domingo, fevereiro 16, 2025

𝐏𝐞𝐧𝐚𝐜𝐨𝐯𝐚, 𝐚 𝐯𝐢𝐥𝐚 "𝐪𝐮𝐞 𝐚𝐩𝐫𝐨𝐯𝐞𝐢𝐭𝐚 𝐮𝐦𝐚 𝐝𝐨𝐛𝐫𝐚 𝐝𝐨 𝐫𝐢𝐨 𝐩𝐚𝐫𝐚 𝐞𝐱𝐢𝐛𝐢𝐫 𝐯𝐢𝐬𝐭𝐚𝐬 𝐥𝐨𝐧𝐠𝐚𝐬 𝐬𝐨𝐛𝐫𝐞 𝐨 𝐯𝐚𝐥𝐞”


A beleza das vistas, tendo o Mondego como eixo de referência, é um sem parar de surpresas. As encostas ora são redondas e cobertas de plantas, ora são rochosas e escarpadas, ora misturam a suavidade de umas com a aspereza de outras. Fecham-se em ravinas, para logo se abrirem em pequenos vales férteis, à espera das enchentes. A terra é intensa, séria, a contrastar com a leveza doce da água transparente. Penacova fica numa dessas pinturas, encavalitada na encosta. É uma vila branca, que aproveita uma dobra do rio para exibir vistas longas sobre o vale. (…)


Portugal Passo a Passo foi uma publicação que circulou no mercado editorial em meados da década de noventa, há 30 anos sensivelmente, distribuída por diversos volumes (correspondentes às tradicionais províncias). 

No tomo dedicado à Beira Litoral encontramos interessantes referências a Penacova. O registo fotográfico é especialmente curioso. Veja-se, por exemplo, a zona degradada da Igreja Matriz e ruas envolventes, a panorâmica da Carvoeira, alguns trechos do Mondego, interessantes pormenores de Lorvão...








quarta-feira, fevereiro 12, 2025

Os últimos barqueiros do Mondego...


O nº 6 da revista Antropologia Portuguesa publicou, em 1988, um excelente artigo de Edgar Lameiras, intitulado "Contributo para o estudo da navegação comercial e dos sistemas primitivos de transporte de carga do rio Mondego a montante de Coimbra". 

Trata-se de um importante texto para a história da barca serrana e dos barqueiros do Mondego. O autor apresenta-nos, em apêndice, uma "Relação dos barqueiros ainda vivos [até Junho de 1987] dos diferentes lugares, ao longo do Mondego", que fazendo fé do rigor da investigação, abrangerá, se não todos, a maioria dos "últimos" barqueiros.

BESTEIRO
Arlindo Alves

CANEIRO
Américo Ralha
António Lopes Moreira
José Calhau (dono, em tempos, de uma barca. Chegou a ter ao longo da sua vida
5 barcas).

Manuel Calhau
Mário Lopes
Zé d'Assunção

CARVALHAIS
Manuel de Oliveira

CARVALHAL
Alípio Martins
Artur Ferreira
Américo Poças
Joaquim Silva

CARVOEIRA
António Caixeiro
António Pais
António Tomás
Constantino Grilo
Daniel Caixeiro
Jaime Oliveira (dono, em tempos, de urn barco)
Leonel Tomás

COIÇO
José das Carvalhas

CUNHEDO
Afonso Ferreira Febras
José Ferreira Febras
Manuel Ferreira Febras

GONDOLIM
António Lopes Flórido
António Maia de Oliveira (foi barqueiro só ate aos 20 anos)
António Martins Belbouche
Joaquim Martins Belbouche (dono, em tempos, de um barco)
Leonel Martins Branco
Manuel Duarte (dono, em tempos, de uma barca de passagem )

MIRO
Alípio Alves
Alípio Fernandes
David d'Ascenção
Mário Fernandes

OLIVEIRA DO MONDEGO
António Costa (dono, em tempos, de uma barca de passagem)

PONTE (de Penacova )
Alípio Manso
Alípio dos Santos
Alípio da Silva Cruz
Daniel Praça
Daniel da Silva Cruz
Henrique dos Santos
Joaquim Pinéu

RAIVA
Manuel

REBORDOSA
Américo Granha
Eugénio FIórido
Henrique Padilha de Oliveira
Maximino Padilha de Oliveira

RIBA DE BAIXO
Diamantino (Carapinha) dos Santos (dono, em tempos, de um barco)
José de Adelaide
José Alves Novo
José da Cruz
Mário Alves

SOUTELO
Mauro da Silva Carvalho

SOITO
Abel da Cruz
António Martins Calrrinho (dono, em tempos, de uma barca)
Francisco Alves
José da Cruz

TERREIROS DE ST. ° ANTÓNIO
João Santos (dono, em tempos, de pelo menos seis barcos

VILA NOVA
Armando Alves
Armando Oliveira Courtão
José (da Rabeca) Ferreira da Silva
Luís de Oliveira Courtão

Edgar Lameiras resume o artigo do seguinte modo:

