Ab-rupta decisão
O Diário de Barretos, principal jornal da
minha cidade natal publicou em 3 de Fevereiro de 2009 minha crônica com o
título em destaque. A crônica era sobre a Reforma Ortográfica da Língua
Portuguesa, que entraria efetivamente em
vigor no dia 31 de Dezembro de 2012. Ela ia assim mexendo ou brincando com a
nova ortografia, que ora mostro renovada:
Ab-rupta
decisão! Nem tanto! Não foi nada ultrassecreto, e não se trata de decisão
extraoficial, não é teste, é para valer. E tem gente que não para de reclamar.
Confesso, fiquei com os pelos arrepiados por causa dos novos procedimentos;
isso mesmo, com os pelos, porque já não há mais pêlos. Com o tempo as mudanças
serão assimiladas. Podemos ficar tranquilos, calma, não trema, não causaremos
nenhuma feiura com eventuais deslizes iniciais, ainda que ”feiura” assim
grafada fique horrível. Também não dá para querer realizar assembleia na
antessala da diretoria da escola tentando buscar apoio para carta de protesto,
nem tentar atitude antissocial, o melhor mesmo é querer aprender, seria como
tomar aula de direção em uma autoescola.
Vamos
nos acostumar com as novas regras, com o tempo iremos até gostar. É só lembrar
que nos anos sessenta, quando surgiu a minissaia, houve protestos e escândalos,
mas hoje é assunto superado e todos veem com bons olhos, mesmo com a impressão
de que a nova “minissaia” parece ter ficado mais comprida. Os mais assanhados devem
estar reclamando.
Não sei, pode
ser que no futuro haja alguma dificuldade para ensinar a pronúncia da palavra
linguiça porque uns poderão imaginar que seja como a de preguiça. É verdade que
alguns acentos caíram, porém não quer dizer que liberou geral. Sim, jiboia
perdeu o acento, no entanto continua sendo escrita com “j” e não com “g”. Nada
de afobação como na estreia de peça teatral. Sabemos que após as primeiras
apresentações os artistas ganham confiança, e tudo se encaminha sem que ocorram
erros ultraelevados. Nada de gestos heroicos. Quem sabe nos reste a decisão de
tomar aulas extraescolares, tudo bem. Para despistar a idade há cremes
antirrugas, que assim parecem combater com mais vigor essas marcas temporais
que as mulheres tanto odeiam. Ou então tentar autoajuda comprando livros da
nova gramática de coautores renomados. Vejo tudo sem muita paranoia mesmo
escrevendo para uma atenta “platéia”.
Pois bem, no Brasil a Reforma Ortográfica foi logo
assimilada pelos jornais e revistas, os principais dicionários soltaram edições
especiais, até mesmo a Academia Brasileira de Letras editou a nova ortografia,
vários autores com livros na praça para ensinar as novas regras, programas para computador foram atualizados.
O prazo fatal mais parecia o tempo que se estava dando
para que os gramáticos e autores de dicionários pudessem se preparar.
Chega o final do ano e para surpresa geral, a
Presidente Dilma edita lei adiando para 31 de Dezembro de 2016 a data para que as novas regras ortográficas entrem em vigor. O pior é que, pelo
que se sente, algumas regras poderão até mesmo ser alteradas, o que deixa tudo
em um enorme embrulho e confusão. Ao que parece, nada de oficial, a prorrogação
visaria atender Portugal que estaria com
dificuldades para implantar e adotar algumas regras. Pelo que se vê, nem todos falavam a mesma língua quando
assinaram o tratado.