitão Couto foi distinguido com a Medalha Municipal de Honra de Penacova, em 2022, durante as comemorações do feriado municipal. Esta distinção, a mais alta do município, é um testemunho do impacto duradouro do seu trabalho e da sua dedicação à terra que amava.

O desaparecimento do Dr. Joaquim Leitão Couto marca o fim de um ciclo de uma vida dedicada ao serviço dos outros. Deixa uma herança de bondade, conhecimento e serviço que continuará a inspirar todos aqueles que tiveram o privilégio de o conhecer.

Obrigado, Dr. Joaquim Leitão Couto, pela sua dedicação e ensinamentos que deixa.

Até sempre


In CORREIO DA BEIRA SERRA


O médico e antigo presidente da Câmara Municipal de Penacova Joaquim Leitão Couto faleceu esta madrugada. Natural de Viseu, vivia em Coimbra e tornou-se, ao longo dos anos, uma referência incontornável de Penacova, concelho de onde era natural a esposa, falecida em 2009.

Assistente da Faculdade de Medicina, foi chefe de Serviço do Ortopedia dos Hospitais da Universidade de Coimbra e manteve sempre uma forte intervenção na sociedade civil, o que o levou a conquistar a presidência da Câmara Municipal de Penacova entre 1979 e 1982. Além disso, também presidiu à Assembleia Municipal.

Em Penacova, Joaquim Leitão Couto deu muito de si, associando-se aos Bombeiros, à Santa Casa da Misericórdia e a outras instituições. Publicou também várias obras de várias obras sobre o património concelhio. Foi um dos mentores do Museu do Moinho Vitorino Nemésio, na Portela de Oliveira, do qual foi um dos grandes mentores. Uma obra que o Município de Penacova reconheceu, distinguindo Joaquim Leitão Couto, em 2022, nas comemorações do feriado municipal, com a atribuição da Medalha Municipal de Honra, a mais alta distinção do município.


In CM-PENACOVA


Joaquim Leitão Couto foi presidente da câmara de Penacova entre 1979 e 1982.

Natural de Viseu, viveu em Coimbra, mas com um carinho especial pelo concelho de Penacova, de onde era natural a esposa, falecida em 2009.

Na carreira médica foi chefe do serviço de ortopedia dos Hospitais da Universidade de Coimbra e assistente da Faculdade de Medicina.

Na gestão autárquica deixou a sua marca em vários domínios. Foi autor e co-autor de várias publicações relacionadas com o património local: "A rota dos moinhos e espaços de lazer nos rios", "Patrimónios de Penacova", "De Coimbra a Lorvão pela estrada verde", entre outros.

Foi responsável pela recolha e restauro de dezenas de peças que hoje fazem parte do espólio do Museu do Moinho Vitorino Nemésio.

Em 1980 organizou na Portela de Oliveira uma grande homenagem ao escritor açoriano que juntou vultos da literatura como Natália Correia e David Mourão Ferreira.

Em 2022, foi distinguido com a Medalha de Honra, a mais alta condecoração municipal.


In DIÁRIO DE COIMBRA

Terça, 25 de Junho de 2024

Faleceu o médico e antigo autarca Joaquim Leitão Couto

O médico Joaquim Leitão Couto faleceu esta madrugada. Natural de Viseu, vivia em Coimbra e tornou-se, ao longo dos anos, uma referência incontornável para as gentes de Penacova, concelho de onde era natural a esposa, falecida em 2009.

Assistente da Faculdade de Medicina, foi chefe de Serviço do Ortopedia dos Hospitais da Universidade de Coimbra. Uma dedicação ao próximo que ultrapassou as fronteiras da medicina e, além de uma forte intervenção na sociedade civil, o levou a assumir uma intervenção política ativa, assumindo a presidência da Câmara Municipal de Penacova entre 1979 e 1982, município onde também presidiu à Assembleia Municipal.

Penacova, uma terra onde Joaquim Leitão Couto deu muito de si, associando-se aos Bombeiros, à Santa Casa da Misericórdia e a outras instituições. Um concelho onde também revelou a sua enorme paixão pelo património, plasmada na publicação de várias obras e na criação de outras, como o Museu do Moinho Vitorino Nemésio, na Portela de Oliveira, do qual foi um dos grandes mentores.

Uma obra que o Município de Penacova reconheceu, distinguindo Joaquim Leitão Couto, em 2022, nas comemorações do feriado municipal, com a atribuição da Medalha Municipal de Honra, a mais alta distinção do município.




In AS BEIRAS

A Câmara de Penacova vai decretar três dias de luto municipal, a começar hoje e até 27 de junho, pelo falecimento de Joaquim Leitão Couto, antigo presidente da Câmara Municipal de Penacova, que desempenhou funções entre 1979 e 1982.