“Factores de diversas ordens faziam com que o rio Mondego fosse, desde tempos remotos, preferencialmente usado no transporte e exportação de mercadorias oriundas das diferentes localidades ao longo do rio: azeite, vinho, cereal e principalmente lenha, carqueja, ramalheira, carvão e madeira (cortada das encostas do concelho de Penacova) para Coimbra e Figueira da Foz. Já rio acima, transportavam produtos que as populações serranas carenciavam (por exemplo sal), sendo descarregados principalmente no Porto da Raiva (com as suas feiras às 2.as e 5.as feiras onde o material era rapidamente escoado). Vários eram os sistemas primitivos de transporte de carga a montante de Coimbra, que percorriam o Mondego: barca serrana, barco, barco de Palheiros, barco de passagem e barco do trabalhador. Mas vários condicionalismos contribuíram para o quase total desaparecimento destes tipos de embarcações, apesar de presentem ente alguns esforços terem sido feitos no sentido da sua preservação."




quinta-feira, fevereiro 06, 2025

Da minha janela: O "sabor" do Bairro

 


Bairro era uma forma de gestão do território municipal

Existia estruturado para alojamento, também nupcial

Não lhe estava alheio o anseio, conjuntural, de dar lar

A quem dele precisava

A quem se amava

E queria fazer crescer a sua Família, em reprodução 

O Bairro era específico 

Característico

E por isso tinha sabor

Saboreava-se o ar circundante

O cheiro das comidas em confecção

O da amizade a pairar, que crescia ali “à mão” 

Cada Bairro se foi desenvolvendo

Passou a ter Jardim Escola

Deu benefícios no Centro de Saúde 

As crianças passaram a ter Locais de Encontro

E Bombeiros 

E Postos da PSP ou da GNR

E Associações de Canto

De Teatro

De Dança 

Muitas vezes, até, instalações de Junta de Freguesia

Sem esquecer a existência do Parque Infantil

E de Parques de Merendas, aos mil

Era o Bairro do amor 

Um aglomerado, esmerado

Que também era sedutor

Depois passou para as ex-quintas, nas colinas, nas ravinas

Nas zonas menos nobres, até pobres

E aglomerava gentes sem sortes

Estratificada nas classes sociais

Nas ditas “zonas urbanas sensíveis” 

Empurradas para fora do centro

Dos centros urbanos iluminados

Longe dos mais ricos e decanos

Para não se misturarem as pessoas

Fossem elas más ou boas

Arrumavam-se mais longe

Embora se dependesse delas 

À medida que evoluiu a pressão imobiliária 

As casas diminuíram muito na qualidade

Os moradores têm muito mais dificuldade

As relações sociais degradam o espaço protector 

As crianças não têm acompanhamento 

Valoriza-se só a alegria do momento

Que não a que combate o sofrimento 

Mais droga pr’aqui; mais álcool pr’ali 

Mais violência pr’acoli…e pobreza muita, aí

Tudo o que lhes escondemos no triste sabor

Das casas acrescentadas de barracas degradadas

E tendas de campismo ou de plásticos rasgadas

E é este o Bairro do desamor

Que acorda bem cedo na sua dor

Com humanos, como nós, já cheios de pavor!


Luís Pais Amante

Casa Azul

A pensar na letra e na música do Jorge Palma “O Bairro do Amor” que servirá de tema a um Congresso de gente Amiga, sem esquecer o “momento” socialmente destrutivo que criámos, enquanto Nação de Emigrantes.


quarta-feira, fevereiro 05, 2025

Centros Interpretativos de Lorvão: uma visita obrigatória


ℂ𝔼ℕ𝕋ℝ𝕆 𝕀ℕ𝕋𝔼ℝℙℝ𝔼𝕋𝔸𝕋𝕀𝕍𝕆 𝔻𝕆 𝕄𝕆𝕊𝕋𝔼𝕀ℝ𝕆 𝔻𝔼 𝕃𝕆ℝ𝕍Ã𝕆

Inaugurado em 17 de Julho de 2023 [ver notícia RTP: https://x.gd/FszZA ]


Segundo a tradição, a origem do Mosteiro recua ao ano de 561. Os documentos escritos fixam a data mais tarde, nos séculos IX ou X (anos de 800 ou 900), segundo os diferentes autores.

Lorvão teve um papel crucial contra os assaltos muçulmanos. Devido à sua implantação estratégica serviu de zona de proteção ao povoamento da região de Coimbra. 

O monumento é especialmente reconhecido pelo seu cartulário (lugar onde se guardam os livros de registo e documentos importantes), no qual foram copiados os mais antigos documentos produzidos em território português. E pela produção de manuscritos do seu scriptorium, em particular, o Apocalipse de Lorvão, distinguido como Memória do Mundo pela UNESCO. 

Em 1211, expulsos os monges beneditinos, Lorvão converteu-se num Mosteiro feminino, da ordem de Cister, dirigido pela filha de D. Sancho I, D. Teresa. 

Das antigas instalações que serviram as diversas comunidades religiosas, permanecem alguns vestígios. Os edifícios conservados, todavia, datam, na sua maioria, dos anos de 1600 a 1800.

