A Democracia em autofagia
Autofagia, em sentido figurado, significa autodestruição; Democracia, em sentido real, significa o regime político em que os cidadãos -no aspecto dos seus direitos- participam em igualdade, com ambição.
Esta participação dos cidadãos pode ocorrer directamente ou através de representação dos seus eleitos. Os eleitos devem, assim, trabalhar com o objectivo de cumprir os anseios dos seus votantes/eleitores, ou seja do Povo a que vão fazendo promessas.
Está em causa o exercício do poder e da governação e da oposição, tendo em vista a criação de leis sobre as condições sociais, económicas e culturais e cumprir os objectivos enunciados e sufragados livremente, na óptica da defesa do Estado de Direito.
Tudo começou na Atenas Clássica, como antónimo (contrário) da autocracia…
Abrange-se, essencialmente, o sufrágio eleitoral livre, sem coação e a cidadania integral e “limpa”, na avaliação que eu faço; excluem-se todas as ações que favoreçam os “interesses pessoais condicionantes”, como a “fabricação de figuras” por meios e modos que, fora da política, a manietam, por esse mundo fora, cada vez mais aguerridamente.
E, naturalmente, integra-se a Liberdade!
E, também, a paz e o respeito pelo Direito Internacional e pelos seus contornos, tudo construído no post guerra e, ultimamente, a desabar a uma velocidade estonteante, como se de um baralho de cartas se tratasse.
Conhecem-se suficientemente bem os regimes democráticos e, igualmente, os autocráticos, que já pululam pelas geografias do mundo, sem que as Democracias os saibam antecipar.
E tem-se aliado a Democracia às Constituições resultantes de processos livres, em que o que mais importa (o centro) é o tal Povo.
Nos últimos tempos confundem-se conceitos de organização política, com as ideologias vigentes desde o princípio do século passado; esquecemo-nos só que “organizar” o mundo entre “esquerda” e “direita” se torna, hoje, tão redutor, tão inconsequente, que nos permite assistir a ações e atitudes meramente de “direita”, praticadas pela “esquerda” e vice-versa. Quando se chega ao “poleiro” tudo se esvai. Passa a contar só o umbigo e o benefício das “portas giratórias”!
Ou seja,
!… Na minha modesta opinião, já não é “de direita” só quem o diz e já não é “de esquerda” quem o quer fazer parecer ser …!
As posições políticas têm de ser alicerçadas em ações concretas, com impacto visível na vida das Pessoas e nunca em proclamações desgarradas, incipientes e sem qualquer tipo de fiabilidade.
Não pode ser só vociferar hipotéticos posicionamentos políticos; têm mesmo de ser levados à prática (à risca) os aspectos que caracterizam isto ou aquilo. Não vale de nada gritar ou manifestar.
Começando no nosso País pequenino e indo por aí afora -Europa, Mundo-aquilo a que assistimos é a uma profunda delapidação dos valores e dos meios e das riquezas comuns, uma degeneração dos carácteres, tudo com apropriações indevidas de meros estatutos, sem resquícios de humanidade ou de respeito pela ética.
Todos conhecemos casos diversos envoltos nestas confusões, com generalização acentuada da apropriação de benefícios imerecidos, em todas as latitudes, sem integridade; todos conhecemos figuras que a política impõe, com comportamentos ditatoriais.
Todos sabemos que sem se colocar o mérito como valor primeiro, o Povo fica cada vez mais prejudicado, mais goradas as suas expectativas e isso leva ao seu desligamento da política e ao seu olhar desconfiado para quem a exerce como profissão.
Continuando a ser este o caminho, quer parecer-me que chegaremos, rapidamente, a uma confusão tal em que o respeito pelo voto popular deixará de ter qualquer tipo de significado.
O mesmo acontecendo à valorização dos princípios do primado da Lei, do respeito pelos resultados eleitorais, da inviolabilidade das fronteiras, sem natural consagração da soberania e dos Direitos Humanos, o que tornará moribunda a Democracia.
Não tarda e valerá mesmo só “a força” (em sentido lato) bem como a “matreirice” e a “subordinação a valores maiores”.
