Um ano diferente para o projeto " Caminhos da Batalha do Bussaco" - podemos ler hoje na página do Município. "Este ano não tivemos os nossos passeios encenados, as nossas atividades que de forma diferente tentam levar de uma forma lúdica e cativante a história da Batalha do Bussaco e a sua importância nesta região. Este vídeo é uma retrospetiva do nosso trabalho até aqui realizado, mas é também uma homenagem ao grande responsável pela existência deste projeto. Em memória do "General" Luís Rodrigues."
domingo, setembro 27, 2020
Os 210 anos da Batalha do Bussaco
No entanto, desenvolveu-se um programa que começou em Penacova , onde o Presidente da Federação Europeia das Cidades Napoleónicas, Charles Bonaparte, foi recebido pelo Presidente da Câmara, Humberto Oliveira.
A visita ao Centro de Interpretação “Mortágua na Batalha do Bussaco”, no Município de Mortágua, foi outro ponto.
De referir também que o Presidente da Federação Europeia de Cidades Napoleónicas, Charles Bonaparte, descendente de Napoleão Bonaparte plantou, uma oliveira na Mata Nacional do Bussaco, símbolo da Paz. Um ato de duplo significado: celebrar o Dia da Cooperação Europeia e marcar a integração do projeto europeu Interreg NAPOCTEP na Federação Europeia das Cidades Napoleónicas.
Além da assinatura do Protocolo de integração teve também lugar a apresentação de um vídeo promocional do projeto NAPOCTEP, “De Almeida ao Bussaco: na Rota das Invasões Francesas"
domingo, setembro 13, 2020
À SOMBRA AMENA DA PÉRGOLA (III) - O Castelo de Penacova e o florescimento da Vila
A importância notável do Castelo de Penacova, no largo período da reconquista cristã, não podia deixar de determinar que, junto dele construíssem suas moradias os guerreiros mais afortunados.
Assim nasceu a vila de Penacova.
Perdida a importância militar do Castelo, com a completa reconquista cristã do território português, e firmada a independência do reino de Portugal contra a pretensão dos Reis de Castela, podia ter acontecido que a vila se desmoronasse como o Castelo. Não aconteceu, porém, assim.
(…) Para fazer a sua história, era preciso que algum investigador competente rebuscasse nos arquivos da Torre do Tombo, da Casa Cadaval e outras, a documentação que por lá, sem dúvida, existe.
Não resta , porém, dúvida alguma de que foi muito florescente a vida de Penacova nos séculos XV, XVI e XVII.
Atestam-no exuberantemente, a arquitectura e a escultura de muitos edifícios que, felizmente, em Penacova têm resistido aos malefícios do tempo e dos homens. São notáveis a Igreja de Penacova, com as suas capelas laterais, a Capela de S. João, a Capela de Santo António, a Capela do Monte Alto, bem como alguns edifícios particulares que a Carochinha irá mencionando.(…)
quarta-feira, setembro 09, 2020
Poetas penacovenses (VII): Cogitando sobre as consequências deste tempo...
Nu
Poema de Luís Amante
Neste tempo de percurso cinzento,
fiquei nu
Corri devagar, pensei sem saber,
contive a tristeza
Não sorri, nem o exteriorizei,
nem falei com o cu
Apenas dei por mim a percorrê-lo só, com leveza
A minha rua, sem gente, vai nua
de despojada
E eu despido no silêncio que me
afaga
De beijos francos, carinhos em
laço de vaga
De abraços ternos, de ti como
sorte almejada
Nu é o despido de tudo, até de
auto-estima
Silêncio é o ponto mais assertivo
da rima
Gente é vida, amizade é culto abrangente
A tristeza cresce nesta condição
dormente
O mundo entorpece até para lá do
pungente
A crença desvanece, passando a
saber a lima
Telheiras Residence
9Set20; 17h45
Cogitando sobre as consequências deste tempo
sexta-feira, setembro 04, 2020
À SOMBRA AMENA DA PÉRGOLA (II) - O Castelo de Penacova e o Monte da Senhora da Guia
Acabada a guerra entre mouros e cristãos, e convencidos os castelhanos de que os portugueses se não deixavam dominar, o valor militar da maior parte dos castelos perdeu-se, pelo que estes foram em geral abandonados, começando a arruinar-se. O castelo de Penacova não fez excepção a esta regra.