A extinção das ordens religiosas levou ao abandono do mosteiro a partir de 1887 e à sua progressiva deterioração. Em 1960 foi instalado, na zona dos dormitórios, um Hospital Psiquiátrico. A instituição foi, entretanto, extinta e o espaço está a ser alvo de um projeto de reabilitação. 

O Mosteiro de Lorvão - portaria, igreja e claustro, apresenta agora um percurso de visita contextualizado, respeitando a prática devocional que aqui se mantém, e um novo espaço museológico, o Centro Interpretativo do lugar e acervo, no edifício construído no sobreclaustro, obra do arquiteto Mendes Ribeiro.

 [Texto do desdobrável promocional]




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Inaugurado no Dia do Município, 17 de Julho de 2024

https://x.gd/hmBkN

A origem da Casa do Monte remonta ao início do séc. XVIII, com o objetivo de alojar alguns dos muitos convidados nobres, para a cerimónia de Transladação das Santas Rainhas Teresa e Sancha dos túmulos de pedra para as urnas de prata, onde hoje se encontram no Mosteiro de Lorvão. 

Este novo núcleo museológico tem como tema central o palito, verdadeiro objeto icónico de Lorvão e de Penacova, conhecido e reconhecido nos quatro cantos do mundo. 

O percurso expositivo está dividido por oito salas que retratam a origem do palito, os vários tipos, o artesanato, o quotidiano em Lorvão ligado à manufatura, a etnografia, a industrialização, etc. A manufatura dos palitos tem origem no mosteiro de Lorvão. Começaram por ser feitos pelas monjas, para decorar a doçaria conventual. 

A extinção das ordens religiosas, no século XIX, contribuiu para disseminar os palitos pela população. A manufatura extravasou as portas do mosteiro e rapidamente se tornou numa importante fonte de rendimento para os habitantes de Lorvão e povoações vizinhas. 

A abundância de matéria-prima na região, sobretudo madeira de salgueiro-branco e choupo deu um forte contributo à sua expansão. A manufatura do palito inspirou a criação de outros artefactos em madeira representativos do património do concelho, tais como as miniaturas da roda, do moinho de vento e da barca serrana, peças que nasceram das mãos da artesã Fátima Lopes.  

[Texto do desdobrável promocional]





sábado, fevereiro 01, 2025

Laborins [ e arredores ] em festa: Nossa Senhora das Candeias



Por estes dias, Laborins (o cartaz faz questão de anunciar que a festa também é de Vale da Serra, Arroteia, Carvalhal e Beco...) vai estar em Festa. A antiquíssima tradição destes lugares vai repetir-se. Veja-se esta pagela que já terá uns bons anos e que era disponibilizada perto do cesto das ofertas pecuniárias que os devotos depositavam junto à imagem da venerada Senhora das Candeias.



A origem desta devoção a Nossa Senhora das Candeias está relacionada com a Apresentação do Menino Jesus no Templo e a Purificação de Nossa Senhora, quarenta dias após o Natal. Para assinalar esses acontecimentos surgiu então a  Festa de Nossa Senhora da Purificação, celebrada pela Igreja Católica a 2 de Fevereiro, e o culto a Nossa Senhora das Candeias. 

Em Portugal, esse culto nasceu a partir do século XV. Segundo a tradição deve-se a Pedro Martins. Num sonho lhe ter-lhe-á aparecido Nossa Senhora envolta em luz, que lhe indicou que iria encontrar uma imagem sua em Carnide, nos arredores de Lisboa. Aí foi construído um convento e uma igreja dedicada à Senhora da Luz, que foi muito danificada com o terramoto de 1755, mas foi reconstruída e é hoje  a Igreja Paroquial daquela freguesia.

Rapidamente o culto cresceu e se expandiu, não só em Portugal. No Brasil, por exemplo, é padroeira da cidade de Curitiba, no Estado do Paraná. Nas ilhas Canárias, “Nossa Senhora da Candelária” é, igualmente, a padroeira.  Em muitos outros lugares do nosso país, como em Terroso (Póvoa de Varzim), Mourão (Alentejo), Samuel (Soure), Ferreiros (Lamego), Delães e Landim  (Famalicão), S. Faustino (Guimarães), Nespereira (Lousada), esta festividade é assinalada com grande fervor.

O Papa, no século X, oficializou esta celebração que se chama , em rigor, “Festa da Apresentação do Menino Jesus no Templo e da Purificação de Nossa Senhora”,  começando, precisamente, por ser uma procissão à luz de candeias.

Nossa Senhora das Candeias era tradicionalmente invocada pelos cegos (como afirma o Padre António Vieira no seu Sermão do Nascimento da Mãe de Deus: «Perguntai aos cegos para que nasce esta celestial Menina, dir-vos-ão que nasce para Senhora das Candeias"...

domingo, janeiro 26, 2025

Quando o Porto da Raiva "coalhava" de barcas e de gente...


