D. Sancho I, filho de D. Afonso Henriques, morreu em Março de 1211. Tinha três filhos legítimos e para evitar problemas fez testamento determinando que o mais velho (Afonso) lhe sucederia no trono, deixando aos outros dois consideráveis quantias de dinheiro. Às filhas (Teresa, Sancha e Mafalda) legou grandes propriedades. Teresa recebeu o Castelo de Montemor-o-Velho e as terras em redor, Sancha ficou com a vila de Alenquer e Mafalda com os mosteiros de Bouças e de Arouca (e ainda a herdade de Seia.)
Afonso assinara o testamento mas não cumpriu totalmente a vontade do pai: entregou o dinheiro e as propriedades, sim, mas todos tinham de se submeter à sua autoridade. Apenas lhes deixou o rendimento, reservando para a coroa a autoridade sobre os homens e mulheres que viviam nesses domínios. O normal seria que quem detinha a posse da terra mandasse nas pessoas que lá viviam. Ora, Afonso II retirou essa prorrogativa. Profundamente descontentes, os irmãos partiram para o estrangeiro e as princesas lutaram durante muitos anos pelos seus direitos[i], dando origem a episódios bastante tumultuosos. Luta armada que ficou conhecida por “Revolta das Infantas”.
A nobreza dividiu-se: uma parte apoiava as pretensões de Teresa e suas irmãs, outra, defendia a posição de D. Afonso II. Lutas várias se sucederam entre os dois partidos. Conta o Livro de Linhagens do Conde D. Pedro que entre Montemor e Coimbra se travou um desses combates.
Montemor estava cercada pelas tropas de Martim Anes de Riba de Vizela. Do lado de D. Teresa destacou-se Gonçalo Mendes de Sousa. Conduzindo uma surtida contra os sitiantes conseguiu afastar Martim Anes na direcção de Coimbra. O confronto físico deu-se já longe do Castelo. As forças leais ao rei foram desbaratadas. Faltava agora eliminar o chefe. Gonçalo Mendes persegue-o por montes e vales até chegar a uma zona pantanosa, provavelmente a área hoje conhecida por Paúl de Arzila. Dá-se o frente a frente.
"Defende-te traidor! Hoje mesmo entrarás no Inferno por teres esquecido o serviço do Rei pelas saias da Infanta mal casada!" – gritou Martim Anes. Mas Gonçalo Mendes investiu. Cego de raiva atirou a espada na direcção do inimigo com tal ímpeto que logo ali o derrubou. Cavalo e cavaleiro precipitaram-se no pântano. Alguns pastores que andavam ao longe ouviram gritos e relinches mas não assistiram à morte horrorosa de Martim Anes que se afundou na lama do pântano coberto de sanguessugas negras que lhe sugaram o sangue até à ultima gota”. [ii]
Sem comentários:
Enviar um comentário