Mas, ao formoso outeiro sobre que ele assentava, ir-se-ia dar outro destino ainda mais nobre. A vida mais pacífica dos povos determinou grande desenvolvimento da sua riqueza.O movimento comercial cresceu notavelmente. Como não havia as estradas que há hoje , era pelo rio Mondego que as mercadorias vindas de fora subiam do porto da Figueira até às Beiras e os produtos dessas regiões em excesso vinham igualmente para o porto da Figueira pelo rio Mondego para serem exportadas.
Desde a Raiva até Louredo numa extensãp de 9 ou 10 quilómetros, avistava-se o outeiro e Castelo de Penacova. Com os temporais, a navegação era muito difícil e perigosa o que levou um devoto a deixar em seu testamento os meios necessários para se construir no sítio do castelo uma capela consagrada à Virgem sob a invocação de Nossa Senhora da Guia, para que os barqueiros aflitos implorassem o seu auxílio.
Foi esta capela construída depois do meado do século XVIII, aproveitando-se em parte as paredes do castelo. Levou assim o castelo um grande rombo. O que sobrou dele ficou a ser explorado como pedreira, até que todo ele desapareceu. Os terraços do castelo ficaram com o nome de "Largo do Castelo" e eram pontos obrigatórios, de dia para os passeantes desocupados, e de noite para os descantes e serenatas da rapaziada da Vila.
À capela foi dado, há pouco tempo, outro destino, como é sabido, construindo-se capela nova a pouca distância. Era de há muitos idealizado um Hospital em Penacova, mas não havia os recursos necessários, para a construção e sustentação dele. Um dia soube-se em Penacova que um benemérito penacovense. do lugar da Ponte, António Maria dos Santos, que saira muito novo e pobre para o Brasil e de quem quase se apagara a notícia, tinha deixado em seu testamento um legado para construção de um modesto hospital em Penacova. Foi o primeiro passo para a construção do Hospital da Santa Casa da Misericórdia.
(continua)
CAROCHINHA (José Albino Ferreira)
segunda-feira, agosto 24, 2020
Nos 200 anos da Revolução Liberal recordemos os Penacovenses que foram presos e fuzilados.
Hoje, 24 de Agosto de 2020, assinalam-se os 200
anos da Revolução Liberal que inaugurou um novo capítulo da História de
Portugal. Novas ideias, novos caminhos que não foram fáceis de trilhar, que
inclusivamente deram origem a uma Guerra Civil.
Antes de terminar o dia de hoje, recordemos o trágico
episódio da “Queima da Pólvora” na Cortiça que acabou por trazer o luto ao
nosso concelho humilhando aqueles que defendiam os ideais do Liberalismo.
Lembremos os nomes das pessoas da região que foram
fuziladas em Viseu: António Homem de Figueiredo, da Cruz do Soito; António
Joaquim, da Várzea de Candosa; Padre António da Maya, natural da Cruz do Soito,
pároco de Covelo; Francisco Homem da Cunha e o irmão Guilherme Nunes da Silva,
da Cortiça; José Maria de Oliveira, da Cortiça e, os irmãos Francisco de Sande
Sarmento e Felizberto de Sande Sarmento da Carvoeira.
