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05 outubro 2013

5 de Outubro: recordar António José de Almeida


[António José de Almeida: um Beirão de projecção nacional] 
 
No Verão de 1929 realizou-se em Castelo Branco o IV Congresso das Beiras. António José de Almeida fora convidado para estar presente. A doença, que há longos anos o atormentava e que no Outono seguinte lhe causará a morte, impedirá essa deslocação. No entanto, não deixará de endereçar uma mensagem onde enaltece o “passado heroico” desta região. “Beira Una”, que é a “expressão suprema” de uma “Nação gloriosa, eterna geradora de heróis, de poetas e de mártires”. 
Este sentimento Beirão, expresso no final da sua vida, nascera muitos anos antes. Foi num lugar perdido da Beira - Vale da Vinha - que nasceu a 17 de Julho de 1866. Às terras do Alto Concelho de Penacova se manteve ligado ao longo da vida, quer por laços familiares, quer por relações políticas. Frequentou o ensino primário na sede da sua freguesia – Farinha Podre (actual S. Pedro de Alva.) Teve como professor João Gama Correia da Cunha, natural de Mouronho, mestre atento, desde muito cedo, ao carácter daquele seu aluno. 
Quando em 1890 António José de Almeida, já estudante universitário, se encontrava preso por crime de abuso de liberdade de imprensa, na sequência do artigo “Bragança, o Último”, publicado na folha académica Ultimatum, João Gama escreve para o jornal conimbricense A Oficina, uma carta em apoio do seu antigo pupilo. Nesse texto, afirma que muito há a esperar da “ilustração e boa vontade” daquele “rapaz” pois ''homens como ele não aparecem todos os dias”. A sua intuição levou-o também a dizer que o tempo se encarregaria de mostrar que estas suas palavras não eram “lisonja, nem ilusão dum insensato.'' 
Foi na cidade de Coimbra que António José de Almeida manifestou a sua vocação política. No entanto, as primeiras influências republicanas dever-se-ão ao professor das primeiras letras, republicano convicto, bem como a outras personalidades daquela freguesia que conviviam com a respeitada família “Almeida” e que acompanharam pessoalmente o jovem conterrâneo, aquando do julgamento e durante os meses de cárcere. 
Registe-se que o seu pai, José António de Almeida, só adere ao Partido Republicano no dia em que o filho entra na cadeia, quando já era presidente da Câmara de Penacova. Em plena sessão camarária, faz uma declaração que apanha desprevenida a vereação. Declaração que ficou registada em acta e onde, a dado passo podemos ler: “Nunca tinha pensado que na idade de setenta anos e que tendo empregado na maior parte deles as minhas forças na sustentação e defesa da monarquia e liberdades pátrias, me havia de fazer Republicano! Realizou-se, porém, este pacto desde que, no dia vinte e cinco de Junho último, vi que uma sentença injustificadamente rigorosa condenava em três meses de prisão o meu filho António José d’Almeida, arrancando-mo dos braços e aferrolhando-o na cadeia pública”.



