domingo, julho 13, 2025

Lorvão: "espécie de dilúvio" causou "terrível consternação"


O Mosteiro de Lorvão viveu dias aflitivos. Uma grande inundação, na sequência de repentina trovoada, entrou nas celas e na igreja. Apenas escapou o "Dormitório de Cima" e só a "graça de Deus" permitiu que não "perecesse" nenhuma religiosa. Foi no dia 25 de Setembro de 1754. A notícia saiu na Gazeta de Lisboa:

"Aqui tivemos neste sítio uma espécie de dilúvio, que nos pôs em uma terrível consternação. Na quarta-feira, 25 deste mês, entre a uma e duas horas da tarde, se cobriu todo este horizonte com uma cortina de densas e tenebrosas nuvens, que romperam numa horrorosa trovoada e fez sair dela um mar de água e pedras que havendo inundado todo aquele vale de fora, arrombou as duas portas do muro da cerca do famoso Convento de Lorvão e subindo nove palmos e meio, entrou nas celas dos dormitórios de Baixo, levando elas as cadeiras, arcas, armários e tudo o mais que nelas havia; e da que em morava a Madre D. Maria Tomásia, natural de Lamego, levou até à porta, sendo fortíssima, deixando só a esta Religiosa o que tinha vestido. A Madre D. Faustina, dando-lhe água pelo pescoço, salvou a vida subindo e segurando-se nas grades da cela. 

Correu os claustros, grades, portaria e cela da Madre Abadessa; e na sala em que esta Reverenda Senhora assiste, para a qual se sobe sete degraus, tudo andou a nado. Inundou a sacristia, em que se achavam as Madres D. Teresa de Quadros, D. Cecília de Pina, D. Joana Bernarda, D. Mariana Rosália e outras, que escaparam do perigo em que se acharam, dando-lhes já a água pelo joelho, por benefício de uns homens que entraram a socorrê-las. Intentou-se tirar o Senhor da Igreja, pelo muito que a água subiu. Só escapou da inundação o Dormitório de Cima. 

Dois dias se disse Missa na clausura às Religiosas, que satisfaziam a obrigação de rezar os ofícios divinos nas tribunas, porém graças a Deus não pereceu nenhuma. 

Avalia-se em mais de 30 U. cruzados a perda que padeceu o Mosteiro nesta ocasião, entre a particular e a comum. Trabalha-se no presente em desentulhar a Igreja de tudo o que nela introduziram as águas." 

In Gazeta de Lisboa, nº 44, 31 de Outubro de 1754


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