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Um "postal" de 1936 publicado no Notícias de Penacova |
quinta-feira, dezembro 24, 2015
quarta-feira, dezembro 23, 2015
Cartas Brasileiras: OPERAÇÃO LAVA-JATO

O
termo “lavar dinheiro” é oriundo da máfia que se utilizava de lavanderias de
roupas para “limpar”, “esquentar” o dinheiro sujo do jogo, da prostituição, da
droga, da venda ilegal de bebidas (lei seca nos Estados Unidos) e da corrupção.
Com a
junção dos dois conceitos, no Brasil, a Operação Lava-Jato foi desencadeada, em
março de 2014, com o cumprimento de mais de uma centena de mandados de busca e
apreensão, prisões temporárias, preventivas e conduções coercitivas, inicialmente
com foco na Petrobras.
Descobriu-se
um esquema escandaloso de obras superfaturadas, pagamentos de subornos e
propinas a diretores da empresa, a partidos políticos (PT, PMDB e PP), a
políticos e diretores de partidos.
A
Petrobras, uma das maiores empresas do mundo, enfrenta hoje dificuldades,
enquanto o esquema de assalto à empresa teria surrupiado cerca de R$10 bilhões,
como inicialmente previsto, algo como US$2 bilhões de dólares, mas que hoje
estima-se ter sido superior a US$10 bilhões. O escândalo no Governo Dilma (PT) ganhou
a alcunha de Petrolão, em uma
referência ao Mensalão ocorrido
durante o Governo Lula (PT). Hoje já se
sabe que os dois esquemas de corrupção são bem semelhantes, parecem
interligados, sendo o segundo continuação do primeiro.
O
processo Lava-Jato conduzido pelo Juiz Sergio Moro já condenou diversos empresários,
donos das maiores empreiteiras brasileiras, estão presos. Outros com prisão
cautelar aguardam o final do processo. Muitos aderiram à “delação premiada”,
pela qual, mediante o fornecimento de informações sobre o esquema conseguem
reduzir suas penas.
As
prisões, delações de pessoas próximas ao ex-presidente Lula, bem como
denúncias, convocações para prestar esclarecimento na Polícia Federal, têm
agitado ainda mais o meio político.
A cenário
é preocupante. O presidente da Câmara que vai enfrentar processo de afastamento
por quebra do decoro parlamentar, teve a residência oficial invadida pela
polícia federal, em busca de provas contra denúncias que pesam sobre ele; no
mesmo dia, dois ministros do atual governo sofreram o mesmo tipo de ação.
Na Câmara Federal, a Presidente da
República enfrentará processo de Crime de Responsabilidade por descumprimento
do orçamento e utilização de verbas suplementares sem autorização do Senado,
que poderá redundar em “impeachment”.
Por tudo, está difícil receber de
amigos e conhecidos votos de Boas Festas.
Porém, deixando de lado o egoísmo,
desejo a todos os leitores do blog FELIZ NATAL e ótimo 2016.
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Cartão de Boas Festas de Paulo Santos [na imagem, seus netos Thiago e Kamila] |
domingo, dezembro 20, 2015
Apresentado em Coimbra o livro infanto-juvenil “Teresa de Portugal”
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As autoras aquando do lançamento em Lorvão |
Pretende-se a divulgação de uma figura da nossa História e particularmente da história do Mosteiro de Lorvão e do nosso concelho. Esta iniciativa releva de inegável valor na medida em que através da imagem e do texto acessível, desperta no público infanto-juvenil um maior interesse pela história local.
Trata-se de um trabalho, muito bem conseguido, especialmente dirigido ao público escolar. Escreve o Prof. Dr. Nelson Correia Borges no Prefácio: “De uma forma simples e atractiva poderão assim conhecer, entender e até venerar esta Santa Teresa de Lorvão, Santa Teresa de Portugal, rainha, mulher,mãe, monja de grandes virtudes”
No site da Câmara Municipal podemos ler:
Teresa, a Inquebrantável (1178 - 1250):

Penacova 1898: um retrato
Quase a terminar o século XIX, durante a vigência de um
governo presidido por Luciano de Castro, foi solicitado às “camaras municipaes
do paiz” um relatório sobre as condições de vida dos “povos”, suas necessidades
e aspirações . Deveriam também ser apresentados alguns “meios de remediar ou
atenuar o mal presente e preparar a prosperidade futura”.