Programa das comemorações em Penacova
A par de uma aguerrida militância republicana em Coimbra, António José de Almeida concluiu o curso de Medicina em 1895. Parte para S. Tomé no ano seguinte, onde virá a exercer clínica. Regressa em 1903 e ainda nesse ano inicia uma viagem de estudo que se estenderá até Março de 1904, passando por França, Itália, Suíça e Holanda. Em 1906 integra o Directório do Partido Republicano Português. Neste ano, são eleitos os primeiros deputados republicanos: António José de Almeida, Afonso Costa, Alexandre Braga e João de Menezes. 
A luta intensifica-se através da imprensa e da realização de inúmeros comícios, onde a presença de António José de Almeida é uma constante. 
Em 28 de Janeiro de 1908, na sequência de uma tentativa de golpe de Estado, é preso, juntamente com outros republicanos. Em Abril desse ano é novamente eleito. Agora, o Partido Republicano consegue eleger sete membros para a Câmara dos Deputados. Em Abril de 1909, no Congresso daquele partido e por indicação da Carbonária (recorde-se que em 1907 entrara para a Maçonaria) assume a direcção civil do Comité Revolucionário.
 António José de Almeida continua a marcar presença em muitos dos comícios que se foram realizando por todo o país. Refira-se Viseu no dia 8 de Março de 1908, Tábua um ano depois e S. Pedro de Alva em 1 de Agosto de 1909. A este último local, terão acorrido milhares de pessoas: 3000, segundo o Jornal de Penacova, 4000 de acordo com notícia de O Poiarense. A data ficará marcada na história local como sendo a primeira e única vez que António José de Almeida se dirigiu em público às pessoas que o viram nascer e frequentar os bancos da escola primária. 
No discurso que proferiu, fez questão de esclarecer que “veio falar à sua terra porque cá o chamaram.” Acentuou que não vinha “pedir nem votos, nem influências, nem importância” pois “nada precisava da República, como nada aceitava da Monarquia.” Vinha sim “junto dos homens da sua terra, para os ajudar a redimir e salvar”, apresentando-se como “um combatente que vem oferecer o seu braço, o seu cérebro e o seu esforço.” No mesmo dia do Comício foi inaugurado em S. Pedro de Alva um Centro Republicano. António José de Almeida, a dois meses do 5 de Outubro, reafirma que é preciso acabar com a ideia de que o Partido Republicano ''não tem força'' sendo, portanto, inevitável conquistar os direitos ''não só pelas palavras mas também pelas armas.'' 
Com a proclamação da República, António José de Almeida integra o Governo Provisório, assumindo a Pasta de Ministro do Interior, cargo que desempenhará até ao dia 3 de Setembro de 1911. Ainda neste ano, verifica-se a cisão do Partido Republicano. Democráticos (liderados por Afonso Costa), Evolucionistas (liderados por António José de Almeida) e Unionistas (liderados por Brito Camacho), irão até 1919 ocupar o espectro partidário republicano. 
Com a criação do Partido Evolucionista (o I Congresso realizar-se-á em Lisboa a 8 de Agosto de 1913) a região das Beiras, que já não era indiferente a António José de Almeida, reforça os contactos e cimenta as simpatias, principalmente nos concelhos pertencentes ao Círculo Eleitoral de Arganil (Arganil, Góis, Miranda do Corvo, Lousã, Oliveira do Hospital, Pampilhosa da Serra, Penacova, Poiares e Tábua). As movimentações de António José de Almeida passam por Tábua (Março de 1913), acompanhado de António Granjo e de outros republicanos. 
No comício que aí se realizou, mais uma vez se revelou como “o homem eloquente de sempre”, dirá o Jornal de Arganil, órgão do Centro Republicano Evolucionista, fundado em Março de 1913 por Alberto Veiga Simões. O primeiro número daquele jornal dirá que o concelho, na sua quase totalidade, abraçara a política evolucionista. Veiga Simões virá a ser convidado por António José de Almeida para “redactor político” do jornal República. Em Arganil, Ventura da Câmara, da Quinta do Mosteiro (Folques) é outro nome a reter no conjunto dos militantes evolucionistas da região.
 Em Penacova vamos encontrar Amândio dos Santos Cabral à frente do Jornal de Penacova, periódico fundado em 1901 mas que agora se assume como órgão concelhio do Partido Evolucionista. Neste concelho as movimentações de apoio são intensas, o ideário do novo partido e as inúmeras adesões são noticiadas na imprensa local[1]. Em Oliveira do Hospital, segundo crónica do Jornal de Arganil, apesar de existir uma “simpatia latente” por António José de Almeida, o concelho ainda não decidira “abraçar este ou aquele partido”. Caso estranho, pois Oliveira do Hospital revelara-se como sendo um dos concelhos “mais bulidos pela política” após a Implantação da República. As críticas recaem em Augusto de Mattos-Cid, advogado, que no dia 7 de Outubro assumira a presidência da Comissão Administrativa Republicana e manifestava, agora, simpatias por Afonso Costa. 
A carreira política de António José de Almeida registará um novo capítulo em 1916. No contexto da I Guerra Mundial, assumirá as funções de Presidente do Ministério (Primeiro Ministro) (15 de Março de 1916) e de Ministro das Colónias no Governo da “União Sagrada”, formado por Evolucionistas e por Democráticos. A ruptura desta “coligação” dar-se-á no dia 25 de Abril de1917. 
Regressará em 1919, agora como Presidente da República. Apesar de ter enfrentado um dos períodos “mais trágicos da República”, foi o único a cumprir, entre 1910 e 1926, integralmente os quatro anos de mandato presidencial. No período que vai de 5 de Outubro de 1919 a 5 de Outubro de 1923, António José de Almeida, além de muitos outros contratempos, terá que “lidar” com dezassete Governos e terá que enfrentar os trágicos acontecimentos da “noite sangrenta” de Outubro de 1921. No entanto, o sucesso da travessia aérea Lisboa-Rio de Janeiro e, pouco depois, o momento “glorioso” e “triunfal” da sua Visita Presidencial ao Brasil, nos finais do Verão de 1922, serão acontecimentos positivos que marcarão o seu mandato.
 É todo este seu percurso que leva João Alves das Neves, eminente jornalista arganilense, a considerar António José de Almeida como “o maior estadista da Beira-Serra”. 
Vitimado pela doença (gota) que o acompanhou ao longo da vida, morre em Lisboa no dia 31 de Outubro de 1929, com 63 anos.
O quinzenário A Voz de S. Pedro de Alva preenche integralmente a capa da edição de 16 de Novembro com o título: ''A Pátria e a República em Crepes: morreu o Dr. António José de Almeida''. Periódico que poucos meses antes, recebera uma carta onde aquele seu ilustre conterrâneo prometia escrever “umas linhas” para o mesmo, logo que “estivesse melhor dos seus padecimentos”. Também a Comarca de Arganil publicará uma notícia com foto sua e uma gravura da casa de Vale da Vinha, escrevendo que “com o desaparecimento do Dr. António José de Almeida” perdia “a Pátria um dos seus maiores soldados e a República um dos seus maiores generais.” 
Durante vários anos a imprensa local e regional não deixou cair no esquecimento a data de 31 de Outubro, mas só com o 25 de Abril a figura de António José de Almeida foi em certa medida reabilitada, depois ter sido silenciada durante muitos anos. ''Finalmente possível…'' é o título do artigo publicado pelo Notícias de Penacova respeitante à homenagem que se iria realizar no dia 5 de Outubro de 1974 naquela vila. ''António José de Almeida sob silêncio do cemitério'' será outro título da mesma edição, com a assinatura de Urbano Duarte, padre e jornalista, ligado ao jornal diocesano Correio de Coimbra. 
Em 5 de Outubro de 1976 foi inaugurado na vila de Penacova um busto de António José de Almeida, obra escultórica do Mestre Cabral Antunes. Na cerimónia, usou da palavra, além de outras individualidades, o Governador Civil de Coimbra, Fernando Vale que, curiosamente, havia iniciado funções na véspera. Outro acto de homenagem foi a instituição do dia 17 de Julho como Feriado Municipal de Penacova, por deliberação da Assembleia Municipal (28 de Maio de 1976). Em 1997, no dia 5 de Outubro, foi inaugurada uma estátua em S. Pedro de Alva, sede da freguesia da sua naturalidade. 
Para completar este reconhecimento concelhio, aguarda-se que o Município de Penacova faça a compra e a recuperação da casa onde nasceu aquele estadista. O antigo “solar” de Vale da Vinha começa a ameaçar ruína. A instalação de uma Casa-Museu ou de um Centro de Estudos, seria uma hipótese que muito dignificaria aquele espaço carregado de memórias que urge preservar. 
Para um conhecimento da vida e da obra de António José de Almeida é incontornável a consulta da “biografia ilustrada” António José de Almeida e a República, de Luís Reis Torgal e Alexandre Ramires, publicada em 2004. De referir ainda, quer o livro de Ana Paula Pires, editado em 2012, António José de Almeida: o Tribuno da República, quer a colectânea Quarenta Anos de Vida Literária e Política, em quatro volumes, reunindo discursos e outros textos, publicada em 1933. 
Recorde-se que António José de Almeida, além de grande orador (nos Comícios, na Câmara dos Deputados, no Governo e na Presidência da República) utilizou também a escrita, em especial a jornalística, para expressar as suas ideias. Assinou inúmeros artigos em jornais e publicações republicanas e fundou a revista Alma Nacional (1909) e o jornal República (1911). 
Escrevia Júlio dos Santos, em 1932, n’ A Voz de S. Pedro de Alva: “Se ao advento da República Miguel Bombarda deu Cérebro, Pensamento, Equilíbrio; se Cândido dos Reis lhe deu Corpo, Forma; António José de Almeida deu-lhe o Verbo. Verbo que é Sopro de Deus!”

David Almeida
Artigo publicado na Revista Ipsis Verbis (ver referência AQUI)



[1]  Sobre a República e o republicanismo em Penacova, cfr. David Almeida, Penacova e a República na Imprensa Local. Edição da Câmara Municipal de Penacova, 2011.
 
Pormenores da Revista IPSIS VERBIS
[clique para ampliar]


17 julho 2019

António José de Almeida “o maior estadista da Beira-Serra”

Registo de Baptismo de António José de Almeida


“Pelas nove horas da noite”- refere o registo de baptismo – do dia 17 do mês de Julho de 1866, no lugar de Vale da Vinha, freguesia de S. Pedro de Alva, nasceu António José de Almeida.  Frequentou o ensino primário na sede da freguesia – Farinha Podre - tendo como professor, João Gama Correia da Cunha, que o acompanhará ao longo da sua vida de estudante em Coimbra. Quando em 1890, António José de Almeida se encontrava preso por crime de abuso de liberdade de imprensa, na sequência do artigo “Bragança, o Último”, publicado na folha académica Ultimatum, João Gama escreveu no jornal conimbricense “A Oficina” uma carta em apoio do seu antigo pupilo onde dizia que havia muito a esperar da “ilustração e boa vontade” daquele “rapaz” pois ''homens como ele” não apareciam todos os dias.