A feroz perseguição feita pelos Absolutistas conduziu à prisão e
fuzilamento de muitos outros, alguns deles penacovenses: António Homem de
Figueiredo e Sousa, da Cruz do Soito, irmão de D. Rita, mulher do capitão-mor
José Félix, e este, irmão de Bernardo Homem; António Joaquim de Moura; António
Francisco; António José de Frias, da Sobreira; António (Padre) da Maya, da Cruz
do Soito; António Marques Guerra, dos Poços; António de Sousa Maldonado
Bandeira; Bernardo Homem, da Cortiça (este nome consta da lista, mas haverá
equívoco, pois ja estava preso, há muito, nas cadeias de Almeida); Francisco,
filho de Bernardo Homem, da Cortiça; Francisco de Sande, da Carvoeira;
Guilherme, filho de Bernardo Homem, da Cortiça; João Pereira Saraiva; Joaquim
José Gonçalves; José Maria, filho de Bernardo Homem, da Cortiça; José Félix da
Cunha Figueiredo Castelo-Branco, que faleceu nas prisões; José Henriques, de
Farinha Podre, alfaiate; José Joaquim Pereira, de Farinha Podre; José Lopes;
José de Loureiro e Almeida, de Farinha Podre; José Inácio Martins; José Maria
de Figueiredo Castelo-Branco, filho do dito capitão mor José Félix da Cunha
Castelo-Branco; José Maria de Oliveira, da Cortiça; Manuel Correia; Manuel
Lourenço Gomes Cascão e Veríssimo Gonçalves.
De acordo com um historiador “o despotismo raivoso
encarcerou muita mais gente do que a constante da lista, com quanto não
houvesse metido nem prego nem estopa na queima da pólvora”.
Foi o caso de Francisco António da Assumpção, da Sobreira,
de cuja prisão resultou perder a sua mãe o uso da razão; Maria Benedita e Maria
Antónia, filhas de Bernardo Homem, bem como uma criada das mesmas; Ana Marques,
da Cortiça, solteira; José Joaquim Pereira, de Farinha Podre, bacharel formado;
Joaquina da Fonseca, de Farinha Podre, “e outras [pessoas], das quais umas não
foram pronunciadas, mas outras, ou o fossem ou não, jazeram nas cadeias de
Lamego até que esta cidade foi libertada.
sexta-feira, agosto 21, 2020
António José de Almeida, a ruptura com Afonso Costa e a fundação do Partido Evolucionista
António José de Almeida foi Ministro do Interior do Governo Provisório, de 5 de Outubro de 1910 a 4 de Setembro de 1911. Foi depois Presidente do Ministério da União Sagrada, de 15 de Março de 1916 a 25 de Abril de 1917, onde acumulava a pasta das Colónias.
Presidente da República, eleito em 6 de Agosto de 1919, exerceu as funções de 5 de Outubro de 1919 a 5 de Outubro de 1923.
Médico, deputado republicano antes de 1910. Quando estudante, com 24 anos, publica um célebre artigo, "Bragança, o Último", pelo qual é condenado a três meses de prisão. Exerce a clínica em S. Tomé, donde regressa em 1903. Em 24 de Janeiro desse mesmo ano, faz um vibrante discurso no funeral de Rafael Bordalo Pinheiro. Detido em 31 de Janeiro de 1908.
Segundo Raúl Brandão António José de Almeida é um orador. Até os seus artigos são discursos… mas justiça, liberdade e povo, que para outros não passam de palavras, são para ele realidades profundas.
"O mítico tribuno dos tempos da propaganda heróica, o palavroso ideólogo da revista Alma Nacional, impulsivo no discurso, volúvel de feitio, todo ele uma sucessão rápida de amores e ódios, misturando táctica com estratégia, não tinha ideias gerais assentes em linhas filosóficas mínimas. Romântico, homem de crenças, reduzia as ideias ao prazer do discurso."
A partir de Janeiro de 1911 desenha um movimento de ruptura com a facção dominante no Governo Provisório. Nesse mesmo mês apresenta no Conselho de Ministros, projecto sobre o horário de trabalho, que não é aprovado. É então que começa a publicar-se o jornal República, de que é fundador (15 de Janeiro).
Começa por ser apoiado por Machado Santos, mas em breve constitui uma terceira força, o Partido Evolucionista, aproveitando os confrontos entre o grupo de Camacho/ Relvas e o de Costa/ Bernardino. Dá apoio frouxo ao segundo governo, presidido por João Chagas, em Setembro de 1911, quando se esboça uma manobra entre camachistas e afonsistas para o afastar. No mês seguinte é vaiado e sovado no Rossio por afonsistas.