… e nenhum serve [nem nunca serviram] a Democracia!
Luís Pais Amante
Que artigo oportuno primo Luís .
ResponderEliminarEstamos a viver momentos muito tristes, com o Povo esfomeado e os políticos metidos em sarilhos enormes.
Está mesmo em perigo a Democracia.
As:
Eduardo Cruz (Becas)
Independentemente da ideologia política de cada um....por mais que façam...ou tentem fazer...será completamente impossível pois faltam os valores essenciais que deveriam fazer parte de cada um...desde os valores e direitos humanos....o bom carácter...o respeito....a humildade....e sem isso ....como se pode progredir e melhorar ? Na minha perspectiva isso jamais irá acontecer...o lixo e a podridão é tanta...que ficamos totalmente esgotados...e sem esperanças de dias mehores!
ResponderEliminarNão referindo nenhum caso específico, a verdade é que abrange imensos casos da actualidade; aí em Portugal e no Mundo.
ResponderEliminarGostei mesmo muito
Excelente artigo que relata mais uma vez na hora certa o estado a que chegou a democracia, não aquela em que todos os verdadeiros democratas acreditam, mas no que a estão a transformar, se não acordamos a tempo e depois das eleições dos EUA controladas pelas redes sociais, não passaremos a ser mais do que uns servos dos todos poderosos deste mundo.
ResponderEliminarMeu caro Luís - Mais uma importante reflexão sobre a evolução (delapidação) da democracia que não resistirá ao primado da estupidez humana que também aniquila a esperança num mundo melhor! Abraço,
ResponderEliminarCarlos das Neves
Partilho inteiramente a mesma preocupação e quanto a supostos posicionamentos políticos, são as ações que o determinam e não o palavreado de cada um, como aqui é dito:
ResponderEliminar"já não é “de direita” só quem o diz e já não é “de esquerda” quem o quer fazer parecer ser …!
As posições políticas têm de ser alicerçadas em ações concretas, com impacto visível na vida das Pessoas e nunca em proclamações desgarradas, incipientes e sem qualquer tipo de fiabilidade."
Eduardo Ferreira
Muito bom ! 👏👏Concordo plenamente com a tua análise. Tempos difíceis se aproximam e palavras como Liberdade e democracia podem desaparecer do nosso léxico
ResponderEliminarTexto lúcido, original , consistente que abrange com grande amplitude a grande confusão política e interesses específicos que não o bem-estar das populações, e que vem se repetindo a tantos anos com pouca perspectiva positiva para o futuro. Parabéns
ResponderEliminarConcordo plenamente com o que diz
ResponderEliminarAs pessoas só dão importância às coisas quando elas lhes faltam .
Tenhamos esperança para que os nossos netos não sintam as carências que a maioria da nossa geração sentiu. Não saibam por exemplo que se precisarem de cuidados médicos têm que vender o que têm, se tiverem ,para se tratarem, ficando na miséria e tantas outras coisas,como educação etc etc. Pensam que são direitos adquiridos, mas não são. Há que lutar por eles
Eu diria que já vale tudo e o mais evidente sinal disso é o recente caso de cleptofobia assumida e desavergonhada...
ResponderEliminarArmando Mendes
O texto evidencia uma realidade transversal a todos os domínios da nossa vida. Infelizmente, o que se diz é uma coisa e o que se faz é outra. Nos extremos do espetro político, seja de direita ou de esquerda, não me parece que está o caminho certo para as sociedades se organizarem. O mundo não é preto e branco, é cinzento. Um abraço
ResponderEliminarMuito boa reflexão obg Luís
ResponderEliminarNatalia
Meu caro Dr. O que escreve infelizmente são factos! O que vem da América não ajuda nada, melhor é um retrato do que relata. Estamos a entrar em caminhos perigosos. E agora as disputas não são à bordoada, espadeirada ou tiro de canhão...
ResponderEliminarExcelente análise! Muito obrigada!
ResponderEliminarVirgínia
Muito bom!
ResponderEliminar"on the spotch" Luís. Um abraço
António Cavaco