Em comunicado partilhado nas redes sociais do município, é referido que Joaquim Leitão Couto tinha, nestes anos, contribuído para o desenvolvimento sustentado do concelho, tendo dado a maior notoriedade a Penacova nas mais diversas áreas”.

Desta forma, o município expressa o seu profundo pesar, bem como a mais sentida solidariedade para com os seus familiares e amigos, refere a mesma nota

A bandeira municipal será colocada a meia haste em todos os edifícios públicos municipais em que a mesma seja ou deva ser hasteada, recomendando-se ademais às freguesias do concelho de Penacova, através das respetivas juntas/uniões, que procedam de igual modo.


In COMARCA DE ARGANIL





OBRAS REGISTADAS NA BNP



1 - Patrimónios de Penacova : apontamentos para a sua valorização e divulgação / Joaquim Leitão Couto, David Almeida ; pref. Nelson Correia Borges. - 3ª ed. - Penacova : Câmara Municipal de Penacova, D.L. 2020. - 118 p. : il. ; 22 cm. - ISBN 978-972-99628-2-0

2 - De Coimbra a Lorvão pela estrada verde / Joaquim Leitão Couto, David Gonçalves de Almeida ; colab. António José Silva Calhau... [et al.]. - [S.l. : s.n.], D.L. 2020 : Fig - Indústria Gráfica. - 110 p. : il. ; 24 cm. - ISBN 978-989-54949-0-3

3 - Patrimónios de Penacova : apontamentos para a sua valorização e divulgação / Joaquim Leitão Couto, David Almeida ; pref. Nelson Correia Borges. - 2ª ed. - Penacova : Câmara Municipal de Penacova, D.L. 2017. - 118 p. : il. ; 22 cm. - ISBN 978-972-99628-2-0

4 - Os sãopedralvenses da diáspora / Alfredo Santos Fonseca ; pref. Joaquim Leitão Couto. - [S.l.] : Alfredo Santos Fonseca, 2012. - 207, [2] p. : il. ; 23 cm

5 - Patrimónios de Penacova : apontamentos para a sua valorização e divulgação / Joaquim Leitão Couto, David Almeida ; pref. Nelson Correia Borges. - Penacova : Câmara Municipal, D.L. 2012. - 118 p. a 2 colns : il. ; 22 x 25 cm. - Bibliografia, p. 113-115. - ISBN 978-972-99628-2-0

6 - Vila Nova do Couto de Baixo e a Quinta ao Pinheirinho / Joaquim Leitão Couto. - [Coimbra] : J. L. Couto, D.L. 2010. - 59 p. : il. ; 24 cm. - Bibliografia, p. 55

7 - Moinhos : moinhos de Rodízio e Azenhas / Adérito Medeiros Freitas ; [pref. Francisco Baptista Tavares, Joaquim Leitão Couto]. - Valpaços : Câmara Municipal, 2009. - 2 v. (311 ; 316 p.) : il. ; 24 cm. - Contém bibliografia

8 - Os mosteiros e o vinho / Joaquim Leitão Couto. - Coimbra : J.L. Couto, 2007 ([Figueira da Foz] : Offsetarte). - 72 p. : il. ; 24 cm. - Bibliografia, p. 71-72

9 - A rota dos moinhos e os espaços de lazer nos rios / Joaquim Leitão Couto. - Penacova : Câmara Municipal, 2005. - 31 p. : il. ; 25 cm

10 - Museu do Moinho Vitorino Nemésio : contributo para um glossário de molinologia / Joaquim Leitão Couto, Mafalda Sofia Pereira ; fot. Amável Ferreira... [et al.]. - 2ª ed. - Penacova : Câmara Municipal, 2005. - 80 p. : il. ; 24 cm. - Bibliografia, p. 79-80

11 - Museu do Moinho Vitorino Nemésio : contributo para um glossário de molinologia / Joaquim Leitão Couto, Mafalda Sofia Pereira. - Penacova : Câmara Municipal, 2001. - 80 p. : il. ; 24 cm. - Bibliografia, p. 79-80

12 - A rota dos moinhos e os espaços de lazer nos rios / Joaquim Leitão Couto. - Penacova : Câmara Municipal, 2000. - 31 p. : il. ; 24 cm



sexta-feira, setembro 13, 2024

𝕯𝖆 𝖒𝖎𝖓𝖍𝖆 𝖏𝖆𝖓𝖊𝖑𝖆: Matar Crianças? Porquê?


Matar Crianças? Porquê?