Muito se tem escrito sobre o Porto da Raiva, não tivesse sido esta localidade ribeirinha um dos maiores portos fluviais do nosso país até meados do século XIX. A actividade portuária manteve-se, contudo, por mais um século, até meados do século XX , assumindo-se como "o principal porto serrano do Mondego, a setenta quilómetros da foz", como reconheceu Adriano Peixoto em 1947 quando escreveu o artigo "A vida de um rio", texto que consideramos ser uma das melhores referências escritas sobre a "vida" deste lugar. Um texto que a dado passo se transforma como que num filme onde há movimento, acção: a Raiva "peja-se de gente estranha. Barqueiros de todo o rio. Lenheiros e carreiros de Laborins, Travanca, Sobral, Cruz do Souto, S. Paio. Freguesia até às portas nas mercearias e vendas. O rio coalha-se de barcas. O areal coalha-se de gente. Filas de mulheres formigueiam entre o rio e a aldeia."

A VIDA DE UM RIO

Da foz do Ceira à Rebordosa, o vale do Mondego tem por vezes, a grandeza orográfica duriense. Na Rebordosa abre-se numa grande concha azul, para se fechar, convulsivamente, nas pedreiras altas da Livraria, à vista de Penacova, onde esmaece o clarão arco-irisado que, do mar às dramáticas penedias, inunda de luz o Mondego.

Cinco quilómetros adiante de Penacova, no caminho de S. Pedro de Alva, à entrada duma povoação, recortam-se no fundo branco duma placa da junta Autónoma das Estradas as letras sanguíneas desta palavra: Raiva.

A localidade em si nada tem de diferente das que se deixaram para trás. Casas dum lado e doutro da estrada, entre o rio e a aba do vale. As mesmas mercearias, as mesmas vendas, os mesmos velhos parados, as mesmas crianças, as mesmas galinhas, as placas metálicas das gasolinas e óleos de todos os aglomerados à beira das estradas, os mesmos editais.

Será apenas menos luminosa e menos agrícola. À volta não há um lameiro, nem grandes hortas ou pomares. Só pinheirais. Olivedos. Silêncio. E a povoação adormecida, o rio adormecido...

No entanto, em certos dias, a Raiva é uma aldeia singular, quando vive para o rio, como nenhuma outra povoação.

Três vezes por semana, às segundas, quintas e sábados, entrega-se completamente à vida fluvial. Peja-se de gente estranha. Barqueiros de todo o rio. Lenheiros e carreiros de Laborins, Travanca, Sobral, Cruz do Souto, S. Paio. Freguesia até às portas nas mercearias e vendas. O rio coalha-se de barcas. O areal coalha-se de gente. Filas de mulheres formigueiam entre o rio e a aldeia. Os homens válidos da Raiva desprezaram o rio. São serradores ou carpinteiros. Não anda hoje no Mondego uma barca da Raiva. Não há, sequer, um barqueiro nascido na Raiva...

Carros de bois sobem e descem o areal. As mulheres conduzem, à cabeça, tábuas e pranchas que vão buscar aos «depósitos», recintos murados, nos pontos da estrada mais próximos do rio, para facilitar a carga das barcas e camionetas. O plano ao nível da água destina-se às pilhas a exportar por via fluvial. É um tosco e húmido cais. O sobreposto é de construção mais caprichosa. Domina-o uma pérgola que lhe da o ar de um mirante. À primeira vista parece fantasia de um rude natural que tivesse regressado muito rico e a quem desse, ostentosamente, para embelezar a terra, mandando fazer aquilo... Mas sabe-se depois que a pérgola não é uma inutilidade, antes uma construção indis- pensável à cubicagem da madeira, um ester de cimento armado, caiado a branco e rosa.

Os carros de bois transportam a lenha armazenada nos barracões dispersos pelo povoado. A lenha é empilhada, separadamente, à proa e à ré, e as barças carregadas ganham a linha dos «juncos». Quando são muitas, forma-se em frente do lugar uma verdadeira aldeia lacustre.

Em várias manhãs chegam a reunir-se mais de cem.

Por volta do meio dia começa a largada.

As barcas contornam a serrazinha da Mougueira que, do Poente, avança sobre a Raiva e se queda defronte, na margem direita, revestida de pinheiros e eucaliptos. O rio, desobstruído, torna a ser remansoso e verde. A branda corrente leva as barcas, as madeiras, as lenhas, os barqueiros, a vozearia. E a essa hora, quando a sereia da fábrica de serração lança o seu prolongado mugido, o som tem acordes de búzio, evocando o que quer que seja do oceano distante. Ligada a visão da azáfama no areal à voz lamentosa da sereia e à perspectiva da localidade, tomada do sul, tem-se por instantes a ilusão da vida de um porto interior de um grande canal. O eco dos motores da fábrica, abafado pela vegetação, é tal qual o ruído das hélices dos vaporsitos espadanando a água. E a voz da sereia, o grito dos barcos que abandonam o porto a voz das últimas barcas que deixam a Raiva...

