sexta-feira, novembro 12, 2010

Falar de Almas e de Alminhas...em Novembro

Novembro mês das Almas
A tradição cristã consagra o mês de Novembro ao sufrágio pelas “Almas”. Tradição que começa no dia dos «Fiéis Defuntos”  e continua por todo o mês, durante o qual os crentes lembram diante de Deus aqueles que os precederam na fé.
Logo no primeiro dia do mês - solenidade litúrgica de Todos os Santos - os cemitérios enchem-se de pessoas, antecipando assim o dia propriamente dedicado à Comemoração dos Fiéis Defuntos. Em tempos não muito distantes, ao longo do mês, meditava-se na vida para além da morte. A devoção pelas almas do Purgatório era especialmente actualizada nesta quadra e promovida  pelas Confrarias das Almas.
Segundo o historiador, António Matias Coelho, no cristianismo primitivo só existia Céu e Inferno.  A ideia do Purgatório surgiu depois, na Idade Média, quando a Igreja, na sequência do Concílio de Trento de 1563, o impõe como dogma, numa lógica de resposta católica à Reforma levada a cabo pelos protestantes. Passava assim a haver um estado intermédio para as almas das pessoas que faleciam. Em vez do dualismo do Céu, para os bons, e do Inferno, para os impuros, criou-se um estado intermédio, um local onde durante algum tempo as almas ficariam a purificar-se.
É neste contexto de Céu, Inferno e Purgatório que terá nascido a construção das “Alminhas”. Segundo aquele historiador, as alminhas “são uma criação genuinamente portuguesa e não há sinais de haver este tipo de representação das almas do Purgatório, pedindo para os vivos se lembrarem delas para poderem purificar e "subir" até ao Céu, em mais lado nenhum do mundo a não ser em Portugal". Seremos, assim, o único país que, na sequência do Concílio de Trento (1545-1563), criou esses pequenos memoriais. Na sequência do já referido Concílio foram criadas as Confrarias das Almas – ainda existentes nalgumas regiões - como forma de institucionalizar a crença no Purgatório e impor a convicção de que as almas dos mortos sairiam tanto mais cedo do Purgatório quanto mais orações e esmolas por eles fossem aplicadas.

Se é verdade que as Alminhas são uma característica da genuína religiosidade popular portuguesa não deixa de ser preocupante a "morte lenta" que este culto vai apresentando, muitas vezes a começar pelo estado de abandono destes nichos em memória dos nossos mortos. Voltando às palavras do Prof. Matias Coelho, estamos hoje “bastante descristianizados e já não se vêem as alminhas iluminadas, tremelicando de luz, que dantes se viam ao longe acesas à noite, muitas vezes em locais ermos e distantes no meio do nada. Mas era desejável que estes objectos feitos de cantaria trabalhada ou outros materiais não acabassem no meio de silvas, como já acontece bastante.”

Almas...e Alminhas em Penacova
Já alertámos, para esta questão no Nova Esperança (Outubro de 2008 e Outubro de 2010) e  no blogue “Central Penacova” lemos também recentemente um artigo onde se apela para a necessidade de preservar este património. Escreve Óscar Trindade naquele espaço,: “No concelho de Penacova é fácil encontrar estes motivos da religiosidade do nosso povo. Algumas encontram-se em locais de fácil acesso enquanto outras estão construídas em locais ermos, de pouca passagem, sujeitas ao instinto maldoso de pessoas ignorantes que as têm destruído. Outras foram restauradas de forma grosseira sem ter em conta a sua originalidade e idade.”
Há cerca de sessenta anos, o Notícias de Penacova, escrevia o seguinte: “Lemos há dias a consoladora notícia que o município de Condeixa, por sugestão do presidente num gesto que a dignifica, resolvera mandar restaurar quanto possível segundo molde primitivo todas as alminhas levantadas pela fé sã dos seus maiores . Logo nos veio à mente que muito enobreceria a nossa Câmara tomando idêntica atitude”. E continua o articulista: “Merecem o nosso carinho e respeito esses “templozinhos” modestos, escondidos sob a ramada das árvores junto da via pública, alguns já desmaiados pela mão destruidora do tempo, mas todavia, conservando o seu significado: arrancar a atenção do viandante e colocá-lo perante a grande realidade do Além.”
Lembra ainda Óscar Trindade que “estes pequenos monumentos populares de grande beleza, importância histórica e cultural mereciam um olhar mais atento.” E lança a sugestão de ser feito “um levantamento de todas as Alminhas existentes no concelho a fim de serem catalogadas e referenciadas tendo em conta o local onde estão erguidas, mas isso será um a empresa que exige alguma colaboração do povo e das entidades que governam o nosso concelho, nomeadamente as Juntas de Freguesia.“

3 comentários:

  1. Muito interessante o texto e haja vista as já chamadas anteriores para a atenção das autoridades, espero que vocês, meus queridos amigos que têm esse interesse e valor na preservação histórica e cultural dos monumentos, neste caso, dos templozinhos, alcancem seu intento e que os mesmos estejam o quanto antes observados e restaurados. Aqui no Brasil vê-se este tipo de "capelinha" nos locais que por fatalidade houve acidentes com veículos e consequentemente, mortes no local, o que também não deixa de voltar nossas mentes para uma prece ou sentimento de compaixão por aquele que ali findou sua vida terrena.

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  2. Ma-Clarie, quero dizer Heliana, preciso resolver isso, David, desculpe-me.

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  3. Obrigado pela lição!
    Associo-me à necessidade da preservação do património, mesmo que seja elementar.
    Ali ao lado (em Espanha) muitas vezes, um simples calhau bem descrito vira a monumento. É necessário aproveitar o pouco que existe, sem o deslocar da época a que se reporta.
    Espero que os responsáveis acordem para a realidade do mundo atual.

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