É bem certo que a Ordem Internacional já quase não tem valor e que a ONU tem resvalado imenso nas suas obrigações de a cuidar.

O caos está instalado e o emaranhado dos interesses em que se tem envolvido esta Organização, faz com que se mantenha uma marionete de luxo -com benefícios quase perpétuos para os seus mandarins- absolutamente nas mãos dos Países Fortes, que se confundem com os que detêm direito a veto, no Conselho de Segurança.

Independentemente disso, a verdade é que subsistem princípios que eu [e muita gente de bem] pensávamos que eram absolutamente invioláveis, como o que diz respeito aos Direitos das Crianças. Mas o que se passa é absolutamente execrável!

Os Direitos das Crianças estão integrados numa Declaração Universal que decorreu da fundação da Organização Save The Children, cuja finalidade foi auxiliar os orfãos da Primeira Guerra Mundial.

Às vezes é conhecida como Declaração de Genebra; foi elaborada por Eglantyne Jabber e foi adoptada pela Liga das Nações em 1924 e aprovada de forma estendida pelas Nações Unidas, seguidamente.

A condição de Criança, como sujeito de direitos, está ligada à preocupação com a fase inicial da formação e desenvolvimento humano.

De acordo com o art. 24.: As crianças têm direito à proteção da sociedade e do estado, com vista ao seu desenvolvimento integral, especialmente contra todas as formas de abandono, de discriminação e de opressão e contra o exercício abusivo da autoridade na família e nas demais instituições.

Prioridade no acesso a direitos como: saúde, alimentação, educação, dignidade, segurança, bem-estar e convívio familiar e social, constituem direitos inalienáveis das crianças.

Ou seja,
Salvo erro ou omissão, a questão superior -e filosófica- da manutenção das espécies, leva a que o ser pensante normal, tudo faça para que as suas crianças possam evoluir saudavelmente, no seu meio natural, para se irem preparando para melhorar o sentido último da espécie humana: viver em paz e em harmonia e em bem-estar.

E, se assim for –como eu penso que é- como explicar “as matanças”, com requintes de malvadez, a que estão a ser submetidos, hoje, milhões de crianças por esse mundo fora?

!… nada, mesmo nada, justifica ou justificará algum dia, que estes facínoras, façam das nossas Crianças “alvos” da sua sede de sangue …!

Recordemos:

- morrem crianças por doença e falta de cuidados;
- morrem crianças por falta de alimentos;
- morrem crianças em resultado de êxodos de origem diversa;
- morrem crianças por abandono;
- morrem crianças em resultado de abusos;
- e morrem crianças porque são mortas aos milhões, por ação humana, sem ninguém as defender.

Se nalgumas destas situações dramáticas se pode admitir não haver “culpa” em sentido formal, noutras, é inadmissível (pura e simplesmente) que a Sociedade não seja capaz de se unir para punir dura e exemplarmente os culpados, que não passam de assassinos sem perdão!

Pior, ainda, é que se tente propagar a ideia de que a morte dos milhões de crianças que têm ocorrido recentemente, mais não é do que o resultado dos inevitáveis danos colaterais, nomeadamente das guerras em curso, ou das “fugas em massa”.

E que interessante é sabermos que os carrascos maiores, digamos assim, das nossas Crianças, actualmente, ou são tiranos/déspotas encartados, ou candidatos a tal!

Quererão perpetuar-se tanto, tanto, no Poder, que necessitam de promover a impossibilidade da existência futura de substitutos?

… Ou estará em curso uma nova filosofia (de sobrevivência) política?

Assim ou assado, a Comunidade Internacional não pode deixar que este filme sinistro continue em exibição!

Luís Pais Amante

Invasões Francesas: para lá do "espectáculo da batalha", o horrível sofrimento do povo anónimo das nossas terras

Na diocese de Coimbra, em 290 paróquias, apenas em 26 delas não terão entrado os franceses, principalmente aquando da retirada em Março de 1811. Os cálculos das mortes estão subestimados, mas, no mínimo, três mil pessoas foram assassinadas e em consequência da epidemia que se seguiu teriam morrido também 35 mil habitantes da nossa diocese. 