Assim, a Câmara de Penacova enviou em 11 de Outubro de 1898,
ao então ministro das Obras Públicas, conselheiro Elvino de Brito, um documento que, passados quase 120 anos,
nos poderá ajudar a perceber melhor alguns dos problemas com que Penacova ainda
hoje se debate.
Dada a sua extensão, começaremos hoje por publicar a parte
inicial do relatório que depois de uma breve caracterização geográfica, tece
algumas considerações sobre a situação da agricultura.
“ O concelho de Penacova está situado a nordeste de Coimbra
e confina pelo norte com os de Mealhada e de Mortágua; pelo nascente com os de
Tábua e Arganil e pelo Sul com o de Poiares. A sua superfície é de 160 km2 aproximadamente;
a população é de 18 382 habitantes, isto é, cerca de 114 habitantes por
quilómetro quadrado.
O clima é frio e salubre, o solo muito irregular e
montanhoso, mas fértil. Por todo ele se
cultivam cereais, especialmente o milho e centeio, havendo também cultura de
trigo, cevada e aveia. É considerável a sementeira de batata e feijão. As
vinhas davam-se optimamente antes da invasão filoxórica, sendo o vinho de boa
qualidade; hoje estão sendo renovadas pela cepa americana, que vegeta
excelentemente.
A produção de azeite era ainda há poucos anos muito avultada
mas tem decrescido muito, devido à moléstia que seca as oliveiras.
Os castanheiros vegetaram optimamente mas estão igualmente
quase extintos pla moléstia que os afecta com grande prejuízo para este
concelho.
Há em geral bastantes árvores de fruto Das diversas
espécies, que se desenvolvem e frutificam bem e os frutos são saborosos,
segundo a sua qualidade.
Nos terrenos mais
fracos das encostas dá-se bem o pinheiro, sendo grande a extensão desta
sementeira e grande o seu rendimento em madeira e lenha.
As terras cultivadas dão boas pastagens.
Não há terrenos desaproveitados, a não serem, nas serras, os
baldios que são extensos e apenas servem para pastagens de gados, e nas margens
dos rios Mondego e Alva os areais em que se pode alargar muito cultura do milho e feijão pela notável
fertilidade dos terrenos marginais, enquanto são inundados pelas enchentes.
A riqueza não está acumulada, mas a propriedade, em geral,
excessivamente dividida. As terras amanhadas são na sua maior parte regadas com
a água das fontes e nascentes que há muitas, ou com a das ribeiras e rios
(Mondego e Alva) geralmente abundantes."
(CONTINUA)
sábado, dezembro 05, 2015
Horrível desgraça: seis crianças carbonizadas
“No dia 22, logo de manhã, começou a correr na vila um boato
sinistro: em Sernelha ardera uma casa, tendo perecido no incêndio seis
creanças, a mais velha das quais teria 7 anos. Partimos imediatamente para ali.
Perto da povoação; à sombra dum pinhal, vimos, num grupo de
indivíduos, alguém conhecido a quem nos dirigimos
em busca de notícias. Logo nas primeiras palavras a pessoa a quem interrogamos
confirma-nos a notícia e indica-nos um
homem, ainda novo, simpático, que fazia parte do grupo, dizendo-nos que era o
pai das creanças que horas antes tão terrivelmente tinham morrido.
E foi da boca dele, uma voz velada, que mal se ouvia, que
ouvimos a sinistra história, curta e trágica: Na véspera, à boca da noite tinha sido procurado por dois amigos seus - Bernardo
e Augusto Rodrigues, barbeiros, de Sernelha, com quem tinha de justar umas
contas. Feitas estas, convidou os seus amigos a beber um copo de vinho, como é
velho costume entre o nosso povo. Em casa não havia vinho e por isso foram à
próxima taberna, onde passado pouco tempo sua mulher o foi chamar, dizendo-lhe
que estava pronta a ceia e por isso se não demorasse.