Tinha-se declarado independente do Partido Republicano em nota publicada em A República. Em Novembro, António José de Almeida e Afonso Costa vão de comboio ao Porto em propaganda. Na chegada ao Porto, Almeida é insultado e Costa aplaudido. Repete-se a cena no regresso a Lisboa, no dia 6 de Novembro. Manifestantes gritam vários morras e Almeida, em charrette, tem de sacar da pistola para se defender. Costa vai de automóvel e é ovacionado.
Presidente da República eleito em 6 de Agosto de 1919. Exerce as funções de 5 de Outubro de 1919 a 5 de Outubro de 1923. É o único que consegue cumprir o seu mandato. Morreu em 30 de Outubro de 1929.
VER FONTE AQUI:
http://www.politipedia.pt/almeida-antonio-jose-de-1886-1929/
Presidente da República, eleito em 6 de Agosto de 1919, exerceu as funções de 5 de Outubro de 1919 a 5 de Outubro de 1923.
Médico, deputado republicano antes de 1910. Quando estudante, com 24 anos, publica um célebre artigo, "Bragança, o Último", pelo qual é condenado a três meses de prisão. Exerce a clínica em S. Tomé, donde regressa em 1903. Em 24 de Janeiro desse mesmo ano, faz um vibrante discurso no funeral de Rafael Bordalo Pinheiro. Detido em 31 de Janeiro de 1908.
Segundo Raúl Brandão António José de Almeida é um orador. Até os seus artigos são discursos… mas justiça, liberdade e povo, que para outros não passam de palavras, são para ele realidades profundas.
"O mítico tribuno dos tempos da propaganda heróica, o palavroso ideólogo da revista Alma Nacional, impulsivo no discurso, volúvel de feitio, todo ele uma sucessão rápida de amores e ódios, misturando táctica com estratégia, não tinha ideias gerais assentes em linhas filosóficas mínimas. Romântico, homem de crenças, reduzia as ideias ao prazer do discurso."
A partir de Janeiro de 1911 desenha um movimento de ruptura com a facção dominante no Governo Provisório. Nesse mesmo mês apresenta no Conselho de Ministros, projecto sobre o horário de trabalho, que não é aprovado. É então que começa a publicar-se o jornal República, de que é fundador (15 de Janeiro).
Começa por ser apoiado por Machado Santos, mas em breve constitui uma terceira força, o Partido Evolucionista, aproveitando os confrontos entre o grupo de Camacho/ Relvas e o de Costa/ Bernardino. Dá apoio frouxo ao segundo governo, presidido por João Chagas, em Setembro de 1911, quando se esboça uma manobra entre camachistas e afonsistas para o afastar. No mês seguinte é vaiado e sovado no Rossio por afonsistas.
Tinha-se declarado independente do Partido Republicano em nota publicada em A República. Em Novembro, António José de Almeida e Afonso Costa vão de comboio ao Porto em propaganda. Na chegada ao Porto, Almeida é insultado e Costa aplaudido. Repete-se a cena no regresso a Lisboa, no dia 6 de Novembro. Manifestantes gritam vários morras e Almeida, em charrette, tem de sacar da pistola para se defender. Costa vai de automóvel e é ovacionado.
Presidente da República eleito em 6 de Agosto de 1919. Exerce as funções de 5 de Outubro de 1919 a 5 de Outubro de 1923. É o único que consegue cumprir o seu mandato. Morreu em 30 de Outubro de 1929.
VER FONTE AQUI:
http://www.politipedia.pt/almeida-antonio-jose-de-1886-1929/
quinta-feira, agosto 20, 2020
À Sombra amena da Pérgola... (I) O CASTELO DE PENACOVA

O CASTELO E A VILA DE PENACOVA
A vila de Penacova comprime-se sobre o estreito dorso de um monte que é contraforte do Penedo do Castro e se prolonga de poente para nascente, vindo a acabar sob forma arredondada e quase abruptamente sobre o rio Mondego.