Possivelmente, as primeiras influências republicanas dever-se-ão àquele professor das primeiras letras, que era republicano convicto, bem como a outras personalidades daquela freguesia. Não de seu pai, pois, José António de Almeida só aderiu ao Partido Republicano no dia em que o filho entrou na cadeia e quando já era presidente da Câmara de Penacova.

A par da militância republicana em Coimbra, António José de Almeida concluiu o curso de Medicina em 1895. Partiu para S. Tomé no ano seguinte, onde exerceu a profissão de médico.  Regressou a Lisboa em 1903 e ainda nesse ano iniciou  uma viagem de estudo que se estendeu até Março de 1904, passando por França, Itália, Suíça e Holanda.

Em 1906 integrou o Directório do Partido Republicano Português. Neste ano, foram  eleitos os primeiros deputados republicanos: António José de Almeida, Afonso Costa, Alexandre Braga e João de Menezes. Em 28 de Janeiro de 1908, na sequência de uma tentativa de golpe de Estado, foi preso, Em Abril desse ano o Partido Republicano conseguiu eleger sete membros para a Câmara dos Deputados, entre eles António José de Almeida. Em Abril do não seguinte , no congresso daquele partido e por indicação da Carbonária assumiu  a direcção civil do Comité Revolucionário.

António José de Almeida continuou a marcar presença em muitos dos comícios que se foram realizando por todo o país. Viseu no dia 8 de Março de 1908 e Tábua no ano seguinte. Também no dia 1 de Agosto de 1909 que a S. Pedro de Alva acorreram milhares de pessoas: 3000, segundo o Jornal de Penacova, 4000 de acordo com notícia de O Poiarense. Foi a primeira (e única vez)  que António José de Almeida discursou . No discurso que proferiu, fez questão de esclarecer que “veio falar à sua terra porque cá o chamaram.” Acentuou que não vinha “pedir nem votos, nem influências, nem importância” pois “nada precisava da República, como nada aceitava da Monarquia.” Vinha sim “junto dos homens da sua terra, para os ajudar a redimir e salvar”, apresentando-se como “um combatente que vem oferecer o seu braço, o seu cérebro e o seu esforço.” No mesmo dia foi inaugurado o Centro Republicano de S. Pedro de Alva. António José de Almeida, a dois meses do 5 de Outubro, reafirmou que era  preciso acabar com a ideia de que o Partido Republicano não tinha força, e que se impunha uma reação  ''não só pelas palavras mas também pelas armas.''


Proclamada a República, António José de Almeida integrou o Governo Provisório, assumindo a Pasta de Ministro do Interior, cargo que desempenhará até ao dia 3 de Setembro de 1911. Ainda neste ano, verifica-se a cisão do Partido Republicano. Democráticos (liderados por Afonso Costa), Evolucionistas (liderados por António José de Almeida) e Unionistas (liderados por Brito Camacho) irão, até 1919, ocupar o espectro político republicano.

Com a criação do Partido Evolucionista em 1913 a região das Beiras, que já não era indiferente a António José de Almeida, aderiu significativamente, em especial os concelhos pertencentes ao Círculo Eleitoral de Arganil (Arganil, Góis, Miranda do Corvo, Lousã, Oliveira do Hospital, Pampilhosa da Serra, Penacova, Poiares e Tábua).

A carreira política de António José de Almeida registará um novo capítulo em 1916. No contexto da I Guerra Mundial, assumirá as funções de Presidente do Ministério (Primeiro Ministro) (15 de Março de 1916)  e de Ministro das Colónias no Governo da “União Sagrada”, formado por Evolucionistas e por Democráticos.

Em 1919, foi eleito Presidente da República. Apesar de ter enfrentado um dos períodos “mais trágicos da República”, foi o único a cumprir, entre 1910 e 1926, integralmente os quatro anos de mandato presidencial. No período que vai de 5 de Outubro de 1919 a 5 de Outubro de 1923, António José de Almeida, além de muitos outros contratempos, terá que “lidar” com dezassete Governos e terá que enfrentar os trágicos acontecimentos da “noite sangrenta” de Outubro de 1921. No entanto, o sucesso da travessia aérea Lisboa-Rio de Janeiro e, pouco depois, o momento “glorioso” e “triunfal” da sua Visita Presidencial ao Brasil, nos finais do Verão de 1922, serão acontecimentos positivos que marcarão o seu mandato.

É todo este seu percurso que leva João Alves das Neves, eminente jornalista arganilense, a considerar António José de Almeida como “o maior estadista da Beira-Serra”.


Vitimado pela doença, morreu em Lisboa no dia 31 de Outubro de 1929, com 63 anos.
Em 5 de Outubro de 1976 foi inaugurado na vila de Penacova um busto em sua memória, obra escultórica do Mestre Cabral Antunes. Outro acto de homenagem foi a instituição do dia 17 de Julho como Feriado Municipal de Penacova, por deliberação da Assembleia Municipal (28 de Maio de 1976). E, em 1997, no dia 5 de Outubro, foi inaugurada uma estátua em S. Pedro de Alva, sede da freguesia da sua naturalidade.

David Almeida


21 setembro 2019

Republicanismo em Penacova na vigência da monarquia

Neste edifício (foto da época) se reuniu (em 1908)  um grupo de republicanos
para formar a 1ª Comissão Republicana de Penacova

Em Penacova, as ideias republicanas foram ganhando força por acção de médicos e juristas, muitos deles formados na academia coimbrã. Também alguns emigrantes regressados do Brasil vieram engrossar as fileiras dos opositores ao regime monárquico.

Ainda na vigência da Monarquia, em 1908, constitui-se, primeiro, a Comissão Municipal Republicana, com sede em Penacova e, de seguida, o Centro Republicano de S. Pedro de Alva. Esta dinâmica culminou com o grande comício nesta freguesia, no dia 1 de Agosto de 1909, com a presença de António José de Almeida.

No dia 8 de Março de 1908 teve lugar uma reunião de republicanos ''no edifício onde funcionavam as fábricas[1] de José Pedro Henriques''[2], com o objectivo de fundar uma Comissão Municipal Republicana. Assim, da primeira comissão concelhia, passaram a fazer parte, como membros efectivos, Rodolfo Pedro da Silva, médico, José Alves de Oliveira Coimbra, comerciante, José Pedro Henriques, industrial e Amândio dos Santos Cabral, proprietário. Como suplentes: Manuel Correia da Silva, farmacêutico, António Maria, ferrador, Joaquim de Almeida Coimbra, comerciante, Joaquim Pereira Castanheira, comerciante, e Augusto Ferreira de Carvalho, farmacêutico.