Tendo-lhe ele respondido que pouco se demoraria e que fosse pondo
a ceia na mesa que breve iria ter com ela, saiu a mulher da taberna e logo ao
voltar uma esquina que lhe encobria a sua casa, grita aflitivamente que
acudissem, que a casa estava a arder.
Correm todos e vêem a casa em chamas. Ele lembrando-se dos
seus filhos, que poucos momentos antes a mãe tinha ido deitar, atira-se com ância
à janela do quarto onde eles dormiam, arrombando-a e tenta escalá-la.
Mas – termina o pobre homem, com a sua voz molhada de
lágrimas, velada, mal se ouvindo - não me deixaram entrar. Lá dentro só vi
chamas, só chamas que ainda me queimaram a cara e nunca mais os vi... E fitando
os olhos vermelhos de tanto chorar, brilhantes de febre, no chão, repetia
desalentadamente:
-Nunca mais os vi e nunca mais os ouvi. Nem um grito. Só
chamas, só lume. Nunca mais os vi, nunca mais os ouvi...
Correm-lhes as lágrimas em fio pela cara e todos nós sentimos
também uma irresistível vontade de chorar.
*
Chega o dr. Henrique Serra, administrador do concelho,
acompanhado pelo seu secretário, António Casimiro, e todos nos dirigimos para o
local do sinistro.
Da risonha casa, à
beira da estrada, onde ainda ontem reinava a felicidade e a alegria apenas
restavam uma mão cheia de ossitos quase desfeitos e um carvão negro, disforme,
horrível, que talvez tivesse sido o tronco da mais velha.
Os donos da casa chamavam-se, como dissemos no nosso último
número, Augusto dos Santos Neto e Rosária do Espírito Santo. Estavam casados há
nove anos e tinham seis filhos - Manuel, Mário, Maria, Alzira, Filomena e Maria do Nascimento, o mais velho de perto
de 8 anos e a mais nova de seis mezes, que agora pereceram todos no incêndio. [Manuel
de 8 anos; Mário de 6 anos, Maria de 4 anos, Alzira, de 3 anos, Filomena de 2
anos e Maria do Nascimento de 6 mezes.]
A casa - que estava no seguro, segundo ultimamente nos
informaram - tinha sido construída há menos de um ano.
As autoridades tendo procedido a minuciosas averiguações, são
de opinião de que o incêndio foi casual.”
-----------------------
NOTA: esta notícia, que transcrevemos na íntegra e com grafia da época, foi publicada no “Jornal de Penacova” em data que não podemos precisar, mas entre 1915 e 1918. Só desgraças neste blogue, poderão dizer os leitores...
Mas são também estes momentos trágicos que marcam as memórias das nossas terras. Trazê-los ao presente é uma forma de, com todo o respeito, nos associarmos, às dores de tantos que nos antecederam, porventura, pessoas das nossas famílias. Alguém de Sernelha, ou mesmo do concelho, tem mais elementos que queira partilhar? Fica o repto.
terça-feira, dezembro 01, 2015
Da Cortiça à Carvoeira: a queima da pólvora e a brutal perseguição aos liberais
Tínhamos prometido voltar ao assunto. Não contávamos fazê-lo
já hoje, mas dado que. da meia noite de Sábado até à meia noite de Domingo o “post” intitulado "Violenta explosão junto à Catraia dos Poços" teve cerca de 1800 visualizações (até ao momento – 23:20 do dia 1 - contabilizam-se 2272),
achamos pertinente referir desde já uma notícia sobre o caso, publicada num jornal de Lisboa em 1832 e
apresentar uma extensa lista de pessoas presas na sequência dos acontecimentos.
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Caricatura representando D. Pedro e D. Miguel disputando a coroa portuguesa, por Honoré Daumier, 1833. |
“Ao general da
Província da Beira constou (...) que uma porção de cartuchame de fuzilaria (...)
havia sido assaltado por uma quadrilha de trinta a quarenta salteadores e que
apesar da resistência feita pela escolta (...) conseguiu a dita quadrilha apoderar-se de tal cartuchame que inutilizou apenas viu qual o objecto do que
encontrou.”
