Meu caro amigo, me perdoe por favor se eu não lhe faço uma visita. Mas o que eu quero
lhe dizer é que antigamente, poucas casas tinham garagens, havia quintais, com
espaço para as crianças brincarem. A casa de meus pais ocupava um terreno 20x40,
onde plantavam de tudo um pouco, alface,
couve, repolho, chicória, almeirão, espinafre, cenoura, tomate, cebolinha,
cheiro-verde e tomate. Havia espaço para árvores, uma enorme mangueira,
mamoeiro, limão-china, um pé de tangerina, três laranjeiras, chuchu, parreira, uma
touceira de cana caiana, figueira, pessegueiro, galinheiro, uma colmeia, e
muitas bocas para comer.
O pessegueiro, por ser mais novo ou por exigir
algum cuidado especial, demorou para frutificar. Um belo dia, apareceu uma
flor. Depois, uma pequena fruta. Começamos a namorá-la. Sem que ninguém
combinasse, decidimos, o primeiro pêssego seria de mamãe.
Os cuidados eram de todos. Se alguém jogava uma
pedra, logo ouvia um grito: “cuidado com o pêssego da mamãe”. E assim foi, com fruta
crescendo, o verde começou a amarelar. Um dia, sumiu do pé. Alguém deveria tê-la colhido e dado a ela.
Quisemos saber dela como era, se doce ou azeda,
que gosto teria. Ela não havia comido, guardara para nos mostrar. Descoberta
por um passarinho, estava toda bicada. Contou-nos que a pegara caída, cheia de formigas.
Fiquei endoidecido. Mas como os bichos
foram fazer aquilo? Peguei minha arma, um estilingue, sai ameaçando, esmagando
formigas pelo caminho, naquele momento, matar o passarinho seria pouco. Mamãe
interrompeu-me. O importante, ensinou-nos, foi termos visto o pêssego crescer, e
o cuidando que tivemos.
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Hoje, quando vejo na quitanda, ou no supermercado,
a gôngula cheia de pêssegos, penso no quintal da minha casa, na penca de
irmãos, nos ensinamentos de minha mãe, nos passarinhos e até nas formigas. Ainda
bem, tenho coisas boas em que pensar, porque “coisa está preta”, é pirueta pra
cavar o ganha pão, que gente vai cavando só de birra e só de sarro.
"Meu Caro Amigo", uma das canções de Chico Buarque que critica
o regime é uma carta em forma de música, uma carta musicada que ele fez em
homenagem ao Augusto Boal, que vivia no exílio, quando o Brasil ainda vivia sob
a regime militar, lançada em 1976.
P.T.Juvenal Santos
É, muito bom Mano.
ResponderEliminarTinha um pé de pêssego na nossa casa, ele ficava bem em frente onde hoje é a janela da cozinha. Bem eu o vi morrer, ficou seco, mas antes de sua queda final ainda deu o ultimo pêssego, na qual eu saboreie.
Parabéns pela matéria.