O Preventório de Penacova e a acção de Bissaia Barreto têm sido tema de muitos estudos, incluindo teses de Mestrado e mesmo de Doutoramento. Desses trabalhos, conhecemos quatro. Deixamos as respectivas referências bibliográficas e transcrevemos os respectivos resumos feitos pelos autores.
Título: Arquitectura hospitalar e assistencial promovida por Bissaya Barreto
Autor: Ricardo Jerónimo Pedroso de Azevedo e Silva
Bissaya Barreto, médico-cirurgião muito interventivo, perseverante e multifacetado, estabelecido em Coimbra, procurou, no decurso de quase cinco décadas, conciliar as suas duas actividades principais (medicina e política), com a promoção de um assinalável conjunto de equipamentos hospitalares e assistenciais na Região Centro do país.
Não sendo Arquitecto, era dotado de uma forte sensibilidade artística aliada à componente técnica, buscando constantemente informação e fundamentação – estética, teórica e programática – quer em publicações da especialidade, quer em viagens de estudo que realizava a países como Espanha, Alemanha, França e Suíça.
Tendo em conta diversos factores, a acção de Bissaya Barreto foi singular e paradigmática, revelando-se o seu pensamento ligado à Arquitectura um excelente fio condutor, na análise de diversos campos de estudo do século XX português.
Nesta dissertação, onde a arquitectura é o elemento central, estão também presentes questões fundamentais para compreender a globalidade do objecto em estudo, pelo que são também abordados e discutidos variados aspectos com outra amplitude: a política - desde o republicanismo, à maçonaria, à acção de Deputado, à relação com Salazar e o Estado Novo; o regionalismo e a sua intervenção enquanto Presidente de organismos distritais e provinciais; a medicina social, o higienismo, o panoptismo, o trabalho, a disciplina, a vigilância, o biopoder e o eugenismo; as relações estabelecidas entre médicos, promotores, políticos, arquitectos, engenheiros, construtores; o ensino e a sua preocupação com a formação, desde as Creches à Universidade; a propaganda associada a panfletos, revistas, livros e filmes; a pedagogia e psicologia infantis; as noções de tradição e modernidade, de arte e técnica. Todos estes pontos, entre outros, desenhavam os três lados do triângulo onde Bissaya Barreto assentava o seu projecto de sociedade: Arquitectura, Política e Medicina.
Assim, focando-nos nas obras de programa hospitalar e assistencial por si promovidas durante o Estado Novo, regime com o qual mantinha relações privilegiadas através do seu líder, Salazar, propomos uma abordagem crítica e longitudinal sobre a forma como a Arquitectura participou no projecto regional de cariz político-sanitário idealizado e implementado por Bissaya Barreto.
Finalmente, perante a extensa rede de edifícios criados, entre 1929 e 1974, e que incluía vários Sanatórios e Preventórios Antituberculosos, uma Leprosaria, Hospitais Psiquiátricos e Colónias Agrícolas, dezenas Jardins-de-Infância e estabelecimentos de puericultura, um Bairro Residencial, uma Maternidade, Institutos para Cegos e Surdos, Casas de Educação e Trabalho, pareceu-nos útil organizar um conjunto de Fichas, reunidas em anexo, de cada uma das obras em causa.
Título: Curar o Património Hospitalar: Reabilitação do antigo Preventório de Penacova
Resumo
A tuberculose, doença do foro pulmonar ou ósseo, afectou severamente toda a Europa. Por toda a parte, foram desenvolvidos e estudados modelos arquitectónicos e métodos de tratamento distintos, que pretendiam curar esta doença. Medicina e arquitectura, lado a lado, construíram uma estratégia de combate à tuberculose, que durou até à descoberta da estreptomicina, nos anos 50 do século XX.
O ritmo acelerado de contágio exigia a segregação dos doentes, evitando a propagação. Para isso, foram criados os Sanatórios, equipamentos hospitalares que permitiam o internamento e posterior acompanhamento médico de doentes infectados. A estratégia de combate à tuberculose assentava sobretudo numa atitude profiláctica, sendo para isso necessário infra-estruturas territoriais, além dos sanatórios, destinadas à identificação e prevenção da doença. Os Dispensários e os Preventórios, surgem desta forma como instrumentos de controlo e prevenção da doença.
À semelhança do resto da Europa, também Portugal se debatia com esta epidemia, e por isso, vários foram os médicos que se dedicaram ao estudo desta matéria. Mais concretamente na zona centro do país, Bissaya Barreto desenhou uma rede que pretendia dar assistência àqueles que, directa ou indirectamente, foram afectados pela tuberculose, tendo especial foco nas mulheres grávidas e nas crianças. Um vasto conjunto de modelos e programas foram desenvolvidos, formando um percurso que se estendia desde a nascença até à vida adulta, assegurando à pessoa uma vida saudável e integração na sociedade.
Actualmente, grande parte destes equipamentos encontram-se em grave estado de conservação, devolutos. O presente trabalho procura desenvolver uma proposta de reabilitação e conservação do antigo Preventório de Penacova, peça estratégica na rede assistencial de Bissaya Barreto. Esta proposta insere-se numa estratégia de revitalização à escala da vila de Penacova, na qual se pretende resgatar relações turísticas com localidades próximas, assim como restabelecer a sua relação com a paisagem.