Adianta, ainda, a referida notícia:
“O General da Província da Beira Alta, assim que teve
conhecimento (...) ordenou que as pesquisas continuassem até ser alcançada a
quadrilha; e muito mostraram os povos tal empenho que não foi preciso
exortá-los para descobrir e acabar com semelhantes salteadores, pois no dia 15
de Agosto corrente, teve o Capitão Mor de Penacova e as suas Ordenanças a
fortuna de descobrir numa mata junto à Cortiça, sete indivíduos da mesma
quadrilha. (...) Tal era o rancor das Ordenanças contra estes malvados que foi
com muita dificuldade o salvar-lhes as vidas para a Lei os punir. (...) Os
dispersos continuaram a ser perseguidos por montes e vales(...)”
Esta versão dos acontecimentos, como se percebe, é nitidamente afecta aos absolutistas. A mata
perto da Cortiça, onde foram encontrados os sete fugitivos, trata-se da Mata da Bica. Deste grupo alguns
foram fuzilados mais tarde, conforme dissemos na mensagem anterior. Recordemos esses
nomes aos quais a lei capital não poupou a
vida: António Homem de Figueiredo, da Cruz do Soito; António Joaquim, da Várzea
de Candosa; Padre António da Maya, natural da Cruz do Soito, pároco de Covelo;
Francisco Homem da Cunha e o irmão Guilherme Nunes da Silva, da Cortiça, José
Maria de Oliveira, da Cortiça e, os irmãos Francisco de Sande Sarmento e
Felizberto de Sande Sarmento da Carvoeira.
A feroz perseguição feita nas nossas terras conduziu à
prisão de muitos nomes nossos conterrâneos, tendo alguns deles, como já
referimos, sido fuzilados: António Homem de Figueiredo e Sousa, da Cruz do Soito,
irmão de D. Rita, mulher do capitão-mor José Félix, e este, irmão de Bernardo
Homem; António Joaquim de Moura; António Francisco; António José de Frias, da
Sobreira; António (Padre) da Maya, da Cruz do Soito ; António Marques Guerra,
dos Poços; António de Sousa Maldonado Bandeira; Bernardo Homem, da Cortiça
(este nome consta da lista, mas haverá equívoco, pois ja estava preso, há
muito, nas cadeias de Almeida); Francisco, filho de Bernardo Homem, da Cortiça;
Francisco de Sande, da Carvoeira ; Guilherme, filho de Bernardo Homem, da
Cortiça; João Pereira Saraiva; Joaquim José Gonçalves; José Maria, filho de
Bernardo Homem, da Cortiça; José Félix da Cunha Figueiredo Castelo-Branco, que
faleceu nas prisões; José Henriques, de Farinha Podre, alfaiate; José Joaquim
Pereira, de Farinha Podre; José Lopes; José de Loureiro e Almeida, de Farinha
Podre; José Inácio Martins; José Maria de Figueiredo Castelo-Branco, filho do
dito capitão mor José Félix da Cunha Castelo-Branco; José Maria de Oliveira, da
Cortiça; Manuel Correia; Manuel Lourenço Gomes Cascão e Veríssimo Gonçalves.
Escrevia-se num livro editado em 1889 que “o despotismo
raivoso encarcerou muita mais gente do que a constante da lista, com quanto não
houvesse metido nem prego nem estopa na queima da pólvora”.
E a mesma fonte aponta, assim, mais nomes: Francisco António da Assumpção, da
Sobreira, de cuja prisão resultou perder a sua mãe o uso da razão; Maria Benedita
e Maria Antónia, filhas de Bernardo Homem, bem como uma criada das mesmas; Ana
Marques, da Cortiça, solteira; José Joaquim Pereira, de Farinha Podre, bacharel
formado; Joaquina da Fonseca, de Farinha Podre, “e outras [pessoas], das quais
umas não foram pronunciadas, mas outras, ou o fossem ou não, jazeram nas
cadeias de Lamego até que esta cidade foi libertada.”
domingo, novembro 29, 2015
VIOLENTA EXPLOSÃO JUNTO À CATRAIA DOS POÇOS
Tempos de guerra, tempos de guerrilha. A região entre Ponte da Mucela e
Catraia dos Poços acaba de viver momentos de grande tensão. Mais uma vez na
história, estas terras são palco de lutas e de perseguições semeando o terror.
