20 dezembro, 2015

Apresentado em Coimbra o livro infanto-juvenil “Teresa de Portugal”

As autoras aquando do lançamento em Lorvão
"Teresa de Portugal" é um livro infanto-juvenil editado pelo Município de Penacova com autoria de Paula Silva e ilustrações de Cristina Carvalho e da autora. Lançado em Lorvão no passado dia 16 de Outubro, aquando das Comemorações dos 300 anos da Trasladação das Santas Rainhas, foi apresentado hoje na FNAC do Forum Coimbra, procurando assim, chegar a um maior número de leitores. Deste modo, o mesmo pode agora ser adquirido também naquele espaço comercial, além da Biblioteca Municipal de Penacova.



Pretende-se a divulgação de uma figura da nossa História e particularmente da história do Mosteiro de Lorvão e do nosso concelho. Esta iniciativa releva de inegável valor na medida em que através da imagem e do texto acessível, desperta no público infanto-juvenil um maior interesse pela história local.

Trata-se de um trabalho, muito bem conseguido, especialmente dirigido ao público escolar. Escreve o Prof. Dr. Nelson Correia Borges no Prefácio: “De uma forma simples e atractiva poderão assim conhecer, entender e até venerar esta Santa Teresa de Lorvão, Santa Teresa de Portugal, rainha, mulher,mãe, monja de grandes virtudes”

Na apresentação de hoje, Maria Alegria Fernandes Marques, professora da Universidade de Coimbra (que tem um estudo publicado sobre a temática) traçou uma esclarecedora síntese sobre a vida de D. Teresa.

No site da Câmara Municipal podemos ler:

Teresa, a Inquebrantável (1178 - 1250):

Filha legítima de D. Sancho I e D. Dulce, foi esposa de Afonso IX de Leão, de quem teve três filhos. Declarada nula a união - os noivos eram primos - regressou a Coimbra onde recebeu por doação de seu pai, o Mosteiro de Lorvão,que haveria de reformar, em 1206, para a Ordem de Cister. Sob o hábito cisterciense e, apesar de Senhora do Castelo de Montemor-o-Velho, do termo da vila e de todos os seus rendimentos, haveria de viver em Lorvão até à sua morte, em 18 de Junho de 1250.

Penacova 1898: um retrato


Quase a terminar o século XIX, durante a vigência de um governo presidido por Luciano de Castro, foi solicitado às “camaras municipaes do paiz” um relatório sobre as condições de vida dos “povos”, suas necessidades e aspirações . Deveriam também ser apresentados alguns “meios de remediar ou atenuar o mal presente e preparar a prosperidade futura”.
Assim, a Câmara de Penacova enviou em 11 de Outubro de 1898, ao então ministro das Obras Públicas, conselheiro Elvino de Brito,  um documento que, passados quase 120 anos, nos poderá ajudar a perceber melhor alguns dos problemas com que Penacova ainda hoje se debate.
Dada a sua extensão, começaremos hoje por publicar a parte inicial do relatório que depois de uma breve caracterização geográfica, tece algumas considerações sobre a situação da agricultura.

“ O concelho de Penacova está situado a nordeste de Coimbra e confina pelo norte com os de Mealhada e de Mortágua; pelo nascente com os de Tábua e Arganil e pelo Sul com o de Poiares. A sua superfície é de 160 km2 aproximadamente; a população é de 18 382 habitantes, isto é, cerca de 114 habitantes por quilómetro quadrado.
O clima é frio e salubre, o solo muito irregular e montanhoso, mas fértil.  Por todo ele se cultivam cereais, especialmente o milho e centeio, havendo também cultura de trigo, cevada e aveia. É considerável a sementeira de batata e feijão. As vinhas davam-se optimamente antes da invasão filoxórica, sendo o vinho de boa qualidade; hoje estão sendo renovadas pela cepa americana, que vegeta excelentemente.
A produção de azeite era ainda há poucos anos muito avultada mas tem decrescido muito, devido à moléstia que seca as oliveiras.
Os castanheiros vegetaram optimamente mas estão igualmente quase extintos pla moléstia que os afecta com grande prejuízo para este concelho.
Há em geral bastantes árvores de fruto Das diversas espécies, que se desenvolvem e frutificam bem e os frutos são saborosos, segundo a sua qualidade.
 Nos terrenos mais fracos das encostas dá-se bem o pinheiro, sendo grande a extensão desta sementeira e grande o seu rendimento em madeira e lenha.
As terras cultivadas dão boas pastagens.
Não há terrenos desaproveitados, a não serem, nas serras, os baldios que são extensos e apenas servem para pastagens de gados, e nas margens dos rios Mondego e Alva os areais em que se pode alargar muito  cultura do milho e feijão pela notável fertilidade dos terrenos marginais, enquanto são inundados pelas enchentes.
A riqueza não está acumulada, mas a propriedade, em geral, excessivamente dividida. As terras amanhadas são na sua maior parte regadas com a água das fontes e nascentes que há muitas, ou com a das ribeiras e rios (Mondego e Alva) geralmente abundantes."