Veja-se com atenção o quadro que elaborámos, demonstrativo das mortes, pilhagens e destruição no concelho de Penacova com base nos relatórios paroquiais que consultámos no Arquivo da Universidade de Coimbra: 

Afirma a historiadora Maria Antónia Lopes, historiadora e professora na Universidade de Coimbra, que “nunca mais a população portuguesa voltou a sofrer tanto como na terceira invasão francesa” – 

Em Maio de 2021 esta investigadora concedeu ao Diário de Notícias uma entrevista que sintetiza esta tragédia da nossa história. Passaremos a transcrevê-la:


 Nunca mais a população portuguesa voltou a sofrer tanto como na terceira invasão francesa” – afirma a historiadora Maria Antónia Lopes

ENTREVISTA LEONÍDIO PAULO FERREIRA

Diário de Notícias Terça-feira 4/5/2021 15

Das três invasões ordenadas por Napoleão a Portugal, a terceira, em 1810-1811, comandada pelo marechal Massena, é tida como a mais terrível para os portugueses. O que a distingue das anteriores?

Foi, sem dúvida, a mais terrível pelo número de assassínios, violações e maus-tratos infligidos à população civil, destruição de campos agrícolas e aldeias, pilhagem sistemática das cidades e vilas, fugas em pânico de multidões.

O que a distingue? A política de terra queimada ordenada pelos ingleses: evacuação total das povoações com destruição de searas, moinhos e tudo o que não pudesse ser transportado, para vencer os invasores pela fome. Agora imagine-se a violência de um exército esfomeado, a deitar mão a tudo o que pode e a perseguir os/as camponeses/as que encontra para que revelem onde esconderam os víveres. Um médico de Leiria refere-se ao “horroroso quadro, quando voltei para este desgraçado território: aldeias desertas, todo o território inculto, uma solidão espantosa, não aparecendo nem quadrúpedes nem voláteis, casas incendiadas ou derrotadas, imundícies amontoadas, vivos agonizantes, esqueletos ambulantes formavam então um espetáculo estranho, pavoroso e mortificante”. Seguiu-se a epidemia e os preços dos géneros dispararam. Só muito lentamente a situação se normalizou. Nunca mais a população civil portuguesa voltou a sofrer assim. Por isso as invasões persistem na memória popular. Cresci [no norte da Beira Alta] a ouvir contar histórias “dos franceses”. A dimensão da tragédia que se viveu em toda a região centro não tem sido devidamente realçada pela historiografia.

A região de Coimbra, e o centro do país em geral, foi a mais afetada pela guerra, mas não a cidade, certo?

Em 1 de outubro de 1810, quando os franceses entraram em Coimbra depois da batalha do Buçaco, encontraram a cidade deserta, evacuada por ordem de Wellesley. Foi saqueada pelas tropas invasoras durante três dias, até ser reconquistada pelas milícias comandadas pelo coronel Trant. Só a universidade escapou parcialmente, protegida pelos cuidados dos oficiais portugueses que integravam o exército napoleónico. Nem as residências mais humildes foram poupadas. Às pilhagens dos franceses seguiram-se as do povo que voltara e as dos refugiados. Em inícios de 1811 viveu-se na cidade um cenário dantesco. Os habitantes de Miranda do Corvo, Lousã e vizinhanças até ao rio Alva haviam sido obrigados a retirar para norte do Mondego e acorreram a Coimbra. Os dirigentes da Misericórdia registam em ata tratar-se de “uma calamidade incomparável, de que não há memória nos séculos passados”. Em dezembro de 1811, o provisor da diocese de Coimbra afirma que a miséria é geral pois em “290 paróquias, apenas contará 26 delas onde não entrasse o inimigo”. Segundo os seus cálculos, morreram às mãos dos soldados 3 mil pessoas e em consequência da epidemia que se seguiu teriam falecido, no mínimo, 35 mil habitantes da diocese. Os cálculos das mortes estão subestimados. Já contabilizei 3305 civis assassinados, representando as mulheres quase 30%, e as fontes estão incompletas. Também não estará muito empolado o número de mortos por doença. Na Figueira da Foz, onde não houve assassínios porque os invasores não passaram por aí, terão sucumbido na epidemia umas 4 mil pessoas, entre naturais e refugiadas. Contudo, a julgar pela distribuição dos auxílios em 1811, a devastação foi muito maior nos atuais distritos de Guarda, Leiria, Santarém e Cas-telo Branco. O assunto carece de investigação.

A violência pior contra civis aconteceu durante a invasão ou já aquando da retirada, quando as forças luso-britânicas do general Wellesley, futuro duque de Wellington, se mostraram superiores às francesas?

A violência contra os civis aconteceu desde o início, agudizou-se quando os franceses estiveram imobilizados nas linhas de Torres Vedras e ainda mais na retirada, a partir de março de 1811. Durante a permanência nas Linhas de Torres, a pilhagem foi organizada pelas chefias em larga escala e em zonas distantes. Quando retiraram, desesperados pela fome, buscando mais a sobrevivência do que o combate, os soldados intensificaram as atrocidades. A 19 e 20 de março, sem encontrarem nada para comer, espalhavam-se por Pinhanços, Sandomil, Penalva do Castelo, Celorico da Beira, Vila Cortês, Vinhó, Gouveia, Moimenta da Serra, etc.