Agora já não são os invasores Franceses. Também com laivos de grande violência, agora a luta é fraticida.
Vindo de Abrantes chega à Ponte da Mucela, num dia de Agosto, um comboio de 20 carros carregados de pólvora
com destino ao norte, talvez Viseu ou Lamego. A escoltá-lo vêm 40 “voluntários
realistas”. No dia seguinte, dia 5, logo
pela manhã, resolvem fazer uma paragem, na Chamada Eira do Forno, já perto da
Cortiça.
A dado momento, um dos “carreiros”
que se diz ser um tal José António, da Urgueira, ao passar junto à casa de José
Maria de Oliveira, grita: - está ali um malhado!. Era um conhecido partidário das ideias liberais, que andava a apanhar fruta nas traseiras da
casa. Logo os milicianos se atiram ao pobre homem indefeso bem como a um outro vizinho. Em seu auxílio surge um
grupo de liberais que depois de grande troca de tiros consegue ganhar aos agressores que eram em bem maior número.
Com a situação dominada resolvem desviar o carregamento de pólvora e colocá-lo
à disposição do capitão de Ordenanças do
Carapinhal, José Dias Brandão e desse modo ficar em “melhores” mãos. Quando tal
intento começava a ser concretizado, eis senão, chega um grupo de outros “voluntários”
que vindos do Norte regressavam a Abrantes. Nova escaramuça se trava ali perto
dos Poços e os liberais mais uma vez saem de vencida. Só que, pressentindo que em breve estariam cercados pelas
Ordenanças de Penacova e de outros concelhos das redondezas, decidem deitar
fogo à pólvora.
Foi então que junto à Catraia dos
Poços, perto da Serra da Sanguinheda, longe das casas, amontoam a pólvora dos 20
carros de bois e estendem o rastilho. Terá sido Manuel Brandão a acendê-lo. Mas
já perto do monte, o pavio apaga-se. Valeu naquele momento a coragem de um penacovense,
um dos irmãos Sande, da Carvoeira, antigo Sargento de Caçadores 8. De rastos aproximou- se perigosamente do monte
de pólvora e reacendeu o rastilho, fazendo explodir toda aquela quantidade de
explosivos. Imagine-se o estrondo que se fez sentir por terras da Casconha!
Escusado será dizer que não demorou muito para que as tropas (guerrilhas) de Arganil chegassem e perseguissem tudo o que era “liberal”. Muitos destes
atravessam o Mondego indo refugiar-se na zona dos Fornos e Alcarraques, já
perto de Coimbra. Outros ficaram pela zona do conflito, sendo a maioria
imediatamente presa. António Joaquim (ou António do Arrabalde, como era
conhecido) ainda se refugiou na toca de um castanheiro, mas de nada lhe valeu.
Às “guerrilhas“ de Arganil juntaram-se as Guerrilhas e Ordenanças de 22
concelhos da região. Também a Infantaria e Cavalaria de Coimbra entraram em
campo. Não custa pois imaginar as perseguições, os incêndios, os saques, as prisões (muita gente de Farinha Podre) que sofreram
todos os simpatizantes da causa liberal.
Mas a vingança não se ficou por aí, nem sequer pelo abarrotar das
cadeias de Mortágua e Arganil. É que os fuzilamentos que se seguiram não foram
nem um nem dois: foram sete. Os nomes estão gravados num Mausoléu que existe em
Viseu. Pessoas da Carvoeira, da Cruz do Soito...
