Farinha Podre, Carvalho, Sanguinheda… terras que foram cabeça de concelho e - que saibamos – das quais não ficou qualquer registo escrito da actividade político-administrativa desses tempos.
Sobre Farinha Podre, hoje S. Pedro de Alva, recordemos que a Reforma Administrativa de 1836, se por um lado suprimiu muitos concelhos que pelas suas pequenas dimensões não se tornavam viáveis, por outro lado, criou alguns, não muitos, atendendo a factores naturais e humanos e, obviamente, políticos. Foi assim que, num momento em que o número de concelhos levava uma forte machadada, Farinha Podre teve o privilégio de ascender a concelho. No distrito de Coimbra igual sorte teve S. Miguel de Poiares. Apesar de passado pouco tempo ter sido extinto, conseguiu recuperar mantendo-se até hoje, o que não se verificou com Farinha Podre.
A fragilidade do concelho de Farinha Podre revelou-se muito cedo. Logo no ano a seguir à sua criação, perdeu a freguesia de Carapinha para o concelho de Tábua. Passados apenas dezassete anos, com os ventos centralizadores da Regeneração, acabou por ser extinto por Decreto de 31 de Dezembro de 1853. No distrito de Coimbra igual destino tiveram os concelhos de Coja, Midões, Ançã e Tentúgal.
Foram poucos anos, mas sempre foram dezassete... Quem foram os titulares dos cargos políticos? Como se desenvolveu a administração do novo concelho?
Apenas temos conhecimento das Posturas publicadas muitos anos depois num periódico local. Nada mais, que tenhamos conhecimento, existe em arquivo. Lamentável…
Há dias, ao consultar um livro publicado em 1899 tendo como autor Sanches de Frias e intitulado Pombeiro da Beira: memória histórica e descriptiva tropeçámos com uma passagem, que apesar de relacionada com a Sanguinheda (que em tempos idos foi sede de concelho) nos faz pensar que algo parecido se terá passado com Farinha Podre.
Escreve Sanches de Frias:
[…] Dos arquivos da Sanguinheda, que foi cabeça de concelho, nada existe, que conheçamos. Disse-nos ali o sr. Soares da Costa, modesto proprietário, filho do último escrivão e tabelião da Sanguinheda e sofrível e sozinho sabedor das velharias da sua terra que ao passar o Cartório em 1836 para a jurisdição de Farinha Podre, hoje S. Pedro do Alva, desapareceram os papéis desse e outros arquivos, indo seu próprio pai vender a Coimbra uma carrada deles para embrulho! […] Quando, há pouco ainda, se procurou entre os livros velhos de um negociante de Coimbra uma obra, que nos foi prometida, um ínfolio manuscrito, encadernado em pergaminho, referente às antiguidades de Pombeiro e saído outrora do arquivo dos condes respectivos, viu-se que fôra destruído por um caixeiro, que, folha a folha, o reduzira a papel de embrulho.”
Perante esta “barbaridade”, Sanches de Frias, faz o seguinte comentário:
“Ainda este é um caixeiro, cujas untuosidades de espírito não passam além da manteiga que mercadeja e embrulha; mas .. escrivães e outras superiores e mais conspícuas autoridades, ao consentir na venda, às carradas, de manuscritos antigos, únicos documentos históricos, pelo menos, até o meado do século XV... precisavam, Deus nos perdoe, de um auto de fé, que os purificasse do atroz vandalismo. “
Terá sido por estas e por outras que hoje nada sabemos da história do concelho de Farinha Podre…
Igualmente, de Penacova muita coisa se perdeu. Segundo consta, o próprio Foral andou “ao Deus dará” durante muitos anos, o que nos dá uma triste imagem do cuidado que se tinha com os documentos, muitos deles preciosos, que hoje seriam úteis para se saber um pouco mais sobre o passado do nosso concelho e da nossa região.
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