Os chefes militares franceses mostraram-se incapazes de controlar assassínios, violações e pilhagens pelos soldados? Tentaram, pelo menos?

Nas memórias que conheço de antigos oficiais franceses não encontro essa preocupação. Omitem-se homicídios, torturas e violações. E estas aconteceram em massa. Quanto às pilhagens, eram imprescindíveis e podiam ser planificadas superiormente, como relata, por exemplo, o general Marbot. Mas os militares aliados também pilhavam. Segundo uma testemunha de Arganil, “por onde passou a tormenta nada absolutamente ficou, nem de mantimentos, nem de carnes, nem de hortaliças. E se alguma coisa escapou ao inimigo, o limpou a nossa tropa e assim mesmo os pobres soldados vão mortos de fome”.

É verdade que a destruição foi tanta que, no âmbito da estratégia geral de combate a Napoleão na Europa, a Grã-Bretanha teve de enviar ajuda humanitária para o seu aliado

Sim, a tragédia suscitou uma campanha de auxílio na Grã-Bretanha, onde o parlamento e a população arrecadaram mais de 60 milhões de réis destinados às vítimas portuguesas da terceira invasão. Para organizar a repartição das verbas, foi constituída uma comissão central em Lisboa, a Junta dos Socorros da Subscrição Britânica, dirigida pelo cônsul inglês. O donativo foi distribuído pela população miserável (dinheiro e pano para roupa), por lavradores para sementeiras e por instituições de assistência.

A imagem de Napoleão foi manchada irremediavelmente no imaginário popular, apesar de alguns nas elites defenderem as suas ideias, depois desta terceira invasão?

Sem dúvida, era inevitável. Surgem por todo o lado folhetos que o diabolizam e isso foi alimentado e aproveitado pelas forças políticas conservadoras. Mas parte das elites estava conquistada pelas ideias políticas liberais, que eram também, não esqueçamos, as dos aliados ingleses.

O povo sentia-se abandonado pela família real, que a primeira invasão napoleónica, em 1807, tinha levado a embarcar para o Brasil?

A avaliar pelos relatos das testemunhas e as petições das vítimas, não era assunto que as preocupasse. Referiam-se à tragédia sem invocar as causas da invasão nem cenários que a tivessem impedido. Era como se de um terramoto se tratasse, sem outros responsáveis que não a própria catástrofe. 

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Penacova vai, mais uma vez, recriar alguns episódios da Guerra Peninsular ocorridos às nossas portas. Que além do enaltecimento da vitória anglo-lusa no Bussaco, nos lembremos também do "desgraçado" povo humilde do nosso concelho, dos familiares remotos de muitos de nós que foram assassinados, que viram as suas casas incendiadas, que ficaram sem os seus escassos víveres, que viram o património religioso roubado e profanado...


sábado, setembro 07, 2024

𝐍𝐨𝐭𝐚𝐬 𝐡𝐢𝐬𝐭ó𝐫𝐢𝐜𝐚𝐬 𝐞 𝐞𝐭𝐧𝐨𝐠𝐫á𝐟𝐢𝐜𝐚𝐬 𝐬𝐨𝐛𝐫𝐞 𝐨 𝕄𝕠𝕟𝕥'𝔸𝕝𝕥𝕠 (3)



Texto do Professor Nelson Correia Borges (1977)

Vai longe já o colorido pitoresco de outrora das romarias da região. Às carroças e carros de bois enfeitados com verdura e fitas sucedeu o automóvel trivial; os altifalantes, berrando aos quatro ventos o último êxito da pop music, expulsaram as loas à santinha e os cantares regionais acompanhados pelo “ferum-ferum” da viola toeira. Coisas irreversíveis da nossa civilização. Já Gil Vicente se queixava em 1519:

“Em Portugal vi eu já
Em cada casa pandeiro,
E gaita em cada palheiro;
E de vinte anos a cá
Não há gaita nem gaiteiro.”

E também, anais recentemente (1902), exclamava Trindade Coelho: “Agora parece que vai aquilo tudo por água abaixo Deram as tricanas em meter na dança coisas de sala, marcadas em francês»

Ora, das romarias da região, uma das mais !concorridas era a da Senhora do Mont' Alto de Penacova. Povoavam-se as veredas das encostas no dia 8 ide Setembro, também conhecido por Dia das Sete Senhoras. Ao terreiro da capela afluía de todos os lados uma multidão de romeiros, ansiosos por cultuar a Mãe de Deus e também por conviver na mais sã alegria e descansar das lides da custosa lavoura ou dos palitos.