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Castelo de Penacova (reconstituição) |
Terminada a guerra entre mouros e cristãos, parece que poderia considerar-se terminada também a função guerreira do castelo, mas não aconteceu assim. Em Portugal abundam notavelmente os castelos. Terras antigas de alguma importância, todas tiveram o seu castelo. Hoje não resta, de muitos deles,mais que a tradição; mas desempenharam notável papel na consolidação da independência do reino, perante a aspiração constante dos espanhóis que sonhavam (e não sei se sonham) com a anexação de Portugal, formando-se um império de toda a península ibérica. Quando os espanhóis faziam sobre Portugal as incursões guerreiras, esbarravam por toda a parte no "cedeiro" de fortalezas mais ou menos importantes, acabando sempre por se retirarem corridos. Foi na batalha de Aljubarrota que sofreram vergonhosa derrota e muito mais tarde após o domínio de 60 anos em que os Filipes governaram Portugal, a revolução do Primeiro de Dezembro de 1640 reconquistou definitivamente Portugal a sua independência.
Os castelos desempenharam ainda, por vezes, papel importante na manutenção da ordem pública e do respeito pela autoridade local, representada pelo Senhor da Terra e seus delegados.
Do castelo de Penacova só resta a tradição mas é ainda viva Maria Martins, viúva do antigo oficial de diligências da Administração, Joaquim Cabral, que todo o concelho de Penacova conhecia e denominava o "Cabral do Castelo". Fez ele a casa da sua habitação encostada à muralha do Castelo, no sítio em que hoje assenta o Hospital da Santa Casa da Misericórdia.
Em outro dia direi como o Castelo foi caindo aos pedaços, até de todo desaparecer. "
quinta-feira, julho 30, 2020
Notas para a história da Casa de Repouso de Penacova (I)
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O edifício é centenário mas só na década de 40 começou a funcionar como Residencial, com o nome de "Casa de Repouso". Durante muitos anos foi pertença do casal Joaquim Augusto de Carvalho e Raymunda Martins de Carvalho. Ele faleceu em 1935, ela em 1958. Muito ligada à Igreja, a viúva acabou por legar à Diocese de Coimbra todo o edifício e espaço da quinta.
Joaquim Augusto, nascido em Penacova em 1861, emigrou para o Brasil onde fez fortuna e casou com Raymunda, jovem brasileira. No final do século XIX vieram para Penacova, comprando a Quinta de Santo António e construindo o Palacete cuja traça inicial ainda hoje se mantém, apesar de algumas alterações introduzidas (por exemplo aumento de um piso). Consta que o traço arquitectónico teve como autor o professor António Maria Ferreira Soares (1858-1935).
Mais do que residência particular, o Palacete afirmou-se desde muito cedo como espaço privilegiado de Convívio e de Cultura, tendo para tal sido construído um Salão anexo. Os donos eram portadores de alta sensibilidade artística, em especial no campo da música. Raymunda foi professora e exímia executante de piano e também ensaiadora de espectáculos de variedades.
Foi aqui que, por ocasião da inauguração do Mirante (1908), se realizou um Sarau oferecido à alta sociedade lisboeta, coimbrã e penacovense. As "Festas de Penacova", designação que o "Diário de Notícias" adoptou para, com honras de 1ª página, noticiar o evento decorreram no dia 30 e 31 de Maio. De sábado para domingo, depois do arraial no Mirante, o Serão continuou na Quinta de Santo António. O "glamoroso" Sarau, preenchido com música clássica, poesia, dança e discursos de circunstância, prolongou-se até altas horas. No domingo foi, no mesmo local, servido um Banquete aos "ilustres convidados".
