Publicamos mais um excerto do relatório que a Câmara redigiu
e enviou ao Governo chefiado pelo progressista Luciano de Castro, em 1898. O
tema de hoje gravita em torno da importância da instrução primária, da
enumeração das carências existentes e das propostas de melhoria.
Uma escola primária da época (Mafra) |
Refere o relatório:
“Mas, desembaraçada a actividade dos que trabalham de inuteis
dispêndios do tempo, é preciso dirigi-la por forma que a produção aumente em
quantidade, perfeição de trabalho e valorização. Para o conseguir, são precisas
duas condições - a instrução técnica e a facilidade de comunicações.
O trabalho inteligente produz mais e com mais produção.
Julgamos por isso de urgente necessidade que se restabeleçam os antigos exames
elementares e complementares nas sedes
dos concelhos e as escolas complementares nas mesmas sedes; que se organizem
programas adequados a cada concelho para a respectiva escola complementar ; que
se promova a frequência das escolas, chamando de preferência ao serviço militar
os mancebos que não fizeram exame elementar e chamando na falta destes os que
obtiveram aquela habilitação; que se tornem obrigatórios para certos empregos
os exames elementares e complementares; que se divulguem, quando possível, os
conhecimentos elementares de agricultura por meio de manuais práticos
distribuidos aos alunos das escolas, etc.
Os decretos de 6 de Maio de 1892 e 22 de Dezembro de 1894 foram
verdadeiramente ruinosos para a instrução primária. O número das aprovações nos
exames elementares neste concelho foi, respectivamente,
nos anos de 1889 a 1891, de 28, 45 e 46.
Nos três anos seguintes o número de aprovações baixou, por
virtude do decreto de 6 de Maio, respectivamente a 23, 27 e 24.
No ano de 1891, único em que houve neste concelho exames
complementares por ter sido pouco antes criada a respectiva escola, foram aprovados
nestes exames 7 alunos. Pois, com a supressão destes exames, nos anos de 1896,
1897 e 1898, foram aprovados no exame de instrução primária elementar do 2º grau, respectivamente, 5, 6 e
3 alunos!
Estes números parecem-nos por demais elucidativos. Viu-se que
não só os professores se estimulavam procurando cada um apresentar os seus
alunos muito bem habilitados, mas os próprios alunos e seus pais se não
poupavam a trabalhos e despesas a fim de que o resultado daquelas provas
públicas os honrasse no seu pequeno meio.
As escolas complementares nas sedes do concelho podiam
habilitar os filhos dos lavradores e industriais de mediana formatura e adquirir
com pequena despesa, além da instrução geral, grande cópia de conhecimentos
profissionais sem contrairem os há- bitos de luxo a que ficam sujeitos saindo
para fora do concelho.
Os programas destas escolas devia variar segundo a
necessidade dos concelhos; assim nos concelhos essencialmente agrícolas, como
este, se ensinassem melhores processos de preparação de estrumes e adubos, a
escolha destes segundo a diversidade dos terrenos e sementeiras, as vantagens
da irrigação e drenagem das terras, as vantagens da arborização das encostas,
da escolha das castas e enxertia e da criação de gados, etc.
A iniciação dos alunos a estes estudos dispo-los-ia a
continuar neles depois de sairem da escola, levando-os a abandonar os processos
rotineiros que seus pais geralmente seguem e prepararia em breve uma geração
bem orientada. Noutros concelhos teria preferência o estudo da escrituração comercial,
do desenho industrial, etc.”
CONTINUA
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