O movimento portuário da Raiva está circunscrito à exportação de madeiras e lenhas. A camionagem não ousa eliminar a concorrência das barcas. Por duzentos e cinquenta escudos uma barca leva a igual distância as mesmas dez toneladas que uma camioneta não transporta por menos de seiscentos ...

A Raiva é ainda o principal porto serrano do Mondego, a setenta quilómetros da foz. Porém, até meados do século XIX foi dos maiores portos fluviais portugueses.

Nessa época o seu tráfego não se limitava à drenagem florestal. Compreendia toda a exportação e importação económicas. Mais ainda. Registava um extraordinário movimento de passageiros!

À Raiva chegavam a cavalo ou em carros de bois, vindos de toda a Beira, os que se dirigiam para Coimbra ou a outros portos de jusante e ali tomavam as barcas: estudantes, fabricantes de tecidos, negociantes, recoveiros, almocreves. Para cima de quinhentas unidades constituíam então a frota do Mondego.

Na Raiva havia grandes armazéns de cereais, legumes e batatas, que a Beira exportava para o baixo río. Do mar, as barcas levavam à Raiva o sal e o peixe que a Beira consumia: o vinho da Bairrada e das Gândaras; muita mercadoria que distribuíam pelo alto distrito os armazéns de víveres das duas cidades do rio; e os lentes e os estudantes coimbrões, com as suas famílias e a criadagem, que iam passar as férias às terras natais.

Militarmente, o porto teve acção importantíssima em determinada altura da Guerra Peninsular. A ele convergiam, transportadas pela barcas serranas, os mantimentos, as municões e o gado para as forças anglo-lusas que perseguiam as hostes francesas em retirada.

E na Raiva existiam, inclusivamente, os mais vastos estaleiros do rio.

Dessa remota opulência restam somente recordações e ruínas.

A nota evocadora mais viva é a feira, que continua a efectuar-se no quinto dia da semana, apesar de ter perdida quase tudo da sua importância de outrora.

Por causa da feira da Raiva tiveram de ser transferidos os dias das audiências na Comarca de Penacova. O tribunal ficava às moscas. Faltavam as testemunhas. Faltavam os jurados. E não sei até se alguma vez chegaram a faltar os réus...

A mais impressionante, no entanto, é a das ruínas dos armazéns, tão tristes que a aldeia as abandonou, furtando-se ao seu convívio e à sua contemplação: casas meio destelhadas, outras sem teto, paredes caídas, entre as quais crescem as silvas e as figueiras bravas. Duas ou três servem de currais. As pedras tombadas entulharam as ruas. Ninguém lhes mexeu...

A Raiva nova estende-se para o norte, em busca de solo firme onde possa edificar a sua perenidade. Alia-se à estrada parecendo não fazer caso do rio...

Excerto do artigo “A Vida de Um Rio”, de Adriano Peixoto, publicado no volume X do Arquivo Coimbrão, 1947.

sexta-feira, janeiro 24, 2025

Da minha janela: A democracia em autofagia


A Democracia em autofagia

Autofagia, em sentido figurado, significa autodestruição; Democracia, em sentido real, significa o regime político em que os cidadãos -no aspecto dos seus direitos- participam em igualdade, com ambição.

Esta participação dos cidadãos pode ocorrer directamente ou através de representação dos seus eleitos. Os eleitos devem, assim, trabalhar com o objectivo de cumprir os anseios dos seus votantes/eleitores, ou seja do Povo a que vão fazendo promessas.

Está em causa o exercício do poder e da governação e da oposição, tendo em vista a criação de leis sobre as condições sociais, económicas e culturais e cumprir os objectivos enunciados e sufragados livremente, na óptica da defesa do Estado de Direito.

Tudo começou na Atenas Clássica, como antónimo (contrário) da autocracia…

Abrange-se, essencialmente, o sufrágio eleitoral livre, sem coação e a cidadania integral e “limpa”, na avaliação que eu faço; excluem-se todas as ações que favoreçam os “interesses pessoais condicionantes”, como a “fabricação de figuras” por meios e modos que, fora da política, a manietam, por esse mundo fora, cada vez mais aguerridamente.

E, naturalmente, integra-se a Liberdade!

E, também, a paz e o respeito pelo Direito Internacional e pelos seus contornos, tudo construído no post guerra e, ultimamente, a desabar a uma velocidade estonteante, como se de um baralho de cartas se tratasse.

Conhecem-se suficientemente bem os regimes democráticos e, igualmente, os autocráticos, que já pululam pelas geografias do mundo, sem que as Democracias os saibam antecipar.

E tem-se aliado a Democracia às Constituições resultantes de processos livres, em que o que mais importa (o centro) é o tal Povo.

Nos últimos tempos confundem-se conceitos de organização política, com as ideologias vigentes desde o princípio do século passado; esquecemo-nos só que “organizar” o mundo entre “esquerda” e “direita” se torna, hoje, tão redutor, tão inconsequente, que nos permite assistir a ações e atitudes meramente de “direita”, praticadas pela “esquerda” e vice-versa. Quando se chega ao “poleiro” tudo se esvai. Passa a contar só o umbigo e o benefício das “portas giratórias”!