O Palacete de Santo António acolhia frequentemente grandes figuras das Artes, em especial da Música e da Pintura. Era frequentado por nomes da vila como Dr. Daniel Silva, Conselheiro Luís Duarte Sereno, Dr. Rodolfo Pedro da Silva, José Alves Oliveira Coimbra, Américo Pinto Guedes, Daniel Guedes, António Carlos Pereira Montenegro, Amândio dos Santos Cabral, Dr. José Augusto Monteiro Júnior, Cézar de Morais Queiroz, Alfredo de Almeida, Doutor José Pereira de Paiva Pitta, Dr. Alberto Lopes de Castro, Dr. Henrique Serra Carvalho, Alípio de Sousa Leitão, António Casimiro (pai e filho), Capitão (à época) Santos Leite, José de Gouveia Leitão, Armando Leitão, Joaquim Pita d'Eça Aguiar, Joaquim Cabral, entre outros. O facto de Joaquim Augusto de Carvalho ter sido, por curto espaço de tempo, Presidente da Câmara (1913), não terá tido qualquer influência no ambiente daquela casa, nem consta que António José de Almeida ou irmão João António de Almeida fizessem parte destas tertúlias ou de outros momentos de convívio.
Em Setembro de 1914, aquando do casamento da filha do casal, América Martins de Carvalho, com o Dr. Alberto de Castro Pita, esteve patente uma exposição do famoso pintor José Campas, que durante um mês ali estivera instalado e em Penacova pintou alguns dos seus célebres quadros. Mais tarde, em 1945, também aqui pernoitou e participou num banquete a Primeira Dama Maria do Carmo Carmona, quando veio a Figueira de Lorvão inaugurar o Asilo de Nossa Senhora do Rosário. Pela Casa do Repouso terão também passado Maria de Lurdes Pintassilgo e outras personalidades.
Foi na década de 40 que Raymunda Martins de Carvalho passou a receber hóspedes, muitos deles provindos de Lisboa e um pouco de todo o país. Estávamos nos anos áureos do turismo em Penacova, quando as pensões da vila, incluindo a "Casa de Repouso da Quinta de Santo António", se encontravam cheias de "aristas", atraídos pelos "ares puríssimos" e pelas "paisagens encantadoras", tal como era publicitado nos jornais e revistas da época.
E foi a revista de âmbito nacional e muito conhecida "Os Nossos Filhos" que, a partir dos anos 40, começou a publicitar sistematicamente a "Casa de Repouso". A Directora dessa publicação, Maria Lúcia Namorado, prima de Maria Lamas, viveu em Penacova nos anos trinta, onde deixou muitas amizades (o marido, Joaquim Silva Rosa, lorvanense, aqui foi funcionário judicial e um dos fundadores do "Notícias de Penacova").
O anúncio naquela revista era muito completo: "Precisa de fazer uma cura de repouso ou de mudança de ares? Vá para Penacova! É uma vilazinha sossegada e encantadora, a meia altitude e rodeada de pinhais. Ligada a Coimbra por uma das mais belas estradas do País. A dois passos do Buçaco! Paisagens surpreendentes! Ar puríssimo! / Na Casa de Repouso da Quinta de Santo António (Casa Católica) encontra todas as comodidades dum grande hotel, num ambiente familiar./ Telefone [curiosamente, o nº 10] casa de banho, salão de música, jardins e mata. Esta casa está situada no ponto mais alto da vila. Dos seus quartos amplos e higiénicos desfruta-se uma paisagem maravilhosa sobre o Vale do Mondego até à Serra da Lousã.(...)".
A imprensa local foi publicando alguns artigos de opinião de pessoas que frequentaram a Casa e foi noticiando a presença de muitos dos hóspedes, geralmente pessoas de nome. Extraidos de jornais de 1940 e anos seguintes ficam alguns nomes: Maria Assunção Cordeiro Franco, tia da Superiora do Preventório, António Feliciano de Sousa e família, Albertina Braz Fernandes Ribeiro e filha, Viscondessa de Agualva e neto, Dr. José Gabriel de Noronha e Silveira e família, J. Naar e família, Arcebispo de Mitilene e mãe, Monsenhor Assis Costa e irmã, Ceciolinda Ribeiro Pereira, Dr. Víctor Santana Carlos (médico) e esposa, Fernanda Guedes, Maria da Glória Adrião (pianista), casal Pereira Salvador, família Worm Costa, Coronel Manuel António de Carvalho...e tantos outros.