A 14 de Março, o Jornal de Penacova, que à data já estava nas mãos dos republicanos, noticia aquela reunião e avança com uma relação dos inscritos, à data, no Partido Republicano:

Dr. Alípio Barbosa Coimbra, Dr. Rodolfo Pedro da Silva, José de Almeida Coimbra, Francisco de Almeida, Joaquim Pereira Castanheira, David Cordeiro de Brito, Albino Leonardo, Francisco Rodrigues da Silva, José António de Almeida Júnior[3], José de Matos Vieira, Augusto Ferreira de Carvalho, António Pedro Gonçalves, António de Matos Vieira, António Maria, Joaquim de Almeida Coimbra, João António de Almeida, José Joaquim Duarte Júnior, Vitorino de Almeida, Serafim José de Almeida, Francisco Duarte Almeida, José Pedro Henriques, José Alves de Oliveira Coimbra, Amândio dos Santos Cabral, Eduardo Pedro da Silva, José Augusto Ribeiro, José Esteves Viseu, Joaquim Serra Cardoso (que anunciará a implantação da República na manhã de 6 de Outubro), Manuel Correia da Silva, Luís Pereira de Paiva Pita, Alípio Carvalho, Aníbal Duarte de Vasconcelos, Alípio Lopes Flórido, António Joaquim Dias e Fernando da Assumpção.
Rodolfo Pedro da Silva

Em 1909 realizam-se as eleições para aquela Comissão, onde vamos encontrar nomes já conhecidos. Efectivos: José de Almeida Coimbra, José Alves de Oliveira Coimbra, Manuel Correia da Silva, Luís Pereira de Paiva Pita e Augusto Ferreira de Carvalho. Substitutos: dr. Alípio Barbosa Coimbra, dr. Rodolfo Pedro da Silva, José Pedro Henriques, Eduardo Pedro da Silva e Urbano Ferreira da Natividade.

Por sua vez, S. Pedro de Alva acabou por ser pioneira na criação dos Centros Republicanos a nível do concelho de Penacova. Em Junho de 1909 foi provisoriamente instalado o Centro Republicano naquela localidade. A inauguração oficial fora anunciada para o dia 1 de Agosto, coincidindo com a data do Comício. Da comissão instaladora faziam parte José de Almeida Coimbra, Eduardo Pedro da Silva (ambos cunhados de António José de Almeida), António Henriques da Fonseca Júnior, Francisco da Costa Gonçalves, José Maria Henriques, Joaquim Pereira Castanheira e Joaquim de Almeida Coimbra.

O novo Centro terá sido instalado num antigo edifício pertencente à família de António José de Almeida (onde hoje existe o Talho Abranches). Joaquim António Madeira ofereceu ''um belo quadro da República'', um outro com o ''notável Manifesto do Partido Republicano'' e ainda outro com os ''retratos dos deputados Republicanos''. Também foram oferecidos livros para a biblioteca por António Joaquim dos Santos, António dos Santos e José Madeira Marques. Este ofereceu, entre outras obras, Cartas Políticas de João Chagas e Pró-Pátria de Homem Cristo.

O Centro Republicano de S. Pedro de Alva irá, nos tempos mais próximos, exercer a sua acção política, cultural e cívica. Nesse sentido, achamos particularmente significativo o facto de Eduardo Pedro da Silva ter, em Outubro de 1909, apresentado uma moção, que foi aprovada por unanimidade, contra o assassinato de Francisco Ferrer[4], considerando aquele acto como ''o maior crime do século XX''. Em Abril de 1910 o Centro procedeu à escolha do delegado[5] ao 11.º Congresso do Partido Republicano Português que iria decorrer no Porto nos dias 29 e 30. Foi eleito, por unanimidade, António dos Santos Henriques, residente naquela cidade.[6]
José de Almeida Coimbra

As adesões sucedem-se. Angariadas por João António de Almeida, irmão de António José de Almeida e presidente da Comissão Paroquial Republicana de Paradela da Cortiça, temos: José Henriques Castanheira, comerciante e regedor, Joaquim Henriques Castanheira, proprietário, José Lourenço Rodrigues, barbeiro, José Neves Pinhão, carpinteiro, Joaquim Ferreira, serrador, António das Neves Carvalho, proprietário, todos de Paradela, e ainda Abel Mateus, da Cova do Barro.

Em Penacova, o Centro Democrático António José de Almeida, situado na Avenida 5 de Outubro,  só será inaugurado oficialmente já depois da queda da monarquia, no dia 1 de Dezembro de 1910. Discursou o Dr. Daniel Silva e foi descerrado um retrato de António José de Almeida (pintura a óleo) oferecido por Leonel Lopes Serra. O jantar de confraternização teve lugar ''no hotel da Sr.ª Altina Amaral.'' Foi também inaugurado neste dia, o sistema de iluminação pública a ''acetylene'', o que levou o Jornal de Penacova a reconhecer que ''com vagar embora, o progresso” ia “penetrando na nossa terra."
 . David Almeida
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Bibliografia:
ALMEIDA, David - Penacova e a República na Imprensa Local. Penacova: Câmara Municipal de Penacova, 2011.



[1] Muito provavelmente, ocupava o edifício onde funciona hoje a Escola Beira-Aguieira. Edifício que, segundo fotografias de 1909, já tinha a estrutura actual.
[2] Pedro Henriques & Cª, empresa que era detentora de uma fábrica de conservas e se dedicava também à indústria de palitos. Representou o distrito de Coimbra na Expo 1908, no Rio de Janeiro, conquistando medalhas de ouro e prata, pela qualidade dos seus produtos: palitos e azeite.
.
[3] Irmão de António José de Almeida, bem como de João António de Almeida, que também consta da lista.
[4] Francisco Ferrer i Guardia, republicano catalão,  foi o fundador de um movimento de pedagogia libertária que deu origem à Escola Moderna. Os aspectos educacionais que defendia foram considerados "perigosos" para a aceitação social da autoridade e, em 1909, Francisco Ferrer foi preso na Catalunha, Espanha. Depois de julgado por um Conselho de Guerra foi executado em 13 de Outubro de 1909 na Fortaleza de Montjuich.
[5] Em 25 de Abril de 1910.
[6] Cfr. Jornal de Penacova, 30 de Abril de 1910.           