Foram eles: António Homem de Figueiredo, da Cruz do Soito; António
Joaquim, da Várzea de Candosa; Padre António da Maya, natural da Cruz do Soito,
pároco encomendado de Covelo de Ázere (que estava inocente, entre outros);
Francisco Homem da Cunha e o irmão Guilherme Nunes da Silva, da Cortiça, filhos
de Bernardo Homem.Também da Cortiça, José Maria de Oliveira. Por último,
naturais da Carvoeira, os irmãos Francisco de Sande Sarmento e Felizberto de
Sande. Fuzilados por topas pertencentes às Milícias de Santarém, no Terreiro do
Rossio de Santo António, em Viseu, no dia 21 de Março de 1833.
A inscrição existente no referido Mausoléu recorda a “execranda tirania daquele tempo” e exalta a
coragem destes “mártires da liberdade”. Penacovenses... perpetuados em Viseu... ignorados
em Penacova...
NOTA: Voltaremos ao assunto, não só para referir a extensa lista com os
nomes de pessoas desta região que
estiveram nas cadeias, mas também para situar este episódio conhecido por “Queima
da Pólvora” no conjunto da Guerra Civil que opôs liberais e absolutistas, que
semeou o ódio entre “malhados” e “corcundas”...
sexta-feira, novembro 27, 2015
Martins da Costa: 10 anos depois da sua morte
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A primeira página de O Jornal de Penacova [24 de Abril de 2005] |
Foi em 13 de Abril de 2005 que o pintor João Martins da
Costa faleceu na capital da Beira Alta. Não em Penacova, onde desde os anos
setenta viveu, ali na Costa do Sol, e onde foi professor. Picasso lhe chamavam
carinhosamente os seus alunos.
Nascera em Coimbra em 28 de Junho de 1921 mas os seus pais eram penacovenses: José da Costa e
Cacilda Martins. O seu avô materno fora industrial de latoaria na vila e o
paterno, Abílio Costa, tinha sido proprietário de um veículo que servia de
diligência entre a cidade dos estudantes e Penacova.
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auto-retrato |
Frequentou o curso superior de Pintura da Escola de Belas
Artes do Porto, onde foi discípulo de Dórdio Gomes e de Joaquim Lopes. Premiado
diversas vezes naquele estabelecimento artístico, concluiu o curso em 1947 com a classificação de 18
valores.
Em comentário a uma referência que o Penacova Online fez em 2012, escreveram Óscar Trindade e António Luís, respectivamente:
“O Prof. Martins da Costa,
foi meu professor de desenho. Um grande homem, algo austero mas também amigo. Sua
esposa, Prof ª. Rosa, também me deu aulas de desenho. Recordo o dia em que ela
me convidou para ir a sua casa e me mostrou as obras de arte do prof. Martins. Fiquei
encantado com as pinturas expostas numa sala, que penso ter sido o seu atelier.
Como é (ou era) habitual na nossa terra, a arte é (ou era) pouco valorizada e
nada se fez, então, para que o espólio deste professor / artista ficasse em
Penacova. Ao ler a crónica pode-se concluir que este SENHOR era um artista
multifacetado, tendo em conta a sua arte na pintura e nas letras.”
“Um dos melhores professores que tive na minha passagem
pelas escolas de Penacova... Martins da Costa não era mais um
"carneiro". Pensava com a sua cabeça e quase sempre muito bem!”
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Obra dos anos 60 |
E em 2014, escrevia também Álvaro Coimbra no seu blogue
Livraria do Mondego “O artista, o pintor, deixou uma obra extraordinária. O seu
traço sensível e, ao mesmo tempo, firme e exato viajou por cidades como
Florença, Porto, Londres, mas na última etapa da sua vida escolheu este
cantinho. Pintou-o de vários ângulos, com um olhar muito próprio e deu-o a
conhecer ao mundo. Penacova está em dívida para com ele, mas esse
reconhecimento deve estar à altura da sua obra.”
quinta-feira, novembro 26, 2015
CARTAS BRASILEIRAS: Hopalong Cassidy
O tema da insegurança, tão actual, na crónica de PAULO SANTOS:
Quem passa
dos 50 anos sabe de quem estou falando. Para os mais novos eu explico. Trata-se
de um herói dos filmes de faroeste. Era estrelado por William Boyd. O cavalo
branco era Topper. As produções da série foram feitas até 1948. Todavia, como naquela
época havia demora na distribuição dos filmes, quando a série chegou à minha
cidade, eu já tinha idade para ir ao cinema assistir às vesperais dominicais.