Título: O Monte da Senhora da Guia e a Arquitetura Portuguesa da Primeira Metade do Século XX
Dissertação de Mestrado em Arquitetura e Urbanismo | Universidade Fernando Pessoa, Faculdade de Ciência e Tecnologia | Porto, 2022
Resumo
A presente dissertação é o resultado duma investigação a um lugar, o Monte da Senhora da Guia, na Vila de Penacova, pertencente ao distrito de Coimbra. Acidente topográfico sobranceiro ao Mondego, com características únicas, permaneceu sempre à margem do aglomerado, sendo ocupado ao longo da história por poucas construções, com significados simbólicos, de militares a religiosos.
No século XX, o Monte manteve esse caráter especial, dando ao lugar o papel de ator principal, sendo a ele que competiu manter essa relação singular de respeito entrearquitetura, lugar e significado. Assim, na mudança de século, numa altura em que o Monte era coroado pela Capela da Nossa Senhora da Guia, surge o primeiro elemento dum novo conjunto arquitetónico, o Mirante Emídio da Silva, em 1908, implantado no extremo nascente. Mais tarde, entre 1930 e 1934, no seu cume é construído um edifício, primeiramente destinado a Hospital da Misericórdia, mas que durante a sua construção viria a ser adaptado para assim se transformar no Preventório de Penacova, o primeiro do país, com a intenção de servir o distrito. Paralelamente, e por consequência desta cedência, era edificado na posição mais a poente do monte um novo Hospital que pretendia servir a Vila de Penacova.
Ao mesmo tempo, estes edifícios revelam características estilísticas da arquitetura da época e momentos da recente história de Portugal. No Mirante poderemos identificar o Ecletismo e a sua procura de identidade nacional. No Preventório está presente a Art Déco, e primeira fase modernizante do Estado Novo. No Hospital encontramos num momento inicial a Art Déco e depois mais tardiamente o “Português Suave” e o período mais conservador do regime. Aos elementos deste conjunto estão ligados personagens relevantes da sociedade, cultura e arquitetura portuguesas, como Manuel Emídio da Silva, os arquitetos Nicolau Bigaglia, Raul Lino e Luís Benavente, Bissaya Barreto e Manuel Ferreira Sales Guedes.
Essa pouco conhecida conjunção de obras e promotores pareceu-nos interessante para tentar perceber o que nos diz o Monte da Senhora da Guia sobre arquitetura portuguesa da primeira metade do século XX, que dá título a esta dissertação.
Título: Preventório de Penacova: “o significado dentro de um conceito médico e social até à sua reconversão turística contemporânea”
Dissertação de Mestrado em Antropologia Médica | Universidade de Coimbra, Faculdade de Ciências e Tecnologia, Departamento de Ciências da Vida | Coimbra, 2012
Resumo
O antigo Preventório de Penacova, actualmente reformulado como Hotel, constituiu ao longo de grande parte do século XX, e início deste século, um marco importante bem como uma referência para as pessoas da região e não só, inicialmente tratando-se de um lugar com um cariz vocacionado para o exercício de uma prevenção médica e social, e recentemente direccionado como pólo de atracçào turística.
A prática da medicina social constitui a primeira resposta organizada contra a tuberculose e outras doenças infecciosas. Com a reorganizaçào do espaço urbano das cidades. e propagação de políticas de higiene sobre a população, a forma de encarar a doença começou a sofrer uma transformação. A crescente evocação das propriedades benéficas da natureza, sugeridas pelos médicos, e economicamente aproveitadas pelas entidades turísticas, levou a que surgissem na Europa. sobretudo uma série de equipamentos, de onde se destacaram os sanatórios, como edifícios que forneciam a resposta eventual para a cura da doença, ao mesmo tempo que proporcionavam o conforto que até ai não existia nos equipamentos hospitalares.
Em Portugal, a construção de Sanatórios e de outros edifícios similares, como o Preventório. surgiu com algum atraso em relação ao verificado na Europa, assistindo-se sobretudo a partir do início do século XX, a um aumento nessa construção. Numa primeira fase, fruto de iniciativa privada, e posteriormente liderado pelo Estado, o combate não esteve apenas na construção destes equipamentos, como também numa série de acções políticas e filantrópicas que incutiam hábitos à população, de onde se destaca a Associaçào Nacional de Tuberculose. No distrito de Coimbra foi desenvolvido um plano contra a tuberculose, pela Junta da Província da Beira Litoral, liderada pelo Professor Bissaya Barreto, figura com uma personalidade misteriosa, com um trajecto político e pessoal que lhe conferiram muito do poder para se impor na vida pública, como acabou por o fazer.
A criação do Preventório de Penacova surge a partir da remodelação de um edifício já existente no local onde este foi edificado. O grande responsável pela existência deste Preventório. é o professor Bissaya Barreto, que na sua rede de edifícios criados na necessidade de prestar cuidados no apoio à defesa da criança e da grávida, isto englobado no seu projecto social e médico de combate à tuberculose, salientou a necessidade da criação de um local que albergasse crianças com condições socioeconómicas desfavoráveis, tendencionalmente mais susceptíveis à tuberculose, ou ainda crianças que tivessem sido retiradas aos pais, por estes manifestarem a doença. Durante décadas este foi o seu propósito, até que seria votado ao abandono, e posteriormente após alguns anos de indefinição a solução encontrada para a revitalização do local foi a construção de um Hotel. centrando-se apenas hoje unicamente com a finalidade turística.