18 julho 2016

No rescaldo da razão de ser do Feriado Municipal

PENACOVA E ANTÓNIO JOSÉ D'ALMEIDA


A figura de António José de Almeida terá constituído o principal fio condutor do movimento republicano em Penacova. A força da sua influência começa a sentir-se enquanto jovem estudante em Coimbra e prolongar-se-á até à sua morte (e para além dela) sendo sempre acarinhado e admirado por um largo sector de republicanos que fizeram a apologia intransigente do seu percurso político. Figura tutelar das movimentações republicanas em Penacova, sem ele, estamos convictos, o republicanismo não teria alcançado, também neste concelho, a dimensão e a projecção que todos conhecemos.

1890: o seu pai, José António de Almeida, à época presidente da Câmara de Penacova, adere ao Partido Republicano. Com o filho preso na cadeia de Coimbra declarou em plena sessão camarária que “nunca tinha pensado que na idade de setenta anos e que tendo empregado na maior parte deles” as suas forças ”na sustentação e defesa da monarquia e liberdades pátrias”, se havia de fazer Republicano. E justifica: “Realizou-se este pacto desde que, no dia vinte e cinco de Junho último, vi que uma sentença injustificadamente rigorosa condenava em três meses de prisão o meu filho António José d’Almeida, arrancando-mo dos braços e aferrolhando-o na cadeia pública”.

João Gama Correia da Cunha, que fora professor de António José de Almeida na escola primária de S. Pedro de Alva, escreveu uma carta, datada de 24 de Julho de 1890, no momento em que o seu ex-pupilo se encontrava preso. Foi publicada no jornal de Coimbra ”A Oficina”. Aí afirmava: ''muito há a esperar da ilustração e boa vontade deste rapaz (...) Homens como ele não aparecem todos os dias. O tempo se encarregará de mostrar que isto não é lisonja, nem ilusões dum insensato.''

1907: Alípio Barbosa Coimbra (republicano convicto, médico e fundador da Cerâmica Estrela de Alva), na edição de 20 de Julho de 1907 do Jornal de Penacova, pergunta: ''Que melhor patrono poderíamos ter, que esse patrício ilustre, grande pelo coração e ainda maior pela energia da sua vontade e pelo fulgor da sua inteligência? Damos-lhe a ele, o grande tribuno republicano dr. António José d'Almeida a satisfação íntima de ver a sua terra natal caminhar na vanguarda das hostes republicanas''.

O dia 1 de Agosto de 1909 ficou marcado pelo grande comício em S. Pedro de Alva. Apesar do alheamento de alguns sectores políticos locais e até da afronta dos monárquicos mais radicais, a presença de António José de Almeida marcou as gentes desta região. Cerca de três mil pessoas terão estado naquela manifestação republicana onde usou da palavra, a par de outras proeminentes figuras republicanas.

A sua carreira política, designadamente o cargo de Ministro do Interior no Governo Provisório, foi largamente noticiada no Jornal de Penacova. “Orgulho do nosso concelho que só agora começa a fazer-lhe a devida justiça, apóstolo acérrimo e defensor máximo da Liberdade” – escreve aquele periódico a 29 de Outubro de 1910.

Durante o ano de 1912, o mesmo jornal irá dar grande ênfase à criação do Partido Evolucionista, em ruptura clara com o partido de Afonso Costa. A iniciar o ano de 1914, António José de Almeida que habitualmente escreve para o Jornal de Penacova, questiona a governação do Partido Democrático (Afonsista): ''Esta República como no actual momento se encontra é má? Sem dúvida. Podemos mesmo, leitor, sem forçar a expressão do vocábulo, chamar-lhe péssima.” Deixa também o apelo: ”Não te fiques nirvanicamente nas queixas e nos lamentos. Trabalha, mexe-te, congrega-te, conjura-te e anda para a frente''.


A exaltação da figura de António José António de Almeida continuará a ser uma constante nas páginas do Jornal de Penacova. Sobre o comício que teve lugar no Teatro Avenida em 1914, na edição de 4 de Julho de 1914, afirma-se que a "jornada de Domingo" constituiu "um verdadeiro dia de triunfo para o Partido Republicano Evolucionista".

O sentido patriótico e a assumpção das responsabilidades governativas de António José de Almeida nunca passaram ao lado dos republicanos penacovenses. O facto de este ter assumido a Presidência do Ministério e a pasta das Colónias no governo da ''União Sagrada'', foi largamente noticiado no jornal Ecos de S. Pedro de Alva de 1 de Abril de 1916. Este periódico preenche a totalidade da sua primeira página com fotografia de Bernardino Machado, ladeado por António José de Almeida e Afonso Costa. A encimar, o título: ''Em defesa da Pátria – Unidos pelo Dever''.

Em 1919, António José de Almeida é eleito Presidente da República. Tal facto foi motivo de orgulho ainda maior para Penacova: “Foi eleito Presidente da República o sr. dr. António José d’Almeida, nosso ilustre conterrâneo! Ele é a alma da Pátria! Ele é a Vida da República! Ele é a honra de um povo! Viva o sr. dr. António José d’Almeida!- regista em grandes parangonas de capa o Jornal de Penacova. Eleito pelo Congresso em 6 de Agosto, exercerá o cargo até ao dia 5 de Outubro de 1923. Foi o único Presidente que, na I República, levou até ao fim o seu mandato.

Morreu a 31 de Outubro de 1929. O quinzenário A Voz de S. Pedro de Alva prenche integralmente a capa da edição de 16 de Novembro com a notícia: ''A Pátria e a República em Crepes: morreu o Dr. António José de Almeida”.

O mesmo jornal não se cansará de enaltecer este seu ilustre conterrâneo, recordando que este grande "apóstolo da Democracia tinha um altar em todos os corações portugueses''. A morte de António José de Almeida também é notícia na edição de 2 de Novembro do Jornal de Penacova. Eduardo Silva, que era, à data, o redactor deste periódico, escreverá: “O dr. António José de Almeida era nosso conterrâneo. Nasceu além, na freguesia de S. Pedro de Alva, num lugarzito, lindo e pitoresco, que se chama Vale da Vinha. Lá está o seu solar que nos desperta lembranças da sua mocidade indómita de combatente pelo ideal republicano, desde os seus mais verdes anos.[…] Foi um grande português, homem de uma honestidade intransigente, a sua vida não teve mancha a diminuir o seu valor e o seu prestígio, o seu carácter de fino e puro quilate esteve sempre de pé”.

Com o 25 de Abril, depois ter sido, durante muitos anos, directa ou indirectamente silenciada, a figura de António José de Almeida é novamente exaltada. A devida homenagem ocorreu em Penacova no dia 5 de Outubro de 1974 e passados exctamente dois anos, foi descerrado um busto (da autoria de Cabral Antunes) junto à Pérgola Raul Lino. No mesmo dia, mas em 1997, foi inaugurada uma estátua de António José de Almeida na sede da freguesia da sua naturalidade, S. Pedro de Alva.

Em 28 de Maio de 1976 a Assembleia Municipal de Penacova votou, por unanimidade, a instituição a 17 de Julho do Feriado Municipal, de forma a evocar a vida e a obra deste ilustre penacovense, que a ser vivo, teria completado ontem 150 anos.