Num desses artigos, Madalena de Jesus Traça e Madeira, elogia o espaço e salienta o "salão de recreio que pode rivalizar com qualquer dos nossos melhores casinos (...) dois pianos de cauda, uma boa telefonia, bilhar, ping-pong, quino, jogo de damas...". Também Henrique Maria Cisneiros Ferreira, político de craveira nacional, depois de aqui passar três semanas , escreveu ao "Notícias de Penacova" enaltecendo a "privilegiada situação" e os "naturais encantos" da vila ", verdadeira "rainha de encantamento sem par", onde "tudo se esquece". "A permanência, minha e dos meus, a vida em família em lugar de tantas e tão variadas belezas (...) firma a opinião de que é ela a terra de eleição para o completo repouso e quietude" - sublinha.
Pelos anos cinquenta a Diocese assumiu a administração da Casa, ainda em vida de Raymunda Martins de Carvalho. Durante cerca de sessenta anos a Igreja foi gerindo, fazendo obras, adaptando, mas ao fim de oito décadas terá encarado a hipótese de alugar o edifício.
Com a "Altíssima Guesthouse - Suites & Hostel", um projecto de João André Amaral, o ano de 2020 vai marcar uma nova fase da vida centenária da Quinta de Santo António.
David Gonçalves de Almeida
penacovaonline2@gmail.com
terça-feira, julho 21, 2020
Uma prenda para Penacova nos 80 anos do “Ténis”
A história do campo de “Ténis” de Penacova começa em 1940 (e não na década de 50 como foi dito recentemente aquando da inauguração das obras de requalificação). Antes disso naquele local o que existia era apenas um terreno de cultivo, por vezes montureira de lixo, onde, de acordo com informação de Vasco Viseu, em 1956, no Notícias de Penacova, afloravam vestígios de robustas paredes que em tempos recuados teriam sido construídas para dar lugar a um edifício destinado a Teatro, o que, obviamente, nunca se concretizou.
Por volta de 1940 foi António Feliciano de Sousa - o mesmo que nos anos 50 mandou construir o “Moinho do Aviador" - o principal impulsionador da construção de um campo de Ténis em Penacova. Filho de um professor de Gondelim, José Júlio de Sousa Henriques, exercia a profissão de solicitador no Porto. Pessoa “capaz de ideias desempoeiradas, tudo sacrificou para que a ideia não fosse para o cesto dos papéis velhos”, assumindo a maior parte do custo da obra, salientam os jornais da época.
Também Alípio Barbosa esteve envolvido no projecto. Nestas coisas, como se costuma dizer, “está tudo ligado”: na altura quem era o Presidente da Câmara? Era Alberto Alçada, seu genro, ambos ligados, como se sabe à Cerâmica Estrela d’Alva. Conta mais tarde (em 1957) Oliveira Cabral que certo dia Feliciano de Sousa lhe havia mostrado as contas discriminadas da construção do campo de ténis. Aquele pedagogo e jornalista, que foi um dos mais célebres aristas, também vivia no Porto. E foi precisamente daquela cidade que vieram os tenistas profissionais para dar brilho à inauguração, onde não faltou uma instalação sonora, montada pelo dono da Ideal Rádio, Júlio Silva, também da capital do Norte.
Em Agosto de 1940 já se noticiava que os trabalhos estavam avançados e enaltecia-se a localização e a pertinência de tal obra: “A sua situação magnífica é invejável. A sua falta fazia-se sentir numa terra tão visitada pelos turistas e tão movimentada no Verão pelas pessoas que desejam descansar uns dias nesta deliciosa estância como é Penacova-a-Linda”.
A inauguração teve lugar no dia 29 de Setembro daquele ano, domingo, integrada na Festa dos Bombeiros. No programa dos festejos, de sábado a terça, destacava-se também uma Récita ensaiada e organizada por Raimunda Martins de Carvalho e provas de ciclismo onde marcaram presença o “afamado corredor de Chelo”, José dos Santos Ralha (homenageado em 2014 na Gala do Desporto) e Antero Maia.