(CONTINUA)

05 dezembro, 2015

Horrível desgraça: seis crianças carbonizadas

“No dia 22, logo de manhã, começou a correr na vila um boato sinistro: em Sernelha ardera uma casa, tendo perecido no incêndio seis creanças, a mais velha das quais teria 7 anos. Partimos imediatamente para ali.
Perto da povoação; à sombra dum pinhal, vimos, num grupo de indivíduos, alguém conhecido a quem nos dirigimos em busca de notícias. Logo nas primeiras palavras a pessoa a quem interrogamos confirma-nos  a notícia e indica-nos um homem, ainda novo, simpático, que fazia parte do grupo, dizendo-nos que era o pai das creanças que horas antes tão terrivelmente tinham morrido.
E foi da boca dele, uma voz velada, que mal se ouvia, que ouvimos a sinistra história, curta e trágica: Na véspera, à boca da noite  tinha sido procurado por dois amigos seus - Bernardo e Augusto Rodrigues, barbeiros, de Sernelha, com quem tinha de justar umas contas. Feitas estas, convidou os seus amigos a beber um copo de vinho, como é velho costume entre o nosso povo. Em casa não havia vinho e por isso foram à próxima taberna, onde passado pouco tempo sua mulher o foi chamar, dizendo-lhe que estava pronta a ceia e por isso se não demorasse.
Tendo-lhe ele respondido que pouco se demoraria e que fosse pondo a ceia na mesa que breve iria ter com ela, saiu a mulher da taberna e logo ao voltar uma esquina que lhe encobria a sua casa, grita aflitivamente que acudissem, que a casa estava a arder.
Correm todos e vêem a casa em chamas. Ele lembrando-se dos seus filhos, que poucos momentos antes a mãe tinha ido deitar, atira-se com ância à janela do quarto onde eles dormiam, arrombando-a e tenta escalá-la.
Mas – termina o pobre homem, com a sua voz molhada de lágrimas, velada, mal se ouvindo - não me deixaram entrar. Lá dentro só vi chamas, só chamas que ainda me queimaram a cara e nunca mais os vi... E fitando os olhos vermelhos de tanto chorar, brilhantes de febre, no chão, repetia desalentadamente:
-Nunca mais os vi e nunca mais os ouvi. Nem um grito. Só chamas, só lume. Nunca mais os vi, nunca mais os ouvi...
Correm-lhes as lágrimas em fio pela cara e todos nós sentimos também uma irresistível vontade de chorar.
                          *
Chega o dr. Henrique Serra, administrador do concelho, acompanhado pelo seu secretário, António Casimiro, e todos nos dirigimos para o local do sinistro.
Da risonha casa,  à beira da estrada, onde ainda ontem reinava a felicidade e a alegria apenas restavam uma mão cheia de ossitos quase desfeitos e um carvão negro, disforme, horrível, que talvez tivesse sido o tronco da mais velha.
Os donos da casa chamavam-se, como dissemos no nosso último número, Augusto dos Santos Neto e Rosária do Espírito Santo. Estavam casados há nove anos e tinham seis filhos - Manuel, Mário, Maria, Alzira,  Filomena  e Maria do Nascimento, o mais velho de perto de 8 anos e a mais nova de seis mezes, que agora pereceram todos no incêndio. [Manuel de 8 anos; Mário de 6 anos, Maria de 4 anos, Alzira, de 3 anos, Filomena de 2 anos e Maria do Nascimento de 6 mezes.]
A casa - que estava no seguro, segundo ultimamente nos informaram - tinha sido construída há menos de um ano.
As autoridades tendo procedido a minuciosas averiguações, são de opinião de que o incêndio foi casual.”

-----------------------

NOTA: esta notícia, que transcrevemos na íntegra e com grafia da época, foi publicada no “Jornal de Penacova” em data que não podemos precisar, mas entre 1915 e 1918. Só desgraças neste blogue, poderão dizer os leitores...
Mas são também estes momentos trágicos que marcam as memórias das nossas terras. Trazê-los ao presente é uma forma de, com todo o respeito, nos associarmos, às dores de tantos que nos antecederam, porventura, pessoas das nossas famílias. Alguém de Sernelha, ou mesmo do concelho, tem mais elementos que queira partilhar? Fica o repto.