31 outubro 2019

“Horas de Luto: a Pátria e a República em Crepes”


“Horas de Luto: a Pátria e a República em Crepes”

O funeral de António José de Almeida
António José de Almeida morreu a 31 de Outubro de 1929, faz hoje 90 anos. O jornal  A Voz de S. Pedro de Alva, na edição de 16 de Novembro,  noticia com grande destaque: ''A Pátria e a República em Crepes: morreu o Dr. António José de Almeida. Está de luto a Pátria e a República, está de luto o coração dos portugueses!''

Conta aquele quinzenário que "assim que em S. Pedro de Alva, terra do venerando democrata, se soube do tristíssimo acontecimento, os seus conterrâneos vestiram de luto.” A bandeira nacional, “envolta em crepes”, foi hasteada “a meia adriça” na sede do jornal, ao mesmo tempo que “eram expedidos muitos telegramas de pêsames à família do egrégio cidadão.”

“Ainda há poucos meses o ex-presidente da República, em carta, nos dizia que, quando estivesse melhor dos seus padecimentos, escreveria umas linhas para o nosso jornal” – recorda A VOZ DE S. PEDRO DE ALVA. Naquela missiva terá escrito António José de Almeida que aquele periódico era  “uma gazeta interessante, despretensiosa e séria. E para mais, estruturalmente republicana.”

O quinzenário publicado em S. Pedro de Alva (tendo como Director Francisco Cordeiro dos Santos, e como editor e administrador, Eduardo Pedro da Silva) descreve os últimos momentos de vida de António José de Almeida, bem como o funeral civil que teve a participação de cerca de trezentas mil pessoas.

Enviaram pêsames, por intermédio de A Voz de S. Pedro de Alva: Francisco Cordeiro dos Santos, Rodolfo Martins Gomes, António Maria Marques, José Maria Marques, Alípio Simões Bispo, Antero Gomes Fróis, José Cunha Martins, Joaquim Marques Cordeiro, Joaquim Marques Morgado, Aníbal Ramos, António Jorge dos Santos, António Henriques da Fonseca, Abel Lopes Figueiredo, Marques Basso, Valentim Ramos, Júlio dos Santos, Martinho de Paiva, Francisco Fonseca Lourenço, António Costa Figueiredo, Hermenegildo Pereira, Joaquim Pereira Castanheira, Francisco Cunha Martins, José Alberto Coimbra, Oliveira Nascimento, José Campos Ribeiro, Augusto Sousa Gonçalves e António Pereira da Costa. Em nome da Junta de Freguesia, Campos Ribeiro, presidente, também endereçou mensagem de pesar através de telegrama.

A Voz de S. Pedro de Alva não poupará elogios póstumos a este seu ilustre conterrâneo, dizendo que este fora um grande "apóstolo da Democracia” e que  “tinha um altar em todos os corações portugueses''.

José de Oliveira e Costa escreverá que, perante o grande abalo que acabava de sofrer o país e ''sobretudo a grande massa liberal'' havia que destacar o carácter bondoso deste vulto que ''professava a religião do Bem por interesse do próprio Bem''.

Eduardo Silva (sobrinho de Eduardo Pedro da Silva), no artigo ''Horas de luto'' destaca também as qualidades de António José de Almeida, "o homem de palavra brotando da sua alma límpida, que na tribuna arrastava multidões em delírio de fé e patriotismo".

A morte de António José de Almeida também é notícia em grande destaque na edição de 2 de Novembro do Jornal de Penacova:  " Morreu! Descubramo-nos perante o seu cadáver. Curvemo-nos em respeito e admiração. É o cadáver de um grande português. É o cadáver de um homem honradíssimo. A república portuguesa perdeu um dos seus soldados mais valorosos e um dos seus filhos mais ilustres."

Eduardo Silva, que era à data o redactor deste periódico, escreverá:

“O dr. António José de Almeida era nosso conterrâneo. Nasceu além, na freguesia de S. Pedro de Alva, num lugarzito, lindo e pitoresco, que se chama Vale da Vinha. Lá está o seu solar que nos desperta lembranças da sua mocidade indómita de combatente pelo ideal republicano, desde os seus mais verdes anos.[…] Foi um grande português, homem de uma honestidade intransigente, a sua vida não teve mancha a diminuir o seu valor e o seu prestígio, o seu carácter de fino e puro quilate esteve sempre de pé mantendo-se numa integridade absoluta."

Em S. Pedro de Alva, por iniciativa do professor Joaquim dos Santos Cordeiro, foi colocado na escola do sexo masculino o retrato de António José de Almeida, oferta do ''fervoroso republicano” Eduardo Pedro da Silva.

A Câmara de Penacova, que se fez representar no funeral por António Rodrigues do Amaral, residente em Lisboa, aprovou um "voto de profundo pesar".

05 outubro 2018

Casa onde nasceu António José de Almeida vai dar lugar a Museu da República

A Câmara Municipal de Penacova assinou hoje um Protocolo de Colaboração com o Centro de Estudos Disciplinares Século XX (CEIS 20). A relação com o CEIS20 vem de 2004, com o lançamento da biografia “António José de Almeida e a República”, passando também pelas comemorações do Centenário da Implantação da República (2010) e mais recentemente, pelo programa do Centenário da Pérgula Raúl Lino (2018).
Em 2019 Penacova vai assinalar o centenário
da eleição de António José de Almeida
 para Presidente da República
A parceria hoje formalizada visa dois objetivos: a celebração do centenário da eleição de António José de Almeida para Presidente da República e a elaboração de um projeto de reabilitação urbanística da casa onde em 1866 nasceu aquele estadista e respetiva musealização, no sentido de aí, em Vale da Vinha, freguesia de S. Pedro de Alva, ser criado o “Museu da República António José de Almeida”. 

Assim, o protocolo prevê a realização de uma série de conferências ou mesmo de um colóquio em Penacova, organizado pelo CEIS 20 e ainda, um conjunto de sessões de formação para professores e alunos do Agrupamento de Escolas, versando a figura de António José de Almeida e o tema da República. Àquele Centro de Estudos caberá também a apresentação do projeto para o referido Museu. 
Assinatura do Protocolo entre o Município e o CEIS 20
Usando da palavra, o Coordenador do CEIS 20, António Rochette, destacou a importância deste protocolo, não só porque o Centro defende que a Ciência deve ser com e para o cidadão, mas também porque tem a ver com o conceito de res publica e se relaciona com a Escola, com a formação das novas gerações. A criação de uma Casa-Museu da República representa um desafio: a transformação de uma simples casa em museu, num espaço de mais-valia cultural que se venha a enquadrar numa rede de casas museu que existem ou possam existir nestes territórios de baixa densidade. Apesar de só agora se formalizar o protocolo, os estudos para o projeto de arquitetura e musealização já estão a decorrer, revelou. 