Entoavam-se loas ingénuas e dançava-se o vira. ou o malhão, ou escutava-se o desafio dos mais afamados cantadores.

Ainda andam na outiva algumas quadras alusivas. Em Lorvão recolhemos as que a seguir se arquivam.

A primeira tem o sabor das coisas reencontradas, depois de há muito perdidas :

A Senhora do Mont’Alto
Anda no monte sem roca,
Para acabar uma meada
Falta-lhe uma maçaroca.

As coisas simples do seu viver são transportadas pelo povo para o objecto da sua poesia, não sem um certo optimismo que parece também ter-se evolado na azáfama da vida moderna. Repare-se na carinhosa intimidade que se desprende dos seguintes versos:

A Senhora do Mont'Alto
Lá vai pelo monte acima,
Leva a cestinha no braço
Parra fazer a vindima.

A Senhora do Mont'Alto
Mandou-me agora chamar,
Que tem o seu manto roto,
Quer que eu lho vá remendar!

Se em Setembro é mês de vindimas, também é mudança de ritmo de vida quotidiana: começa o serão e acaba a sesta. A isso alude com um certo chiste a seguinte quadra:

Senhora do Mont'Alto
Eu não volto à vossa festa
Que me tirais a merenda
E mai-la hora da sesta!

Quadras como estas haverá muitas mais. Valia a pena anotá-las todas para um cancioneiro. São tesouros de arte popular e expoentes de uma cultura que aos poucos se vai perdendo. (...)

Nos carreiros dos montes cresce hoje a erva e o mato, mas a Senhora do Mont'Alto, apesar de toda a agitada vida moderna, avessa a sacrifícios, ainda tem os seus romeiros fiéis, por isso...continuaremos.

Correia Borges
NP 16 DE SETEMBRO DE 1977

quinta-feira, setembro 05, 2024

𝐍𝐨𝐭𝐚𝐬 𝐡𝐢𝐬𝐭ó𝐫𝐢𝐜𝐚𝐬 𝐞 𝐞𝐭𝐧𝐨𝐠𝐫á𝐟𝐢𝐜𝐚𝐬 𝐬𝐨𝐛𝐫𝐞 𝐨 𝕄𝕠𝕟𝕥'𝔸𝕝𝕥𝕠 (2)


TEXTO DE NELSON CORREIA BORGES (1977)

O Mont'Alto avulta na paisagem, a norte da vila de Penacova, como formidável mole naturalmente defensável, ideal para a instalação de um castro em tempos proto-históricos, mas relegado para plano secundário devido ao alto valor estratégico do local onde depois se ergueu o castelo roqueiro, sobre o Mondego.

As ribeiras de Penacova e de Selga delimitam as suas vertentes escarpadas, onde trepam carreiros milenários que conduzem ao santuário, trilhados quase apenas pelos romeiros da Senhora. O acesso é, no entanto, também possível a carros, não sem algumas dificuldades, utilizando a estrada que conduz do Casal à Chã; a partir daí o caminho é florestal.

Cobre as encostas denso manto de pinheiros, eucaliptos e acácias, afogando a capelinha, ocultando-a às vistas das gentes da vila e roubando até, lá no cimo do monte, um dos maiores prazeres que se pode ter quando se lhe alcança o deliciar-se a gente com a dilatada paisagem circundante.

Poder-se-ia admirar, cá mais em baixo, o rio, a ponte, a vila, as várzeas e as povoações reclinadas nas encostas. Assim, restam-nos algumas frestas do Mondego, por entre as ramagens, umas quantas oliveiras no terreiro em volta da capela, um altaneiro cedro do Buçaco e uma figueira mirrada e, claro, a capelinha da Senhora do Mont'Alto.

A capelinha é um encanto, com aquela dignidade sóbria que só as ermidinhas portuguesas têm. A construção é seiscentista, muito simples. O corpo da capela tem um espaço interior de 8,13 x 4,75 m e a capela mór 3,3 x 3,03 m. A sacristia, pequena, encosta-se à ilharga esquerda da capela-mór. Rasgam-se na capela duas portas de verga curva, uma lateral e a outra axial, sob o alpendre, ladeado por duas janelas gradeadas, para espreitar o orago.

A obra não devia ter ficado um primor de segurança, pois toda a capela se encontra travejada e pos-teriormente foram feitos lateralmente à frente dois muros a servir de contrafortes. Enfim, construção modesta, feita pelo povo e onde os senhores e donatários da vila não deviam ter metido prego nem estopa.