Ou seja,

!… Na minha modesta opinião, já não é “de direita” só quem o diz e já não é “de esquerda” quem o quer fazer parecer ser …!

As posições políticas têm de ser alicerçadas em ações concretas, com impacto visível na vida das Pessoas e nunca em proclamações desgarradas, incipientes e sem qualquer tipo de fiabilidade.

Não pode ser só vociferar hipotéticos posicionamentos políticos; têm mesmo de ser levados à prática (à risca) os aspectos que caracterizam isto ou aquilo. Não vale de nada gritar ou manifestar.

Começando no nosso País pequenino e indo por aí afora -Europa, Mundo-aquilo a que assistimos é a uma profunda delapidação dos valores e dos meios e das riquezas comuns, uma degeneração dos carácteres, tudo com apropriações indevidas de meros estatutos, sem resquícios de humanidade ou de respeito pela ética.

Todos conhecemos casos diversos envoltos nestas confusões, com generalização acentuada da apropriação de benefícios imerecidos, em todas as latitudes, sem integridade; todos conhecemos figuras que a política impõe, com comportamentos ditatoriais.

Todos sabemos que sem se colocar o mérito como valor primeiro, o Povo fica cada vez mais prejudicado, mais goradas as suas expectativas e isso leva ao seu desligamento da política e ao seu olhar desconfiado para quem a exerce como profissão.

Continuando a ser este o caminho, quer parecer-me que chegaremos, rapidamente, a uma confusão tal em que o respeito pelo voto popular deixará de ter qualquer tipo de significado.

O mesmo acontecendo à valorização dos princípios do primado da Lei, do respeito pelos resultados eleitorais, da inviolabilidade das fronteiras, sem natural consagração da soberania e dos Direitos Humanos, o que tornará moribunda a Democracia.

Não tarda e valerá mesmo só “a força” (em sentido lato) bem como a “matreirice” e a “subordinação a valores maiores”.

… e  nenhum serve [nem nunca serviram] a Democracia!


Luís Pais Amante

quarta-feira, janeiro 22, 2025

Viagem por Lorvão e Telhado: uma crónica do Padre Américo, quando era seminarista em Coimbra



Frei Junípero foi o pseudónimo do seminarista Américo Monteiro de Aguiar, futuro Padre Américo e fundador da Obra da Rua, em Lume Novo, revista dos alunos do Seminário Maior de Coimbra, no final da década de vinte. Aí, Américo evidenciava já o grande talento para a escrita, que mais tarde no jornal O Gaiato, e não só, revelou. 

Transcrevemos parte de uma das suas crónicas publicada naquela revista  com o título “Dois famosos viandantes” (nº 8, Novembro de 1928) onde refere uma viagem passando pela Rebordosa em direcção a Lorvão e depois por Telhado, onde beberam um copo em casa do pai do Padre Manuel Marques, seguindo daí para o Buçaco.  


 DOIS FAMOSOS VIANDANTES

Era já noite alta quando chegámos ao Lorvão, e o soberbo mosteiro emergia agora das sombras em silêncio, majestoso, numa agonia de séculos. 

Na camionete que de Coimbra nos trouxera a Rebordosa, um amável viandante informou que dali ao lugar seriam uns dois quilómetros e meio, mas eu cuido que ele teria sido mais exato se, em vez de quilómetros, houvera dito léguas; pois que, tendo largado a estrada por volta das sete horas da tarde, quiseram os fados que sofrêssemos amargas experiências aonde bem pudéramos ter colhido as mais gratas impressões, se o tempo fora mais largo e a distância mais curta.

O Rev.º Prior da freguesia, à porta de quem batemos a horas desusadas, recebeu-nos numa grande exclamação de espanto e alegria, e, com um melão que levávamos e uns ovos fritos que ele nos deu, fizemos uma ceia deliciosa, regalada. Assim terminámos a primeira aventura do primeiro dia, em duas camas muito grandes nuns quartos muito pequenos.

Fica numa pequena encosta, sobranceira ao mosteiro, a casita do nosso bom Prior, e eu sozinho, da janela do quarto, tive uma das visões mais felizes da minha vida: a lua tinha subido, clara, silenciosa; iluminava agora o dorso de todos aqueles montes que escorregam até ao fundo -suaves, vestidos de verde-, lindíssimos; e foi então que eu vi pela primeira vez uma das alas do gigante, a olhar a lua, cansado de sofrer as torturas do tempo e dos homens.

Uma aragem fresca, subtil, entrava pela janela dentro. Tive ganas de chamar o meu companheiro (1), que dormia num quarto por detrás do meu, ele, também amigo de ver coisas lindas, mas a jornada tinha sido puxadita e na descida duma ladeira de pedras soltas, que por engano subíramos, já noite alta, o meu dito companheiro foi o valente suporte duma malita de mão que levávamos e do rabiscador destas linhas, que não se ajeita a andar às escuras.