António Rochette, depois de considerar António José de Almeida como “uma personagem fundamental” da nossa história de “finais do século XIX e inícios do século XX”, disse que o CEIS 20 se sente “extremamente sensibilizado e honrado com este protocolo”, acrescentando, no entanto, que estas estas palavras só se justificam se de hoje a um ano sensivelmente, puder estar na inauguração daquele Museu. 

Por sua vez, o Presidente do Município, Humberto Oliveira, salientou a importância de “valorizar as nossas figuras, a nossa história e dignificar, o máximo possível, o centenário da eleição de António José de Almeida, como Presidente da República”. Considerou que se trata de uma tarefa que o município, por si só, não conseguirá realizar cabalmente, apelando por isso, ao contributo de outros parceiros, sejam pessoas individuais, sejam instituições. Daí considerar que o “CEIS 20 é o parceiro certo”. 

Recordando que no dia 5 de Outubro de 2014 fora assinada a escritura de aquisição da Casa de Vale da Vinha, disse que “agora é preciso, literalmente, por mãos à obra”. Humberto Oliveira destacou o facto de se tratar de um “projecto fundamental para a coesão territorial do município”, acrescentando economia, conhecimento e atractividade ao território. Tendo em conta a estratégia de valorização de espaços, depois do Museu do Mosteiro de Lorvão e da Casa das Artes no antigo edifício do tribunal em Penacova, a Casa-Museu, na freguesia de S. Pedro de Alva, pode ser considerada a “terceira perna desta trempe”. 

A sessão comemorativa do 5 de Outubro, foi antecedida do hastear da bandeira ao som do Hino Nacional e a tradicional deposição de coroa de flores no busto de António José de Almeida, tendo terminado com um apontamento musical apresentado pela Escola de Artes de Penacova.

Apontamento musical da Escola de Artes de Penacova 

13 fevereiro 2011

Casa - Museu António José de Almeida poderá tornar-se realidade

" A República, António José de Almeida e a Importância de Uma Casa-Museu" foi o tema geral do colóquio que se realizou no novo Auditório da Biblioteca e Centro Cultural, inaugurado ontem pelo Secretário de Estado da Administração Local, Dr. José Junqueiro.
O colóquio teve a participação dos Prof. Doutores  Luís Reis Torgal e Norberto Cunha  e dos Dr.s  David Almeida , Diogo Gaspar e António Arnaut.
“António José de Almeida e a República”, “Penacova e a República”,  “António José de Almeida e o Museu da Presidência da República”,  “A Importância de uma Casa-Museu como Centro de Animação Cultural ”e  “A República e a Cidadania”- foram os subtemas abordados, respectivamente, pelos citados oradores,  com a moderação da Prof. Doutora  Maria Manuela Tavares Ribeiro. Presente também o Dr. António José de Almeida Abreu, neto de António José de Almeida.
Atendendo à importância daquele Estadista, por   todos reconhecida, foi opinião de todos os presentes , incluindo o Presidente da Câmara, que se torna urgente o restauro da casa onde nasceu António José de Almeida  e que se justificaria plenamente a  criação de uma Casa-Museu em Vale da Vinha, ou tal não sendo viável, num outro espaço concelhio.
Museu, Casa-Museu, Centro de Estudos, qualquer que seja a solução, será pois um projecto a avançar, contando desde já com o apoio do Museu da Presidência, da Autarquia, da Família de António José de Almeida, e cremos, nós da maioria dos penacovenses.
Projecto que se pretende venha a ser mais um espaço vivo, dinâmico, de formação para a cidadania, do que um mero espaço museológico de características tradicionais.
Lisboa 
Estátua ao Dr. António José de Almeida,
por Leopoldo de Almeida e Pardal Monteiro (1929)

17 julho 2011

António José de Almeida: 145º aniversário do seu nascimento



De acordo com o Assento de Baptismo (S. Pedro de Alva - 1866) a que tivémos acesso, António José de Almeida, nasceu às nove horas da noite do dia dezassete de Julho. O baptizado teve lugar a três de Setembro. O Dr. António dos Santos Pereira Jardim, lente da Faculdade de Direito está registado com padrinho, mas a representá-lo por procuração esteve presente David da Silva e Cunha. A madrinha foi Maria Cândida da Silva e Cunha. O acto não está assinado pelo pároco, por mero esquecimento, presume-se. Atendendo a que todos os assentos têm a assinatura de Francisco Cordeiro da Fonseca, acredita-se que o celebrante terá sido também este padre.
No entanto a data de nascimento de António José de Almeida nem sempre coincide. A placa que se encontra na parede da casa onde nasceu António José de Almeida, ali colocada em 1974, diz que ali nascera, a 19 de Julho. A pequena torre metálica, inaugurada a  17 de Julho de 2010,  refere, correctamente,  o dia dezassete.
Mas esta confusão de datas não se verifica só aqui. Em muitas enciclopédias, em jornais, em muitos sítios da internet, encontramos o dia 17, o dia 18, o dia 19 e o dia 27 de Julho. No site da Presidência da República aparece referido o dia 27. Igual data está no site do Concurso da RTP "Os Grandes Portugueses". O dia 18 é referido na página electrónica das Comemorações do Centenário da República assim como no site da Fundação Mário Soares. Também na imprensa local, dirigida por familiares de António José de Almeida, aparece por vezes o dia 18. O Jornal de Penacova de 23 de Julho de 1932 aponta o dia 19.
Qual o porquê destas confusões? Como surgiu o dia 27? Quem sabe, alguma vez ocorreu um lapso no algarismo das dezenas, passando do 1 para o 2 e, a partir daí, a data pegou… O dia 19 poderá ter origem no artigo publicado no  Jornal de Penacova… Seja como for, quanto a este dia, bem como ao dia 18, o facto de aparecerem em jornais dirigidos por pessoas próximas de António José de Almeida, suscita alguma estranheza. Sabemos que em tempos era normal as pessoas terem um registo oficial que não correspondia ao verdadeiro dia de nascimento. No entanto, sabendo que o pai de António José de Almeida, além de político local, fora também Juiz Ordinário, não nos parece que tenha havido confusão de datas na sua mente nem qualquer outro intuito em declarar uma data não conforme.
Seria natural perguntar se o dia do feriado está correcto. Fazendo fé do registo de baptismo não há dúvidas: António José de Almeida nasceu, faz hoje 145 anos, em Vale da Vinha.
David Almeida

19 outubro 2010

Recordando as Primeiras Damas da República: Maria Joana Morais Perdigão Queiroga de Almeida


Maria Joana, mulher de
António José de Almeida
Maria Joana Morais Perdigão Queiroga de Almeida, nasceu a 9 de Março de 1885, em Redondo,  e faleceu a  27 de Junho de 1965 em Lisboa.