Tom Mix foi um herói mais antigo, do tempo de minha mãe. Da minha época de
menino: Rocky Lane, Roy Rogers, Gene Autry, Durango Kid, Zorro, Tarzan, e o
mais moderninho, Batman.
E o que todos tinham em comum? Eram defensores da lei. Eram os
baluartes do bem. No fim da história, sempre o bem vencia o mal. Os heróis
partiam, empinando seus cavalos, Tarzan “viajando” pelos cipós, gritando:
Uauauuu!
Na verdade, não era uma despedida. Era apenas um até logo, como que
dissessem: precisando estarei aqui. Contem comigo! Os bandidos fugiam deles
como o diabo foge da cruz. Não havia dúvidas em saber quem era quem. Os mais
fracos contavam com protetores corajosos, que os defendiam contra os bandidos,
gananciosos e corruptos. E hoje? Todo mundo acuado *, quase que entrincheirado. Os
foras da lei já não têm mais medo de nada. O crime sempre compensa.
Vivemos momentos perigosos. Violência de todo tipo. Violência dos
bandidos, dos políticos bandidos, dos corruptos, dos sonegadores, e
apaniguados. A violência da miséria, da fome, do desemprego. As drogas, o
álcool, o trânsito. Violência nas ruas,
nas escolas, nas famílias. É o desamor, o egoísmo, a ganância. Sem uma mudança
completa no comportamento de todos, nem mesmo contanto com todos os heróis para
nos ajudar seremos salvos. E o pior, já não contamos com Hopalong Cassidy, que
era só chamar.
P.T.Juvenal Santos
- ptjsantos@bol.com.br
sexta-feira, novembro 20, 2015
Conhecer melhor a empresa “Águas das Caldas de Penacova”
Numa das pesquisas que vamos fazendo sobre assuntos
relacionados com Penacova, "cruzámo-nos" com um trabalho académico de Carlos Daniel
Simões Gonçalo sobre esta empresa de
engarrafamento de água mineral natural. Trata-se de
um relatório de estágio (que decorreu de Janeiro a Julho de 2013), apresentado ao
Departamento de Engenharia Química e Biológica (ISEC) para a obtenção do grau
de Mestre em Processos Químicos e Biológicos.
Destacamos o capítulo que faz a apresentação da
empresa, não deixando, contudo, de registar, quer a hiperligação para o texto
integral do referido relatório, quer para o site da empresa “Água das Caldas de
Penacova, S.A.”
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Infografia inserta no documento em referência |
Em 1972, o médico-hidrológico, Dr. Amaro de Almeida concluiu que as águas
das Caldas de Penacova possuem propriedades terapêuticas, podendo ser
utilizadas no tratamento de doenças de pele, do aparelho digestivo e do
aparelho urinário: “Não é radioactiva. A sua leveza, como hipossalina e a
presença de anidrido carbónico, conferem-lhe o seu lugar como água de mesa, sem
desvantagens, ao lado de muitas outras de grande valor comercial”. Já em 1971,
o Instituto Superior Técnico refere no Boletim de Análise nº 31999 de 21 de
Julho “Água muito hipossalina com reacção ácida que lhe é conferida pelo
apreciável teor de anidrido carbónico livre. Como consequência da sua baixa
mineralização, deve possuir propriedades terapêuticas inerentes a este tipo de
água”.
De acordo com a classificação do Instituto de Hidrologia de Lisboa a água
das Caldas de Penacova apresenta uma natureza hipossalina, com reacção ácida e
macia, silicatada (Águas das Caldas de Penacova, S.A., 2011).
A empresa Águas das Caldas de Penacova, S.A. dedica-se ao engarrafamento
de água mineral natural e localiza-se no concelho de Penacova.
A região caracteriza-se por uma topografia muito acidentada de que se
destaca a Serra do Buçaco, entre o Luso e Penacova, situando-se as Caldas de
Penacova num dos extremos da serra e o Luso no outro extremo.