No entanto, o Campo de Ténis, como tal, poucas vezes terá funcionado, ao ponto de Oliveira Cabral achar que não se justificava aquela designação, atendendo a que apenas uma vez se jogou ali “a preceito” e poucas mais “de qualquer maneira”...
Passados pouco mais de dez anos, já na imprensa local se dizia que as escadas de acesso estavam uma “vergonha” e perguntava-se por que não se reparavam e sugeria-se que ali fosse construído um palco “para dar uma récita ao ar livre”, pois “o Ténis” seria “um dos lugares onde se podiam realizar boas festas.” A ideia de construção de uma piscina foi também equacionada e perante a sua inviabilidade avançou-se, em 1956, com a proposta de um campo de patinagem.
Nesse ano, o agora também designado “Parque Municipal”, teve obras de beneficiação a expensas de Abel Rodrigues da Costa. Foi construída uma “ampla e cómoda escadaria de acesso ao primeiro piso” e outros arranjos (por exemplo, vedação com muro ao lado da estrada), e foi colocado um “portão condigno”.
Os anos passaram e o espaço foi-se degradando. Lendo as memórias de Luís Amante e de Pedro Viseu, publicadas no Penacova Actual, recordamos que o "ténis" foi local de eleição para os jovens da vila (e estudantes que foram passando por Penacova) jogarem futebol, namoriscarem, jogarem matraquilhos, “flippers”… Recordam-nos ainda que aqui actuaram os GNR e os SITIADOS, que teve restaurante-bar, escorregas e baloiços. No fundo, serviu um pouco para tudo: para a vacinação de “canídeos”, para a instalação de pavilhões pré-fabricados da “Escola Secundária”, para bailes, para festas. Por fim encerrou “durante anos, muitos e demasiados anos” – desabafa Pedro Viseu.
Finalmente, chegou a hora de a Câmara Municipal de Penacova, presidida por Humberto Oliveira, avançar, no âmbito do PARU (Plano de Ação de Regeneração Urbana) com a requalificação do icónico “Parque Municipal (Ténis)”, revitalizando assim “um dos históricos espaços públicos de eleição das gentes de Penacova, que por incúria, falta de manutenção ou até pela dificuldade de conter a exigente topografia acentuada que o caracteriza, foi deixado ao abandono.”
A obra implicou um investimento de cerca de 500 mil euros estando previstos mais 100 mil para a colocação de telas de sombreamento.
A inauguração deste renovado espaço teve lugar no dia do feriado municipal (17 de Julho de 2020) com a presença da Ministra da Coesão Territorial, Ana Abrunhosa, 80 anos depois de ter sido iniciado naquele local um sonho que ainda hoje perdura: acrescentar às singulares belezas naturais o poder da acção e do querer dos penacovenses em prol do seu bem-estar e daqueles que nos visitam.
sábado, julho 11, 2020
Nudismo em Penacova?

É um facto, caros leitores. Em Penacova, neste decantado rincão de Portugal à beira rio plantado, onde a mãe Natura foi pródiga em benesses de encanto e maravilha, onde o ar que respiramos tem perfumes de inebriante odor, onde o sol tem mais luz e o luar maior claridade, neste altar maravilhoso que Deus fez talvez para ser o primeiro degrau nas escadas do céu a civilização atingiu o auge.Em Penacova pratica-se escandalosamente o nudismo.
Estamos a ver o pasmo dos nossos leitores. A máscara de um sorriso incrédulo desenhando-se-lhes no rosto.
-Será verdade?
É verdade sim senhores. E se querem a confirmação do que dizemos, vão até ao Mirante, ao fim da tarde, à hora apetecida do banho e…olhem lá para baixo, para o Mondego, manso e sereno…
Chamamos, para esta falta de vergonha, a atenção das autoridades administrativas deste concelho.
A nossa terra, por enquanto, dispensa tais manifestações de progresso e civilização.
in Jornal de Penacova,16 Jul 1932
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