Conheceu António José de Almeida  por volta de 1902, que era mais velho   19 anos.Casam a 14 de Dezembro de 1910 na Administração  do 1º Bairro de Lisboa, tendo como testemunhas, o irmão de António José de Almeida, Francisco António de Almeida, Juiz da Relação de Lisboa e Manuel de Arriaga, então,  Procurador Geral da República. Ficam a morar  na rua  de S.  Gens,  na  pequena casa onde António José de Almeida  vivia enquanto solteiro .
Espingarda usada como defesa na
noite de 19 de Outubro de 1921

Hoje, passados precisamente 89 anos, na noite de 19 de Outubro de 1921, dá-se  a “ Noite Sangrenta” em que são assassinadas várias personalidades entre elas o Chefe do Governo, António Granjo. Nessa tenebrosa noite, António José de Almeida, estava a convalescer, em casa,  da doença crónica  que o acometia. São avisados telefonicamente do perigo daquele momento e,  enquanto não chega a GNR , Maria Joana pega na caçadeira que guardava desde os tempos em que participava no Alentejo nas caçadas à raposa e coloca-se no 1º andar do palacete onde residiam, na Rua António Augusto de Aguiar, fazendo pontaria para a rua.
Este episódio passou-se há 89 anos exactos.

Em 1923 preside à Comissão Organizadora da Festa da Flor para angariação de fundos para a Cruz Vermelha. É  agraciada com a Grã-Cruz da Ordem Militar de Cristo.
António José de Almeida  morre em 1929, ficando viúva com 44 anos. Tem uma filha, Teresa. Passa os seus dias dedicando-se à família, em especial aos netos, António, que nasce em 1943, Maria Manuel (1944) e Maria Teresa (1946).
Morre na rua Ressano Garcia com um acidente vascular cerebral, em  1965.
Neste Centenário da República uma homenagem respeitosa àquela que acompanhou António José de Almeida, como sua mulher.
Fonte: As primeiras Damas da República,  Museu da Presidência, 2006

05 outubro 2016

O 5 de Outubro de 1976 em Penacova: sons, imagens e textos que quatro décadas não apagaram

OUÇA EM 
https://www.youtube.com/watch?v=mt-lf3UKW60

Celebravam-se então 66 anos da Implantação da República. No dia 5 de Outubro de 1976 Penacova prestava homenagem a António José de Almeida inaugurando no centro da vila um busto daquele estadista natural de Penacova.
 
Logo pela manhã, uma salva de 21 morteiros anunciou “o dia festivo que se ia viver” - escreveu o Notícias de Penacova. Às nove e meia teve lugar uma romagem ao Cemitério da Eirinha, em homenagem aos republicanos cujos restos mortais ali repousam. Pelas 12 horas, nos Paços do Concelho, foi içada a bandeira nacional com guarda de honra dos Bombeiros Voluntários. O Gestor Municipal, José Alberto Rodrigues Costa, numa breve alocução, sublinhou o significado do 5 de Outubro e recordou o modo como foi aclamada a República em Penacova. A parte da tarde viria a ser preenchida com o principal ponto do programa: a homenagem a António José de Almeida.


Edição de 9 de Outubro de 1976
do Notícias de Penacova

A vila estava em festa. Música executada pelas Filarmónicas do concelho: dos Bombeiros, Boa Vontade Lorvanense e Casa do Povo de São Pedro de Alva. Estralejar de foguetes no ar. Satisfação “resplandecendo nos rostos do povo (...) porque desde há muito tempo que este dia não era festejado com alegria, já que, durante quase meio século, o 5 de Outubro marcava uma data de oposição a um governo rejeitado pela maioria, oposição essa que veio a ter o seu terminus na madrugada de 25 de Abril de 1974” - escreveu aquele periódico local, rematando - “agora sim, agora o 5 de Outubro é dia festivo para o Povo que quer ser Livre.”
 
Pelas 16 horas procedeu-se ao descerramento do Busto (da autoria do escultor José Maria Cabral Antunes) que se encontrava coberto com a ”genuína” bandeira verde-rubra que foi içada na Rotunda no dia da Revolução vitoriosa.
 
O Governador Civil de Coimbra, Fernando Vale (que havia tomado posse na véspera) abriu a sessão, fazendo um breve referência à figura de António José de Almeida e ao alto significado daquele acto.

Seguiu-se Romero de Magalhães, Secretário de Estado da Orientação Pedagógica, em representação do Governo. Em breves, "mas vigorosas palavras", não só se referiu à justíssima homenagem como ainda à figura de António José de Almeida, terminando por lembrar o verdadeiro significado do que é a Liberdade e a República.


Romero de Magalhães no uso da palavra,
vendo-se também na foto Fernando Vale


Intervenção de José Alberto Costa, Gestor Municipal
(Arquivo pessoal de J.A.Costa)

Usou depois da palavra o Gestor municipal, José Alberto Costa, que “em seu nome pessoal e do povo do concelho deu as boas vindas a todos quantos quiseram honrar com a sua presença tão solene homenagem”. Seguiu-se a intervenção de Eduardo Ralha. Diz o Notícias de Penacova, cujas páginas temos vindo a seguir de perto – “Este orador, com aquela clarividência que lhe é peculiar, vivendo intensamente o momento nacional que foi o 5 de Outubro de 1910” fez uma explanação longa sobre o assunto e destacou o facto da personalidade de António José de Almeida “não ser apenas motivo de honra e legítimo orgulho para o concelho, mas também porque se trata mesmo de uma gloria nacional.” Terminou dizendo: “Quando assim se der sentido à trilogia: Liberdade, Igualdade e Fraternidade, seremos dignos continuadores da geração de António José de Almeida e estaremos então a prestar-lhe a mais significativa das homenagens”.



Seguiu-se a intervenção do genro do homenageado, Júlio Abreu, que em representação dos familiares agradeceu “comovidamente” a homenagem que se estava a prestar e fez uma “breve resenha do que foi a vida e obra António José de Almeida, essa figura nacional que desde os seus tempos de estudante se deu de alma e coração à causa republicana, à democracia e à elevação do bom nome da Pátria Portuguesa.” Estava também presente a filha do homenageado, Maria Teresa de Almeida Queiroga de Abreu.
 
A finalizar, o Chefe da Secretaria da Câmara procedeu à leitura do Auto, lavrado em livro especial e que, no final, foi assinado pelas entidades presentes e pelo povo que o quis fazer. Foram ainda lidas algumas mensagens de "familiares ausentes e de um republicano", após o que foi guardado um minuto de silêncio por todos quantos lutaram para que a República Portuguesa fosse uma realidade viva.



“Estava assim terminada uma das mais brilhantes cerimónias realizadas no concelho” – conclui o jornal – “que desta forma prestou homenagem a um dos seus filhos que soube honrar a sua terra e Portugal.”