O Aquífero de Água Mineral Natural da Serra do Buçaco, com circulação
profunda, apresenta dois locais de extracção, um no Luso e outro nas Caldas de
Penacova, sendo constituída por rochas quartzíticas muito pouco solúveis, que
conferem à água uma mineralização muito baixa.
A empresa foi fundada em 1991, mas só em 1997 lhe foi atribuída a
concessão de exploração de água mineral natural pelo contrato de concessão nº
HM-22, celebrado em 2 de Junho de 1997, para uma área de aproximadamente 67
hectares, publicado no Diário da República, III Série, nº 162, de 16 de Julho
do mesmo ano, culminando um longo processo, em que controlos físico-químicos e
microbiológicos realizados em laboratórios acreditados revelaram que as
características de água mineral natural hipossalina, com reacção ácida e macia
eram estáveis e aptas à exploração.
A concessão da licença de exploração é da responsabilidade da Direcção
Geral de Energia e Geologia. A Direcção Técnica da Águas das Caldas de
Penacova, S.A. tem a responsabilidade de dar resposta às exigências desta
entidade licenciadora, bem como garantir o acompanhamento da estabilidade
físico-química e microbiológica da água.
Em Abril de 1999 inicia a sua actividade com uma área coberta de 2000 m2 e
um total de 27 colaboradores produzindo 6.400.000 litros/ano.
A 6 de Dezembro de 1999, mediante proposta fundamentada da empresa, foi
fixado o Perímetro de Protecção desta concessão (Portª nº 1060/99) e a 7 de
Março de 2000 foi publicada, no jornal Oficial das Comunidades Europeias, a
lista das Águas Minerais Naturais reconhecidas por Portugal, a qual inclui as
Caldas de Penacova.
Tendo como actividade principal o engarrafamento de água mineral natural,
inicialmente também se dedicou à produção própria de embalagens em
politereftalato de etileno (PET), numa primeira fase com máquinas integradas
(injecção e sopro), estando desde 2006 a proceder à sua substituição por
sopradoras.
Actualmente, a fábrica de engarrafamento ocupa uma área de 8000 m2, dos
quais 3000 m2 são afectos ao estabelecimento industrial e 5000 m2 destinados ao
armazém e serviços de apoio, emprega 50 trabalhadores e está equipada com
linhas individuais para embalagens de 33 cL, 50 cL, 1,5 L e 5L.
Com a preocupação de assegurar a qualidade do produto e a garantia de
saúde pública a Águas das Caldas de Penacova, S.A. tem desde do início a
funcionar nas suas instalações um laboratório onde são realizadas diariamente análises
microbiológicas de monitorização e acompanhamento de todo o processo fabril.
Também é efectuado um controlo analítico no Laboratório do Instituto Superior
Técnico, desde 24 de Março de 1994, com uma periodicidade mensal até 23 de Maio
de 1995 e actualmente com uma periodicidade trimestral, o qual permite
evidenciar a estabilidade do perfil físico-químico da água.
Evidenciando o cuidado em atribuir e respeitar os requisitos do produto,
a empresa certificou o seu Sistema de Gestão da Segurança Alimentar (SGSA),
segundo os referenciais NP EN ISO 22000:2005 e IFS – International Featured
Standards no ano de 2009.
No ano de 2011 procedeu ao engarrafamento de 143.569.990 litros de água,
o que representa um crescimento de aproximadamente 8% em relação a 2010,
contrariando o comportamento do mercado das águas em Portugal em 2011, pois
segundo os resultados apresentados pela Associação Portuguesa dos Industriais
de Águas Minerais Naturais e de Nascente (APIAM), observaram uma retracção de
2,87 %. A retracção do mercado de água em Portugal no actual panorama de crise
levou a empresa a uma intensificação no mercado internacional com a exportação
para África (Angola, Moçambique, S. Tomé e Príncipe e Cabo Verde), Macau,Estados
Unidos da Améria e sobretudo para a Europa (Espanha, Alemanha e Suíça).
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