Na manhã seguinte, por volta das sete horas, entrávamos na igreja do mosteiro, simples, elegante, lavrada em pedra estilo Renascença. No fim da Missa o Rev.º P.e Basílio (2) , gostosamente, mostrou-nos os paramentos e outras preciosidades da igreja, que lhe estão confiadas; e logo subimos acima, aonde repartiu connosco, generosamente, o pobre conforto da sua casa e a modéstia da sua mesa.

Ia para as duas horas, quando, sob um céu de nuvens carregadas, nos fizemos de proa à Mata do Buçaco, caminhando sempre pelo dorso da serra, aonde entrámos por volta das sete, pelas portas da Cruz Alta. O Caramulo, a Estrela, a Lousã olhavam-nos ao longe, e, a poente, na orla do horizonte, víamos o enorme cotovelo do Cabo Mondego e um extenso lençol de areia branca onde se perdia o Atlântico. Era precisamente desta banda que uma brisa forte e salgada nos fustigava as faces, impedindo que as nuvens, então ameaçadoras, se despejassem sobre nós; ainda assim não fomos tão felizes que não tivéssemos de estugar o passo, serra em fora, a procurar abrigo num moinho de vento.

Durante o trajeto, no Telhado, entrámos uns momentos em casa do Rev.º P.e Marques (3). Uma capelinha, muito linda, mesmo à beira da estrada, dá a direção para a simpática vivenda do não menos simpático Prefeito da “Segunda”. Subimos ao patamar, entrámos no sobrado; houve os cumprimentos e perguntas do estilo e logo o Joaquim foi abaixo, à loja, em cata de qualquer coisita fresca. O Rev.º Prior do Lorvão acompanhara-nos até aqui. Uma bandeja com copos ia passando à roda. O P.e Marques explicava, enquanto o Joaquim vazava vinho nos copos, “que o vinhito era o tipo da terra: fraquito mas alegre”. Gostei imenso do qualificativo. Na verdade a generosidade do vinho é sem limites - dá toda a sua alegria a quem no bebe.

Houve menino que despejou o seu copo duma assentada. Eu tomei o meu, bati um gole de vinho no céu da boca, à moda dos provadores, e fiz uma cara muito feia. O pai do P.e Marques viu a cara, toma o copo, bebe um trago e exclama: - Ora bolas! O vinho é bom, mas é para temperar batatas. Era vinagre!

O moinho que nos abrigava ficava-nos agora atrás e estávamos ao pé dum outro, ponto de referência que trazíamos para encontrar a estrada que nos havia de levar à Cruz Alta.

Para as bandas de Coimbra chovia a potes e nuvens negras, pesadas, ameaçadoras, corriam de nascente, em direção ao mar. O meu companheiro foi pesquisar a estrada enquanto eu fiquei encostado à porta do 2.º moinho e logo lhe ouvi o grito consolador: Ei-la! Corríamos agora, a par, o piso fácil da estrada — quem sabe! — talvez escapássemos à chuva. Já se via um pequeno bosque, fora das portas da Mata e eu, de longe, ia escolhendo com a vista entre as árvores, a mais copada de todas para o que desse e viesse. Íamos entrar na Mata; olhámos as nuvens pela derradeira vez e mergulhámos na densidade do arvoredo, perdidos por atalhos e veredas até dar com a avenida que corta a Mata, das portas de Coimbra às da Rainha. (...)

Fonte: 

Padre Américo: Frei Junípero no Lume Novo, Organização, introdução e fixação de texto de Henrique Manuel Pereira. Outubro 2015

_______

Notas:(1) “O companheiro era o António Antunes da Cruz Gomes, mais tarde ordenado, aluno da Universidade de Estrasburgo e professor do Seminário de Coimbra, morto prematuramente em 1948, quando tanto havia a esperar ainda da sua vigorosa e penetrante inteligência e invulgar cultura.”  (2) Basílio da Costa Morgado, que depois de Pároco de Lorvão, foi pároco de Corticeiro (Mira) (3) “O Rev.do Padre Manuel Marques, ja falecido em 1955, depois de ter sido professor do Seminario, paroco de S. José de Coimbra, Assafarge e Penacova e Diretor Espiritual do Seminário de Coimbra.”




segunda-feira, janeiro 20, 2025

Penacova já tem Conselho Municipal de Turismo


Foi publicado no Diário da República, 2ª série, nº 210, de 29 de Outubro passado - estando, portanto, em vigor - o Regulamento do Conselho Municipal de Turismo. O mesmo fora aprovado pela Assembleia Municipal (sessão ordinária de 30 de setembro de 2024), sob proposta da Câmara (reunião ordinária de 11 de julho de 2024).

Refere-se no preâmbulo que “o município de Penacova é, pelas suas características naturais e recursos endógenos, um território com apetência para o desenvolvimento de atividades ligadas ao turismo.”

Reconhece-se também que “a atividade turística tem tido, ao longo do tempo, uma importância crescente na dinâmica económica e social”, o que reflecte “o aumento da importância económica, mas também uma maior exigência de qualidade dos serviços prestados.”

“Um acolhimento turístico qualificado é condição indispensável para a edificação de um destino turístico sustentável.” - salienta igualmente o documento.