Em toda a volta da capelinha e alpendre há um banco corrido, de pedra e cimento, para os romeiros se sentarem a saborear os seus farnéis. O alpendre que mais encanto dá à paisagem fica em frente da porta principal, definindo um espaço interior de 5,7 x 4,4 m. Tem seis colunas toscanas com 1,85 m de altura suportando o telhado de forma piramidal. Estas assentam por seu turno num pequeno muro com 0,8 m de altura.

Ontem como hoje, os visitantes continuam a comprazer-se em deixar o seu escrito pelos locais por onde passam, comportamento que, com mais ou menos vandalismo ou oportunidade, requer uma explicação psicológica que não está ao nosso alcance. Abundam aqui as inscrições nas colunas e nos muros. Cerca de 15.000 anos antes de Cristo já o homem pintava e imprimia a sua mão em grutas, como a de Cargas, nos Altos Pirinéus. Pois aqui viemos também encontrar no solo do alpendre três pares de mãos impressas no cimento enquanto fresco. «Nada de novo sob o sol».

Outras inscrições no mesmo local dão-nos conta de obras de conservação levadas a cabo em 1958 e 1964.

Correia Borges
NP 14/10/77



terça-feira, setembro 03, 2024

𝐍𝐨𝐭𝐚𝐬 𝐡𝐢𝐬𝐭ó𝐫𝐢𝐜𝐚𝐬 𝐞 𝐞𝐭𝐧𝐨𝐠𝐫á𝐟𝐢𝐜𝐚𝐬 𝐬𝐨𝐛𝐫𝐞 𝐨 𝕄𝕠𝕟𝕥'𝔸𝕝𝕥𝕠 (1)


É já no próximo dia 8 que se realiza a tradicional Romaria do Monte Alto. Republicamos hoje um precioso texto do nosso conterrâneo Professor Doutor Nelson Correia Borges publicado em 1977 no Notícias de Penacova:

A Senhora do Mont'Alto

O culto à Senhora do Mont'Alto vem de muito longe no tempo. No exterior da capela, porém, nada nos autoriza a recuar além do séc. XVIII. Lembremos que em 1780 se faziam em Lorvão as varandas do claustro, cujas colunas podem muito bem ter servido de modelo às do alpendre da capela. Mas no interior há elementos mais antigos.

Vejamos o que há ali digno de atenção. Anotaremos primeiramente a pia da água benta, de calcário, bem lavrada, em forma de concha. O corpo da capela é separado da capela-mor por um arco triunfal de volta inteira, sem interesse. Na capela-mor se encontra um retábulo singelo, albergando a imagem da padroeira. Compõe-se de duas colunas marmoreadas, de capitéis compósitos, sustentando um entablamento simples sobre que se erguem duas volutas e, ao centro, uma glória solar com quatro cabeças aladas de anjos. Lateralmente há duas edículas com remate rococó; numa delas um pequeno Ecce Homo. Tudo finais do séc. XVIII.

A imagem da Senhora tem de altura 70 cm. Trata-se de uma escultura de madeira, regular, dos começos do barroco. A peanha é formada por três querubins alados que afloram sob as pregas do vestido. Envolve-se a imagem em largo manto do pregas esvoaçantes e sustém nos braços o Menino. O rito dos panejamentos é sublinhado pela posição do Menino que se inclina à direita. O rosto da Senhora ó bem modelado, emoldurado por farta cabeleira apartada ao meio e caindo aos lados em caracóis. Em suma, uma imagem da Virgem na verdade acolhedora, apesar do seu reduzido tamanho, pelo encanto do seu sorriso o pelo Menino que abre os braços para os romeiros.

O altar assenta sobre uma base de arenito, vendo-se também no chão algumas pedras de calcário, bem aparelhadas, que bem poderiam ter pertencido a outra capela mais antiga. Aliás o vestígio mais antigo que ali encontrámos foi um azulejo sevilhano de cresta, do lado esquerdo do altar, que bem poderá ser do séc. XV ou XVI.

No lado direito, encontra-se também no chão o que resta de uma inscrição sepulcral, em tijolo, que ostenta a seguinte legenda:

PECADOR
DE MT EAL
EIS DEIA 663

É evidente que se trata de um fragmento da inscrição. Talvez a segunda linha possa ler-se DE M (ON) T (E R) EAL; o resto é impossível. Tem, porém, um elemento importante: a data de 1663, ano em que teria falecido a pessoa que ali foi sepultada, que atesta a existência do santuário naquela época.

Em 1721 a Academia Real da História pediu informações de todas as paróquias para a diocese de Coimbra, para servirem de base a uma história eclesiástica. O Cabido da Sé de Coimbra enviou aos respectivos párocos os questionários em Abril desse ano. Por motivos que se desconhecem o original das informações ficou em Coimbra, seguindo apenas para Lisboa um apanhado. Isto foi uma sorte porque os elementos enviados para a capital perderam-se no terramoto de 1755 e os originais permanecem a bom recato no Arquivo da Universidade de Coimbra.

As informações relativas à freguesia de Penacova têm data de 18 de Maio de 1721 e foram fornecidas pelo padre Simão de Moraes da Serra, À sua letra miúda e certinha, mas difícil, vamos buscar algumas informações sobre a Senhora do Mont'Alto, ainda inéditas.

Ao tempo o único habitante do Mont'Alto era um eremitão que, no dizer do P. Simão de Moraes assistia a Nossa Senhora.

Que o culto vinha já de muito longe é-nos relatado através de um uso, hoje perdido mas que bem merece ser anotado para o estudo da etnografia da região. Nesse tempo «os moradores de Vila de Botão, e os de S. João de Figueira» todos os anos vinham em procissão até à Senhora do Mont'Alto, em cumprimento do um «voto antiquíssimo», trazendo as suas ofertas em tabuleiros ou à cabeça de donzelas, «como tradição antiga».

A informação mais extraordinária, que aliás nos é dada sob curiosa forma dubidativa, é a que a seguir se transcrevo em leitura corrente, para maior comodidade:

«Ao pé deste Monte, contam os naturais, que nascem umas pedras redondas como seixos, as quais partidas se lhe acha dentro outra pedrinha do tamanho e redondeza de uma noz, que com pouca violência se desfaz em pó, e este aplicado à enfermidade da asma é singular remédio, e tanto que por singular, e único de muitas partes deste Reino são procuradas, e como se fossem milagrosas saram os asmáticos e ficam de todo livres».

Como se faria aplicação desse pó, não o diz o P. Simão. Ignoramos também se haverá alguém que tenha actualmente conhecimento destas pedras. Confessamos a nossa grande curiosidade sobre o assunto.

Para já, o que fica exposto é tudo quanto conseguimos indagar e observar sobre a Senhora do Mont'Alto. Se alguém puder dar mais alguma achega será óptimo para o estudo e divulgação deste santuário mariano de tantas tradições que o povo de Penacova deve proteger, valorizar e transformar num ponto de atracção do concelho, tal como em tempos idos.

Correia Borges

in jornal Notícias de Penacova de 23 /12 /1977


domingo, setembro 01, 2024

𝕯𝖆 𝖒𝖎𝖓𝖍𝖆 𝖏𝖆𝖓𝖊𝖑𝖆: E a fantasia apareceu…


Ao terceiro dia de Festa

Aconteceu magia

Em dia dedicado às Crianças

Logo no meu Fundo da Vila

… Que, assim, rejuvenesceu!

SaltaRico em ação tarde fora

À volta do Mirante

Local estonteante

Das gerações dos Meninos do Cruzeiro

Não no pobre d’outrora

Mas no remediado d’agora

Como as Crianças merecem

Eram centenas as que desciam

Encavalitadas às costas

Ao colo, a pé, de carrinho de bebé

Ou de Tuc Tuc, eléctrico, pois é

Vinham com os Avós, os Pais ou os Tios

E distribuíam-se pelas “praias” dos Eventos

Aos rodopios

Havia Palhaços às Bandas

O Kid’s Corner

Teatro Infantil cheio de sentido

Escorregas e outras “bodegas” de brincar

Frutas de tocar

Ateliers de pinturas e de maquilhagens

E de Dança

Estivemos todos a dar mais sentido à vida

Fazendo-o em face das Crianças divertidas

Como o girassol a seguir a luz e a sorrir feliz

Ah

Realçar o Laboratório de Livros

E o Ficão Comigo

Que, para além da diversão

Formam gente para a Nação

Estivemos todos a dar mais sentido à Vida

Que é o que se deve fazer

Em face de uma Criança divertida

… Como faz o Girassol a seguir a luz!


Luís Pais Amante

Casa Azul

Num dia de Alegria no Fundo da Vila

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NOTA DA REDAÇÃO: Hoje decorreu o festival infantil Saltarico no Mirante Emídio da Silva, em Penacova. O Saltarico constou de música, teatro, dança, palhaços, mascotes, insufláveis, animais para adoção, exibição da GNR, showcooking, pinturas faciais, ateliê de pinturas, laboratórios de dança e de livros, etc. O espetáculo de encerramento contou com presença da famosa dupla de palhaços “Batatinha & Companhia”, do programa da TVI “Batatoon”.