À semelhança do que defende a maioria dos municípios portugueses que já têm, igualmente, constituído um Conselho Municipal de Turismo (CMT), no caso de Penacova explicita-se que este órgão consultivo tem como meta “formar uma plataforma de debate em que os diferentes intervenientes, entidades públicas e privadas, possam contribuir para a qualificação da oferta turística municipal (...) e promover, acompanhar, analisar, debater e sustentar um processo de reflexão estratégica sobre o setor turístico de Penacova.”

Que objectivos?

Passamos a transcrever os 10 objectivos definidos: 

“Promover a participação e envolvimento do setor público, setor privado, sociedade civil, movimento associativo e stakeholders, nas políticas turísticas do concelho, numa perspetiva de desenvolvimento turístico, a curto, médio e longo prazos; promover uma reflexão estratégica sobre o turismo em Penacova, mobilizando os agentes locais do setor, tendo em vista a concretização de medidas e projetos estruturados e compatibilizados com o plano de atividades da Câmara Municipal e dos agentes turísticos; aumento da atratividade e competitividade do município no setor; pugnar pela conservação do património edificado e imaterial; reforçar a promoção dos produtos endógenos; promover a qualificação da oferta turística; criar sinergias para uniformização da informação que é veiculado pelas entidades e agentes turísticos sobre a oferta turística do concelho; promover redes colaborativas entre todos os agentes; promover a sustentabilidade económica, social e ambiental de Penacova enquanto destino turístico; aumentar a notoriedade e visibilidade nacional e internacional.”

A composição do CMTP é a seguinte:

Presidente da Câmara Municipal ou em quem este delegar; representante do pelouro ou divisão de turismo; representante do Turismo do Centro de Portugal; representante da empresa municipal Penaparque; representante das agências de viagem; representante dos empresários do alojamento/hotelaria; representante das empresas de animação turística; representante dos empresários da restauração e bebidas; representante do agrupamento de escolas; representante do ensino profissional; representante do movimento associativo e cultural sediado em Penacova; representante de cada partido ou grupo com assento na Assembleia Municipal; representante de cada Junta e União de freguesias; representante dos artesãos.

O regulamento ressalva ainda que o referido Conselho “pode, sempre que assim o entender e a temática o exigir, convidar a estar presentes nas reuniões, sem direito a voto, outras entidades ou personalidades com conhecimentos e competências relevantes para emissão de pareceres ou prestação de esclarecimentos ou que sejam consideradas úteis para os trabalhos.”

domingo, janeiro 19, 2025

Coral Divo Canto na Sé Catedral de Lisboa




O Coral Divo Canto actuou hoje na Sé Catedral de Lisboa. O grupo participou na Missa Dominical das 11:30 h e, de seguida, apresentou um CONCERTO especial. Acompanharam o evento o Presidente da Câmara de Penacova, Álvaro Coimbra, bem como outros penacovenses, entre eles Luís Pais Amante que organizou, junto do Patriarcado e do Coral, esta iniciativa. A Casa do Concelho esteve igualmente presente, tendo feito a gravação em vídeo desta memorável actuação: https://www.facebook.com/CasaConcelhoPenacova

De acordo com a organização tratou-se de um "momento único de espiritualidade e música, num dos cenários mais emblemáticos de Lisboa."

VÍDEOS

𝐎𝐁𝐒: 𝐎𝐒 𝐕Í𝐃𝐄𝐎𝐒 𝐐𝐔𝐄 𝐒𝐄 𝐒𝐄𝐆𝐔𝐄𝐌 𝐅𝐎𝐑𝐀𝐌 𝐏𝐑𝐎𝐃𝐔𝐙𝐈𝐃𝐎𝐒 𝐏𝐄𝐋𝐀 𝐂𝐀𝐒𝐀 𝐃𝐎 𝐂𝐎𝐍𝐂𝐄𝐋𝐇𝐎 𝐃𝐄 𝐏𝐄𝐍𝐀𝐂𝐎𝐕𝐀, 𝐒𝐄𝐌𝐏𝐑𝐄 𝐀𝐓𝐄𝐍𝐓𝐀 𝐄 𝐀𝐏𝐎𝐈𝐀𝐍𝐓𝐄 𝐃𝐄 𝐈𝐍𝐈𝐂𝐈𝐀𝐓𝐈𝐕𝐀𝐒 𝐐𝐔𝐄 𝐃𝐈𝐆𝐍𝐈𝐅𝐈𝐂𝐀𝐌 𝐎 𝐂𝐎𝐍𝐂𝐄𝐋𝐇𝐎.

 https://fb.watch/xd6XE9thTz/

Vídeo: Casa do Concelho de Penacova em Lisboa

                                            Vídeo: Casa do Concelho de Penacova em Lisboa


                                             Vídeo: Casa do Concelho de Penacova em Lisboa


                                            Vídeo: Casa do Concelho de Penacova em Lisboa


                                           Vídeo: Casa do Concelho de Penacova em Lisboa

Vídeo: Casa do Concelho de Penacova em Lisboa